O primeiro grande jornalista
esportivo brasileiro, Mário Filho, que tanto lutou pela construção do Maracanã,
descobriu que a casa acabara com a figura do torcedor.
Em seu lugar, entrara a
multidão compacta.
Sentiu saudade do tempo em que os torcedores eram conhecidos
nos pequenos Estádios, tinham a sua voz ouvida.
No "Maraca", no entanto,
só um coro era ouvido. Verdade! Apenas um daqueles folclóricos torcedores
salvara-se de virar multidão:
Domingos do Espírito Santo Ramalho.
Esta é uma das mais interessantes
histórias já surgidas nas arquibancadas brasileiros.
Quando o Vasco da Gama tinha jogo,
o Ramalho ia ao Jardim Gramacho, em Caxias, e cortava talos de mamão, para
transformá-los em clarins.
Levava, sempre, dois ao Estádio,
para não passar por apertos, caso um dos seus "instrumentos"
falhasse. As suas clarinadas eram sagradas.
Até o dia em que o glorioso Club de Regatas Vasco da Gama
expediu-lhe uma carta, comunicando-lhe de que ele estava banido do seu quadro
associativo. Por falta de pagamento.
Que
pena, Ramalho! Ele só ainda não havia passado por tal vergonha,
antes, porque o Diretor de futebol cruzmaltino, Antônio Calçada, pagara um ano
inteiro de suas mensalidades. Vencida a benesse, ele não tinha como honrar o
compromisso, pois a sua renda, como estivador no Cais do Porto do Rio de
Janeiro, malmente, dava para alimentará-lo, e sua mulher, com os cinco filhos.
A sua barra era pesadísisma.
Muito
triste, devido ao inesperado sucedido, o desolado Ramalho foi ao
Calçada e mostrou-lhe o 'memorandum' do clube. Que horror! Logo com ele? Tudo o
que sempre mais quisera daquela sua vidinha de trabalhador e torcedor era
dizer: "Sou sócio do Vasco!" E exibir a sua carteirinha.
Por
aqueles dias em estivera banido da instituição que tanto amava, o abatido
Ramalho não compareceu ao Maracanã, para expandir as suas clarinadas durante os
jogos contra o América (1 x 1, em 02.10.1954), o Flamengo (1 x 2, em 17.10.1954),
pelo Campeonato Carioca. Pior para a "Turma da Colina". A rapaziada
perdeu altura no voo do "Urubu" e enganchou nos chifres
"Diabo". Para os craques Vascaínos, o motivo daqueles dois insucessos
não seria outro. Seguramente, a falta que haviam sentido do som do Ramalho. E
foram se queixar ao Calçada.
Motivo
mais do que definido para os dois tropeços cruzmaltinos, o Calçada presentiu
que era preciso encontar o Ramalho, rápido. Se possível, pra ontem! Caso
contrário, os jogadores iriam ficar esperando pela suas clarinadas, que não
ouviriam, e poderiam complicar mais a vida do time no campeonato.
Imediatamente, ele chamou o Presidente Artur Pires e o Diretor José
Rodrigues, e se mandaram, em busca do homem. O Pires, por sinal, fizera
questão, absoluta, de integrar a comitiva. mais do que
rapidão, vasculharam as fichas dos sócios e localizaram a casa do Ramallho
na Barreira do Vasco, pertinho de São Januário. Mas o carinha não morava mais
por lá. Mudara-se, para Bonsucesso. Então, os três foram pra a Zona Norte.
Pergunta daqui, dali, dacolá, de repente, ficaram sabendo do que queriam e
até que o procurado havia passado por uma cirurgia.
Enfim,
o trio de cartolas Vascaínos encontrou a casa do Ramalho.
Quando o Cadillac do Presidente Arthur Pires parou à porta de uma humilde casinha, o Diretor de Futebol bateu à porta, foi atendido por um garoto, mas quem apresentou-se foi o Pires. No ato, um garoto gritou: "Mãe! É o Presidente do Vasco!"
Quando o Cadillac do Presidente Arthur Pires parou à porta de uma humilde casinha, o Diretor de Futebol bateu à porta, foi atendido por um garoto, mas quem apresentou-se foi o Pires. No ato, um garoto gritou: "Mãe! É o Presidente do Vasco!"
O
"músico mamoneiro" Ramalho não estava. Naquele
instante, trabalhava no Cais do Porto. Mas não estava operado? Calçada
esperava encontrá-lo acamado. A mulher do torcedor, no entanto, deu-lhes
uma boa nova: o seu marido vinha tendo uma bela recuperação – da cirurgia
em um calo na boca, provocado pelas suas clarinadas. "Graças a Deus, está
melhor", disse ela.
Diante
da boa notícia, Antônio Calçada e Pires enfiaram as suas mãos nos bolsos
das suas respectivas calças e avisaram que o Vasco pagaria todas as despesas da
operação que tirara o Ramalho de combate.
Se este achava que as suas
clarinadas davam sorte ao time, eles também.
E Calçada fez mais: pagou toda a
dívida do sócio banido, por mais um ano.
Deixou o Ramalho recuperado, associativamente,
pronto para voltar a exibir a sua carteirinha. O Vasco precisaria das suas
clarinadas, no domingo.
Que ficasse bom, logo!
Fonte: http://kikedabola.blogspot.com.br/2014/08/blog-post_47.htmlVasco Domingos Ramalho e Dulce Rosalina 1958 |
Que história linda.
ResponderExcluirEste texto é do Mario Filho
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