sábado, 1 de abril de 2023

FORÇA JOVEM 2022: DAS AMIZADES ENTRE TORCEDORES À FORMAÇÃO DAS ALIANÇAS: O PROTAGONISMO DAS TORCIDAS ORGANIZADAS

Essa força que os torcedores apresentavam se consolidava com a formação das alianças entre as torcidas organizadas que surgiam, sobretudo na década de 1980, fundamentalmente, incentivadas pela, inicialmente, simbólica aliança entre os torcedores do Flamengo e do Corinthians.

No dia 04 de maio de 1980, pelo campeonato brasileiro de futebol, haveria rodada dupla no Estádio do Maracanã. Na partida preliminar jogariam as equipes do Flamengo e do Bangu. Em seguida, era a vez de entrarem em campo as equipes do Vasco da Gama e do Corinthians. Além do retorno triunfante de Roberto Dinamite, no qual marcou os cinco gols da vitória do clube carioca por 5 a 2 sobre os paulistas, foi justamente nessa partida que o então presidente do clube carioca Marcio Braga promoveria a formação da FLA-FIEL.

 Esse incipiente relacionamento, conforme destacado pelo Jornal do Brasil de 1980, entre os torcedores do Flamengo e do Corinthians se configura como o pontapé inicial desse movimento inicial de alianças entre torcidas organizadas. Esse contexto é corroborado pelo Marcos Vieira dos Santos o “Marcão”, ex – integrante da Mancha Alviverde e também da TUP – importantes torcidas do Palmeiras –, e que viveu esse período.

“E aí começou a amizade entre Corinthians e Flamengo. Aliança Corinthians e Flamengo. Aliança forte! Um vinha na sede do outro. Corinthians ia no Rio. Tinha briga Palmeiras e Flamengo aqui em São Paulo e tinha cara do Corinthians no meio. Em 1979, teve um jogo no Maracanã, Palmeiras e Flamengo. A briga com o Flamengo começou mais ou menos aí. O Palmeiras ganhou de 4 a 1 do Flamengo com um time de moleque, no final de 1979. Em 1980, já acabou o campeonato e começou outro campeonato que a Globo começou a transmitir partida e começou com esse negócio de Fla-Fiel.

Em 1979, não tinha briga com o Flamengo. Chegamos no Maracanã cedo. Os caras do Flamengo colocaram a gente para dentro. Colocamos faixa, bandeira e tudo. Faltava meia hora para começar o jogo, o pessoal da TOV do Vasco apareceu com bandeira no Maracanã. Os caras do Flamengo vieram e falaram que nós estávamos lá o dia inteiro e tal...tira esses caras daí. Nós falamos que não ia tirar não. Nós não temos nada a ver com a briga de vocês com o Vasco aí. O Palmeiras ganhou de 4 a 1 e na hora da saída, foi a maior caravana que a torcida do Palmeiras já fez até hoje. Na hora da saída, os ônibus estavam parados lá fora e vários ônibus nossos foram apedrejados. Aí veio 1980 e o Corinthians começou com a amizade com o Flamengo e nessa aí a torcida do Palmeiras começou amizade com o Vasco. Com a TOV, com a Força Jovem ainda pequena” [Marcos, Mancha Verde].

Tal como relatado pelo entrevistado, em função dessa aliança entre o rubro – negro carioca e o alvinegro paulista, inevitavelmente, os torcedores palmeirenses que nutriam um bom relacionamento com os flamenguistas, aproximam-se ainda mais dos torcedores vascaínos. Tal cenário se consolida com a aliança formada, especialmente, entre a Torcida Força Jovem do Vasco e a então Mancha Verde do Palmeiras. Sobre essa relação, os torcedores destacam duas versões.

A primeira versão apresenta um viés saudosista, remetendo a década de 1940, antes mesmo da existência desses dois agrupamentos. Sobre essa versão, o ex – presidente da Mancha Alviverde, Ricardo Raphael, destaca uma proximidade que precede o surgimento das torcidas organizadas.

“Palmeiras e Vasco tem torcidas aliadas antes mesmo de existir Mancha e a Força. Ouço falar que essa amizade vem desde a década de 1950, no qual elas já eram aliadas “[Ricardo Raphael, Mancha Verde].

Sobre essa relação, o Marcão acrescenta que esse vínculo advém da longínqua década de 1940.

“A amizade com o Vasco veio na época da guerra. Em 1940 o Brasil entrou na guerra contra o eixo. Alemanha, Japão e Itália. O Palmeiras era Palestra Itália na época e o São Paulo quis tomar o patrimônio do Palmeiras e um diretor do Vasco, Capitão Adalberto Mendes, ele vinha muito para São Paulo na época da guerra. Inclusive ele liberou São Januário para o exército fazer treinamento. Ele vinha muito para São Paulo e pegou amizade e amor pelo Palestra e na época da guerra o Palestra não foi tomado por causa dele. Ele entrou até fardado em uma final contra o São Paulo com a bandeira do Brasil. Naquela época não podia desfilar com a bandeira do Brasil sem ser cerimonia e ser nada e ele praticamente salvou o Palestra da extinção porque eles iam tomar o patrimônio do Palmeiras. Eles acabaram com o time de alemão que era dono do terreno do Canindé. Eles tomaram o patrimônio deles e foi assim a amizade. Dentro da sala de Troféu do Palmeiras tem uma bandeira do Vasco junto ao troféu de 1942 em homenagem a esse senhor, Capitão Adalberto Mendes. Então é uma amizade histórica que vem lá de trás. É muita coisa junta e quando se fala de Vasco lembra do 1948 Palmeiras e vice-versa. Você vai ao Rio de Janeiro para Palmeiras e Vasco é a mesma coisa de você está em casa. A único coisa ruim do Vasco é a cor, preta e branca, por que o nosso maior rival é preto e branco também. Mas depois a Mancha teve muita amizade com a torcida da Força Jovem também e a TUP na época era muita amiga da Torcida Jovem do Botafogo e também é muito amiga da Galoucura também. Infelizmente a TUP praticamente acabou, mas foi uma grande torcida que nós fizemos parte, depois nós fomos para a Mancha.” [Marcão, Mancha Verde].

Essa história apresentada pelos dois ex – membros da torcida organizada palmeirense, é retratada no próprio site do Palmeiras10.

Em 1942, o Brasil, sob o governo de Getúlio Vargas entraria na segunda guerra mundial, ao lado dos países Aliados – dentre eles, os Estados Unidos – contra os países do Eixo, formado por alemães, italianos e japoneses. Em função desse cenário, foi implementado pelo Estado Novo de Vargas a Campanha de Nacionalização. Elaborada para construir uma versão da identidade nacional brasileira, essa ação reprimia representações étnicas e culturais que não se enquadravam no perfil do considerado genuíno brasileiro. Sobre essa perspectiva, o Palestra Itália passaria por inúmeras dificuldades nesse período em razão da sua natureza italiana. Diante desse cenário, a instituição palestrina não teve outra opção, senão, mudar o seu nome para Sociedade Esportiva Palmeiras. E a mudança ocorreu dias antes da partida que seria jogada contra a equipe do São Paulo, considerado por muitos, como um dos principais responsáveis pela perseguição à equipe alviverde. O agora, Palmeiras precisaria de apenas uma vitória diante da equipe do Morumbi para sagrar-se campeão estadual. O jogo foi realizado no Estádio do Pacaembu sob um clima de muita tensão. No momento de entrada em campo é que, vem o ápice dessa história. Diante das vaias que se ensaiavam precedendo a entrada do time palmeirense, os jogadores surgiram no gramado do Estádio do Pacaembu com uma bandeira do Brasil, puxada pelo Capitão do Exército Brasileiro e vascaíno, Adalberto Mendes. A partida terminaria 3 a 1 para a equipe do Palmeiras. Essa partida ficou marcada na história do clube como a “Arrancada Heroica”. Justamente pela presença de um torcedor do Vasco na história do Palmeiras é que muitos atribuem essa longevidade da amizade entre os torcedores.

A segunda versão sobre esse forte vínculo entre palmeirenses e vascaínos remete à uma figura emblemática na história da Mancha Alviverde. Cléo Sóstenes Dantas da Silva, ou simplesmente Cléo. Foi presidente da Mancha entre os anos de 1987 e 1988. Sergipano e de família Vascaína, ele é apontado como um dos principais responsáveis pela manutenção dessa amizade, no caso, no âmbito das duas torcidas organizadas.

“A Mancha e a Força Jovem do Vasco começaram a amizade porque o Cléo gostava muito do Vasco. A família dele era sergipana e torcia pelo Vasco e pelo Palmeiras. E o Cléo iniciou o contato com a Força Jovem no começo dos anos 1980. A amizade foi aumentando. O pessoal vinha para São Paulo em churrasco ou jantares da torcida. O pessoal ia daqui para o Rio de Janeiro também. E tinha outra, naquela época anos 1980 e início dos anos 90, todo jogo em São Paulo o pessoal da Mancha ia no jogo do Vasco. Todo jogo do Palmeiras no Rio o pessoal do Vasco ia também. A gente estava sempre em contato. O Vasco ia jogar contra a Portuguesa a gente estava lá. O Palmeiras jogava contra o América lá em Caio Martins, o pessoal do Vasco estava lá. Aí foi fortalecendo a amizade “[Marcão, Mancha Verde].

“A respeito dos encontros da Força Jovem, quando nós íamos para São Paulo, quando íamos encontrar com o pessoal do Palmeiras, o pessoal da Mancha, o pessoal da TUP e o pessoal da Inferno Verde, a gente encontrava com eles lá no estádio do Parque Antártica – a galera não tinha sede e nem quadra – em dias de jogos nossos ou quando tinha uma final do Palmeiras e a galera ia daqui para São Paulo e nos encontrávamos na casa de amigos lá. Quando eles vinham aqui para o Rio de Janeiro, a gente encontrava com eles em São Januário. Fazíamos com eles churrascos. Tinha churrasco tanto em São Paulo quanto no Rio. Eles também vinham aqui para curtir uma final. Vasco e Flamengo ou Vasco e Fluminense. Jogo da Seleção Brasileira, o pessoal da mancha vinha com um ônibus, encontrávamos com eles em São Januário e íamos para o Maracanã” (Delcio Monteiro Índio, FJV].

Fonte: ALIANÇAS ENTRE TORCIDAS ORGANIZADAS: análise a partir da união estabelecida entre a Torcida Organizada Galoucura, a Mancha Alviverde e a Força Jovem, Adriano Lopes de Souza

Força Jovem e Mancha Verde Morumbi 1988

Força Jovem e Mancha Verde 2015

Força Jovem e Mancha Verde 2015

Força Jovem e Mancha Verde 2015


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