domingo, 16 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1989 INVASÃO DO MORUMBI

                                                                     “Vasco por Amor, Força Jovem por Ideal”
                                                                                     Slogan da torcida 

 1989                  A Invasão do Morumbi

A desclassificação do Vasco da Copa União de 1988 (no início de 1989) foi uma grande surpresa pois a equipe fazia a melhor campanha do campeonato em 1988, mas não manteve o mesmo ritmo no início do ano seguinte.
Neste momento inicial só quem comemorava era Roberto Dinamite, que aos 35 anos, era o enredo da escola de samba Boêmios de Inhaúma. Entretanto, o ídolo viveu um momento difícil e foi emprestado depois do campeonato carioca para a Portuguesa de São Paulo. Em março um jornal carioca estampa em sua manchete a condenação dos torcedores: “OS CHEFES DE TORCIDAS JÁ REJEITAM PRESENÇA DE ROBERTO NO VASCO”. Uma das críticas era o alto salario do atacante e a sua idade avançanda. Vários torcedores sugeriam que ele encerra a carreira.
Para a campanha do tricampeonato a Força Jovem inicia com ânimo redobrado fazendo suas novas carteirinhas e lançando o lema “Vasco por Amor, Força Jovem por Ideal”. Na mesma época eram lançadas novas bandeiras que se eternizariam no coração dos vascaínos, como a do mascote Eddie, da banda Iron Maiden. No comando da torcida assumia o jovem Roberto Monteiro de apenas 18 anos, no lugar do veterano Ely Mendes, que ocupou a liderança da agremiação entre 1971 até 1989.
Outras mudanças que ocorriam neste ano eram a chegada de Ricardo Teixeira no comando da Confederação Brasileira de Futebol. O dirigente ficaria no cargo por muitos anos. Para trabalhar com ele foi chamado Eurico Miranda que ficou responsável como Diretor de Futebol da entidade. Nesse período o clube teve 5 jogadores (Acácio, Mazinho, Zé do Carmo, Bismarck e Vivinho) convocados para a seleção, ganhando o apelido de “Selevasco”.
As primeiras campanhas pela não-violência promovidas pela SUDERJ surgem no placar eletrônico, mas a melhor ação e mais criativa, ficaram com as torcidas de Vasco e Botafogo que promovem um espetáculo de confraternização no Dia das Mães. Cada torcida sai do túnel de arquibancada adversário e caminha com suas bandeiras por todo o seu lado na arquibancada, sendo aplaudidos por ambas torcidas que gritavam: “Vascão, Fogão, amizade de Irmão”.
No meio do ano a grande atração foi a disputa da Copa América no Brasil e a conquista do título no Maracanã. Aquela vitória representou muito para o futebol brasileiro pois foi a primeira grande conquista depois da Copa do México em 1970. Vários jogadores desta seleção seriam campeões do mundo em 1994 nos EUA. Entre eles a dupla de ataque Romário e Bebeto, que foram os grandes destaques nos jogos finais com a Argentina e o Uruguai.
Após a Copa América, Bebeto seria a maior contratação foi futebol brasileiro até então, numa transação que mexeu com toda a cidade, já que o mesmo saiu em litígio com o seu ex-clube, o Flamengo.
De julho a setembro, já durante o campeonato brasileiro, a grande expectativa da torcida do Vasco era a sua estréia e, principalmente, como seria a reação das duas torcidas. De um lado, a torcida do Flamengo levando cartazes e gritando “chorão” e, de outro, os vascaínos gritando o nome do jogador, elevado-o a categoria de grande ídolo do clube.
Em setembro o Brasil conquista a vaga nas Eliminatórias vencendo o Chile no maracanã, no polêmico jogo da “Fogueteira”. A reação dos torcedores do Chile que hostilizou nossa torcida e jogadores, preocupava a direção da CBF que parecia entever problemas para o jogo final disputado no Rio de Janeiro. Em reunião com Eurico Miranda, mais de 70 líderes das torcidas prometem um comportamento exemplar: “as quatro maiores, a Raça Rubro Negra do Flamengo, Força Jovem do Vasco, a Young Flu do Fluminense e a Torcida Jovem do Botafogo, calculam que arrigementarão no total quase 50 mil em papel picado, papel higiênico, fumaças coloridas e instrumentos de percursão. “Vamos vaiar os chilenos desde o primeiro minuto que eles pisarem no Brasil, mas não vamos agredi-los de jeito algum”, prometeu Ely Mendes, Chefe da Força Jovem, “vamos buzinar e fazer arruaça na frente do Hotel  e persegui-los com vaias e apupos. Essa será a nossa vingança”, completou o Chefe da Força Jovem do Vasco”.[1] O Brasil vence e se classifica, apesar de toda a encenação do goleiro chileno Rojas, que alegou ter sido ferido por um rojaõ disparado pela torcida brasileira.
            O campeonato brasileiro continuava e a dúvida dos vascaínos era saber quando o atacante finalmente poderia estrear. Em função de uma lesão que o deixou várias semanas em recuperação, Bebeto não teve uma atuação destacada nos seus primeiros jogos, mas com a subida de produção do time, o atacante cresce de rendimento e se torna figura central nos jogos decisivos. O ponto alto foi o jogo contra o Internacional em Porto Alegre, com dois gols, para a alegria da centena de vascaínos que viajaram mais de 22 horas para acompanhar o clube se classificar para as finais do brasileiro de 1989.
            O sucesso na Copa América pela seleção brasileira e os gols decisivos pelo campeonato brasileiro garantiram a Bebeto inúmeros títulos e prêmios, superando os atacantes Careca e Romário. Foi um ano inesquecível em sua brilhante carreira. Bebeto conquistou o Craque do ano - Revista Placar (Eleito pelo Júri): 1989; o de melhor Jogador Sul-Americano do Ano; 3º Maior jogador do Mundo eleito pela revista inglesa World Soccer; Craque do Campeonato brasileiro (Oficial) e Jogador do ano do Vasco. Nem mesmo sua declaração de apoio ao candidato Fernando Collor, manchou sua imagem de ídolo, ainda mais quando ele disse que seu clube de coração na infância era o Almirante.
            A final com o São Paulo seria disputada em dois jogos caso o Vasco não vencesse o time paulista em sua cidade. A confiança dos vascaínos era inegável. O fim do ano era de realmente grandes esperanças, vivíamos o clima de eleição presidencial depois de 29 anos.
            E foi em clima de decisão do 2° turno nas eleições presidenciais (dia 17 domingo) e final do campeonato brasileiro (dia 16 sábado) que a partida foi disputada.
            Os saopaulinos gritando o nome do candidato Collor e os Vascaínos aos gritos de “Olé, olé, olá, Lula, lula”, desde o grande comício de 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro quando alguns membros da Força Jovem levaram suas bandeiras par ao evento.
            Nunca política e futebol estiveram tão misturados numa final, parecia que a vitória em campo levaria para a vitória das urnas.
            Para incentivar os cariocas acompanharem seu time em campo os dirigentes não pouparam esforços para realizar a Invasão do Morumbi, com a previsão de 15.000 pessoas partindo para a capital paulista de avião, carros e, principalmente, de ônibus alugados.
            O gol de Sorato selou o destino da partida e o bicampeonato garantido. Explosão de alegria nas arquibancadas, que segundo a imprensa, ocupou cerca de 30% do estádio. No dia seguinte, o colunista do Jornal do Brasil, João Saldanha, ressaltava a torcida vascaína ao atribuir o seu comportamento no estádio refletindo no empenho do time em campo. “A torcida que estava acompanhando o Vasco desempenhou um papel importante. Não sei quantos seriam, mas pelo menos uns 10 mil (20 mil) estavam naquele bolo. Outro dia lá em Porto Alegre, os torcedores Vascaínos também desempenharam um importante ponto para a vitória. (Internacional 0 X 2 Vasco, gols de Bebeto). Desta vez mais ainda . Digo-lhes com a certeza de que tem hábito de assistir jogos fora, quando aparece um apoio assim, qualquer time cresce”, conclui o cronista[2] Eram os últimos dias do ano e fim de uma era que terminava de forma épica[3]. Milhões de vascaínos em todo o Brasil assistiam o clube voltar a ser campeão de maneira incontestável.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal O Liberal 24 de Agosto de 1989.
[2] Jornal do Brasil  17 de dezembro de 1989.
[3] Inúmeras lembranças são relatadas na Internet, vou registrar apenas uma mas vale conferir outras: Eduardo Briza:  ‘Fui também. Foi a melhor viagem que fiz em todas que já participei!! Sem precisar falar do resultado do jogo que foi maravilhoso. Mas desde a saída de São Januário até a chegada em Sampa foram muitas coisas. A galera roubando nas paradas, pegando duas comandas pra poder comer e beber de graça! Nessa deu até polícia (...) “  Fonte; torcidasdovasco.blogspot.

Vasco 1989

Vasco Morumbi 1989

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