“do morro e das arquibancadas, um grito
uníssono: Viva o Brasil’”
Jornal do Brasil,
final do Sul-Americano em 1919
1919 Próxima Parada: Engenho de Dentro
A formação de uma grande equipe era
o melhor atalho para chegar a Primeira Divisão. Em busca de conseguir os grandes
jogadores da Liga Suburbana, o Vasco encontrou no Engenho de Dentro, tricampeão
(1916-17 e 18), a base de seu elenco para o campeonato carioca da Segunda
Divisão.
O historiador João Malaia registra
que o empenho da diretoria em montar um time competitivo deu certo, pelo menos
do ponto de vista do crescimento da torcida entre 1918 e 1919: “o Vasco da Gama
que teve em média 220$857 de receita por jogo em 1918 para, no ano seguinte,
pular para 421$833, num crescimento de mais de 90% de arrecadação com a venda
de bilhetes para seus jogos, passando a ser o clube com a maior média de arrecadação
por jogo na 2ª Divisão” (2010, p.222).
Apesar de ter o melhor elenco da
competição, o time vascaíno, apontado pela imprensa esportiva como o franco
favorito para vencer o campeonato, não conseguiu realizar o intento mesmo
contando com o apoio da torcida que não mediu esforços de incentivar seus
jogadores e vaiar os adversários. Esta atitude, que já vinha se tornando comum
nos jogos mais decisivos, ainda recebia repreensão de parte da imprensa. Em uma
crônica do jornal O Paiz, o jornalista pedia providência ao presidente do Vasco,
exigindo que “reprovem seus associados por terem agido de forma tão pouco
cavalheiresco como hontem agio com os players locaes”[1].
Uma das principais atrações do novo
elenco vascaíno era o goleiro Nelson Conceição, conhecido como o “Chauffeur”. Vindo do Engenho de Dentro,
ele será titular absoluto nos próximos anos e um dos ícones na campanha
memorável do titulo de 1923. Vai ser o primeiro jogador do Vasco a vestir a
camisa da seleção brasileira no mesmo ano da conquista do campeonato carioca.
Até o final dos anos 1920, ele será o jogador que mais vezes envergará a camisa
cruzmaltina.
O campeonato Sul-Americano de
Futebol disputado no Rio de Janeiro no mês de maio é considerado por muitos
estudiosos como um marco divisor na história do futebol brasileiro. A
competição foi a primeira organizada no país pela Confederação Brasileira de
Desportes (CBD) e contou com uma intensa participação dos torcedores que
lotaram o estádio das Laranjeiras em todos os jogos da seleção nacional. Mais
do que os jogos e os resultados, o que chamava atenção era a repercussão geral,
quando a cidade praticamente parava para acompanhar os resultados.
A
vitória da seleção brasileira servia para aumentar o sentimento nacionalista
que o futebol despertava e demarcava que a partir daquele instante o futebol
elitista estava com os seus dias contados.
Para
se ter uma idéia de como a população se envolveu nos jogos, basta lembrar que
muitos torcedores ao verem impossibilitados de entrar no estádio lotado
buscavam formas próprias de prestigiar o evento. Enquanto alguns se apertavam
no morro em volta do campo, outros foram acompanhar o desenrolar da partida
final com o Uruguai na Avenida Rio Branco, local onde ficava a sede do jornal O
Paiz que havia colocado um painel informando dos principais lances da partida.
Para
os clubes de futebol, este seria o ano de consagração do Fluminense que
conquistava o tricampeonato (1917-18-19) com uma das melhores equipes de sua
história. Festa nas Laranjeiras com muito champanhe para os associados na
luxuosa sede. Sua torcida cresce em toda a cidade, especialmente entre as
camadas mais ricas que se identificavam com o perfil mais elitista. “Ele era
Fluminense por isso mesmo, escolheu o clube mais fino para torcer” (...)
procurava ser Fluminense, distinguindo-se dos torcedores dos outros clubes”,
explicava o jornalista Mario Filho.
A
tranqüilidade do tricolor vai durar até 1923. Daí em diante só restará a turma
das Laranjeiras contar com o seu esnobismo e o ar confiante de sua
“superioridade”. O fato inegável será que no campo, nas arquibancadas e nas
gerais, uma nova nação comandará o futebol carioca.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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