“Na União da Torcidas, a Grandeza dos Clubes”
Lema da A.B.T.O.
1987
Gol do Balão
Dulce
Rosalina concedeu uma grande entrevista para o Jornal do Brasil no início de
1987. Na ocasião várias perguntas que depois viriam a ser sempre usadas contra
as torcidas organizadas foram inquiridas[1]. Com
respostas firmes e esclarecedoras, a torcedora não fugiu de nenhum tema e
sempre de forma objetiva. Demonstrou conhecimento do assunto e preocupação com
o que estava acontecendo.
O
Jornal do Brasil era o principal veículo impresso no Rio de Janeiro na questão
de “formação de opinião”. Suas reportagens logo ganhavam peso nas discussões em
universidades ou nos bares que os intelectuais freqüentavam. Esta matéria traz
a tona para o grande público os problemas que os torcedores conheciam e a
imprensa começa a tomar conhecimento ou passa a querer divulgar.
O
contato amigável e sempre gentil dos antigos líderes das torcidas com os
jornalistas esportivos acabou criando laços de cumplicidade e camaradagem, o
que dava a imprensa um certo prestigio entre os torcedores organizados. Uma
outra abordagem mais crítica, mais investigadora e menos folclórica, era uma
novidade. Seria este o caminho da imprensa esportiva que passou do apoio
incondicional as torcidas a campanha contra as mesmas nos próximos anos.
Se
a preocupação da imprensa esportiva ganhava uma nova configuração, o mesmo
ocorria no seio das torcidas, o melhor exemplo foi a mudança das lideranças. Na
Força Jovem, Ely Mendes, no comando desde 1971, vinha perdendo espaço por
vários motivos (problemas pessoais, saúde e temperamento calmo). Algumas jovens
lideranças reivindicavam maior participação e uma atitude mais independente
diante do clube, nas decisões do dia-a-dia e maior agressividade entre os seus
membros, ou seja, uma nova postura, uma nova identidade. O depoimento de
Carlinhos Português, uma antiga liderança, nos permite entender o que
acontecia: “nascia assim um grupo, garotos jovens com pensamento bons e idéias renovadoras,
assim começou a ser construída uma nova Força Jovem, no início tudo bem, tudo
igual, amor, dedicação, lealdade, etc. Jovens absolutos como Marcelo He-Man,
Alonso, Roberto Monteiro, Alexandre Cebola, Marcelo Cachaça entre outros,
revolucionaram a Torcida, essa revolução trouxe benefícios, se tornando a Maior
Torcida do Rio e do Brasil, se tornando respeitada, amada e odiada, (...) gente
dentro da Torcida que se tornava ídolos dentro da mesma[2]
Também
neste ano foi organizado em Porto Alegre, o I Congresso das Torcidas
Organizadas do Brasil (ABTO). Uma importante iniciativa que juntou líderes de
vários estados do país para discutir os problemas do futebol e a realidade de
suas associações (entre elas o aumento da violência). Embora o encontro tivesse
a intenção de novos congressos nos anos seguintes, a iniciativa não teve
prosseguimento.
Um
novo programa de televisão no mesmo estilo de “Conversa de Arquibancada” vai ao
ar entre 1987 e 1989, era o “Papo de Arquibancada”, que, sem grandes recursos
financeiros, em um canal de pouquíssima audiência (Canal 9 TV Corcovado) e
péssima imagem, não teve o mesmo sucesso dos anteriores, sendo a última
experiência na tv de levar os torcedores para debaterem.
Uma
inovação entre as torcidas do Vasco e seu técnico surgiu em março de 1987,
quando o jovem treinador Joel Santana resolveu se reunir com os torcedores
organizados para discutir a escalação do elenco, contratações e a forma do time
jogar. Aquela reunião não era a primeira vez que acontecia. Mas como iniciativa
de um técnico, sim. “Não dizem que a voz do povo é a voz de Deus? Como não
sou o dono da verdade, quero consultar os torcedores, que tem muito para nos
dar, seja através de observações fazem por ai, seja através de dicas, sempre é
útil”[3],
conclui Joel.
Talvez
por conhecer o clube e sua torcida, Joel Santana (foi ex-jogador nos anos 1970)
concedeu um espaço que nenhum treinador tinha ousado oferecer. Ainda neste mês
a banda de rock inglesa The Cure[4]
esteve no Maracanã e os integrantes saíram encantados com os torcedores
vascaínos: “nunca vi
ninguém torcer desta forma. O espetáculo se torna muito alegre”.
Para
muitos o mês de agosto rima com desgosto, mas para os vascaínos este mês é
especial pois se comemora o aniversário do clube (dia 21) e foi nesta época que
tivemos mais um motivo de alegria: o Vasco se tornou carioca com um gol de
Tita.
Ídolo
nos clubes anteriores (Flamengo, Grêmio e Internacional), o atacante chegou em
São Januário no início de 1987 como a grande esperança da torcida diante de um
novo craque. Em campo o atleta superou todas as expectativas. O título carioca
de 1987 confirmou o desejo dos torcedores. Os gritos de “Dá-lhe Vasco, dá-lhe
Vasco, olê, olê, olá” estavam mais fortes ainda neste dia[5].
Antes
da hora do jogo um balão (era proibido soltar) surge na torcida do Vasco e vira
a grande atração. Aliás, um balão no estádio, em dia de decisão (hora e local
de fortes superstições) era o prenuncio de sorte ou azar. Subindo ele
significava vitória, caindo ou pegando fogo, sinal de fracasso.
O
balão fez uma trajetória inacreditável, subindo e caindo varia s vezes,
provocando gritos e apupos das duas torcidas. Até que ele percorre o gramado e
cai (segundo a lenda) no gol do Flamengo, para delírio dos vascaínos. O título
estava garantido.
Para
o campeonato brasileiro daquele ano havia um impasse entre a CBF e o Clube dos
13 (que reunia os principais clubes do Brasil), terminando com o Clube
organizando a Copa União, com apoio da Rede Globo e outros grandes
patrocinadores (por exemplo, a Coca-Cola). Era uma tentativa de “tornar o
futebol mais moderno”, mas no fundo revelava o início do domínio da TV sobre o
futebol. Para o historiador Hilário Franco Junior, a partir desta época a tv
“confirmou o futebol como importante produto da sociedade de consumo e
modificou a realidade financeira do setor” (2008 p.314). Foram os primeiros
jogos do campeonato brasileiro transmitidos ao vivo para a mesma cidade em que
ocorria a competição, mas o jogo que seria transmitido era sorteado na hora.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] O ano de 1986 foi marcado no futebol
Brasileiro pela violência nos campos e nas arquibancadas. Por que os torcedores
passaram a se agredir dessa maneira? Isso nada tem a
ver com a paixão do futebol. Poderia haver uma explicação social, talvez
econômico? Há 30 anos, como se comportava o
torcedor? Percebe-se que você não gosta ou não
aprova o comportamento de muitos Chefes de Torcida. E por eles serem
profissionais de arquibancada? Fonte:
Jornal do Brasil 08 de Janeiro de 1987
[2] Em outro momento Carlinhos Portugues aponta o
segredo deste coletivo: “nessa fase
surge à frente da Torcida um grupo com muita vontade e disposição que começa um
processo de transformação na Força Jovem inicialmente como colaboradores, em
seguida como diretores. Este grupo era muito unido e apesar de algumas
divergências naturais sempre fechavam por uma Força Jovem maior e melhor, havia
o espírito de união, tanto que tudo que era resolvido era de comum acordo entre
o grupo diretor.(...)Fernando Coelho, Marcondes, Léo da Pavuna, Léo do Méier,
Marquinhos Thomas, Ovo, Chefe, Bagulhão, Manteiga, Japão, Madureira, Zé David,
Arlindo Gordo, Hadson, André Negão, Assis Negão, Pelé, Sagat, Índio, Eduardo
Perpetua, Paulinho Shock entre outros”, revela Carlinhos Português. Fonte:
torcidasdovascoblogspot.com
[3] Fonte: Jornal O Globo 14 de Março de 1987.
[4] Disse Roberto Smith líder do The Cure. Fonte:
Jornal do Brasil 30 de Março de 1987.
[5] A Torcida do Vasco homenageou o Vascaíno Nelson
Piquet, que pela manhã obtivera importante vitória no circuito de Budapeste,
com uma alegre bandeira em que sua Willians era reproduzida nas cores
originais.
Vasco Jornal O Globo 1987 |
Vasco Maracanã 1987 |
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