O Vasco começou o Campeonato de 1923, ganhando de
todos os rivais, isso estava incomodando os Clubes da elite, como um time que
vinha de uma divisão inferior, com
jogadores negros, mulatos, analfabetos ganhava jogo após jogo.
FLAMENGO 1 X 3 VASCO
No primeiro jogo entre Flamengo x Vasco, vitória do
Vasco por 3 x 1 no Campo do Flamengo na Rua Paysandu, no dia 29 de abril, a
Torcida do Vasco fez um verdadeiro carnaval pelas ruas do Rio.
“ Os admiradores do Vasco da Gama, em número
considerável, como toda gente sabe, fizeram uma alegre passeata de automóvel
pela cidade e arrebaldes festejando a vitória que o primeiro team obteve contra
o Flamengo. Até tarde da madrugada ouvia-se, de vez em quanto, o enthusiasmo e
a alegria dos torcedores do Club vencedor. Na Sede do Vasco, em Santa Luzia,
houve um animado reco-reco, sendo feita aos jogadores uma carinhosa
manifestação. (Correio da Manhã 30 de Abril de 1923)”
A partir deste momento, os cariocas precisavam se
acostumar com isso. Cada vitória do Vasco viria acompanhada de muita festa e
diversão até altas horas da madrugada. Era o grito de uma Torcida mesclada de
membros da colônia portuguesa e simpatizantes oriundos das camadas mais baixas
da população brasileira, negros ou brancos, impressionados com as oportunidades
que os homens portugueses abriam aos seus pares.
Ganhar do Vasco virou uma questão de honra.
“O Maior jogo da Cidade, o enorme interesse que
despertou o importantíssimo encontro Flamengo x Vasco da Gama atingiu um ponto
nunca alcançado no Brasil inteiro, desde que foi introduzido o football
association. (Gazeta de Notícias 10 de Julho de 1923)
Não havia Estádio no Rio que abrigasse tantos
Vascaínos.
Vasco e Flamengo eram os únicos em condições de ganhar
o título daquele ano.
Tornou-se uma questão nacional derrotar o Vasco. O
jacobismo no futebol, lançando o brasileiro contra o português, como escreveu
Mário Filho.
VASCO 2 x 3 FLAMENGO
O jogo do
returno entre Vasco x Flamengo aconteceu no
Estádio das Laranjeiras lotado com 25.000 pessoas com vitória do Flamengo por
3 x 2.
O jogo entre Vasco e Flamengo se
deu com os torcedores do Flamengo com seus remos a postos para bater: “Os
remadores segurando as pás de remo, ainda se contendo, a ordem era só meter pá
de remo na cabeça de português depois que o jogo começasse.
“E era o da mistura que estava na
frente do Campeonato, sem uma derrota. Tinha que perder, pelo menos uma vez de
qualquer maneira. O Flamengo não se prepara durante a semana para outra coisa.
Treinando todo dia, dormindo cedo, pondo a garage em pé de guerra.
Também quando o jogo começa o
Flamengo tomou conta do campo, da arquibancada, da geral, de tudo. Flamengo um
a zero, pás de remo embrulhadas em Jornal do Brasil batendo nas cabeças dos
vascaínos, Flamengo dois a zero e novamente as pás de remo subindo e descendo.
Quem era Vasco não tinha direito de abrir a boca....
O Flamengo deixara de ser um Clube,
um time, era todos os Clubes, todos os times, o futebol brasileiro branquinho,
de boa família. Tudo estava naqueles dois a zero, os pretos não tinham nem dado
para a saída...
Foi começar o segundo tempo, gol do
Vasco. E os vascaínos sem poder gritar gol. Um gritozinho, uma pá de remo na
cabeça, Só se gritava Flamengo, o Flamengo acabou marcando mais um gol....”
O jogo cegou a ficar três a dois
para o Flamengo e um gol suspeito não foi validado para o Vasco:
“Ai os vascaínos da geral, da
arquibancada, não quiseram saber de mais nada, de pá de remo na cabeça, fosse o
que fosse. Sururus explodiam, aqui e ali, como pipocas. Soldados corriam de
sabre desembainhando, de um lado para o outro, a cavalaria invadiu o campo. Não
adiantava brigar, o Flamengo tinha de vencer custasse o que custasse.
Depois do jogo dava pena olhar para
o campo do Fluminense. O povo tinha quebrado as grades de ferro, a cavalaria
tinha esburacado o gramado todo...”
O Vasco também fez sua represaria:
“ A Sede do Flamengo apareceu pichada, de cima para baixo. Coisa de torcedores
exaltados. Qual era o Clube que não tinha torcedores exaltados” (Mário Rodrigues
Filho no livro O Negro no Futebol Brasileiro de 1964)
O futebol, um “turbilhão das
emoções violentas”, unia a elite do Rio de Janeiro contra o time dos
portugueses, o time do povo do Rio de Janeiro. A derrota do Vasco por 3 x 2 foi
a vitória da elite, dos incluídos, cujos Clubes comemoraram a vitória, muito
mais do que fosse um campeonato. Era necessário derrubar o time dos “pretos”,
expressão de Mário Filho, colocá-los no seu devido lugar e mostrar que futebol
para gente importante. Numa das partes do livro, ele dá uma ideia do que houve
depois do jogo.
“Foi um carnaval. Mais de cem automóveis
desfilaram pela cidade seguindo o itinerário da Praia do Flamengo, Glória,
Largo da Lapa, para jogar bombas na Capela, Av. Mem de Sá, Rua Evaristo da
Veiga, Av. Rio Branco, Rua Larga, Praça da República, Rua Visconde de Itaúna e
Praça Onze, assim como para jogar bombas na Cervejaria Vitória, onde os
Vascaínos gostavam de festejar seus triunfos.
A Cervejaria Vitória na Praça Onze,
teve de fechar as pressas. As cabeças de negro, mosteiros, batiam nas portas de
aço ricocheteando (....) O Cortejo continuou, durante toda a noite, o Flamengo
festejou a vitória. E quando se ia desfazer o cortejo, alta madrugada,
pendurou-se o tamanco de dois metros e meio na porta da Sede do Vasco, em Santa
Luzia. Achou-se pouco. Comprou-se uma enorme coroa funerária no Mercado das
Flores. A coroa ficou ao lado do tamanco, E, como se isso não bastasse,
enfeitou-se a estátua de Pedro Álvares Cabral de tamancos e resteas de cebola.”
Fonte de pesquisa:
Livro: O Negro no Futebol Brasileiro de Mário Rodrigues Filho de 1947 e depois com mais dois novos capítulos em 1964.
Tese: Revolução Vascaína: A profissionalização do futebol e a inserção sócio-econômica de negro e portugueses da cidade do Rio de Janeiro, de João Manoel Casquinha Malaia Santos.
Tese: Torcida de Futebol, Adesão, Alienação e Violência de Roberto Momeiro Hryniewicz.
Livro: O Negro no Futebol Brasileiro de Mário Rodrigues Filho de 1947 e depois com mais dois novos capítulos em 1964.
Tese: Revolução Vascaína: A profissionalização do futebol e a inserção sócio-econômica de negro e portugueses da cidade do Rio de Janeiro, de João Manoel Casquinha Malaia Santos.
Tese: Torcida de Futebol, Adesão, Alienação e Violência de Roberto Momeiro Hryniewicz.
Vasco 3 x 1 Flamengo Revista Fon Fon 1923 |
Vasco Jornal O Paiz 1923 |
Vasco Jornal O Paiz 1923 |
Vasco Jornal O Paiz 1923 |
Vasco 2 x 3 Flamengo Revista Fon Fon 1923 |
Vasco Jornal O Globo 1970 |
Vasco Jornal O Globo 1996 |
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