Polar se meteu a Chefe de Torcida do Vasco. Nem todo mundo, em São Januário, gostou daquilo. O Polar, um reclamista, Chefe de Torcida. Durante a semana o Polar andava pelo meio da rua, um dia era o Soldado do Flip, outro era o Frankenstein, outro era o Corcunda de Notre Dame. No domingo vestia-se de branco, com uma camisa bem apertada no peito, ia para a pista de São Januário. E lá de baixo mandava, com um vozeirão de camelô, todo mundo gritar Vasco. Se muita gente não gostava de obedecer ao Polar, quem era o Polar para dar ordens?
João de Lucca gostava. Para onde o Polar ia, ele ia. Se o Polar era o Chefe da Torcida, ele era o Sub-Chefe.
Polar, aliás, considerava o João de Lucca como uma espécie de Sub-Chefe.
O Polar tinha treinado a voz. Era speaker das lutas de boxe do Estádio Brasil. Quando ele, no meio do ring, gritava o nome, a nacionalidade, a categoria e o peso de um boxeur, quem estava no último degrau das gerais, lá em cima, ficavam com os ouvidos doendo. Ele não precisava de megafone. Com ele era no peito. Os torcedores das cadeiras numeradas tinham que tampar os ouvidos. Por isso quando ia comandar a Torcida do Vasco, o Polar ficava na pista de atletismo de longe.
E parecia que uma porção de gente estava gritando. Era ele, era o João de Lucca, era uma meia dúzia de Vascaínos.
João de Lucca ficava logo sem voz, mas continuava a abrir e fechar a boca.
A voz do Polar chegava para os dois. Um dia os Vascaínos se acostumaram com o Polar.
Já havia Vascaínos de dinheiro que simpatizavam com ele.
“Passe lá por casa, eu tenho uns anúncios pra você”. O Polar passava pela casa do Vascaíno, arranjava mais propaganda. Não andava pela rua só de tarde, como antigamente. Era o dia todo.
A gente via o Polar com uma roupa, daqui a pouco ele estava com outra roupa. Parecia um Fregoli. Também morava na Cidade. Era só dobrar a esquina, mudar de roupa e voltar para a rua.
Fonte: Jornal Globo Sportivo 09 de Setembro de 1948
Torcedores Símbolo Polar Jornal Crítica 1930 |
Torcedores Símbolo Polar Jornal Globo Sportivo 1948 |
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