terça-feira, 14 de janeiro de 2025

TORCIDAS DO VASCO: SALAS DO MARACANÃ

Dona Aida, uma das fundadoras da TOV, em uma entrevista em 2005, fala sobre como ocorreu a divisão de lados no Maracanã e, assim, como foram estabelecidos os lados das salas das torcidas.
 "Recordo que, no primeiro clássico entre Vasco e Flamengo no Maracanã, em 1950, ocorreu uma disputa por espaço entre o nosso grupo e a Charanga do Jaime de Carvalho - que foi a primeira torcida do Flamengo a surgir. 
A partida aconteceu em um domingo e, quando subimos a rampa, nos posicionamos do lado direito das tribunas e eles do lado esquerdo. 
Como os torcedores não usavam camisas nas arquibancadas, nós precisávamos mandar os rubro-negros embora da nossa área. Diante daquela situação, eu, a Neide, a Margarida Portugal, a Norma Uchoa e a Dona Idalina David fomos até um guarda e pedimos para ele chamar o Jaime. Ele era um gentleman e nos tratava com muito carinho. 
Conversamos e ficou estabelecido que ele iria chamar os torcedores dele para lá e nós faríamos o mesmo com os nossos. 
A divisão que começou naquele dia permanece até hoje. Daqui a uns anos, eu já não estarei aqui, mas sei que isso vai durar para sempre.
" Então, ficou dividido assim: Lado direito (Sul): Vasco e Botafogo Lado esquerdo (Norte): Flamengo e Fluminense 7 Quando o Fluminense jogava contra o Flamengo, o Fluminense ia para o lado direito. E o Botafogo, quando jogava contra o Vasco, ia para o lado esquerdo. 
Ao todo, eram 23 salas no 3º andar do Maracanã, onde as torcidas guardavam repiques, surdos, cornetas, bandeiras, fogos, entre outros. 
A ocupação era fruto de concessões antigas que dividiram o espaço de acordo com o tamanho das torcidas. As organizadas do Flamengo tinham 7 salas, as do Botafogo 5 salas, mesmo número do Vasco (5), e as do Fluminense 4 salas. As torcidas do América e do Bangu tinham apenas uma sala cada uma. 
As salas do Vasco eram a da Força Jovem (desde 1974), Sala 330-A, TOV (desde 1967), Sala 314-A, Pequenos Vascaínos (Sala 322-B), Renovascão e uma sala dividida entre a Força Independente do Vasco e a Anarquia. 
A torcida do Fluminense, algumas vezes, guardava o material na sala da torcida do Vasco no Maracanã. Como a sala deles ficava no mesmo lado da torcida do Flamengo, quando tinha jogo entre eles, para evitar certos problemas, eles deixavam o material na sala da torcida do Vasco. "Já cheguei no Maracanã e o material da torcida do Fluminense estava na nossa sala e nós, todos em sinal de respeito, nem chegamos perto. Isso era através da amizade que Ely Mendes tinha com alguns integrantes da Torcida do Fluminense por causa do Carnaval na Portela Tradição, nome da época da Escola de Samba, e tinha também amizade com a galera da Raça Rubro-Negra", concluiu Caíco. 
"Só para lembrar, a FJV e Young Flu tinham uma amizade também nos anos 1980, tanto que cansamos de emprestar a nossa sala no Maracanã a eles, quando jogavam contra o Flamengo, assim como já emprestamos a bateria a eles e eles a nós. Tínhamos também amizade com a Fiel Tricolor e a Garra Tricolor, mas nunca tivemos amizade com a Força Flu, falou Português. 
Lembro também da Torcida do Botafogo. As salas das torcidas do Botafogo ficavam também à direita da Tribuna de Honra, próximas da nossa. Quando eles jogavam fora do Maracanã, quantas vezes, no fim do jogo do Vasco, aquela Kombi preta com o material da Torcida Jovem do Botafogo, Mancha Alvinegra, Raça Alvinegra, TOB ou da Folgada do Russão, chegava no meio da torcida do Vasco e o pessoal abria a sala para deixar o material. Tempo bom esse, havia muito respeito entre as organizadas, disse Flávio de Cabo Frio. 
Em 1972, no Maracanã, ainda não tínhamos sala e éramos obrigados a guardar os materiais, as bandeiras e a bateria junto com a organizada da Dulce (TOV). Foram dois anos assim, até que o Ely, perante ao Otávio Pinto Guimarães, que na época era o presidente da ADEG (com a fusão dos estados do Rio e Guanabara em 1975, mudou o nome para SUDERJ) e a Federação Carioca, conseguiu a sala para a torcida em 1974. 
E o pensamento de todos era fazer com que a nossa sala fosse um exemplo, onde todos, não só nós, os componentes, mas todos os vascaínos, pudessem entrar e se sentir orgulhosos. Para isso, começamos a buscar matérias em jornais, principalmente Jornal do Brasil e dos Sports. Pegávamos as fotos que eles tiravam da torcida e começamos a fazer quadros. Então a sala se tornou um museu. Todos queriam olhar aquelas fotos e reportagens. Ali tinha muitas histórias, reportagem com a primeira torcida a ir à Fonte Nova, que o Ely fez questão de fazer um quadro e postar na parede da sala. Ele tinha orgulho dessa reportagem. Hoje, infelizmente, ninguém me responde quando pergunto onde foram parar esses quadros. O único quadro que consegui foi o do carnaval, que eu apareço segurando a bandeira da FJV. E é uma pena que esse material tenha sumido, mas quem um dia entrou na sala daquela época, acho que ficou até 1994, vai se lembrar desses quadros, falou Carlinhos Português. 
Com a Associação de Desportos do Estado da Guanabara (ADEG), as torcidas pediram cartão com autorização para a entrada no estádio e foi dada permissão. A sala também foi concedida pela ADEG. Mas, da mesma forma que eles deram, eles tomaram, quando se perdeu o controle da situação em 1994. No início, eram poucas salas, uma para cada clube. Depois, todas as torcidas receberam sala e virou uma bagunça, com invasão e arrombamento, além do consumo de tóxicos, que existia nas viagens também. Tentava-se controlar, mas não conseguia. Em relação à Federação do Estado do Rio de Janeiro, diz que Eduardo Viana, o Caixa d’Água, tirou todos os benefícios dados por Otávio Pinto Guimarães, quando este presidiu a Federação. 
No período do Otávio, todos os chefes de torcida eram beneméritos da FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) e tinham uma excelente relação com ele, disse Sérgio Aiub, da Torcida Organizada do Fluminense (TOF) e depois da Torcida Jovem Flu. 
Me lembro muito bem de 4 salas: a da TOV era a primeira à direita do Maracanã, atrás das cabines de rádio, ao lado do posto médico do estádio. Próximo ficava a da Pequenos Vascaínos, que, no começo dos anos 1990, era ponto de encontro da Força, já que tinha um bar e a galera ficava tomando cerveja. A da Força ficava bem atrás do placar e da Renovascão, mais em direção à rampa de Bellini, próximo à sala da Torcida Jovem do Botafogo. Eu sempre admirei as torcidas organizadas. Nos anos 1980, tirava a minha camisa da Força e dava uma volta completa no estádio, entrando nas salas das outras torcidas organizadas. Tinha rivalidade, mas ainda dava para fazer isso. Nos anos 1990, isso ficou impossível, falou Flávio de Cabo Frio, ex-componente da Força Jovem. 
Em novembro de 1994, as salas das torcidas no Maracanã chegaram ao fim. As salas existiram durante mais de 20 anos. 
A Suderj criou uma medida contra a violência e despejou as torcidas que tinham sala no estádio. 
A perda das salas ocupadas no Maracanã pelas torcidas, a proibição de se concentrarem em dia de jogos em certos locais, o fim das credenciais dadas pelos dirigentes às torcidas e que permitiam o acesso gratuito pelo Portão 18 do Maracanã, onde as torcidas se encontravam incitando, ainda mais, seus antagonismos, a decisão de estabelecer acessos por portões diferentes, foram atitudes citadas como importantes, no sentido de reduzir os enfrentamentos. 
Entretanto, a despeito de todos esses dispositivos, alguns líderes admitiram que determinados jogos (Vasco e Flamengo, por exemplo) exigem uma forte intervenção policial, do contrário, os embates serão inevitáveis.
Fonte: Torcidas Jovens Cariocas: Símbolos e Ritualização - Rosana da Câmara Teixeira e Jornal O Dia.

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