quarta-feira, 5 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1986 TELÊ-DIDI-PELÉ

                                                                       “Sem Roberto a Seleção vai Perder”
                                                                               faixa no aeroporto

1986                        Telê-Didi-Pelé

Quem era torcedor vascaíno e chegava mais cedo para ver a preliminar entre os juvenis já conhecia o talento de Romário desde 1983[1]. Sua velocidade, suas arrancadas, dribles e gols já eram comemorados pelos torcedores que vislumbravam um futuro artilheiro para o clube de São Januário.
Em 1986 Romário assegurou definitivamente o lugar de titular e, junto de Roberto, compôs uma dupla infernal. O melhor exemplo foi o que aconteceu na decisão da Taça Guanabara no dia 21 de abril quando Vasco e Flamengo lotaram o Maracanã (mais de 120 mil) e Romário fez os dois gols da vitória. Foi uma festa nas arquibancadas que se prolongou por toda a cidade: “eram cânticos de guerra, batalha de bandeiras e muito carnaval, tudo misturado. Na arquibancada, parte da bateria da Escola de Samba Império Serrano empurrava o Vasco em campo. O tradicional “Casaca, casaca, zaca, zaca, zaca.../A turma é boa, é mesmo da fuzarca...” se misturava com o refrão do samba-enredo mais popular do Carnaval: “Me, dá, me dá, me dá o que  é meu/ Foram oito anos (adaptação para o tempo em que o Vasco ficou sem o título da Taça Guanabara) que alguém comeu...”[2].
Antes da decisão, Renato Aragão e Pelé, dois históricos torcedores do Vasco, tinham calado a torcida do Flamengo, ao entrarem juntos para gravarem cenas do filme “O Rei e os Trapalhões”. Na ocasião todas as imagens foram do lado direito, junto da torcida vascaína. A torcida do Flamengo morta de inveja só assistia de longe e via os protagonistas ensaiarem jogadas e correrem para comemorar junto a torcida da Cruz de Malta.
Enquanto o filme de Didi (Renato Aragão) fazia enorme sucesso com uma bilheteria de mais de 3,5 milhões de espectadores, o cinema nacional ficava mais pobre com o fim do Canal 100[3] em 1986. Em função da extinção da lei que permitia a propaganda nos cinejornais, os produtores daquela equipe encerraram as suas atividades. A própria decisão de 1986 foi filmada pelo pessoal do canal 100. Uma perda irreparável para o futebol e para os torcedores que a cada sessão se encantava com a magia das imagens que só o canal 100 conseguia nos proporcionar.
Como era ano de Copa do Mundo no México todas as atenções estavam voltadas para ver o Brasil repetir o que fez naquele país em 1970. Desde o carnaval com o desfile da Beija-Flor com o enredo “O mundo é uma bola”, que as torcidas se preparavam para fazer um novo carnaval em junho. Neste desfile da escola de Nilópolis várias torcidas organizadas foram chamadas para participar e formaram uma ala específica.
Sem nenhum jogador convocado, ao contrario dos adversários cariocas, parte da torcida do Vasco foi em maio no aeroporto para o embarque protestar levando faixas e cartazes pela ausência de Roberto na seleção. A derrota para a França nos pênaltis serviu de consolo para a torcida vascaína e a certeza de que com o artilheiro de São Januário as chances do Brasil seriam melhores. De quebra, poderia gozar de Zico e Sócrates, jogadores do Flamengo, que perderam pênaltis neste jogo decisivo.
Com a transmissão dos jogos tela TV, o melhor veio de um comportamento dos torcedores mexicanos que foi exportado para todo o Brasil: a ola.
Virou uma verdadeira febre entre as torcidas brasileiras fazer a “ola” quando os estádios ficavam cheios, repetindo a coreografia inventada pelos mexicanos. Milhares de pessoas em filas verticais iam levantando os braços em sintonia perfeita por toda a extensão da arquibancada.
O jornalista Nelson Mota, cobrindo para o jornal O Globo, relata a impressão do fenômeno: “o papo é sobre a ‘ola’ nos estádios, uma das grandes sensações desta Copa, uma criação espontânea da torcida mexicana que está deslumbrando o mundo com sua espetacular plasticidade e dinâmica, como se fosse uma obra de arte de massa”[4].
Se no primeiro semestre tudo perecia a nosso favor, no segundo, a sorte virou de lado, dentro e fora dos gramados. Perdíamos o campeonato carioca com um time superior ao rival e no começo do campeonato brasileiro, vários torcedores ficaram feridos em um confronto de torcidas em Vitória (ES). Na ocasião o jornalista Sergio Cabral dedicou toda a sua coluna[5] para condenar o fato: “a torcida carioca foi apedrejada, recebeu paulada, etc. E nenhuma autoridade local tomou qualquer providência para protegê-la. Foi sem dúvida, um domingo amargo para aqueles torcedores que viajaram em cinco ônibus (...)É um sacrifício que só a paixão do futebol pode explicar. São portanto, pessoas que merecem todo o carinho de quem deseja que o Brasil tenha um futebol sadio e vibrante”, conclui.
Ainda no final do ano, um jogo entre Vasco e Corinthians em São Januário, terminou em confusão dentro e fora do estádio. Com a infiltração de torcedores do Flamengo junto aos paulistas, acirrou ainda mais o animo dos torcedores. Na véspera, numa reunião dos torcedores vascaínos com o comandante do 4° Batalhão sobre os problemas que poderiam ocorrer. No entanto, com policiais despreparados para os conflitos nos grandes eventos esportivos, não conseguiram deter uma briga que a imprensa deu grande repercussão nos dias seguintes.
Foram vários jogos neste fim de ano que terminaram em confusão envolvendo várias torcidas[6] de diferentes estados. Para a imprensa esportiva carioca, começava a mudar a forma de ver as torcidas organizadas. Nos próximos anos o tom depreciativo começa a ganhar cada vez mais espaço.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1]  Na categoria juvenil e juniores do Vasco, consegue por três anos seguidos ser artilheiro e campeão carioca nos anos de 1982,1983 e 1984. No profissional  começou nos anos seguinte e já no Campeonato Carioca de 1985 foi vice-artilheiro. Terminou artilheiro do campeonato carioca de 1986 (20 gols) e 87 (16 gols).
[2] Fonte Revista Placar 28 de Abril de 1986.
[3] Sobre o assunto, Carlinhos Português lembra a paródia da música: “Garota eu sou da Força Jovem, vou ver meu time no cinema, freqüento a Praia de Ipanema,  eu vou curtir uma legal, Eu dou a volta, eu picho muro, eu fumo um bagulho, assalto banco, na minha vida ninguém manda não, eu vou onde vai o Vascão, eu dou porrada pra valer, eu boto a Jovem pra correr, antes do jogo eu vou beber, durante o jogo eu vou torcer” (versão de De repente Califórnia de Lulu Santos).
[4] Nelson Motta, Confissões de um Torcedor. Objetiva. Rio de Janeiro. 1998, p. 64.
[5] Fonte: Jornal O Globo Coluna Papo de Esquina de Sérgio Cabral 25 de Setembro de 1986.
[6] UM GRITO DE PAZ NA TORCIDA, VIOLÊNCIA ESTÁ ACABANDO COM FESTA DO FUTEBOL: Briga no Fla-Flu e no Vasco X Corinthians.. Fonte: Jornal do Brasil 18 de Dezembro de 1986

Vasco Maracanã 1986

Vasco São Januário 1986

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