terça-feira, 18 de dezembro de 2018

VASCO 2018: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2018 UUUUUUUUU


                                                       “Aqui lutamos por negros e operários”
                                                            Adesivo da Esquerda Vascaína

2018                   “UUUUUUUUU”
            
As incertezas sobre quem seria o novo presidente do clube com a divisão da chapa vencedora[1] já demonstravam aos vascaínos que o ano de 2018 prometia muitas esperanças (com a volta do clube ao disputar a Taça Libertadores e a vitória de um candidato de oposição) e também muitas incertezas. Teria o novo presidente capacidade de unir o clube? Nosso time estaria em condições de voltar a dar alegrias a massa vascaína? Os resultados ao longo do ano com as frequentes divisões na política interna do clube e as seguidas derrotas e eliminações precoces nas principais competições, terminaram por frustrar a todos os cruzmaltinos.
O time começa empolgando na Libertadores com uma convincente vitória de 4 a 0 no Universidad de Concepcion, no Chile. No mesmo período o Vasco disputa o campeonato carioca e consegue chegar a final como favorito diante do Botafogo. Diante de quase 60 mil pessoas (o maior público do clube no ano) o time consegue manter o empate (placar que lhe dava o título) até o final. Quando a torcida já ensaiava os gritos de “é campeão!!!” veio o gol do Botafogo. Nos pênaltis, o adversário consegue nos superar por 4 a 3.
Perdido o estadual, começávamos a atravessar o pior momento do ano com a eliminação na Libertadores após a derrota para o Cruzeiro em pleno estádio de São Januário com um placar adverso avassalador: 4 a 0. Na mesma época o clube vendeu a nossa maior promessa, o atacante revelado nas bases Paulinho, por 20 milhões de euros (a maior venda de um atleta na história do clube).
Não faltavam elementos para uma crise profunda se instalar no clube. Sem sua maior promessa, eliminado precocemente na Libertadores, com derrotas inexplicáveis e acirrada briga interna entre sócios, torcedores e conselheiros, sobrou para o técnico Zé Ricardo que pede demissão.
A maior polêmica do ano para os torcedores do Vasco não foi contra os torcedores rivais ou seus dirigentes. Começou através de uma foto em que sete jogadores[2] postaram em suas redes sociais criticando a atitude da vaia dos torcedores (“Hhhhhuuuuu” era a legenda em que os jogadores posam na foto). O que os atletas não esperavam foi a imensa repercussão dos vascaínos que se mobilizaram pela internet e passaram a reagir com muita veemência. Durante a semana e ao longo de todo o ano os jogadores não tiveram vida fácil e foram hostilizados pelos estádios e no mundo virtual
Pouco antes da Copa do Mundo na Rússia um grupo de torcedoras cria um coletivo em defesa da presença feminina nos estádios. O grupo “Vascaínas contra o Assédio” foi a grande novidade nas arquibancadas carioca deste ano promovendo inúmeras campanhas ao longo do ano ao defender uma série de ações afirmativas combatendo o ambiente de machismo nos estádios.
            A repercussão mundial de um vídeo de brasileiros assediando uma russa as vésperas da Copa demonstrava como aquele comportamento estava enraizada na cultura torcedora brasileira. O repúdio nas redes sociais serviu de estímulo para várias iniciativas de combate a este tipo de comportamento. A ação inicial das vascaínas, só serviu para confirmar o pioneirismo de nosso clube.
            Uma pausa para os vascaínos se concentrarem em acompanhar a Copa e a estrela do ex-jogador vascaíno Philippe Coutinho começa o ofuscar o grande nome da seleção, o atacante Neymar. O vascaíno é o principal destaque da seleção na primeira fase da competição. Mas este não vai ser um ano para os cruzmaltinos comemorarem nada.  O Brasil é eliminado pela Bélgica. Restava a Copa do Brasil, a Sul Americana e o Campeonato Brasileiro.
Pela Copa do Brasil, a vitória de 2 a 0 diante do Bahia não possibilitou passarmos de fase. No torneio internacional, novamente o time até consegue vencer o LDU (Equador) com vitória de 1 a 0 em São Januário (quase 20 mil pagantes) mas o resultado não foi suficiente para a classificação. Restaram os aplausos ao time e as vaias para o técnico Jorginho, que foi chamado de “burro” pelos torcedores.
             Na véspera de comemorar os 120 anos de fundação, o Vasco recebe o Ceará em casa. Diante de um adversário na penúltima colocação, milhares de vascaínos lotam[3] São Januário e pressionam o time ao ataque entoando: “não é mole não, ganhar no Caldeirão é obrigação”, mas saem frustrados com um empate. O time continuava muito próximo da zona de rebaixamento.
Em setembro o time do Vasco volta a jogar no Maracanã para enfrentar o Santos. Cerca de 34 mil pessoas (maior público no Rio fora os clássicos) se revoltam com a derrota por 3 a 0[4] e gritam “time sem vergonha”. O resultado é uma ducha de água fria nas pretensões do clube se afastar da zona de rebaixamento.
A reta final do Brasileirão combinou com a tensão na acirrada disputa presidencial do Brasil que fez os ânimos se exaltarem em todo o país. Nas arquibancadas cariocas e nas ruas da cidade, a novidade veio da união de movimentos de torcedores de esquerda que se unem para defenderem suas bandeiras nos estádios e nas passeatas. Em São Januário, o movimento “Esquerda Vascaína”[5] aproveita o momento de adesão irrestrita dos torcedores nos jogos contra (Atlético-PR, público de 20 mil, São Paulo 15 mil e Palmeiras, recorde de público em nossa casa  em 2018 com 21 mil pessoas) e faz uma campanha com milhares de adesivos no peito lembrando o passado glorioso do clube ao lutar contra o racismo e destacar sua origem social. Na semana de comemoração do Dia da Consciência Negra, os vascaínos recebem o adesivo com a frase: “aqui lutamos por negros e operários”.
Apesar de a torcida abraçar o time em casa o fantasma do rebaixamento se prolongou até o último jogo. “UFA” esta foi a expressão de alívio que os vascaínos de todo o Brasil manifestaram quando o juiz apitou o final da partida diante do Ceará. O empate em 0 a 0 amenizou a humilhação diante da iminência de um novo rebaixamento e dos terríveis cálculos matemáticos que fazíamos para derrotas dos outros candidatos a caírem de divisão. O ano terminou de forma melancólica para uma torcida que em momento algum abandonou o time nas últimas rodadas. Diante de tantos sofrimentos e desilusões, foi o que salvou o nosso orgulho ao demonstrar tamanha dedicação ao clube em momento tão delicado. Poucos clubes podem ter isto em sua História. Mas em honra aos times do passado o nosso destino glorioso de vitórias deve ser logo retomado.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] A primeira surpresa do ano para os vascaínos veio em janeiro através da eleição de Alexandre Campello ( recebeu 154 de 242 votos de conselheiros). Esta  foi a primeira vez na história do clube que o vencedor da eleição realizada pelos sócios ( Julio Brant) não venceu no Conselho Deliberativo.
[2] Fabrício, Gabriel Felix, Erazo, Evander, Paulão, Wellington e Rafael Galhardo.
[3]  Cerca de 15 mil pessoas numa segunda-feira a noite.
[4] Esta foi a primeira derrota do Vasco para o Santos no Maracanã depois do jogo em que Pelé marcou o milésimo gol em 1969.
[5] Criado em 2017, o movimento de torcedores “Esquerda Vascaína” começou a se destacar em 2018 ao fazer  diversos  atos e protestos políticos no estádio.


Vasco faixas de Campeão

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