domingo, 23 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1991 A VOLTA DAS FAMÍLIAS AOS ESTÁDIOS

                             “A importância e o poder de decisões dessas pessoas nos
                              clubes está muito grande e tomando um caminho perigoso.”
                                          Zagallo – técnico do Vasco em 1991

1991             A Volta das Famílias aos Estádios

        O crescimento vertiginoso da FJV que chegou a triplicar de tamanho levou os diretores da associação dar um novo passo para a sua melhor organização em meados do ano, dividindo a torcida em várias regiões[1] da cidade do Rio de Janeiro e Niterói. Tudo isto foi decidido após um estudo de viabilidade e segurança de cada núcleo que passou a ser chamado de “família”. Coube a região do Méier, local simbólico de origem da torcida e principal local de arregimentação de torcedores vascaínos, ser a “1ª Família”. Também foi nesta área que surge a primeira sede da associação.
A idéia inicial era garantir o entrosamento e o bom relacionamento entre os membros de um mesmo local e facilitar o encontro dos torcedores para seguirem juntos para os estádios. Por outro lado, facilitar a comunicação entre os diretores (“cabeças”) e as novas lideranças, bem como os novos adeptos.
            Uma mudança importante em julho de 1991 veio com a criação do GEPE (Grupamento Especial de Policiamento nos Estádios) pelo recém-eleito governador Leonel Brizola e seu vice, Nilo Batista, que também acumulava o Secretario de Segurança. O GEPE era um órgão ligado a Policia Militar do Rio de Janeiro com a função específica de adotar medidas inovadoras no combate a crescente violência entre as torcidas organizadas na cidade. Com uma política de orientação menos repressiva e mais preventiva, o GEPE procurou um diálogo não só com os torcedores para adotar suas ações como também inovou entrando em contato com Mauricio Murad, professor de Sociologia na UERJ e fundador do Núcleo de Sociologia do Futebol[2] em 1990. Na ocasião, os policiais foram convidados para palestras na Universidade, além da troca de informações com outras instituições que estudavam a violência urbana.
            Nestes anos os jornais fazem inúmeras matérias contra as organizadas, especialmente sobre a Força Jovem, sempre com uma ênfase negativa, com títulos pejorativos, com insinuações de relações perigosas, enfim, desvalorizando a organização e privilegiando os aspectos mais polêmicos, embora estes já permeassem o universo das torcidas há muitos anos.
            Estes são alguns dos exemplos que podemos comprovar do processo de “destruição” das torcidas feitas pela imprensa:
 1 - FORÇA JOVEM: QUANDO A PRESSÃO DA TORCIDA É A VOZ DOS CARTOLAS
Contratadas ou subvencionadas pelas Diretorias de seus Clubes, várias Torcidas Organizadas servem para fazer o que espertos Cartolas evitam pessoalmente. E caso se sintam mais seguras até influem na queda de Presidente, como já aconteceu no Flamengo (...)
Com extrema habilidade, os Dirigentes utilizam, se necessário, as Torcidas Organizadas como massa de manobra. No atual Campeonato Brasileiro, isso ficou claro duas vezes.Quando queriam demitir Zagalo, mas não sabiam como, recorreram a Força Jovem, que passou a perseguir o Treinador até deixá-lo em situação insustentável”[3].
2 - FORÇA JOVEM E PEQUENOS VASCAÍNOS: PAIOL DAS TORCIDAS NO MARACANÃ PODE FECHAR:
A violência no clássico de domingo no Maracanã entre as Torcidas do Vasco e Flamengo pode ter decretado o fim da ocupação de Salas especiais no Estádio pelos torcedores organizados.
O subsecretário de Esporte do Rio, Valter Oaquim admitiu ontem despejar as Torcidas das Salas que usam para guardar material e cortar as vantagens dadas e seus Chefes, como o ingresso gratuito para organizar o grupo em dias de jogos[4].
            Por outro lado, contraditoriamente foi comum ainda encontrar no mesmo período matérias extremamente positivas sobre as mesmas torcidas, com exaltação da figura de seus membros e da paixão desinteressada pelo clube, funcionando quase que como propagandas oficiais:
 1 – “FORÇA JOVEM EM DEFESA DO VASCO DA GAMA SEJA ONDE FOR: Em um grupo de Jovens fãs do Clube de Regatas Vasco da Gama, todos moradores do Méier, resolveu fundar uma Torcida Organizada, que daria muito o que falar nos anos seguintes, o que faz, aliás, até hoje. Surgia então a Força Jovem, considerada hoje a maior facção de Torcida do Vasco, com cerca de 7 mil sócios. Embora disponham atualmente de 2 salas, uma no Maracanã e outra em São Januário, e estejam próximo de ganhar uma terceira, desta vez no Centro, é numa casa do Méier, de propriedade do sócio Hadson Caputo, que os membros da Força Jovem se reúnem em dias normais. Acostumados a defender e a gritar pelas cores do time da cruz de Malta, onde quer que seja (até mesmo fora do Brasil) os rapazes, a proporção de moças na Torcida é bastante pequena, menos de 10% do total, repudiam o rótulo de briguentos e selvagens (...)Hoje a Força conta até com o boletim Informativo, mantido através de anúncios de comerciantes Vascaínos. Gerida como uma Empresa, a Torcida tem um Presidente, um Vice Presidente Geral e mais 3 específicos (Patrimônio, Finanças e Social), 10 diretores (Bandeiras, Bateria, Salas, Festas e Eventos, Carteirinhas, Relações Públicas, Comunicação, Vendas, Mensalidades)”[5].
2 - FESTA EM PRETO E BRANCO:
Tendo o Vasco da Gama como uma paixão, provavelmente a maior de suas vidas, os torcedores quando não estão numa arquibancada fazendo uma festa em Preto e Branco com muito samba, geralmente estão sonhando com o dia em que reviverão esses momentos. Nos dias de grandes clássicos no Maracanã, a Força Jovem apresenta a multidão presente ao Estádio cerca de 80 bandeiras e uma bateria (chamada por eles de nota 10) composta por oito surdos, 15 repiniques, 15 caixas e uma quantidade enorme de chocalhos e tamborins.“E estamos aprontando aquela que será a nossa maior bandeira, com 60 metros quadrados. Ela trará estampada nosso símbolo o Eddie, mascote da banda de heavy metal Iron Maiden,” diz Roberto Monteiro. O Eddie aliás, já aparece em alguns adesivos da Força.Eddie, aliás já aparece em alguns adesivos da Força Jovem.
Sobre rivalidade entre Torcidas de Estados diferentes, eles explicam que ela fez com que surgisse também amizade, como é o caso do bom relacionamento que hoje une a Torcida do Vasco com a do Palmeiras, de São Paulo. “Tudo começou num jogo entre Palmeiras e Flamengo no Maracanã. Naquele dia, torcedores do time paulista pediram a nós que levantássemos uma bandeira do Vasco no meio da Torcida deles, para mexer com os flamenguistas. Começou ali então uma amizade que cresceu muito com o passar dos anos. Sempre que vamos a São Paulo somos bem recebidos por eles, e vice-versa quando eles vêm ao Rio”, diz Roberto, apontando para um troféu na estante dado pela Mancha Verde, uma das facção palmeirenses. Outra ligação dos Vascaínos é com a Torcida do Atlético Mineiro. Do mesmo modo, os rubros negros se consideram amigos dos torcedores do Corinthians, em São Paulo, e do Cruzeiro, em Belo Horizonte. Nessas andanças, os jovens já estiveram em praticamente todos os Estados brasileiros e ainda em países como o Chile e o Paraguai. Também já enviaram representantes as últimas Copas do Mundo (1982, 1986 e 1990). Através dessas peregrinações eles fizeram contatos com Torcidas de países da Europa, e guardam hoje um grande acervo de fotos de Torcidas Italianas, Espanholas, Portuguesas, Alemãs, Inglesas e até Iuguslavas. A Força Jovem já chegou a ser tema de reportagem publicada na revista Italiana “Supertifo”, especializada em Torcidas Organizadas[6].
            Outras reportagens explicam de forma didática como se formam as alianças, embora estes acordos já fossem feitos há mais de 5 anos, mas só agora a imprensa procurava entender as lógicas das rivalidades entre as torcidas dos diferentes estados: “se duas torcidas de clubes diferentes são amigas, elas formam a união, espécie de convênio que, além da amizade entre os torcedores, aumenta a segurança dos que viajam para outros estados acompanhando os clubes. Cariocas, paulistas e mineiros, principalmente, se ajudam entre si, quando uma torcida de fora viaja e pode encontrar outra rival pela frente. Hospedam os companheiros, vão aos jogos com eles e enfrentam o inimigo. É comum ver torcedores do Rio irem até São Paulo “dar uma força aos amigos de lá que também vem aqui nos clássicos em que há perspectiva de porrada.” Conheça as uniões e rivalidades:
Flamengo: Tem união com as Torcidas do Corinthians e do São Paulo. No entanto os rubros negros são inimigos mortais dos torcedores do Palmeiras, Santos e Atlético MG.
Vasco: Os Vascaínos são unidos a palmeirenses e atleticanos. Não suportam o pessoal do Corinthians, São Paulo e Cruzeiro. Recentemente arranjaram mais uma rivalidade, com a Torcida do Internacional de Porto Alegre.
Botafogo: Também tem união com Atlético Mineiro e Palmeiras. São rivais declarados dos torcedores do Corinthians, São Paulo, Cruzeiro e Portuguesa.
Fluminense: A facção Força Flu tem união com os santistas da Sangue Jovem. Os tricolores não se dão com palmeirenses, saopaulinos e atleticanos”[7].
            Em resposta as inúmeras acusações, parte dos torcedores começou a responder na imprensa na seção “carta de leitores” suas impressões sobre o aumento dos confrontos entre as torcidas. Entretanto foram poucos jornais que deram espaço, com exceção do Jornal dos Sports com sua coluna “Bate-bola” onde se permitiu a livre circulação da opinião dos torcedores. Aliás, neste ano, a Força Jovem foi a vencedora do Troféu “A Correspondente do Ano”. Em um tempo que não existia a internet, o JS foi o grande veículo de manifestação do pensamento dos torcedores: “NÓS FAZEMOS A FESTA. Reconhecemos que a violência existe, mas o problema é mundial, e não somente no futebol. A torcida organizada Força Jovem do Vasco, não é uma gangue e nem quadrilha. Somos os responsáveis pela alegria e a beleza dos estádios de futebol. Nós damos o colorido, preparamos a festa com faixas e bandeiras, papel picado e damos o som com a nossa bateria fazendo aquele carnaval, empurrando o Vascão para as grandes vitórias. Os componentes brigões estão na faixa de 17 a 23 anos, são os teenagers, que se afirmam agora como homens. Nós da FJV somos homens e responsáveis. Temos profissão definida e não vivemos de futebol. Pelo contrário, tiramos de nosso bolso para levar a Torcida avante. Abel Silva (Tubarão), 4ª Família de Vilar dos Telles”.
            O clima de rivalidade entre as torcidas de Vasco e Flamengo se intensificou nestes últimos 5 anos e, praticamente em todos os jogos, ocorriam ameaças, brigas e confrontos em torno do estádio: “ENTERRO NO MARACANÃ: Vasco x Flamengo, a Força Jovem proporcionou um dos momentos mais engraçados da história do Maracanã, com um enterro simbólico da Torcida Jovem do Flamengo, com direito ao Padre Passa Fome e caixão na arquibancada e a bateria tocando a marcha fúnebre”. Na verdade o motivo do enterro era a morte de um torcedor do Flamengo assassinado por um vascaíno. Esta, talvez, tenha sido a primeira morte envolvendo as duas torcidas que continuaram o enfrentamento com o uso de armas de fogo pela primeira vez: “As cenas de violência ocorridas no Maracanã, antes e durante a partida entre Vasco e Flamengo, ainda são comentadas em São Januário. Enquanto Antônio Brás, Chefe da Força Jovem, acredita que, contra o Fluminense, o ambiente estará menos carregado, componentes da Torcida Organizada do Vasco (TOV), prevêem mais confusão.“Há rivalidade com todos os times e a Torcida Força Jovem do Vasco parece gostar de briga”, diz Amâncio César da TOV.Alguns dos componentes desta facção foram acusados de disparar contra rubro-negros. Brás está otimista, mas reconhece ser difícil controlar 2 mil componentes de sua Torcida.“Já expulsamos 32 esse ano, mas é difícil evitar tumultos”[8].
            O confronto de maior visibilidade entre as torcidas vascaínas e rubro-negras aconteceu numa partida de basquete no Maracanazinho. No dia seguinte as reportagens esportivas eram todas referentes ao massacre sofrido pelos rubro-negros ( em menor numero). O pouco quantitativo de policiais contribuiu para que os incidentes não ficassem apenas no plano verbal. A cena mais chocante e exibida pelas TVs durante vários dias foi a de um torcedor do Flamengo sendo arrastado pelas arquibancadas, sendo covardemente agredido por vários torcedores. O clamor da imprensa para medidas contra as torcidas se intensificou neste segundo semestre.
            A possibilidade de medidas conjuntas para evitar novos confrontos entre os diferentes atores sociais era vista com ironia pela imprensa que trata as iniciativas de dirigentes e torcedores como verdadeiras farsas para encobrir um problema sem solução: “No churrasco da Paz, promovido ontem pelas Torcidas Organizadas de Vasco e Flamengo, com o apoio financeiro das Diretorias dos Clubes, faltaram carne, cerveja e torcida, cerca de 30 pessoas apenas compareceram. Paz houve. Também a promessa do mesmo estado de ânimo no clássico de hoje por parte dos principais chefes das duas torcidas. Na garagem destinada ao remo do Flamengo, na Lagoa, via-se ontem a tarde mais jornalistas do que pessoas vestidas com camisas dos Clubes. Não se pode dizer, no entanto, que os poucos torcedores não se confraternizaram. Leonardo Ribeiro, da Torcida Jovem do Flamengo, que gosta de ser chamado de Capitão Léo, abraçava-se a Antônio Brás, da Força Jovem, e mantinham conversas em separado. Evandro Bocão, da Raça Rubro Negra, dividia a mesma lingüiça com Érico, da Força Independente Vascaína.Na hora de cortar o primeiro pedaço de alcatra, oferecida pelo Vice Presidente do Vasco, Eurico Miranda, alguém brincou.“Esse churrasco é de carne de torcedor”. Um outro não perdeu a vez: “E esta envenenado”. As duas caixas de cerveja em lata, doadas pelo Presidente do Flamengo, Márcio Braga evaporaram em dez minutos, avidamente consumidas pelos barrigudos chefes de Torcida e alguns nem tão magros jornalistas. A exceção de Evandro Bocão, todos criticaram a iniciativa da Polinter de fichar criminalmente os chefes de torcida que forem flagrados fazendo baderna” [9].
No final do ano, as eleições em São Januário ocorrem com pouca participação e a vitória da dupla Calçada-Eurico, com 1.206 votos, contra a oposição, liderada por Luso Soares e Fernandão, com 612 votos. É o inicio de um grupo que, aos poucos, com muita dificuldade, consegue reunir associados que dariam formação ao MUV (Movimento Unido Vascaíno).
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Eram os seguintes os locais de pontos de encontro: MÉIER: Shopping Center do Méier.ZONA NORTE: Praça Saens Penã.PIEDADE: Norte Shopping. MADUREIRA: Tem Tudo (Bob’s). ZONA SUL: Rio Sul. ZONA LEOPOLDINA: Planalto (Bonsucesso). NITERÓI: Plaza Shopping. NOVA IGUAÇU: Praça da Liberdade. CAMPO GRANDE: Bangu (em frente ao Bradesco). JACAREPAGUÁ: Sendas da Taquara.
[2] Neste período defendi a minha monografia, sendo a primeira pesquisa universitária sobre as torcidas organizadas cariocas. Em São Paulo, Luiz Henrique Toledo defendia seu mestrado estudando sobre as torcidas paulistas.
[3] Fonte: Jornal do Brasil 26 de Maio de 1991.
[4] Fonte; s.d.
[5] Fonte: Jornal O Globo 21 de Agosto de 1991
[6] Fonte: Jornal O Globo 21 de Outubro de 1991   
[7] Fonte desconhecida.
[8] Fonte: Jornal O Globo 20 de Setembro de 1991.
[9] Fonte: Jornal do Brasil 24 de Novembro de 1991.


Vasco Maracanã 1991

Vasco Maracanã 1991


quarta-feira, 19 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1990 DERROTAS NA AMÉRICA, ITÁLIA E BRASIL

                                 “Da porrada na Raça e na Fiel, Força Jovem é cruel, el, el”
                                             Canção contra as principais rivais do RJ e SP

1990           Derrotas na América, Itália e Brasil

O ano começaria com grandes expectativas para a torcida vascaína pois disputaríamos nossa segunda Taça Libertadores e tínhamos vários jogadores em nível de seleção que se preparava para o mundial em junho na Itália.
È a década de maior sucesso para a Força Jovem que se torna a principal torcida organizada no Rio de Janeiro, junto com a Raça Rubro-negra. Neste período a FJV adquire status de uma organização popular de alto nível de mobilização de jovens, capaz de incomodar os poderosos dirigentes no campo esportivo e, por outro lado, foi o alvo de constantes perseguições da imprensa, polícia e cartolas.
Em março (dias 15 e 16) assume a presidência da República, Fernando Collor, 40 anos e torcedor do Flamengo. Logo em suas primeiras ações governamentais ele surpreenderia a nação com a criação do Plano Collor, um plano que, entre outras medidas, congela a poupança dos brasileiros para controlar a inflação que chegou até 84% no mês anterior.
Alheios às turbulências políticas e econômicas da vida nacional, um grupo da TOV resolve fundar sua própria torcida no dia seguinte ao Plano Collor, era fundada a torcida Tulipas Vascaínas, lideradas por antigos membros da TOV. Teve como ponto de encontro o Bar do Valdir, no Maracanã, onde um grupo de amigos se reunia para bater papo, jogar cartas e, é lógico, tomar uma cervejinha bem gelada. O coletivo incipiente endossa o coro de não ser mais uma “torcida de briga”: “é lastimável que as torcidas organizadas, tenham em seus quadros sociais, componentes que não entendem o verdadeiro espírito de união de um grupo que se diz organizado. Que esses arruaceiros  acordem a tempo antes que os estádios se esvaziem de vez”, argumenta César David, representante do grupo.
Foi uma associação que conseguiu se manter ativa e com vida própria nos próximos anos. Com um grupo reduzido mas animado, a torcida procurou não entrar em oposição com o principal dirigente vascaíno.
Outra torcida que manteve o apoio integral a Eurico nos anos 1990 foi a Pequenos Vascaínos que completava 15 anos. Liderada por um comerciante (Zeca) em todo o período ficou como o 3ª maior agrupamento em toda a década. A Pequenos Vascaínos procurava seguir uma linha equidistante da FJV e proclamava sempre sua “filosofia” com uma faixa ao lado de sua principal: “Vamos torcer sem violência”.
Basicamente a vida do clube nesta década girou em torno da figura do dirigente Eurico Miranda e de sua principal torcida organizada: a Força Jovem. Eurico e a FJV dominaram as atenções nos jornais e no xadrez do campo esportivo, cada movimento de uma peça gerava a reação imediata do outro lado. Em princípio a vantagem foi do cartola que se elegeu deputado federal em 1994 (85 mil votos com apoio da FJV) e o mesmo cargo em 1998 (105 mil votos sem apoio da torcida).
            Em campo, os jogadores vencem a Taça Guanabara em 1990, fazendo a torcida acreditar na volta da seqüência positiva de vitórias desde 1987, interrompida pelo campeonato de 1989 pelo Botafogo. E foi com o alvinegro, campeão do segundo turno que o Vasco decidiu o campeonato. Com um regulamento confuso, a última partida teve um desfecho inusitado com as duas torcidas comemorando o título e os dois times dando a volta olímpica. No tempo normal ocorre a vitória do Botafogo por 1 a 0 e na prorrogação empate sem gols. Nos dias seguintes enquanto dirigentes e torcedores discutiam quem foi o campeão, a federação confirmou o resultado final a favor do clube da Zona Sul.
            A partir daí, as duas torcidas, que sempre foram unidas e deram inúmeros exemplos de cordialidade, passam a se estranhar. O desfecho foi uma briga entre as organizadas no final do ano durante uma partida de juniores entre os dois clubes no estádio de Caio Martins, em Niterói. As imagens do conflito foram amplamente exploradas pela imprensa nos dias seguintes.
            Dificuldade maior sofreram os jogadores e o técnico da seleção brasileira, Sebastião Lazaroni, em junho após a eliminação para a Argentina na pior campanha das últimas 3 Copas. Todos os craques foram recebidos no aeroporto carioca com protestos e xingamentos. A torcida recepcionou o grupo jogando dinheiro nos atletas acusando-os de “mercenários”.
            Lazaroni vai ser um dos mais hostilizados neste período, sendo acusado de mudar o estilo de jogo brasileiro com a escalação de um terceiro zagueiro, ao adotar o líbero. Esta posição não era uma novidade no futebol europeu, mas o fracasso no mundial serviu de pretexto para a revolta.
            Dos convocados por Lazaroni, cinco eram do Vasco (Acácio, Mazinho. Bismarck, Tita e Bebeto) mas nenhum deles se tornou titular durante a competição. Entre os titulares, a maioria atuava no exterior, assim como outros reservas (no total, 12 jogavam na Europa e 10 no Brasil).
            Em ano de eleição para deputados e governadores, as torcidas começam a serem rotuladas pela imprensa como organizações que agrupavam pessoas desonestas e facilmente manipuladas por dirigentes que se transformavam em políticos. Em duas reportagens podemos constatar isto. Na primeira, com o título “Espertos tomam conta das torcidas”[1], aponta-se para o uso freqüente dos torcedores como cabos eleitorais de dirigentes como, por exemplo, Marcio Braga. O amor desinteressado dos torcedores do passado seria suplantado pelos interesses pecuniários que comandariam as ações dos novos torcedores.
            Em outra reportagem, a matéria ironiza a ausência de protestos da torcida do Vasco mesmo com o time ficar 15 jogos sem vencer no campeonato brasileiro, pois “o clima é de harmonia entre time e torcida”, afirma o texto jornalístico[2].
            A Força Jovem continuava um processo de fortalecimento interno e de grande repercussão para os próximos anos. Praticamente são nestes anos (final dos anos 1980 e início de 1990), que vários cânticos, bandeiras, comportamentos, gestos e atitudes se tornam a marca registrada da organização. A começar pela coreografia e o principal grito de guerra:
Força Jovem em Posição, pra dispersar a multidão,
Força Jovem em Movimento, pra dispersar o bem nojento,
Acima de Tudo, Abaixo de nada, FOR-ÇA JOV-EM VAS-CO.
EU SOU DA FORÇA JOVEM EU SOU, O BICHO VAI PEGAR E NINGUÉM VAI ME SEGURAR....
Este é o período que a torcida lança seu primeiro informativo, ganha o logotipo com as letras góticas, participa de viagens para Argentina e Colômbia e se apresenta na Rádio Capital as segundas-feiras para defender a agremiação e assegurar a confiança dos dirigentes do clube na maturidade das novas lideranças.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Folha de São Paulo 03 de Julho de 1990.
[2] Fonte: Jornal do Brasil 07 de Outubro de 1990.

Vasco 1990

Vasco Jornal da Força Jovem 1990

domingo, 16 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1989 INVASÃO DO MORUMBI

                                                                     “Vasco por Amor, Força Jovem por Ideal”
                                                                                     Slogan da torcida 

 1989                  A Invasão do Morumbi

A desclassificação do Vasco da Copa União de 1988 (no início de 1989) foi uma grande surpresa pois a equipe fazia a melhor campanha do campeonato em 1988, mas não manteve o mesmo ritmo no início do ano seguinte.
Neste momento inicial só quem comemorava era Roberto Dinamite, que aos 35 anos, era o enredo da escola de samba Boêmios de Inhaúma. Entretanto, o ídolo viveu um momento difícil e foi emprestado depois do campeonato carioca para a Portuguesa de São Paulo. Em março um jornal carioca estampa em sua manchete a condenação dos torcedores: “OS CHEFES DE TORCIDAS JÁ REJEITAM PRESENÇA DE ROBERTO NO VASCO”. Uma das críticas era o alto salario do atacante e a sua idade avançanda. Vários torcedores sugeriam que ele encerra a carreira.
Para a campanha do tricampeonato a Força Jovem inicia com ânimo redobrado fazendo suas novas carteirinhas e lançando o lema “Vasco por Amor, Força Jovem por Ideal”. Na mesma época eram lançadas novas bandeiras que se eternizariam no coração dos vascaínos, como a do mascote Eddie, da banda Iron Maiden. No comando da torcida assumia o jovem Roberto Monteiro de apenas 18 anos, no lugar do veterano Ely Mendes, que ocupou a liderança da agremiação entre 1971 até 1989.
Outras mudanças que ocorriam neste ano eram a chegada de Ricardo Teixeira no comando da Confederação Brasileira de Futebol. O dirigente ficaria no cargo por muitos anos. Para trabalhar com ele foi chamado Eurico Miranda que ficou responsável como Diretor de Futebol da entidade. Nesse período o clube teve 5 jogadores (Acácio, Mazinho, Zé do Carmo, Bismarck e Vivinho) convocados para a seleção, ganhando o apelido de “Selevasco”.
As primeiras campanhas pela não-violência promovidas pela SUDERJ surgem no placar eletrônico, mas a melhor ação e mais criativa, ficaram com as torcidas de Vasco e Botafogo que promovem um espetáculo de confraternização no Dia das Mães. Cada torcida sai do túnel de arquibancada adversário e caminha com suas bandeiras por todo o seu lado na arquibancada, sendo aplaudidos por ambas torcidas que gritavam: “Vascão, Fogão, amizade de Irmão”.
No meio do ano a grande atração foi a disputa da Copa América no Brasil e a conquista do título no Maracanã. Aquela vitória representou muito para o futebol brasileiro pois foi a primeira grande conquista depois da Copa do México em 1970. Vários jogadores desta seleção seriam campeões do mundo em 1994 nos EUA. Entre eles a dupla de ataque Romário e Bebeto, que foram os grandes destaques nos jogos finais com a Argentina e o Uruguai.
Após a Copa América, Bebeto seria a maior contratação foi futebol brasileiro até então, numa transação que mexeu com toda a cidade, já que o mesmo saiu em litígio com o seu ex-clube, o Flamengo.
De julho a setembro, já durante o campeonato brasileiro, a grande expectativa da torcida do Vasco era a sua estréia e, principalmente, como seria a reação das duas torcidas. De um lado, a torcida do Flamengo levando cartazes e gritando “chorão” e, de outro, os vascaínos gritando o nome do jogador, elevado-o a categoria de grande ídolo do clube.
Em setembro o Brasil conquista a vaga nas Eliminatórias vencendo o Chile no maracanã, no polêmico jogo da “Fogueteira”. A reação dos torcedores do Chile que hostilizou nossa torcida e jogadores, preocupava a direção da CBF que parecia entever problemas para o jogo final disputado no Rio de Janeiro. Em reunião com Eurico Miranda, mais de 70 líderes das torcidas prometem um comportamento exemplar: “as quatro maiores, a Raça Rubro Negra do Flamengo, Força Jovem do Vasco, a Young Flu do Fluminense e a Torcida Jovem do Botafogo, calculam que arrigementarão no total quase 50 mil em papel picado, papel higiênico, fumaças coloridas e instrumentos de percursão. “Vamos vaiar os chilenos desde o primeiro minuto que eles pisarem no Brasil, mas não vamos agredi-los de jeito algum”, prometeu Ely Mendes, Chefe da Força Jovem, “vamos buzinar e fazer arruaça na frente do Hotel  e persegui-los com vaias e apupos. Essa será a nossa vingança”, completou o Chefe da Força Jovem do Vasco”.[1] O Brasil vence e se classifica, apesar de toda a encenação do goleiro chileno Rojas, que alegou ter sido ferido por um rojaõ disparado pela torcida brasileira.
            O campeonato brasileiro continuava e a dúvida dos vascaínos era saber quando o atacante finalmente poderia estrear. Em função de uma lesão que o deixou várias semanas em recuperação, Bebeto não teve uma atuação destacada nos seus primeiros jogos, mas com a subida de produção do time, o atacante cresce de rendimento e se torna figura central nos jogos decisivos. O ponto alto foi o jogo contra o Internacional em Porto Alegre, com dois gols, para a alegria da centena de vascaínos que viajaram mais de 22 horas para acompanhar o clube se classificar para as finais do brasileiro de 1989.
            O sucesso na Copa América pela seleção brasileira e os gols decisivos pelo campeonato brasileiro garantiram a Bebeto inúmeros títulos e prêmios, superando os atacantes Careca e Romário. Foi um ano inesquecível em sua brilhante carreira. Bebeto conquistou o Craque do ano - Revista Placar (Eleito pelo Júri): 1989; o de melhor Jogador Sul-Americano do Ano; 3º Maior jogador do Mundo eleito pela revista inglesa World Soccer; Craque do Campeonato brasileiro (Oficial) e Jogador do ano do Vasco. Nem mesmo sua declaração de apoio ao candidato Fernando Collor, manchou sua imagem de ídolo, ainda mais quando ele disse que seu clube de coração na infância era o Almirante.
            A final com o São Paulo seria disputada em dois jogos caso o Vasco não vencesse o time paulista em sua cidade. A confiança dos vascaínos era inegável. O fim do ano era de realmente grandes esperanças, vivíamos o clima de eleição presidencial depois de 29 anos.
            E foi em clima de decisão do 2° turno nas eleições presidenciais (dia 17 domingo) e final do campeonato brasileiro (dia 16 sábado) que a partida foi disputada.
            Os saopaulinos gritando o nome do candidato Collor e os Vascaínos aos gritos de “Olé, olé, olá, Lula, lula”, desde o grande comício de 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro quando alguns membros da Força Jovem levaram suas bandeiras par ao evento.
            Nunca política e futebol estiveram tão misturados numa final, parecia que a vitória em campo levaria para a vitória das urnas.
            Para incentivar os cariocas acompanharem seu time em campo os dirigentes não pouparam esforços para realizar a Invasão do Morumbi, com a previsão de 15.000 pessoas partindo para a capital paulista de avião, carros e, principalmente, de ônibus alugados.
            O gol de Sorato selou o destino da partida e o bicampeonato garantido. Explosão de alegria nas arquibancadas, que segundo a imprensa, ocupou cerca de 30% do estádio. No dia seguinte, o colunista do Jornal do Brasil, João Saldanha, ressaltava a torcida vascaína ao atribuir o seu comportamento no estádio refletindo no empenho do time em campo. “A torcida que estava acompanhando o Vasco desempenhou um papel importante. Não sei quantos seriam, mas pelo menos uns 10 mil (20 mil) estavam naquele bolo. Outro dia lá em Porto Alegre, os torcedores Vascaínos também desempenharam um importante ponto para a vitória. (Internacional 0 X 2 Vasco, gols de Bebeto). Desta vez mais ainda . Digo-lhes com a certeza de que tem hábito de assistir jogos fora, quando aparece um apoio assim, qualquer time cresce”, conclui o cronista[2] Eram os últimos dias do ano e fim de uma era que terminava de forma épica[3]. Milhões de vascaínos em todo o Brasil assistiam o clube voltar a ser campeão de maneira incontestável.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal O Liberal 24 de Agosto de 1989.
[2] Jornal do Brasil  17 de dezembro de 1989.
[3] Inúmeras lembranças são relatadas na Internet, vou registrar apenas uma mas vale conferir outras: Eduardo Briza:  ‘Fui também. Foi a melhor viagem que fiz em todas que já participei!! Sem precisar falar do resultado do jogo que foi maravilhoso. Mas desde a saída de São Januário até a chegada em Sampa foram muitas coisas. A galera roubando nas paradas, pegando duas comandas pra poder comer e beber de graça! Nessa deu até polícia (...) “  Fonte; torcidasdovasco.blogspot.

Vasco 1989

Vasco Morumbi 1989

quarta-feira, 12 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1988 A QUINA

                                                                               “Vamos torcer sem violência”
                                                                                Faixa – Pequenos Vascaínos

1988                                A Quina

Para o campeonato carioca de 1988, a Rede Globo investiu pesado na cobertura e nas transmissões. Foram vários jogos televisados ao vivo entre os clubes grandes e pequenos (horário domingo pela manhã as 11h) e os clássicos (domingo as 17h). Pela primeira vez o campeonato carioca seria transmitido direto do Maracanã ou dos estádios menores. Resultado imediato: queda brutal do número de torcedores nos estádios. Era a menor média de público nos estádios desde 1965 ( Helal, 1997).
Há uma longa discussão se a tv tira torcedores dos estádios ou não, mas é inegável que, naquele momento, sem um controle dos clubes no horário dos jogos, o aumento da violência na cidade, a dificuldade com o transporte e o alto preço dos ingressos, eram fatores suficientes para fazer que o torcedor preferisse ficar sentado na sua poltrona.
Disputado em 3 turnos por vários meses, o campeonato regional ainda era um título importante, tão especial quanto o campeonato brasileiro. A disputa acirrada entre os times da mesma cidade continuava mobilizando fortes emoções.
O momento esportivo era bastante favorável ao Vasco que, em confrontos com o seu maior rival, levou ampla vantagem, chegando a completar 5 vitórias consecutivas no meio do ano.
De maio a julho de 1988, Vasco e Flamengo se enfrentaram com partidas muito disputadas mas que terminavam com o mesmo resultado. Como o jogo de apostas mais popular na época era a quina (ao acertar 5 números o apostador ficava milionário), a “quina” do Vasco virou o motivo maior de gozação nos anos 1980, ou talvez pelo nome de um doce.
Zombar os rubro-negros com um gol de título feito por um ex-jogador, como foi o caso de Tita em 1987, tinha um gosto especial, contudo, em 1988, um ex-lateral do Flamengo, com um apelido curioso, foi elevado categoria máxima de herói de São Januário.
Final do campeonato carioca, Vasco e Flamengo fazem o último jogo com vantagem de empate para o Almirante. Aos 43 minutos do segundo tempo, Cocada entra em campo para reforçar a defesa, no entanto, com uma arrancada sensacional, o lateral faz um golaço aos 44, corre para comemorar junto ao banco do Flamengo, provoca uma confusão aos 45 e é expulso. A confusão prossegue com briga generalizada entre jogadores até o apito final.
Era a quarta vitória seguida sobre o rival (“a quadra”). Uma pena que menos de 35 mil pagantes para assistir aquela que seria a final de menor público até então. O estádio do Maracanã, acostumado a receber mais de 100 mil pagantes nas decisões, teve um público reduzido com vários espaços vazios e a consagração da separação[1] das torcidas no meio.
A alegria só não foi maior porque em junho de 1988 morria um dos torcedores mais ilustres do Vasco da Gama: Abelardo Barbosa, popularmente conhecido como Chacrinha. Um dos mais irreverentes apresentadores da TV, “O Velho Guerreiro”, fazia questão de mostrar que era vascaíno. Por diversas vezes ele provocava: “quem falar mal do Vasco eu expulso do auditório”. Sempre posando com a camisa do clube e destacado pela imprensa como “torcedor fanático”, Chacrinha não resistiu ao tratamento de câncer que praticamente provocou seu afastamento da TV em 1988.
O sucesso em campo com o bicampeonato carioca se refletia nas arquibancadas com a Força Jovem se tornando a maior torcida organizada do Vasco e passa a investir mais no incremento de suas bandeiras. O melhor exemplo era a do He-Man, personagem popular de um desenho de grande sucesso na época, se tornando um ícone para as outras torcidas. Ainda neste período a novidade eram os sinalizadores, que seriam proibidos e provocariam um grande problema em 1989, no jogo entre Brasil e Chile nas Eliminatórias da Copa da Itália (1990). Quando uma torcedora (Rosinery Mello) atingiu o campo e o goleiro Rojas simulou ter sido atingido, com a partida interrompida.
Apesar de consolidar seu domínio absoluto na torcida vascaína, a Força Jovem enfrentou uma dissidência em 1988, quando surge a Força Independente. Pouco depois ocorre uma briga entre as duas torcidas terminando com 14 feridos e 20 presos. Esta foi a primeira grande briga envolvendo apenas torcedores do Vasco.
Se a torcida brigava com as rivais nas arquibancadas, no clube o ambiente era o melhor possível, em perfeita harmonia, com apoio ostensivo de todas as torcidas aos dirigentes[2], especialmente Eurico Miranda, que passa a ser quase uma unanimidade entre os torcedores.
No campo das alianças se fortalece a união entre a Mancha Verde (Palmeiras) e a Força Jovem. Os laço são cada vez mais estreitos com as lideranças de Cléo Sóstenes (Mancha) e Roberto Monteiro. No entanto, vale lembrar que foi justamente neste ano que o torcedor palmeirense é assassinado, que, infelizmente, até hoje, não foi identificado o autor do crime.
Pouco depois desse episódio ocorre um dos últimos jogos do Vasco do ano contra o Corinthians em São Paulo. Em depoimento sobre as lembranças de antigos membros da FJV, Serginho de Niterói revela o roubo de uma bandeira da Gaviões no centro do gramado, da sua prisão e do clima de guerra na viagem para São Paulo: “foi escolhido a dedo quem era pra ir, não era qualquer um que podia viajar, ao chegar ao Pacaembu, a gente bateu de frente com a Gaviões da Fiel que estava enorme, tinha 53 mil pessoas no Estádio, uns 3 mil Vascaínos, na descida do Tobogã”. Desde 1983 que os jogos entre os dois clubes eram marcados por intensas brigas dentro e fora dos estádios. A realização das caravanas deixavam o aspecto turístico e esportivo em segundo plano, “começavam a ser cada vez mais conhecidas pelo signo da periculosidade, com a intensificação e a sistematização das brigas” (Hollanda, 2009, p.475).
No final do ano ocorreu a eleição presidencial menos disputada[3] da década e também a que teve o menor número de votantes. Com a aliança entre Calçada e Eurico e a boa campanha do time, restavam poucas alternativas de vitória para a oposição. Fernando Horta foi o principal concorrente. O candidato se destacaria nos anos seguintes como o presidente da Escola de Samba Unidos da Tijuca.
No campeonato brasileiro, o Vasco foi o clube de melhor campanha no primeiro turno e também no segundo. Se fosse um campeonato de pontos corridos, teríamos conquistado o segundo título. Mas pelo regulamento foram classificados os oito melhores times para disputar as quartas de final no ano seguinte.
Foi durante o campeonato brasileiro que Romário transferiu-se para o PSV por US$ 5 milhões, sendo na época a mais cara contratação brasileira por um clube estrangeiro. A transação revelava uma nova tendência no êxodo dos jogadores brasileiros para o futebol europeu. No início da década de 1980 os jogadores saíam do Brasil já com mais de 28 anos. Agora cada vez mais cedo nossos ídolos partiam para o exterior. Romário tinha apenas 22 anos quando foi vendido. O jogador se despedia do clube na época das Olimpíadas de Seul, quando foi o artilheiro da competição e levou a medalha de prata para o Brasil. O artilheiro voltaria ao Maracanã no ano seguinte quando conquistaria pela seleção brasileira a Copa América em 1989.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Segundo os torcedores, a violência aumentou muito depois que a Polícia Militar resolveu criar uma fronteira, antes as torcidas se reuniam no Portão 18, entravam juntas, havendo uma briga ou outra, mas logo apartada. A PM determinou que a Torcida do Flamengo se concentrassem na entrada da Estátua de Belini e a do Vasco na UERJ. A partir daí quem passava com a camisa de outro Clube no território inimigo acabava agredido, o que aumentou mais a rixa. (matéria publicada no Jornal O Dia em 1991).
[2] Segundo Ely e Amâncio, todas as Torcidas Vascaínas têm acesso a Diretoria do Vasco e recebem uma ajuda de custo de 30% para as excursos.Cada Torcida recebe da Federação de Futebol 30 credenciais, distribuídas prioritamente para a Diretoria, bateristas e Diretores de faixa e bandeiras. Fora as cortesias dadas pelos Clubes, que somam um total de 150 ingressos, segundo o Superintendente da SUDERJ, Eduardo Aguiar. Os líderes confirmam os números, mas não concordam com a acusação de que Torcidas não pagam ingressos. O Capitão Messias, acredita que reunindo todas as Torcidas, uma média de 500 pessoas entram sem pegar no Maracanã.Fonte: Jornal O Dia 1988              
[3] Rumo Ao Tri – 1564 votos em Calçada  e Opção Vascaína – 257 votos em Fernando Horta.

Vasco Maracanã 1988

Vasco São Januário 1988

terça-feira, 11 de abril de 2017

MOTIVASCÃO 1980: AMAR É ...

Saber Torcer
Torcer pelo melhor
Torcer pelo Vasco
Erguer sobre o corpo a camisa cruzmaltina
Não deixar de torcer
Incentivar o Vasco nas vitórias e derrotas
Contar com resultados positivos
“Amar é tudo isso e compartilhar da Torcida Motivascão, que tem como objetivo, Amor ao Vasco”
Rosangela e Deucimar, Torcida Motivascão, Rio.
Fonte: Jornal dos Sports, Coluna Bola em Jogo 12 de Agosto de 1980

Motivascão Jornal dos Sports 1980

Motivascão Volta Redonda 1980

domingo, 9 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1987 GOL DO BALÃO

                                            “Na União da Torcidas, a Grandeza dos Clubes”
                                                                 Lema da A.B.T.O.

 1987                      Gol do Balão

Dulce Rosalina concedeu uma grande entrevista para o Jornal do Brasil no início de 1987. Na ocasião várias perguntas que depois viriam a ser sempre usadas contra as torcidas organizadas foram inquiridas[1]. Com respostas firmes e esclarecedoras, a torcedora não fugiu de nenhum tema e sempre de forma objetiva. Demonstrou conhecimento do assunto e preocupação com o que estava acontecendo.
O Jornal do Brasil era o principal veículo impresso no Rio de Janeiro na questão de “formação de opinião”. Suas reportagens logo ganhavam peso nas discussões em universidades ou nos bares que os intelectuais freqüentavam. Esta matéria traz a tona para o grande público os problemas que os torcedores conheciam e a imprensa começa a tomar conhecimento ou passa a querer divulgar.
O contato amigável e sempre gentil dos antigos líderes das torcidas com os jornalistas esportivos acabou criando laços de cumplicidade e camaradagem, o que dava a imprensa um certo prestigio entre os torcedores organizados. Uma outra abordagem mais crítica, mais investigadora e menos folclórica, era uma novidade. Seria este o caminho da imprensa esportiva que passou do apoio incondicional as torcidas a campanha contra as mesmas nos próximos anos.
Se a preocupação da imprensa esportiva ganhava uma nova configuração, o mesmo ocorria no seio das torcidas, o melhor exemplo foi a mudança das lideranças. Na Força Jovem, Ely Mendes, no comando desde 1971, vinha perdendo espaço por vários motivos (problemas pessoais, saúde e temperamento calmo). Algumas jovens lideranças reivindicavam maior participação e uma atitude mais independente diante do clube, nas decisões do dia-a-dia e maior agressividade entre os seus membros, ou seja, uma nova postura, uma nova identidade. O depoimento de Carlinhos Português, uma antiga liderança, nos permite entender o que acontecia: “nascia assim um grupo, garotos jovens  com pensamento bons e idéias renovadoras, assim começou a ser construída uma nova Força Jovem, no início tudo bem, tudo igual, amor, dedicação, lealdade, etc. Jovens absolutos como Marcelo He-Man, Alonso, Roberto Monteiro, Alexandre Cebola, Marcelo Cachaça entre outros, revolucionaram a Torcida, essa revolução trouxe benefícios, se tornando a Maior Torcida do Rio e do Brasil, se tornando respeitada, amada e odiada, (...) gente dentro da Torcida que se tornava ídolos dentro da mesma[2]
Também neste ano foi organizado em Porto Alegre, o I Congresso das Torcidas Organizadas do Brasil (ABTO). Uma importante iniciativa que juntou líderes de vários estados do país para discutir os problemas do futebol e a realidade de suas associações (entre elas o aumento da violência). Embora o encontro tivesse a intenção de novos congressos nos anos seguintes, a iniciativa não teve prosseguimento.
Um novo programa de televisão no mesmo estilo de “Conversa de Arquibancada” vai ao ar entre 1987 e 1989, era o “Papo de Arquibancada”, que, sem grandes recursos financeiros, em um canal de pouquíssima audiência (Canal 9 TV Corcovado) e péssima imagem, não teve o mesmo sucesso dos anteriores, sendo a última experiência na tv de levar os torcedores para debaterem.
Uma inovação entre as torcidas do Vasco e seu técnico surgiu em março de 1987, quando o jovem treinador Joel Santana resolveu se reunir com os torcedores organizados para discutir a escalação do elenco, contratações e a forma do time jogar. Aquela reunião não era a primeira vez que acontecia. Mas como iniciativa de um técnico, sim. “Não dizem que a voz do povo é a voz de Deus? Como não sou o dono da verdade, quero consultar os torcedores, que tem muito para nos dar, seja através de observações fazem por ai, seja através de dicas, sempre é útil”[3], conclui Joel.
Talvez por conhecer o clube e sua torcida, Joel Santana (foi ex-jogador nos anos 1970) concedeu um espaço que nenhum treinador tinha ousado oferecer. Ainda neste mês a banda de rock inglesa The Cure[4] esteve no Maracanã e os integrantes saíram encantados com os torcedores vascaínos: “nunca vi ninguém torcer desta forma. O espetáculo se torna muito alegre”.
Para muitos o mês de agosto rima com desgosto, mas para os vascaínos este mês é especial pois se comemora o aniversário do clube (dia 21) e foi nesta época que tivemos mais um motivo de alegria: o Vasco se tornou carioca com um gol de Tita.
Ídolo nos clubes anteriores (Flamengo, Grêmio e Internacional), o atacante chegou em São Januário no início de 1987 como a grande esperança da torcida diante de um novo craque. Em campo o atleta superou todas as expectativas. O título carioca de 1987 confirmou o desejo dos torcedores. Os gritos de “Dá-lhe Vasco, dá-lhe Vasco, olê, olê, olá” estavam mais fortes ainda neste dia[5].
Antes da hora do jogo um balão (era proibido soltar) surge na torcida do Vasco e vira a grande atração. Aliás, um balão no estádio, em dia de decisão (hora e local de fortes superstições) era o prenuncio de sorte ou azar. Subindo ele significava vitória, caindo ou pegando fogo, sinal de fracasso.
O balão fez uma trajetória inacreditável, subindo e caindo varia s vezes, provocando gritos e apupos das duas torcidas. Até que ele percorre o gramado e cai (segundo a lenda) no gol do Flamengo, para delírio dos vascaínos. O título estava garantido.
Para o campeonato brasileiro daquele ano havia um impasse entre a CBF e o Clube dos 13 (que reunia os principais clubes do Brasil), terminando com o Clube organizando a Copa União, com apoio da Rede Globo e outros grandes patrocinadores (por exemplo, a Coca-Cola). Era uma tentativa de “tornar o futebol mais moderno”, mas no fundo revelava o início do domínio da TV sobre o futebol. Para o historiador Hilário Franco Junior, a partir desta época a tv “confirmou o futebol como importante produto da sociedade de consumo e modificou a realidade financeira do setor” (2008 p.314). Foram os primeiros jogos do campeonato brasileiro transmitidos ao vivo para a mesma cidade em que ocorria a competição, mas o jogo que seria transmitido era sorteado na hora.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] O ano de 1986 foi marcado no futebol Brasileiro pela violência nos campos e nas arquibancadas. Por que os torcedores passaram a se agredir dessa maneira? Isso nada tem a ver com a paixão do futebol. Poderia haver uma explicação social, talvez econômico? Há 30 anos, como se comportava o torcedor? Percebe-se que você não gosta ou não aprova o comportamento de muitos Chefes de Torcida. E por eles serem profissionais de arquibancada? Fonte: Jornal do Brasil 08 de Janeiro de 1987
[2]  Em outro momento Carlinhos Portugues aponta o segredo  deste coletivo: “nessa fase surge à frente da Torcida um grupo com muita vontade e disposição que começa um processo de transformação na Força Jovem inicialmente como colaboradores, em seguida como diretores. Este grupo era muito unido e apesar de algumas divergências naturais sempre fechavam por uma Força Jovem maior e melhor, havia o espírito de união, tanto que tudo que era resolvido era de comum acordo entre o grupo diretor.(...)Fernando Coelho, Marcondes, Léo da Pavuna, Léo do Méier, Marquinhos Thomas, Ovo, Chefe, Bagulhão, Manteiga, Japão, Madureira, Zé David, Arlindo Gordo, Hadson, André Negão, Assis Negão, Pelé, Sagat, Índio, Eduardo Perpetua, Paulinho Shock entre outros”, revela Carlinhos Português. Fonte: torcidasdovascoblogspot.com
[3] Fonte: Jornal O Globo 14 de Março de 1987.
[4] Disse Roberto Smith líder do The Cure. Fonte: Jornal do Brasil 30 de Março de 1987.
[5] A Torcida do Vasco homenageou o Vascaíno Nelson Piquet, que pela manhã obtivera importante vitória no circuito de Budapeste, com uma alegre bandeira em que sua Willians era reproduzida nas cores originais.

Vasco Jornal O Globo 1987

Vasco Maracanã 1987