quarta-feira, 12 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1988 A QUINA

                                                                               “Vamos torcer sem violência”
                                                                                Faixa – Pequenos Vascaínos

1988                                A Quina

Para o campeonato carioca de 1988, a Rede Globo investiu pesado na cobertura e nas transmissões. Foram vários jogos televisados ao vivo entre os clubes grandes e pequenos (horário domingo pela manhã as 11h) e os clássicos (domingo as 17h). Pela primeira vez o campeonato carioca seria transmitido direto do Maracanã ou dos estádios menores. Resultado imediato: queda brutal do número de torcedores nos estádios. Era a menor média de público nos estádios desde 1965 ( Helal, 1997).
Há uma longa discussão se a tv tira torcedores dos estádios ou não, mas é inegável que, naquele momento, sem um controle dos clubes no horário dos jogos, o aumento da violência na cidade, a dificuldade com o transporte e o alto preço dos ingressos, eram fatores suficientes para fazer que o torcedor preferisse ficar sentado na sua poltrona.
Disputado em 3 turnos por vários meses, o campeonato regional ainda era um título importante, tão especial quanto o campeonato brasileiro. A disputa acirrada entre os times da mesma cidade continuava mobilizando fortes emoções.
O momento esportivo era bastante favorável ao Vasco que, em confrontos com o seu maior rival, levou ampla vantagem, chegando a completar 5 vitórias consecutivas no meio do ano.
De maio a julho de 1988, Vasco e Flamengo se enfrentaram com partidas muito disputadas mas que terminavam com o mesmo resultado. Como o jogo de apostas mais popular na época era a quina (ao acertar 5 números o apostador ficava milionário), a “quina” do Vasco virou o motivo maior de gozação nos anos 1980, ou talvez pelo nome de um doce.
Zombar os rubro-negros com um gol de título feito por um ex-jogador, como foi o caso de Tita em 1987, tinha um gosto especial, contudo, em 1988, um ex-lateral do Flamengo, com um apelido curioso, foi elevado categoria máxima de herói de São Januário.
Final do campeonato carioca, Vasco e Flamengo fazem o último jogo com vantagem de empate para o Almirante. Aos 43 minutos do segundo tempo, Cocada entra em campo para reforçar a defesa, no entanto, com uma arrancada sensacional, o lateral faz um golaço aos 44, corre para comemorar junto ao banco do Flamengo, provoca uma confusão aos 45 e é expulso. A confusão prossegue com briga generalizada entre jogadores até o apito final.
Era a quarta vitória seguida sobre o rival (“a quadra”). Uma pena que menos de 35 mil pagantes para assistir aquela que seria a final de menor público até então. O estádio do Maracanã, acostumado a receber mais de 100 mil pagantes nas decisões, teve um público reduzido com vários espaços vazios e a consagração da separação[1] das torcidas no meio.
A alegria só não foi maior porque em junho de 1988 morria um dos torcedores mais ilustres do Vasco da Gama: Abelardo Barbosa, popularmente conhecido como Chacrinha. Um dos mais irreverentes apresentadores da TV, “O Velho Guerreiro”, fazia questão de mostrar que era vascaíno. Por diversas vezes ele provocava: “quem falar mal do Vasco eu expulso do auditório”. Sempre posando com a camisa do clube e destacado pela imprensa como “torcedor fanático”, Chacrinha não resistiu ao tratamento de câncer que praticamente provocou seu afastamento da TV em 1988.
O sucesso em campo com o bicampeonato carioca se refletia nas arquibancadas com a Força Jovem se tornando a maior torcida organizada do Vasco e passa a investir mais no incremento de suas bandeiras. O melhor exemplo era a do He-Man, personagem popular de um desenho de grande sucesso na época, se tornando um ícone para as outras torcidas. Ainda neste período a novidade eram os sinalizadores, que seriam proibidos e provocariam um grande problema em 1989, no jogo entre Brasil e Chile nas Eliminatórias da Copa da Itália (1990). Quando uma torcedora (Rosinery Mello) atingiu o campo e o goleiro Rojas simulou ter sido atingido, com a partida interrompida.
Apesar de consolidar seu domínio absoluto na torcida vascaína, a Força Jovem enfrentou uma dissidência em 1988, quando surge a Força Independente. Pouco depois ocorre uma briga entre as duas torcidas terminando com 14 feridos e 20 presos. Esta foi a primeira grande briga envolvendo apenas torcedores do Vasco.
Se a torcida brigava com as rivais nas arquibancadas, no clube o ambiente era o melhor possível, em perfeita harmonia, com apoio ostensivo de todas as torcidas aos dirigentes[2], especialmente Eurico Miranda, que passa a ser quase uma unanimidade entre os torcedores.
No campo das alianças se fortalece a união entre a Mancha Verde (Palmeiras) e a Força Jovem. Os laço são cada vez mais estreitos com as lideranças de Cléo Sóstenes (Mancha) e Roberto Monteiro. No entanto, vale lembrar que foi justamente neste ano que o torcedor palmeirense é assassinado, que, infelizmente, até hoje, não foi identificado o autor do crime.
Pouco depois desse episódio ocorre um dos últimos jogos do Vasco do ano contra o Corinthians em São Paulo. Em depoimento sobre as lembranças de antigos membros da FJV, Serginho de Niterói revela o roubo de uma bandeira da Gaviões no centro do gramado, da sua prisão e do clima de guerra na viagem para São Paulo: “foi escolhido a dedo quem era pra ir, não era qualquer um que podia viajar, ao chegar ao Pacaembu, a gente bateu de frente com a Gaviões da Fiel que estava enorme, tinha 53 mil pessoas no Estádio, uns 3 mil Vascaínos, na descida do Tobogã”. Desde 1983 que os jogos entre os dois clubes eram marcados por intensas brigas dentro e fora dos estádios. A realização das caravanas deixavam o aspecto turístico e esportivo em segundo plano, “começavam a ser cada vez mais conhecidas pelo signo da periculosidade, com a intensificação e a sistematização das brigas” (Hollanda, 2009, p.475).
No final do ano ocorreu a eleição presidencial menos disputada[3] da década e também a que teve o menor número de votantes. Com a aliança entre Calçada e Eurico e a boa campanha do time, restavam poucas alternativas de vitória para a oposição. Fernando Horta foi o principal concorrente. O candidato se destacaria nos anos seguintes como o presidente da Escola de Samba Unidos da Tijuca.
No campeonato brasileiro, o Vasco foi o clube de melhor campanha no primeiro turno e também no segundo. Se fosse um campeonato de pontos corridos, teríamos conquistado o segundo título. Mas pelo regulamento foram classificados os oito melhores times para disputar as quartas de final no ano seguinte.
Foi durante o campeonato brasileiro que Romário transferiu-se para o PSV por US$ 5 milhões, sendo na época a mais cara contratação brasileira por um clube estrangeiro. A transação revelava uma nova tendência no êxodo dos jogadores brasileiros para o futebol europeu. No início da década de 1980 os jogadores saíam do Brasil já com mais de 28 anos. Agora cada vez mais cedo nossos ídolos partiam para o exterior. Romário tinha apenas 22 anos quando foi vendido. O jogador se despedia do clube na época das Olimpíadas de Seul, quando foi o artilheiro da competição e levou a medalha de prata para o Brasil. O artilheiro voltaria ao Maracanã no ano seguinte quando conquistaria pela seleção brasileira a Copa América em 1989.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Segundo os torcedores, a violência aumentou muito depois que a Polícia Militar resolveu criar uma fronteira, antes as torcidas se reuniam no Portão 18, entravam juntas, havendo uma briga ou outra, mas logo apartada. A PM determinou que a Torcida do Flamengo se concentrassem na entrada da Estátua de Belini e a do Vasco na UERJ. A partir daí quem passava com a camisa de outro Clube no território inimigo acabava agredido, o que aumentou mais a rixa. (matéria publicada no Jornal O Dia em 1991).
[2] Segundo Ely e Amâncio, todas as Torcidas Vascaínas têm acesso a Diretoria do Vasco e recebem uma ajuda de custo de 30% para as excursos.Cada Torcida recebe da Federação de Futebol 30 credenciais, distribuídas prioritamente para a Diretoria, bateristas e Diretores de faixa e bandeiras. Fora as cortesias dadas pelos Clubes, que somam um total de 150 ingressos, segundo o Superintendente da SUDERJ, Eduardo Aguiar. Os líderes confirmam os números, mas não concordam com a acusação de que Torcidas não pagam ingressos. O Capitão Messias, acredita que reunindo todas as Torcidas, uma média de 500 pessoas entram sem pegar no Maracanã.Fonte: Jornal O Dia 1988              
[3] Rumo Ao Tri – 1564 votos em Calçada  e Opção Vascaína – 257 votos em Fernando Horta.

Vasco Maracanã 1988

Vasco São Januário 1988

Nenhum comentário:

Postar um comentário