“Vamos torcer sem violência”
Faixa – Pequenos Vascaínos
1988 A Quina
Para
o campeonato carioca de 1988, a Rede Globo investiu pesado na cobertura e nas
transmissões. Foram vários jogos televisados ao vivo entre os clubes grandes e
pequenos (horário domingo pela manhã as 11h) e os clássicos (domingo as 17h).
Pela primeira vez o campeonato carioca seria transmitido direto do Maracanã ou
dos estádios menores. Resultado imediato: queda brutal do número de torcedores
nos estádios. Era a menor média de público nos estádios desde 1965 ( Helal,
1997).
Há
uma longa discussão se a tv tira torcedores dos estádios ou não, mas é inegável
que, naquele momento, sem um controle dos clubes no horário dos jogos, o
aumento da violência na cidade, a dificuldade com o transporte e o alto preço
dos ingressos, eram fatores suficientes para fazer que o torcedor preferisse
ficar sentado na sua poltrona.
Disputado
em 3 turnos por vários meses, o campeonato regional ainda era um título importante,
tão especial quanto o campeonato brasileiro. A disputa acirrada entre os times
da mesma cidade continuava mobilizando fortes emoções.
O
momento esportivo era bastante favorável ao Vasco que, em confrontos com o seu
maior rival, levou ampla vantagem, chegando a completar 5 vitórias consecutivas
no meio do ano.
De
maio a julho de 1988, Vasco e Flamengo se enfrentaram com partidas muito
disputadas mas que terminavam com o mesmo resultado. Como o jogo de apostas mais
popular na época era a quina (ao acertar 5 números o apostador ficava
milionário), a “quina” do Vasco virou o motivo maior de gozação nos anos 1980,
ou talvez pelo nome de um doce.
Zombar
os rubro-negros com um gol de título feito por um ex-jogador, como foi o caso
de Tita em 1987, tinha um gosto especial, contudo, em 1988, um ex-lateral do
Flamengo, com um apelido curioso, foi elevado categoria máxima de herói de São
Januário.
Final
do campeonato carioca, Vasco e Flamengo fazem o último jogo com vantagem de
empate para o Almirante. Aos 43 minutos do segundo tempo, Cocada entra em campo
para reforçar a defesa, no entanto, com uma arrancada sensacional, o lateral
faz um golaço aos 44, corre para comemorar junto ao banco do Flamengo, provoca
uma confusão aos 45 e é expulso. A confusão prossegue com briga generalizada
entre jogadores até o apito final.
Era
a quarta vitória seguida sobre o rival (“a quadra”). Uma pena que menos de 35
mil pagantes para assistir aquela que seria a final de menor público até então.
O estádio do Maracanã, acostumado a receber mais de 100 mil pagantes nas
decisões, teve um público reduzido com vários espaços vazios e a consagração da
separação[1]
das torcidas no meio.
A
alegria só não foi maior porque em junho de 1988 morria um dos torcedores mais
ilustres do Vasco da Gama: Abelardo Barbosa, popularmente conhecido como
Chacrinha. Um dos mais irreverentes apresentadores da TV, “O Velho Guerreiro”,
fazia questão de mostrar que era vascaíno. Por diversas vezes ele provocava: “quem
falar mal do Vasco eu expulso do auditório”. Sempre posando com a camisa do
clube e destacado pela imprensa como “torcedor fanático”, Chacrinha não
resistiu ao tratamento de câncer que praticamente provocou seu afastamento da
TV em 1988.
O
sucesso em campo com o bicampeonato carioca se refletia nas arquibancadas com a
Força Jovem se tornando a maior torcida organizada do Vasco e passa a investir
mais no incremento de suas bandeiras. O melhor exemplo era a do He-Man,
personagem popular de um desenho de grande sucesso na época, se tornando um
ícone para as outras torcidas. Ainda neste período a novidade eram os
sinalizadores, que seriam proibidos e provocariam um grande problema em 1989,
no jogo entre Brasil e Chile nas Eliminatórias da Copa da Itália (1990). Quando
uma torcedora (Rosinery Mello) atingiu o campo e o goleiro Rojas simulou ter
sido atingido, com a partida interrompida.
Apesar
de consolidar seu domínio absoluto na torcida vascaína, a Força Jovem enfrentou
uma dissidência em 1988, quando surge a Força Independente. Pouco depois ocorre
uma briga entre as duas torcidas terminando com 14 feridos e 20 presos. Esta
foi a primeira grande briga envolvendo apenas torcedores do Vasco.
Se
a torcida brigava com as rivais nas arquibancadas, no clube o ambiente era o
melhor possível, em perfeita harmonia, com apoio ostensivo de todas as torcidas
aos dirigentes[2], especialmente Eurico
Miranda, que passa a ser quase uma unanimidade entre os torcedores.
No
campo das alianças se fortalece a união entre a Mancha Verde (Palmeiras) e a
Força Jovem. Os laço são cada vez mais estreitos com as lideranças de Cléo Sóstenes (Mancha) e Roberto Monteiro. No
entanto, vale lembrar que foi justamente neste ano que o torcedor palmeirense é
assassinado, que, infelizmente, até hoje, não foi identificado o autor do
crime.
Pouco
depois desse episódio ocorre um dos últimos jogos do Vasco do ano contra o
Corinthians em São Paulo. Em depoimento sobre as lembranças de antigos membros
da FJV, Serginho de Niterói revela o roubo de uma bandeira da Gaviões no centro
do gramado, da sua prisão e do clima de guerra na viagem para São Paulo: “foi
escolhido a dedo quem era pra ir, não era qualquer um que podia viajar, ao
chegar ao Pacaembu, a gente bateu de frente com a Gaviões da Fiel que estava
enorme, tinha 53 mil pessoas no Estádio, uns 3 mil Vascaínos, na descida do
Tobogã”. Desde 1983 que os jogos entre os dois clubes eram marcados por
intensas brigas dentro e fora dos estádios. A realização das caravanas deixavam
o aspecto turístico e esportivo em segundo plano, “começavam a ser cada vez
mais conhecidas pelo signo da periculosidade, com a intensificação e a
sistematização das brigas” (Hollanda, 2009, p.475).
No
final do ano ocorreu a eleição presidencial menos disputada[3] da
década e também a que teve o menor número de votantes. Com a aliança entre
Calçada e Eurico e a boa campanha do time, restavam poucas alternativas de
vitória para a oposição. Fernando Horta foi o principal concorrente. O
candidato se destacaria nos anos seguintes como o presidente da Escola de Samba
Unidos da Tijuca.
No
campeonato brasileiro, o Vasco foi o clube de melhor campanha no primeiro turno
e também no segundo. Se fosse um campeonato de pontos corridos, teríamos
conquistado o segundo título. Mas pelo regulamento foram classificados os oito
melhores times para disputar as quartas de final no ano seguinte.
Foi
durante o campeonato brasileiro que Romário transferiu-se para o PSV por US$ 5
milhões, sendo na época a mais cara contratação brasileira por um clube
estrangeiro. A transação revelava uma nova tendência no êxodo dos jogadores
brasileiros para o futebol europeu. No início da década de 1980 os jogadores
saíam do Brasil já com mais de 28 anos. Agora cada vez mais cedo nossos ídolos
partiam para o exterior. Romário tinha apenas 22 anos quando foi vendido. O
jogador se despedia do clube na época das Olimpíadas de Seul, quando foi o
artilheiro da competição e levou a medalha de prata para o Brasil. O artilheiro
voltaria ao Maracanã no ano seguinte quando conquistaria pela seleção
brasileira a Copa América em 1989.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Segundo os torcedores, a violência
aumentou muito depois que a Polícia Militar resolveu criar uma fronteira, antes
as torcidas se reuniam no Portão 18, entravam juntas, havendo uma briga ou
outra, mas logo apartada. A PM determinou que a Torcida do Flamengo se
concentrassem na entrada da Estátua de Belini e a do Vasco na UERJ. A partir
daí quem passava com a camisa de outro Clube no território inimigo acabava agredido,
o que aumentou mais a rixa. (matéria publicada no Jornal O Dia em 1991).
[2] Segundo Ely e Amâncio, todas as
Torcidas Vascaínas têm acesso a Diretoria do Vasco e recebem uma ajuda de custo
de 30% para as excursos.Cada Torcida recebe da Federação de Futebol 30
credenciais, distribuídas prioritamente para a Diretoria, bateristas e
Diretores de faixa e bandeiras. Fora as cortesias dadas pelos Clubes, que somam
um total de 150 ingressos, segundo o Superintendente da SUDERJ, Eduardo Aguiar.
Os líderes confirmam os números, mas não concordam com a acusação de que
Torcidas não pagam ingressos. O Capitão Messias, acredita que reunindo todas as
Torcidas, uma média de 500 pessoas entram sem pegar no Maracanã.Fonte: Jornal O
Dia 1988
[3] Rumo Ao Tri – 1564 votos em Calçada e Opção Vascaína – 257 votos em Fernando
Horta.
Vasco Maracanã 1988 |
Vasco São Januário 1988 |
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