“Aqui lutamos por negros e
operários”
Adesivo da Esquerda Vascaína
2018 “UUUUUUUUU”
As incertezas sobre quem seria o
novo presidente do clube com a divisão da chapa vencedora[1] já demonstravam aos
vascaínos que o ano de 2018 prometia muitas esperanças (com a volta do clube ao
disputar a Taça Libertadores e a vitória de um candidato de oposição) e também
muitas incertezas. Teria o novo presidente capacidade de unir o clube? Nosso
time estaria em condições de voltar a dar alegrias a massa vascaína? Os
resultados ao longo do ano com as frequentes divisões na política interna do
clube e as seguidas derrotas e eliminações precoces nas principais competições,
terminaram por frustrar a todos os cruzmaltinos.
O
time começa empolgando na Libertadores com uma convincente vitória de 4 a 0 no Universidad
de Concepcion, no Chile. No mesmo período o Vasco disputa o campeonato carioca
e consegue chegar a final como favorito diante do Botafogo. Diante de quase 60
mil pessoas (o maior público do clube no ano) o time consegue manter o empate
(placar que lhe dava o título) até o final. Quando a torcida já ensaiava os
gritos de “é campeão!!!” veio o gol do Botafogo. Nos pênaltis, o adversário
consegue nos superar por 4 a 3.
Perdido
o estadual, começávamos a atravessar o pior momento do ano com a eliminação na
Libertadores após a derrota para o Cruzeiro em pleno estádio de São Januário
com um placar adverso avassalador: 4 a 0. Na mesma época o clube vendeu a nossa
maior promessa, o atacante revelado nas bases Paulinho, por 20 milhões de euros
(a maior venda de um atleta na história do clube).
Não
faltavam elementos para uma crise profunda se instalar no clube. Sem sua maior
promessa, eliminado precocemente na Libertadores, com derrotas inexplicáveis e
acirrada briga interna entre sócios, torcedores e conselheiros, sobrou para o
técnico Zé Ricardo que pede demissão.
A
maior polêmica do ano para os torcedores do Vasco não foi contra os torcedores
rivais ou seus dirigentes. Começou através de uma foto em que sete jogadores[2] postaram em suas redes
sociais criticando a atitude da vaia dos torcedores (“Hhhhhuuuuu” era a legenda
em que os jogadores posam na foto). O que os atletas não esperavam foi a imensa
repercussão dos vascaínos que se mobilizaram pela internet e passaram a reagir
com muita veemência. Durante a semana e ao longo de todo o ano os jogadores não
tiveram vida fácil e foram hostilizados pelos estádios e no mundo virtual
Pouco
antes da Copa do Mundo na Rússia um grupo de torcedoras cria um coletivo em
defesa da presença feminina nos estádios. O grupo “Vascaínas contra o Assédio”
foi a grande novidade nas arquibancadas carioca deste ano promovendo inúmeras
campanhas ao longo do ano ao defender uma série de ações afirmativas combatendo
o ambiente de machismo nos estádios.
A repercussão mundial de um vídeo de
brasileiros assediando uma russa as vésperas da Copa demonstrava como aquele
comportamento estava enraizada na cultura torcedora brasileira. O repúdio nas
redes sociais serviu de estímulo para várias iniciativas de combate a este tipo
de comportamento. A ação inicial das vascaínas, só serviu para confirmar o
pioneirismo de nosso clube.
Uma pausa para os vascaínos se
concentrarem em acompanhar a Copa e a estrela do ex-jogador vascaíno Philippe
Coutinho começa o ofuscar o grande nome da seleção, o atacante Neymar. O
vascaíno é o principal destaque da seleção na primeira fase da competição. Mas
este não vai ser um ano para os cruzmaltinos comemorarem nada. O Brasil é eliminado pela Bélgica. Restava a
Copa do Brasil, a Sul Americana e o Campeonato Brasileiro.
Pela
Copa do Brasil, a vitória de 2 a 0 diante do Bahia não possibilitou passarmos
de fase. No torneio internacional, novamente o time até consegue vencer o LDU
(Equador) com vitória de 1 a 0 em São Januário (quase 20 mil pagantes) mas o
resultado não foi suficiente para a classificação. Restaram os aplausos ao time
e as vaias para o técnico Jorginho, que foi chamado de “burro” pelos
torcedores.
Na véspera de comemorar os 120 anos de
fundação, o Vasco recebe o Ceará em casa. Diante de um adversário na penúltima
colocação, milhares de vascaínos lotam[3] São Januário e pressionam
o time ao ataque entoando: “não é mole não, ganhar no Caldeirão é obrigação”, mas
saem frustrados com um empate. O time continuava muito próximo da zona de
rebaixamento.
Em
setembro o time do Vasco volta a jogar no Maracanã para enfrentar o Santos.
Cerca de 34 mil pessoas (maior público no Rio fora os clássicos) se revoltam
com a derrota por 3 a 0[4]
e gritam “time sem vergonha”. O resultado é uma ducha de água fria nas
pretensões do clube se afastar da zona de rebaixamento.
A
reta final do Brasileirão combinou com a tensão na acirrada disputa
presidencial do Brasil que fez os ânimos se exaltarem em todo o país. Nas
arquibancadas cariocas e nas ruas da cidade, a novidade veio da união de
movimentos de torcedores de esquerda que se unem para defenderem suas bandeiras
nos estádios e nas passeatas. Em São Januário, o movimento “Esquerda Vascaína”[5] aproveita o momento de
adesão irrestrita dos torcedores nos jogos contra (Atlético-PR, público de 20 mil,
São Paulo 15 mil e Palmeiras, recorde de público em nossa casa em 2018 com 21 mil pessoas) e faz uma
campanha com milhares de adesivos no peito lembrando o passado glorioso do
clube ao lutar contra o racismo e destacar sua origem social. Na semana de
comemoração do Dia da Consciência Negra, os vascaínos recebem o adesivo com a
frase: “aqui lutamos por negros e operários”.
Apesar
de a torcida abraçar o time em casa o fantasma do rebaixamento se prolongou até
o último jogo. “UFA” esta foi a expressão de alívio que os vascaínos de todo o
Brasil manifestaram quando o juiz apitou o final da partida diante do Ceará. O
empate em 0 a 0 amenizou a humilhação diante da iminência de um novo
rebaixamento e dos terríveis cálculos matemáticos que fazíamos para derrotas
dos outros candidatos a caírem de divisão. O ano terminou de forma melancólica
para uma torcida que em momento algum abandonou o time nas últimas rodadas.
Diante de tantos sofrimentos e desilusões, foi o que salvou o nosso orgulho ao
demonstrar tamanha dedicação ao clube em momento tão delicado. Poucos clubes
podem ter isto em sua História. Mas em honra aos times do passado o nosso destino
glorioso de vitórias deve ser logo retomado.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”,
escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1]
A primeira surpresa do ano para os vascaínos veio em janeiro através da eleição
de Alexandre Campello ( recebeu 154 de 242 votos de conselheiros). Esta foi a primeira vez na história do clube que o
vencedor da eleição realizada pelos sócios ( Julio Brant) não venceu no
Conselho Deliberativo.
[2]
Fabrício, Gabriel Felix, Erazo, Evander, Paulão, Wellington e Rafael Galhardo.
[4]
Esta foi a primeira derrota do Vasco para o Santos no Maracanã depois do jogo
em que Pelé marcou o milésimo gol em 1969.
[5]
Criado em 2017, o movimento de torcedores “Esquerda Vascaína” começou a se destacar
em 2018 ao fazer diversos atos e protestos políticos no estádio.
Vasco faixas de Campeão |
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