quarta-feira, 28 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2009 AMOR INFINITO

                              “na primeira, segunda ou décima nona divisão, serei sempre Vasco”
                                                                       Aldir Blanc

  2009                      Amor Infinito
        Havia muita expectativa dos torcedores vascaínos e da imprensa em geral sobre o desempenho do presidente Roberto Dinamite para a temporada de 2009 quando o clube teria o desafio maior de voltar para a primeira divisão e formar um time capaz de honrar a tradição vitoriosa do clube.
            Como havia assumido o clube em meio a uma grave crise econômica e política, Roberto conseguiu o apoio das torcidas organizadas vascaínas e da grande mídia em seu começo de mandato. A culpa pela queda em 2008 caiu toda sobre os ombros do ex-presidente Eurico Miranda. Agora, passados seis meses e com uma grande reformulação no elenco, o novo presidente teria sua chance de mostrar todas as mudanças positivas que seriam implementadas.      
            Dentro e fora de campo esportivo, é visível que Roberto Dinamite tem uma simpatia de diversos setores da sociedade. Artistas, políticos, empresários, intelectuais e dirigentes esportivos manifestam publicamente que o Vasco é um novo clube. Aldir Blanc, desafeto de Eurico Miranda, lança o livro Vasco, A Cruz do Bacalhau, último livro da coleção da editora Ediouro, proibido na época do ex-dirigente. Blanc comenta o cenário político deste novo período: “foram afastados pelo voto democrático e livre, em eleições sem fraude, sem baixarias e, por incrível que pareça, porrada nos membros da oposição, como aconteceu no passado”. Roberto é apresentado como a antítese de Eurico, em lugar da truculência, da desonestidade, da ditadura, assume um democrata, liberal e moderno dirigente que promete reconciliar o clube com os inimigos declarados de Eurico Miranda.
            Agostinho Taveira, conselheiro do Vasco, é nomeado pelo clube para ser o elo de ligação com as torcidas organizadas. O maior desafio é fazer um diálogo com a FJV, envolvida em crises internas. A diretoria atual tem grande apoio do clube e se inicia um processo de aproximação entre as duas instituições.
            Para o campeonato carioca o clube apresenta seu elenco nos moldes dos times europeus e abre São Januário para a sua torcida que comparece em bom número. Mais de duas mil pessoas, numa sexta-feira pela manhã, atendem ao pedido da diretoria que faz uma festa com direito a foto oficial, chuva de papel picado e queima de fogos.
            Neste período a nova diretoria da FJV atuava intensamente para começar o ano corrigindo os erros do passado. Só de dívidas da última gestão são quase R$ 50 mil reais. Uma reunião entre os lideres de fora da cidade é realizada nas arquibancadas de São Januário. “No dia 10 de Janeiro em reunião histórica nas arquibancadas de São Januário, estiveram presentes os líderes de diversas Famílias de fora da Cidade do Rio de Janeiro. São elas: 12ª Família (Caxias/Petrópolis), 15ª (Nova Friburgo), 16ª (Teresópolis), 17ª (Volta Redonda), 18ª (Juiz de Fora), 19ª (Campos), 20ª (Região dos Lagos), 22ª (Brasília), 23ª (São Paulo), 35ª (Belo Horizonte), 36ª (Bahia), 45ª (Cuiabá), 57ª (Goiás) e 59ª (Itaboraí). Também participaram da reunião os Dinossauros e os membros da nova Família Costa Verde”.
            Na festa de comemoração dos 39 anos da torcida, o clube abre as portas da sede no Calabouço para a torcida fazer a sua confraternização. Estavam presentes os componentes de diversas gerações e membros de torcidas de outros estados, como a Mancha Verde que retribuiu a visita da FJV a sua festa em São Paulo, no mês de janeiro, comemorando os 26 anos de fundação. Na ocasião a FJV é presenteada com um quadro e um troféu em homenagem a “Amizade Perpétua” da “união sinistra que ninguém segura”.
            No campeonato de 2009 o grande momento foi o jogo entre Vasco 2 x 0 Flamengo no Maracanã quando 5.000 componentes foram a pé de São Januário até o palco do jogo: “a caminhada ocorreu sob o clima de paz e confiança e há tempos não víamos a torcida tão coesa e decidida a ajudar o Vasco nos enfrentamentos contra o seu rival. Este grande ato, o maior da história da torcida, aconteceu no feliz domingo em que a Mulambada levou um sacode de 2 X 0. Dentro de campo, a equipe foi aguerrida e acreditamos que esta foi a forma que o time usou para retribuir a calorosa recepção da massa Vascaína”.
            Fora de campo a FJV aproveitou que a banda Iron Maiden fazia um show na Praça da Apoteose, em março, para presenteá-los com camisas do clube e da torcida. Em abril era inaugurada a nova sede na rua Uruguaiana, no centro da cidade. “A FJV escreve um novo capítulo em sua história. O espaço, duas salas no Centro do Rio, representa um ponto de encontro para os associados e amigos. Na comemoração desta conquista, o goleiro Tiago e o atacante Rodrigo Pimpão, marcaram presença, assim como inúmeros Chefes de Família e a Rainha Daniele Sperle”.
No Dia Internacional das Mulheres (8 de março) a FJV em São Januário, com apoio da Família Feminina, distribui duas mil rosas para as torcedoras além de brindes femininos e produtos de beleza. O presidente da Força Jovem, Luís Cláudio, o Claudinho, reforçou a boa intenção da Torcida Organizada: “queremos trazer as mulheres de volta aos estádios, dos quais se afastaram devido a violência nas arquibancadas. Para isso, começamos a Campanha Força Feminina nos Estádios”.
Em maio começa a campanha para o Vasco conseguir alcançar 100 mil sócios. Tratava-se do projeto de marketing intitulado “O Vasco é Meu”. Uma ambiciosa atividade de propaganda que contou com chamadas em todos os meios de comunicação, utilizando atores e atrizes famosos convocando a torcida para aderir a este novo modelo de pertencimento clubístico.
A primeira grande divergência da FJV com a administração de Roberto Dinamite surge quando um membro da diretoria vascaína resolve criar uma grade em São Januário numa “modernização” do estádio, visando criar novos setores. A torcida reagiu e o clube voltou atrás e retirou as grades. A FJV emite uma nota sobre a sua posição no caso chamado pela torcida de “Grade da Vergonha”: “setorização injusta, que somente pode ser feita como parte de uma reforma mais ampla do Estádio que proporcione conforto e segurança para todos os setores. Separações não combinam com a alma popular que marca o espírito vascaíno. São Januário é um orgulho para todos. A história de nosso Estádio marcou não só o esporte, mas a própria vida política do Brasil. Sem medo de exageros, São Januário está entre os símbolos da democracia em nosso país. O Vasco é povo e em nosso Caldeirão: Trabalhadores, Empresários e Estudantes misturam-se, sem preconceitos, unidos pelo Amor ao Vasco”.
Nesta época é criada a FTORJ (Federação das Torcida Organizadas do Rio de Janeiro) com intuito de unir as torcidas cariocas que passavam por uma intensa campanha da mídia pela extinção das mesmas. Dois vascaínos fazem parte da primeira diretoria: o Vice-Presidente Patrimonial e Social, Jorge Henrique da Silva Matos, “Policinha” (Força Jovem do Vasco) e do  Conselho Fiscal, Rodrigo Granja Coutinho dos Santos “Batata” (Ira Jovem). Em julho a FJV participou do Seminário das Torcidas Organizadas que os Ministérios do Esporte e da Justiça realizou na Cidade de São Paulo. Contou também com a participação da FTORJ.
            Começa o campeonato brasileiro e a torcida do Vasco comparece em peso nos jogos em São Januário. Mas o grande destaque serão os jogos no Maracanã quando a torcida dará grandes demonstrações de amor ao clube com recordes de renda e jogos com público superior a quase todos os outros da 1ª divisão. O clube lança uma campanha televisiva chamada “O Vasco é Meu” para atrair novos sócios. Vários artistas aderem a campanha fazendo depoimentos favoráveis ao novo ambiente que o clube passava.
            A Força Jovem lança o desafio para os seus integrantes não esmorecerem e ajudarem o time a vencer seus jogos em casa: “Faça a diferença para o Vasco voltar à Série A e para mostrar para todo o Brasil qual é a Maior e Melhor Torcida Organizada do País. Guerreiros unidos pelo mesmo ideal: a Força Jovem e o Vasco!”
            A GDA completava 3 anos em agosto e já experimentavam  as primeiras contradições com o crescimento do número de participantes e a dificuldade de controlar suas ideias originais com a nova realidade. Neste mês eles lançam um manifesto: “fazendo chegar ao público em geral, às autoridades legalmente estabelecidas e em particular à mídia, quem somos, o que somos e o que pensamos: antes e acima de qualquer coisa Um grupo de Vascaínos que se uniu para amar o clube, sem nenhum interesse financeiro ou político-partidário!” Antes identificados com o  modelo das torcidas argentinas, eles ampliam o discurso para os ultras italianos e garantem que ter uma identidade nacional: “buscamos inspiração no apoio incondicional das Barras Sul-Americanas, na consciência política dos ULTRAS da Europa, estilos diferentes de torcer das nossas tradicionais Torcidas Organizadas (T.Os), onde é obrigatório cantar durante todo o jogo, não importando o placar da partida e onde buscamos levar o torcedor a se associar à sua paixão, com o objetivo de participar mais ativamente dos destinos do seu Clube. Mas não somos uma ‘cópia pura e simples’ de nada estrangeiro: nos consideramos um passo além! Juntamos o apoio ‘enlouquecido’ latino, a atividade política, sem ser partidária, dos europeus, com a ginga e o bom humor típico dos cariocas. Isto sintetiza o Movimento Guerreiros do Almirante!”.
            Também em agosto contra o Ipatinga no Maracanã, a FJV estreia seu novo bandeirão depois de 10 anos que havia sido feito a última grande bandeira. Acusados pela oposição de usarem a torcida para se beneficiar, a FJV escreve em seu site oficial: “que esse bandeirão sirva de “cala boca” para todos que erguiam os dedos para apontar e dizer que nós só queríamos dinheiro. É verdade, que nossa torcida teve algumas Diretorias assim, interessadas apenas em ganhar dinheiro, mas nós somos diferentes, queremos dinheiro para investir na Torcida e levá-la de volta ao seu merecido lugar como grandiosa. A nossa obrigação é com a Força Jovem do Vasco e nós vamos fazer de tudo para devolvê-la ao status de maior, melhor e mais unida”. 
            Neste momento de recuperação do clube e da FJV muitas acusações são feitas sobre as diretorias passadas. O que revela a necessidade deste grupo querer romper totalmente com as práticas anteriores e recriar uma identidade positiva da torcida junto aos antigos membros e a massa vascaína. São feitas várias campanhas sociais como o sopão e a campanha do agasalho, além da criação da TV Força no final do ano, sendo a primeira torcida a ter TV própria acessada através do seu site. Era uma resposta direta contra quem queria acabar com as torcidas organizadas mas  utilizando suas imagens para promover os seus produtos: “quando a televisão mostra e faz as chamadas pros jogos, mostram e vendem nosso espetáculo, em torcidas organizadas há muita gente de bem, que é sadia, que tem instrução, respeito e caráter, não podemos deixar essa mídia fajuta, a mesma mídia que lucra com a nossa festa, que vende nossa imagem, nos sufocar, pressionando o nosso fim, dizendo que somos marginais, violentos e tudo mais que ouvimos”, defende André Sagat.
            Durante todo o ano são feitas grandes entrevistas com os membros da nova diretoria da FJV divulgadas pelo site. Em muitas delas não faltam acusações sobre as antigas diretorias: “a torcida vem de guerra em cima de guerra, briga em cima de briga chegou uma hora que ninguém estava agüentando mais (...) uma dívida no qual chegava a quase de 50 mil reais deixada por outras diretorias e que prejudicava a torcida de diversas maneiras” (...) “quando assumimos a torcida, não havia um bambu sequer, tínhamos dois bandeirões, várias bandeiras lindas, bateria maravilhosa, tudo isso foi roubado pela antiga diretoria vendida ao Eurico, será que esses caras são Força Jovem?”.
            Nas entrevistas todas são unânimes em lembrar o passado glorioso da torcida na década de 1990 quando a facção alcançou o seu maior sucesso sendo temida e invejada por todo o país: “a Força trilhou sua grande trajetória na pista, chegando a ser eleita a Melhor Torcida do Brasil, ficamos conhecidos nacionalmente, somos a Torcida com mais vitórias na pista, envolvida nos maiores combates, conquista de territórios, de matérias (faixas, bandeiras, bandeirão, bateria), grandes vitórias em outros estados (...), quem não se lembra da campanha “EI, EURICO, 171”, mas de 2000 até 2007, perdemos espaço, credibilidade, diretores da torcida a venderam literalmente, lucraram muito através dela, abandonaram nossos associados, isso gerou muita briga, desunião, muitos se afastaram, a mística de ser força jovem foi manchada, surgiram dissidências, uma situação lamentável. Agora que estamos voltando, a torcida recuperou a identidade, depois de tantas brigas internas, retornamos aos trilhos” afirmou André Sagat (Paquito), Vice Presidente da Força Jovem do Vasco. Ele também faz um apanhado geral sobre as alianças mantidas pela FJV neste período: Mancha Verde, Galoucura, Cearamor, Mancha Azul, todas do Bahia, Inferno Coral, Fanáutico, Força Jovem do Goiás, as do Paysandu, do Grêmio, Torcida Jovem do Botafogo”.
            O jogo mais marcante da campanha de retorno a série A foi contra o Juventude, no Maracanã, quando milhares de vascaínos tomaram o estádio desde cedo fazendo uma festa inesquecível para os presentes e todo o Brasil, já que a partida foi transmitida ao vivo para todo o país. A FJV realizou um gigantesco Mosaico que cobriu todo o setor verde do Maracanã. Nele estava escrito o nome da Força Jovem. No segundo tempo do jogo, onde o cruzmaltino pode garantir a volta à primeira divisão do futebol brasileiro, torcedores vascaíno recolheram a principal faixa da organizada e abriram uma com os dizeres: "Eurico - 2ª divisão. A história não perdoará. Obrigado Dinamite". Em todo o estádio começaram os gritos de “Ei, Eurico, vai tomar no cu”.
            Apesar de o time ser limitado, a campanha de 2009 entra para a história da torcida como um momento de reerguimento de todos: clube e torcida. A esperança de dias melhores foi o que ficou nos jogos memoráveis deste ano. Em cada vascaíno era possível perceber o orgulho da torcida que passou a usar a camisa do time durante todo o ano e mostrar o seu sentimento de fidelidade. A mensagem no site da FJV antes do campeonato brasileiro parecia ser profética: “Cada capítulo do futuro se escreve no presente. Este é o nosso tempo e a torcida sabe do seu papel e vai fazer a festa, A nossa missão é estar junto ao Vasco da Gama em mais uma histórica virada. Nosso amor não tem divisão”
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

 
Vasco Maracanã 2009

Vasco Maracanã 2009

domingo, 25 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2008 MUDANÇAS DE PRESIDENTES

                                                          "Nada mais Brasileiro que ser Vascaíno
                                                  e nada mais Vascaíno, que ser FORÇA JOVEM”.
                                                                    Slogan da torcida

2008                  Mudanças de Presidentes
        O ano começa com a homenagem da torcida Mancha Verde em sua festa de 25 anos com um troféu para a Força Jovem como prova da amizade entre as duas agremiações. No campeonato carioca a estreia desastrosa contra o Madureira mostrou o que seria aquele ano para a torcida vascaína que sofreria até o fim do ano com a queda para a segunda divisão pela primeira vez.
            Quem não poderia imaginar a tristeza que seria aquele ano era a GDA e o cantor do grupo Los Hermanos, Marcelo Camelo. A torcida fez uma adaptação de uma famosa canção do grupo e tem uma resposta emocionada: "Aos amigos da Guerreiros do Almirante. Vocês não imaginam a alegria que tive ao saber da versão de Anna Julia que vocês fizeram pra cantar nos jogos do nosso Vascão. Esse é o tipo de acontecimento que não se compra com dinheiro nenhum do mundo. É de um valor emocional pra mim e pra minha família que vocês só fariam idéia se estivessem no coração de umas quatro gerações de vascaíno daqui de casa, a começar pelo meu Bisavô Ernesto que tinha um bandeira cruzmaltina em cima da mesa de jantar. Por vários motivos este é e sempre será um dos pontos mais emocionantes de minha trajetória como músico. Pra vocês, por usarem de ponte para essa linda homenagem uma música de minha autoria, o meu mais caloroso agradecimento e os votos de um 2008 de muitas conquistas pra todos nós torcedores do Vasco da Gama. Marcelo Camelo"[1].
            A relação entre a FJV e o presidente do clube é rompida novamente pois este proíbe a torcida de entrar com seu material nos jogos seguintes do Vasco em São Januário. Em nota à imprensa a FJV passa a chamar Eurico de presidente interino e se defende: “O G.R.T.O FORÇA JOVEM VASCO É A MAIOR TORCIDA ORGANIZADA INDEPENDENTE DO BRASIL, E NÃO DEPENDE DO SR. EURICO MIRANDA PARA NADA (...) NUNCA CONCORDARÁ COM AS COISAS ERRADAS QUE VEM ACONTECENDO COM A ATUAL ADMINISTRAÇÃO DO VASCO, QUE ESTA SUJANDO, LITERALMENTE, UMA BELA HISTÓRIA CRIADA COM MUITO SUOR, LÁGRIMAS E PRINCIPALMENTE TRABALHO DE SEUS TORCEDORES AO LONGO DE SUA TRAJETÓRIA VITORIOSA”. 
            Tanto a FJV quanto a presidência do Vasco mudariam os seus representantes em meados de 2008. Roberto Dinamite assume a presidência do clube depois de várias vitórias jurídicas com a anulação da disputa de 2006 e a remarcação de novas eleições: “em 21 de junho de 2008, a chapa pró-Dinamite venceu as eleições para formação do Conselho Deliberativo do Vasco. Eurico Miranda decidiu não participar do novo pleito. Na madrugada de 28 de junho de 2008, com participação de vascaínos ilustres antes afastados do clube e apoio maciço da torcida, o conselho deliberativo elegeu Roberto o novo presidente do clube. Em 8 de agosto de 2011, foi reeleito presidente do clube com 149 votos dos 154 possíveis no Conselho Deliberativo”[2].     
            A nova diretoria da FJV assume com o presidente interino Claudinho que emite uma nota oficial: “Reconhecendo a legitimidade da atual direção da Força Jovem, representantes do Grupo Especial de Policiamento de Estádios (GEPE) e da administração do Clube de Regatas Vasco da Gama reuniram-se no dia 21 de Julho. O Objetivo do encontro, realizado no Maracanã, era a liberação dos materiais da Torcida. A solicitação foi atendida e, nos próximos jogos, as faixas e bandeiras da Força Jovem voltaram a empurrar as vitórias Vascaínas. Durante a reunião, o GEPE e o Vasco reivindicaram o estabelecimento da Paz na Torcida para que confusões não ocorram dentro e fora de São Januário”.    
            A promessa do novo grupo que assume a torcida é marcar eleições no final do ano para regularizar a situação da torcida perante o clube e as autoridades constituídas. Mesmo atravessando todas as crises a FJV ainda era a maior torcida do Vasco e contava com um patrimônio material, humano e mercadológico invejável:  “5 bandeirões sendo 2 da FJV do Rio, 1 de Manaus, 1 de Espírito Santo e 1 de São Paulo. Mais de 100 instrumentos musicais, 75 bandeiras oficiais mais de 100 páginas dedicadas a Torcida e as Famílias na Internet. A Força Jovem possui mais de 70 mil componentes espalhados pelo rj, Brasil e pelo mundo divididos em 57 famílias” afirma Eddie, assessor de imprensa da torcida.
            Depois de ficar com a Polícia Militar (GEPE) por quase um ano, reaparece o Bandeirão da Força Jovem e várias bandeiras da torcida. Em seguida é inaugurada a nova sede na Avenida Rio Branco, 185 Sala 1706 no Centro. Na semifinal da Copa do Brasil a torcida do Vasco faz uma festa inesquecível em São Januário com muitos fogos e sinalizadores e escrevendo a palavra VASCO DA GAMA. Na FJV teve uma linda cascata.
            Em uma grande entrevista para o site SempreVasco Claudinho revela seus projetos e afirma com clareza suas opiniões sobre diversos pontos. Em resumo podemos destacar: “Quando assumi a Presidência, tive uma desagradável surpresa. Todas as bandeiras, as maiores bandeiras da Torcida, haviam desaparecido de nossa sala (...) “Muita coisa foi dita a respeito da saída do Morais, e posso falar com propriedade: houve muita mentira! A torcida não invadiu a concentração. Esperamos os jogadores saírem do vestiário para uma conversa civilizada (...) Uma das nossas metas foi reaproximar e apaziguar a Força Jovem com a Ira, que era uma torcida formada a partir de uma dissidência da Força (...). Chegou uma época em que a torcida recebia até cinco mil ingressos para jogos no Maracanã. A realidade é que esses ingressos muitas vezes são vendidos por quem os recebe, sem serem distribuídos de fato (...), não cabem saudosismos e divisões internas. Chegou o tempo de união”.
            Neste ano duas pesquisas acadêmicas são concluídas e tinham como objeto de estudo central as torcidas organizadas cariocas. Em abril, Bernardo Hollanda, defende o doutorado em História (PUC-RJ) com uma tese que investiga a formação das torcidas jovens cariocas no final dos anos 1960 até os anos 1980, época de formação da FJV. Em dezembro, eu defendia o mestrado com a pesquisa sobre a origem das torcidas organizadas no Rio de Janeiro nos anos de 1940, época em que a TOV surgiu.
            Outra novidade que surgiria em 2008, ainda contando com a capacidade de aglutinação de pessoas feitas pelo site de relacionamento Orkut, era o grupo Dinossauros da Força Jovem, reunindo pessoas com mais de 20 anos de torcida, insatisfeitos com as constantes brigas e desavenças na organização. O objetivo maior do coletivo era manter a unidade e amizade dos integrantes através de festas e reuniões sociais. Chegou a levantar a hipótese de lançar uma chapa para concorrer mas logo a ideia foi descartada.
            Em setembro entra um novo site da torcida: www.forcajovem.com.br. No mesmo mês Daniele Sperle é a nova Rainha da Força Jovem. Ela foi apresentada e coroada na festa que a FJV promoveu, quando aproximadamente duas mil pessoas lotaram a Universidade Beer Show, em São Cristóvão.    
            Roberto Monteiro era eleito vereador (14.000 votos) e Eduardo Paes prefeito da cidade. A partir de 2009, tanto o prefeito, como o governador do RJ (Sérgio Cabral) e o presidente da República (Lula), eram torcedores declarados do Vasco. 
           No dia de 15 de Dezembro foi realizada a eleição na FJV na sala da torcida em São Januário e foi eleito para o biênio 2009/2010 Luís Cláudio (Claudinho), como Presidente pela chapa “Unida e Forte”, derrotando o candidato Marcos Paulo da Costa da chapa “O Ideal Continua”.
A festa de confraternização e posse do Presidente Claudinho foi no Vasco Barra, num animado churrasco, com a presença da antiga e da nova geração e de representantes de diversas Famílias. Cerca de quase 200 torcedores da Força Jovem se reuniram para se confraternizar nesse novo momento que passa a torcida. A Diretoria do Vasco se fez presente na figura de Agostinho Taveira Filho.
   Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: GloboEsporte.com 18/01/2008
[2] Fonte: www,wikipedia.com.br – Roberto Dinamite

Vasco São Januário 2008

Vasco Jornal dos Sports 2008

quarta-feira, 21 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2007 SÃO JANUÁRIO, MEU CALDEIRÃO

                                                                                “Cabeça feita pelo Vasco”     
                                                                                    Lema da torcida Rasta

2007                 São Januário, meu caldeirão

No início deste ano Roberto Monteiro, ex-presidente da FJV, se tornava o primeiro vereador no Rio de Janeiro com origem em torcida organizada. Roberto conquista a vaga na Câmara Municipal pois era suplente de Fernando Gusmão, que se elege deputado estadual em 2006 e abre a vaga para o vascaíno.
Neste ano o jornalista Hilton Mattos lança o livro “Heróis do Cimento – o torcedor e suas emoções”, coletando depoimentos de vários torcedores cariocas que narravam suas aventuras pelos estádios, suas alegrias e tristezas com seus clubes. Do Vasco foram escolhidos Tia Aida e César da TOV, Zeca da Pequenos Vascaínos, Sandra da Vasguaçu, Penha da Tulipas Vascaínas e Mister M. Cada torcedor escolhia um jogo marcante e contava a sua participação no dia, além de descrever sua trajetória familiar  e profissional conciliando com a vida de torcedor que acompanha o clube por todo o país.
No mesmo período uma equipe inglesa coletava imagens das torcidas brasileiras para uma série de documentários sobre torcidas violentas em todo o mundo. Viajando por Turquia, Argentina, Rússia, Sérvia e Brasil os repórteres da "THE REAL FOOTBALL FACTORIES" entrevistam membros da Força Jovem que concentram seus relatos na rivalidade com os flamenguistas.
Romário voltava ao Vasco em 2007 disposto a encerrar sua carreira e alcançar a meta histórica dos 1000 gols. De janeiro a maio a imprensa carioca não falou de outra coisa. Para muitos torcedores do Vasco, os dirigentes cruzmaltinos tinham esquecido o time e só pensavam em ajudar o atacante a atingir sua façanha pessoal.
Começava a contagem regressiva para o gol 1000. Faltando dois gols Romário enfrenta o Flamengo e tem grande atuação, fazendo um gol e quase marcando o milésimo no fim da partida. A partir daí vieram os jogos com o Botafogo e Romário passa em branco. Vem o jogo com o Gama pela Copa do Brasil que é transferido para o Maracanã. Nova decepção, além de não marcar o clube é eliminado. Finalmente contra o Sport, em São Januário, pelo campeonato brasileiro, Romário marca de pênalti  o gol 1000.
Enquanto o atacante atingia sua marca histórica a torcida vascaína acompanhava o crescimento da GDA, agora com 50 bandeiras, novas músicas e coreografias, contando com um maior número de integrantes nos estádios e no site de relacionamento Orkut. Também surgia a Rasta, uma nova torcida formada por jovens admiradores do reggae e de seu maior ídolo Bob Marley. Pregando a não violência nos estádios e utilizando as cores características do movimento político musical, os integrantes defendiam a união do futebol com a música temperada com a luta contra ao racismo e a afirmação dos valores democráticos e igualitários. É a 1ª e única Torcida Rasta do Brasil.
No início do mês de maio é realizada uma grande manifestação da torcida na Cinelândia até o Palácio da Justiça. Centenas de torcedores percorreram as ruas do Centro com cartazes contra o presidente interino Eurico Miranda. Tudo começou com uma mobilização pela internet numa página do ORKUT intitulada “Vascaíno de verdade protesta”. Com apoio de um carro de som os manifestantes cantaram o hino do clube e o samba da Unidos da Tijuca, além de gritarem palavras de ordem contra Eurico. Entre as paródias cantadas a que chamou mais atenção era a de Raul Seixas Al Capone, dizendo “Hei Eurico Miranda vê se te orienta mais três anos de roubalheira o Vasco não agüenta”, outros gritavam "Eurico ladrão, Dinamite é a solução".
Para a FJV o ano prometia uma reestruturação que começaria com a criação de um novo site www.fjvasco.com que faz uma retrospectiva com 238 fotos contando um pouco da história da maior organizada do clube e a preocupação em recuperar a imagem de uma grande torcida. Uma propaganda no jornal O Dia anuncia o 37° aniversario da torcida, que promove em agosto a seleção de sua nova rainha. A escolha de Alessandra Mattos, rainha de bateria da Estácio de Sá, permite a torcida uma série de reportagens positivas. Talvez uma explicação para isso fosse a contratação de uma assessoria de imprensa neste ano. Um jornalista profissional (Eddie) tinha a função de entrar em contato com os principais veículos de comunicação do Brasil e agilizar as informações no site. Contudo a tarefa não seria fácil. A relação entre as T.O.s e a imprensa passava por um difícil arranjo e em agosto a Força Jovem leva uma faixa diferente com os dizeres "NÃO LEIAM - GLOBO + LANCE + EXTRA". A torcida pregou um boicote a este grupo jornalístico empresarial que adota, segundo a organizada, uma linha editorial de perseguição política ao Clube de Regatas Vasco da Gama.
Não era somente com a imprensa que os conflitos continuavam. No mês de julho, durante o jogo entre Vasco e Goiás, explode uma briga entre a FJV e a IRA. O resultado é a apreensão pela PM de materiais (faixa, bandeira e bateria).
Enquanto isso a GDA consagrava uma música criada neste ano que se tornaria marca registrada de toda a torcida vascaína. A letra foi feita em cima da música “Bebendo Vinho”, composta pelo gaúcho Wander em 1993, e regravada pelo grupo de Rock Ira, anos depois:
Vou torcer pro Vasco ser Campeão
São Januário, meu Caldeirão
Vasco, tua glória é sua história
É relembrar o Expresso da Vitória
Contra o River Plate, sensacional
Gol do Juninho Monumental
Vou torcer pro Vasco.....

A torcida estava entusiasmada com a boa campanha do time no campeonato brasileiro no primeiro turno (3° lugar), com os bons resultados em São Januário (que passa a ser chamado de caldeirão) e com a promoção da empresa Nestlé (torcer faz bem). Nestes meses foram batidos vários recordes de público em São Januário (que tinha sua capacidade limitada de acordo com os novos padrões dos estádios). A GDA prometia um mosaico com mais de 1000 peças para comemorar os 109 anos do clube.
A imprensa começa a fazer grandes reportagens com a GDA para traçar o seu perfil dos seus integrantes. A “torcida” ou movimento assiste aos jogos na arquibancada do lado esquerdo das cadeiras sociais do Estádio Vasco. Nas entrevistas seus líderes reafirmam o que diziam no ano anterior: a neutralidade na política do clube, o pacifismo e um novo modo de torcer que não quer ser confundido com as organizadas. “A Guerreiros, vive de doações, rejeita ajuda financeira do Clube, praxe entre as Organizadas e presta conta no Site  www.guerreirosdoalmirante.com.br. Pagamos os ingressos para ajudar o clube a crescer, como na Europa. O grupo mantém a neutralidade na disputa pela Presidência do Clube entre o Presidente interino Eurico Miranda e a chapa de oposição liderada por Roberto Dinamite. É um dos nossos fundamentos, não existe ligação com grupo político do Clube ou fora, seja oposição ou situação” afirmou Ferreira, que salienta “a Guerreiros não é violenta, mas rejeita o título de Torcida da Paz. “Não surgimos para fazer campanha nem pregar nada, mas para incentivar o Time. É chato esse negócio de as outras Torcidas dizerem estes caras são bonzinhos, porém nunca brigamos, não é nosso objetivo”, afirma Ferreira”. A torcida começa a crescer no momento em que o Vasco mais precisa. “A torcida é composta por Médicos, Advogados, Universitários e etc. Há 400 pessoas que já conhecemos. Mas esse número chega a dobrar em jogos de maior apelo”.
No Brasil o movimento maior dos vascaínos é em torna da Força Jovem e das atividades de suas famílias que organizam festas, criam sedes e mantêm um intenso contato com os torcedores de sua região acompanhando pela televisão aos jogos do clube. Para citar alguns exemplos: “Convidamos todos os Vascaínos de Santa Catarina a participarem do primeiro churrasco de confraternização da 28ª Família-SC, com objetivo de reunir todos os Vascaínos no Estado e o fortalecimento da Força Jovem”. No dia 16 de dezembro, a Força Jovem do Vasco nos EUA reuniu os aliados Palmeiras, Atlético Mineiro e Grêmio para uma grande festa de final de ano. O evento foi realizado na Sede da Força Jovem, em Pompano Beach. Em Brasília a 22ª Família da Força Jovem mandou confeccionar uma faixa em homenagem aos portadores de Síndrome de Down. No próximo dia 03 de Junho, à partir das 12:00 estaremos realizando a IV Feijoada da FJV 26ª Família. No Maranhão, em São Luis, no dia 06 de outubro de 2007 vamos comemorar nossa 1°Sede, buscando sempre o Resgate da Historia de anos na luta por um Vasco vencedor e por uma Força Jovem imbatível em nossa cidade e em todo Brasil.
Enquanto por todo o Brasil as “famílias” da FJV faziam as suas festas de confraternização, no Rio de Janeiro, as relações da torcida com o dirigente principal foram abaladas com o péssimo segundo turno no campeonato brasileiro. Aliado a isso as eleições no clube de 2006 (estavam na Justiça) esquentavam o clima com a disputa acirrada entre a situação e a oposição capitaneada por Roberto Dinamite. “O Presidente interino do Vasco ficou bastante irritado com as vaias e xingamentos que recebeu durante a partida Vasco 1 x 2 Internacional, em São Januário, realizada em 04 de novembro. Após o segundo gol do Internacional, muitos torcedores, inclusive vários da Força Jovem, passaram a hostilizar o dirigente e gritaram o nome de Roberto Dinamite”[1].
Pouco meses depois da FIFA ter escolhido o Brasil para sediar a Copa do Mundo em 2014, a preocupação dos dirigentes era com a estrutura “ultrapassada” dos estádios e o comportamento violento das torcidas organizadas. Um confronto que juntou as torcidas de Vasco e Botafogo contra a torcida do Flamengo na Praça XV, foi o grande destaque da imprensa no final de ano que acompanhou a operação policial desencadeada após o episódio, que terminou com a morte de um torcedor-símbolo da Torcida Jovem do Flamengo, Germano Soares, de 44 anos.
As imagens do confronto foram divulgadas pela imprensa através das câmeras de inúmeros prédios da região:mostram a truculência dos grupos, que transformaram as ruas do Centro em praça de guerra naquele dia. Torcedores do Vasco e do Botafogo aparecem armados com paus, barras de ferro, morteiros, pedras e faca. Até uma cadeira foi usada como arma. O confronto, que saiu da Praça 15 para as principais ruas do Centro, parou o trânsito por 10 minutos”[2].
Ao todo foram 28 torcedores presos e outros considerados foragidos da Justiça. Entre os acusados estavam: o segundo sargento fuzileiro naval Aleksander dos Santos Barbosa, o Chernobil; Guilherme Guimarães de Andrade; Jonathan Fernandes dos Santos;Mauro Ribeiro de Paiva; Robson Moreira da Cruz; e Rafael da Silva Rodrigues, que está foragido, além de um menor. Apontados como líderes da torcida vascaína, Robson aparece nas imagens jogando pedras no grupo rival, e Rafael, segurando blusa que testemunhas dizem ser de Germano, tirada dele depois de espancado”.
O inquérito de 520 páginas acusa as torcidas Força Jovem do Vasco e Fúria Jovem do Botafogo de promoverem atos de violência, corrupção de menores e consumo de drogas. Dos 28 capturados, metade tem menos de 18 anos, entre os foragidos estava “um dos principais alvos da DPCA é o lutador  de Muay Tai Leonardo Scorza, o Russo. Ele aparece nas imagens do confronto segurando uma cadeira e uma faca. O lutador também foi flagrado no lugar onde Germano foi agredido”.
A vítima do Flamengo era uma figura conhecida entre os torcedores e era constantemente identificada como uma das lideranças nos confrontos comandados pelos rubro-negros, inclusive na morte de um torcedor do Botafogo dois anos antes: “ele tinha passagens pela polícia: três vezes por agressão, uma por ameaça e outra por tentativa de homicídio. Numa das brigas em que se envolveu, levou facada na cabeça. Germano ficou preso por um mês após briga, em 2005, em que botafoguense foi morto, em Barra do Piraí”.
O clima entre as torcidas rivais promete ser mais tenso no ano que vem. No clube, a disputa jurídica entre o grupo de Eurico (presidente) e a oposição, liderada por Roberto Dinamite, prosseguia intensa e continuará sendo alvo de constantes polêmicas entre os partidários da cada lado.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: www.supervasco.com
[2] Fonte: O Dia Online

Vasco Maracanã 2007

Vasco Jornal Extra 2007

domingo, 18 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2006 O SENTIMENTO NÃO PODE PARAR

                                                 “E a mulambada toda chora, não tem estádio pra jogar”.
                                                                            Canção criada pela GDA

2006              O Sentimento não pode parar

            Em pleno Natal de 2005 a FJV comemorava, no Vasco Barra, o fim de ano com churrasco, piscina e as promessas de que no ano seguinte a paz iria reinar. O que ocorre é o contrário: mal começa o ano e explode a bomba com o surgimento de mais uma torcida organizada do Vasco. Desta vez era uma grande dissidência da FJV que daria origem a Ira Jovem, fundada em 7 de janeiro. De acordo com um antigo membro da FJV, Francisco Português, “perdemos gente boa, como Antônio Mula Manca, um guerreiro, amigo e sincero, mais que resolveu fundar outra torcida, a Ira Jovem, por discordar de tudo que estava acontecendo”.
            Com apoio da diretoria do clube a FJV promove uma grande festa em São Januário para comemorar os 36 anos da torcida. A promessa é de um evento em grande estilo com um avião percorrendo a cidade fazendo a propaganda: “quem for a praia pra olhar a partir de 14:00 o Avião com a nossa faixa vai passar em toda orla e terminara em São Januário as 17:00 horas. Também terá um Helicóptero com uma bandeira da Torcida, e nós conseguimos inaugurar a sede a tempo, mais a partir de quinta-feira, depois do carnaval, será a inauguração da mesma, com um coquetel para os nossos associados (...) já esta comprado 15.000 bolas brancas, vermelhas e pretas, 40 caixas de fita preta e branca e 5.000 apitos”.
            A partir de meados de 2000 a internet se torna cada vez mais popular com a ampliação da banda larga e criação de sites de relacionamento. Esta nova forma fé comunicação teve no ORKUT o principal canal de divulgação de idéias e formação de amizades virtuais. Muitas torcidas aderem ao fenômeno e outras serão criadas nesta nova forma de interação social. Surge a torcida Vascorkut, que depois passaria se chamar Gigantes da Colina. Uma torcida pacífica com o intuito de apoiar o clube e fazer festa nas arquibancadas, sendo distante das disputas políticas no clube.
Outro fenômeno das arquibancadas que contaria com a tecnologia virtual é o surgimento da torcida Guerreiros do Almirante[1] (GDA). Depois da Copa do Mundo na Alemanha, em julho o Vasco disputa a final da Copa do Brasil com o Flamengo e é derrotado nas duas partidas. O site SempreVasco narra como alguns jovens começam a articular uma nova forma de torcer que recusa, inclusive, o nome de torcida organizada, preferindo se auto-intitular movimento: “um grupo de amigos, através de conversas via Internet, resolveu dar um basta nisso. Usando do site de relacionamentos Orkut, como ferramenta para divulgar e alavancar o número de interessados, criaram um novo Movimento. Um Movimento totalmente diferente das tradicionais torcidas organizadas. Seria uma Torcida nos moldes das demais sul-americanas, ou seja, das famosas Barras Bravas. Yuri Kebian e Bernardo Reis foram os idealizadores desse Movimento, que nem nome tinha (afinal o nome não importava). Discutiram sobre a possibilidade de criar a Torcida com amigos, recebendo apoio de alguns, como Rodrigo Melo. A partir daí, escolheram um nome no “improviso”, criaram a comunidade no orkut e convocaram os Vascaínos a entrarem nesta barca. Marcaram a primeira reunião para o dia 04 de agosto e apenas 9 Guerreiros compareceram (Yuri, Bernardo, Juca, Diego, Leonardo Luz, Dudu Luz, Renata Neris, Mondragon e Renan)”. O grupo fez sua estreia em 16 de agosto e a partir da terceira partida no estádio eles começam a levar as faixas verticais e instrumentos. Era o começo de um movimento diferente nas arquibancadas que também podia ser verificado nos outros times cariocas que logo apresentam suas torcidas com esta “nova forma de torcer”.
            A adaptação das torcidas organizadas tradicionais com a internet também foi se consolidando, a Força Jovem adere ao ORKUT mas o controle na rede virtual sobre a marca não é fácil de se fazer. Em entrevista o ex-presidente Marcello Granzotto explica a situação: “no nosso site (www.grtofjv.com.br) temos uma média de 1.000 visitas dia, em época de final isso pode chegar até 3.000 visitas dia (...) As três primeiras Comunidades da FJV foram apagadas se ainda estivessem no Orkut estariam com 70/80 mil membros, a nossa Comunidade no Orkut é uma das mais novas do eixo Rio de São Paulo, a nossa é do dia 26 de Outubro de 2005, no momento temos 33 mil membros”.
            Antes da Copa do Mundo é lançado o livro Memória Social dos Esportes, coordenado pelo professor de História da UFRJ, Francisco Carlos. Na obra estão vários artigos em que o Vasco e sua história são destacados. No último capítulo há uma série de entrevistas com ilustres vascaínos, fruto do trabalho de História Oral em que são coletados vários depoimentos. Intitulada “Vidas Vascaínas – Memórias de Torcedores, Jogadores, Peladeiros e Amigos do Vasco da Gama”, registram-se as experiências de personagens que tiveram suas vidas marcadas pela paixão pelo futebol e pelo Vasco. As entrevistas foram realizadas em 2002 e deram os testemunhos: Sérgio Cabral, jornalista, Mário Lamosa, Grande Benemérito, Guinga, músico, Alberto Moutinho, médico do Vasco, Carlos Alberto Cavalheiro, ex-goleiro e Peron, ex-atleta do atletismo.
            De agosto a dezembro a FJV passaria por novas disputas que geravam um ambiente de muita tensão nos estádios, naus ruas e nas conversas entre os vascaínos que não entendiam o que estava acontecendo com a torcida. O melhor exemplo acontece no segundo jogo da final da Copa Brasil, quando ocorre uma grande briga no meio da FJV, a partir dos 20 minutos do 2º Tempo na arquibancada do Maracanã. A torcida se racha de vez para as próximas partidas. Na ocasião, a Polícia Militar apreende todo o material, bateria, bandeiras, faixa e o bandeirão. 
             O site SuperVasco tenta explicar o que estava acontecendo. Nos jogos do Vasco surgem duas Forças Jovens situadas em locais próximos mas em cadeiras de cores diferentes: “de um lado adeptos da Diretoria (Gustavinho) e do outro adeptos da Oposição (Resgate da História), com a Polícia dividindo os dois grupos”. Com as sucessivas derrotas do time, a liderança do grupo de Gustavinho é enfraquecida e a oposição cresce: “Quem comparece aos jogos do Vasco tem percebido que o apoio incondicional da maior torcida do clube ao dirigente limita-se apenas a alguns membros da antiga direção da torcida. Separados por cordões de policiais os dois grupos seguem por caminhos totalmente opostos e, muitas vezes, se estranham durante os jogos. A minoria apóia Eurico e pouco canta durante os jogos, guardando forças para vaiar qualquer manifestação contrária ao dirigente que parta da maioria. O maior grupo, entoa diversos cantos contra Eurico e, por vezes, ainda grita o nome de Roberto Dinamite”.
            Em um novo clássico no Maracanã a divisão persiste de forma visível e a confusão só aumenta com os gritos diferentes de cada lado: “Quem esteve no Maracanã, no jogo de ontem à noite 25 de Setembro, entre Vasco 0x0 Botafogo, mais uma vez evidenciou alguns fatos. Haviam dois "blocos" de Força Jovem na arquibancada. Um ficava na parte amarela (Resgate da História) e o outro na parte verde (Diretoria) e muito raramente cantavam a mesma música ou juntos”.
A situação incomum persiste até outubro quando o grupo Resgate da História assume o comando da torcida. No jogo com o Palmeiras em São Januário os novos diretores comemoram: “a FJV mostrou que não esta morta e nunca vai morrer, tivemos uma noite digna de um resgate da história, resgatamos o orgulho do associado e de vascaínos entrar na Sala da Torcida em São Januário, admirando e tirando fotos da sala, tendo vida social outra vez, concentração bem antes do jogo, bateria toda concertada, Sala quase toda reformada. Este, com certeza, foi um dia digno de G.R.T.O. Força Jovem Vasco, a maior e mais sinistra torcida do Mundo!!!”
A crise na FJV refletia o ambiente conturbado no clube que continuava fortemente dividido desde as eleições de 2003. A atmosfera pesada continuava neste ano em que ocorreria a mesma disputa envolvendo as tradicionais chapas de Eurico (situação) e de Roberto (oposição). A querela era tão intensa a ponto de ter dois programas de rádio defendendo as posições opostas. Os adeptos de Eurico ouviam “Casaca”, as segundas-feiras. Já os partidários de Dinamite, sintonizavam na mesma emissora as terças para escutar o programa “Só Dá Vasco”. O resultado final consagra novamente Eurico para o 3° mandato (vitória de 1.848 votos contra 1.409), mas a oposição recorre a Justiça pedindo o cancelamento do resultado. O imbróglio só seria resolvido em 2008, com novas eleições.
Na coluna do jornalista Renildo de Almeida para o site SuperVasco há uma bela descrição da novidade nas arquibancadas naquele ano, situando os problemas e possíveis saídas para a crise na torcida vascaína: “Hoje a Torcida Força Jovem está dividida em mais dois grupos que se juntaram e/ou criaram a IRA JOVEM e a SUPER JOVEM. Porém, com todo o respeito que merecem a Força Jovem e suas dissidentes, o movimento que mais tem chamado a atenção pelos lados da Colina com certeza é o surgimento de um grupo, que faz questão de deixar claro que não se transformarão numa Torcida Organizada, denominado, GUERREIROS DO ALMIRANTE. Estes torcedores passam o jogo todo cantando hinos de incentivo ao Clube e aos atletas. Declamam seu amor ao Vasco, suas tradições e vitórias. Encantam. Domingo no péssimo clássico disputado no Maracanã contra o Fluminense, estes GUERREIROS conseguiram até sobressair quando do espalhar dos membros da FJV que saíram das arquibancadas verdes, tradicional ponto de encontro deles, para as arquibancadas amarelas. Foi bonito vê-los entre suas bandeiras estilo "barra-brava", com certeza sem a lendária violência, muito pelo contrário, pois foram ótimos anfitriões para aqueles que perto deles se aconchegavam. Mais anda, quando nesta quarta-feira debaixo de muita chuva e um frio atípico na Cidade Maravilhosa, com uma temperatura média de 14ºC, os rapazes lá estavam ecoando seus cânticos (que já se espalham pelo orkut), sacudindo suas camisas e pulando freneticamente, tentando empurrar o time para frente”.
Aos poucos a curiosidade sobre como pensavam aqueles jovens e para que lado político eles tenderiam, vem na resposta no site ORKUT, com a opção pela neutralidade: “Afinal como eles se auto-definem em sua página no Orkut: "O Movimento GUERREIROS DO ALMIRANTE surgiu do anseio de resgatar aquela torcida vibrante que o Vasco sempre teve. Nosso Movimento não é, nem pretende ser, uma nova torcida organizada. Somos apenas um grupo de VASCAÍNOS que têm como objetivo único apoiar o VASCO o jogo TODO. Não pretendemos utilizar camisas ou faixas com o nome do Movimento GUERREIROS DO ALMIRANTE. Não temos ligação alguma, nem somos contrários a nenhuma torcida organizada, assim como NÃO TEMOS QUALQUER LIGAÇÃO COM GRUPOS POLÍTICOS DO CLUBE. Nossa atuação se restringe apenas à arquibancada dos Estádios. Nosso intuito é apoiar com músicas e gritos de incentivo ao nosso Vascão. Quem quiser se juntar ao movimento, basta ser um fanático torcedor do Vasco e ter gogó para cantar o jogo todo. Qualquer vascaíno que aderir a esse Movimento estará ciente de que será cobrado pelos outros membros se não cantar o jogo todo."
Entre as canções que se popularizaram na massa vascaína estão:
“O Sentimento Não Pode Parar: Ole ole ole ole ole ole ola... Ole ole olé, a cada dia, te quero mais… Sooooou Vascainoo… e o sentimento… Não pode paraaaaaar!!
EU Sou Boêmio Sim Senhor: Eu sou boêmio sim senhor! E bebo todas que vier! O meu único amor! E dá-lhe, dáááááá-lhe meu Vasco! E dá-lhe, dáááááá-lhe meu Vasco! E dá-lhe, dá-lhe meu Vasco!!!
A Mulambada Toda Chora: Ôôôôô, Vascão olê olê olê x3, Ôôô, E no Maraca vou curtir, Em São Janú vou me acabar, E a mulambada toda chora, Não tem Estádio pra jogar.
SEMPRE AO SEU LADO: Sempre ao teu lado até o fim, Minha vida é você, E a torcida do vascão, Sempre tão linda, Nós viemos para te apoiar, Juntos vamos cantar, Na alegria e na dor, O sentimento não para, Pois todo vascaíno, Tem amor infinito, Cantarei de coração, Vasco da gama, Vasco da Gama”.
Em pouco tempo os meios de comunicação começam a dar um tratamento especial para este fenômeno que, passam a ser encarados pelas organizadas, como “os queridinhos da mídia”, com reportagens e matérias especiais que destacam “os torcedores que não cantam palavrões”, que não brigam. Enfim, passam a ser a nova referência para  as arquibancadas que se modernizavam. Em artigo sobre estas novas torcidas, Bernardo Hollanda (2014) salienta que os princípios de conduta destes movimentos são compatíveis com os discursos apregoados pela mídia: “tais princípios são também esperados pelos novos gestores do futebol, que entendem os esportes como fronteira ilimitada para o business, dentro de uma cadeia de consumo inaugurada nas arenas remodeladas para os megaeventos esportivos”. Um perfeito casamento entre os novos torcedores e uma mídia querendo transformar os torcedores em consumidores. O tempo de criminalizar as torcidas organizadas estava chegando ao fim. Agora, a moda era apoiar “as novas torcidas” que na sociedade do espetáculo transformavam o futebol em uma mercadoria mais confiável. Pelo menos é o que muitos que controlavam a  mídia acreditavam ...
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Os primeiros grupos deste tipo no Rio de Janeiro foram fundados em 2006: Loucos pelo Botafogo, Legião Tricolor e Urubuzada.


Vasco São Januário 2006

Vasco São Januário 2006

quarta-feira, 14 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2005 DIVISÕES NA FORÇA JOVEM

                                                                  “Maior expressão de amor ao Vasco”
                                                                                Faixa da TOV

2005               Divisões na Força Jovem

            A história das torcidas organizadas demonstra que há períodos de união e crescimento numérico e outros de conflitos e divisões, provocando dissidências e afastamentos. Como em qualquer organização social e popular é preciso entender que a dinâmica destes movimentos envolve manifestações de solidariedade, altruísmo, abnegação e também de oportunismo, vaidade, desafetos, enfim, trata-se de um fenômeno complexo pois envolvem as paixões humanas em ebulição.
            O contexto geral destes anos foi de intensas disputas no interior da maior torcida organizada do Vasco. A Força Jovem (FJV) viveu uma crise que outras torcidas no Brasil também enfrentavam ou que enfrentariam nos próximos anos. O gigantismo da agremiação, os interesses pessoais, as manifestações político-partidárias, as interferências dos dirigentes do clube e a má fase dos times nestes anos, interferiram de sobremaneira no percurso da organização torcedora. Não foram poucos os momentos em que muitos adeptos da torcida entraram em confronto seja por meio de palavras mais ríspidas e xingamentos ou até mesmo partindo para a agressão física.
            Em janeiro de 2005 eram realizadas as eleições anuais da FJV, com a disputa entre as chapas “Retorno das Famílias”, liderada por Marcondes e “Unidos Por Um Só Ideal”, encabeçada por Léo do Méier, tendo como vitoriosa a chapa “Retorno das Famílias” de Marcondes, com 662 votos contra 192 votos da chapa derrotada.
Em seguida é feita uma reunião com o presidente do clube, Eurico Miranda e os representantes da chapa recém-eleita. Indagados sobre sua posição diante da diretoria do clube, eles responderam que seria de total independência. Daí em diante começa uma fase de perseguição do dirigente contra a organizada. Estas informações contam na nota oficial da torcida em fevereiro. A nota ainda revela as ameaças do dirigente de distribuir 2.000 ingressos aos membros do grupo derrotado em janeiro.
A seqüência dos fatos demonstra que o resultado da eleição não garantiria tranqüilidade para a nova direção administrar a torcida. O presidente Marcondes acena para uma união, mas acusa: “infelizmente, grupos inconformados com a nova orientação e contando com poderosos padrinhos não aceitam o resultado e tentam dividir a torcida, atacando a nossa unidade. O Vasco e a FJV são maiores do que todos nós. Todos os bons Vascaínos, quer gostem ou não do Eurico, e todos os membros da Força, quer gostem ou não de mim, devem se unir em torno do Vasco e da Força Jovem”.
Pela oposição Gustavinho responde ao NetVasco fazendo várias acusações sobre as irregularidades no pleito. Entre elas acusa a confecção de mais de 500 carteiras de sócios no final de 2004 e a interferência de um partido político que ajudaria na chapa de Marcondes.
O próximo capítulo é registrado numa reportagem do Lancenet com a interferência da polícia no caso: “a nova Diretoria da Torcida Organizada Força Jovem do Presidente eleito Marcondes registrou, nesta segunda, queixa na 17ª delegacia do Rio, alegando que o Presidente do Vasco, Eurico Miranda, impediu que a Torcida retirasse seus pertences, que ficam guardados em uma sala localizada no Estádio de São Januário. Porém, a assessoria de imprensa do clube informou que o Presidente já havia autorizado a retirada do material, com prazo até o meio-dia do último sábado, mas a torcida não compareceu”.
Outro pepino para a torcida descascar era a situação de Romário. Muitos torcedores da FJV apoiavam o craque se ele se retratasse com a torcida. Este acordo foi costurado com a mediação de uma nova musa da torcida, Luciana Picorelli, também musa da Portela em 2005. Romário seria o padrinho dela ao fazer a sua coroação. O atacante sinaliza para a paz com a torcida: “Romário evita declarações públicas, mas, a amigos, tem dito estar feliz por ter resolvido o impasse com a facção que o perseguia em campo. A reaproximação foi sacramentada na comemoração do primeiro gol dele na goleada sobre o Friburguense por 4 a 1. O Baixinho apanhou um boné da facção com um amigo atrás do gol, pôs na cabeça e correu para comemorar em direção à Torcida Organizada, tirando-o em sinal de respeito”.[1]
Após o jogo entre Vasco 6 x 0 Moto Clube, pela Copa do Brasil, o que muitos temiam aconteceu: uma briga generalizada entre as duas correntes da FJV: “a torcida esta rachada, no dia 16 de março aconteceu o confronto. Quem pensou que a tranqüilidade reinaria em São Januário num jogo com pouco mais de 1.500 pagantes que o Vasco venceu por goleada, se enganou. No segundo tempo, torcedores de alas rivais dentro da Força Jovem se enfrentaram nas arquibancadas e a Polícia teve que fazer um cordão de isolamento entre os grupos. Na saída do Estádio, mais confusão. O clima na FJV anda tenso desde as eleições de Janeiro, vencidas por uma das chapas de Oposição (O Retorno das Famílias)[2]
Para se legitimar no universo das torcidas aliadas, o grupo de Marcondes tenta marcar uma reunião de apoio com dirigentes da torcida Mancha Verde (Palmeiras) em São Paulo, celebrando os 20 anos de união entre as duas torcidas. Nas palavras do novo presidente da FJV: “a oportunidade de estreitamento dos laços entre as duas instituições, que possuem uma história de grandes jornadas, pelos 4 cantos do país. Para Marcondes, que viu a aliança nascer, em 1985. “ A Força e a Mancha juntas é bom para todos e mantém fortes os ideais e objetivos dessa histórica união. Nossa aliança foi tão positiva, que fez aumentar a própria identificação entre torcedores de Vasco e Palmeiras. Hoje, geralmente, quem torce pelo Vasco, tem simpatia pelo Palmeiras em SP e vice e versa”[3]. Contudo, o encontro proposto pelo grupo da FJV acabou não ocorrendo
Em julho a crise entre o dirigente Eurico Miranda e a direção da FJV chega ao clímax com a derrota humilhante no Paraná para o Atlético por 7 a 2. Protestos da torcida em São Januário, pelos sites e por todos os canais da imprensa ecoaram a insatisfação dos vascaínos com o time e seus dirigentes. Acuado o dirigente partiu para o ataque em agosto e a resposta da torcia veio em nota oficial: “A verdadeira Força Jovem está nessa luta. Estamos tentando varrer de nossa instituição os traidores que envergonham a história da FJV e teimam em bajular o Eurico Miranda. Nessa luta, a participação da torcida vascaína é fundamental. Quanto ao nosso material (bandeiras, faixas, instrumentos etc.), que foi roubado pelos traidores em conluio com Eurico, informamos que, em breve teremos uma solução eficiente e irremediável para esse problema. Mais uma vez, reiteramos nosso apelo: identifique os traidores liderados por ele e repudie a atitude deles. Os verdadeiros guerreiros da FJV e o povão vascaíno vão varrer a banda podre da FJV”.
Entretanto, na “queda de braço” entre os dois lados, o grupo de Eurico retoma a torcida e Gustavinho assume o comando da organização. Entre as suas primeiras atitudes estão o fechamento da sede na Rua Bela e a volta da sede em São Januário. Em entrevista a um site vascaíno, Gustavinho acusa a antiga diretoria: “ a eleição foi fraudada, este site não é da FJV, ele é do Partido PCdoB, como a antiga sede, tudo pertence ao Partido”. Defende uma aliança com Eurico: “Uma relação de paz, ele é um grande aliado da FJV”. E promete: “Uma grande sala no Centro da Cidade do Rio, voltando aos bons tempos da Força, com caravanas aonde o Vasco estiver, uma nova faixa, 10 bandeiras e recadastramento da Torcida”.
Nesse ínterim houve o jogo entre Vasco e Palmeiras em São Januário com a visita da Mancha Verde pela primeira vez desde que a nova diretoria havia assumido. Em nota oficial a torcida paulista faz uma avaliação dos problemas no jogo em São Paulo e uma possível quebra da amizade e do respeito entre as duas facções: “No primeiro turno houve uma confusão na saída do jogo, devido a problemas internos da Força que estava divida em dois grupos e que resolveram se estranhar em frente a Turiassu e deu no que deu. No jogo de ontem "alguns" integrantes da Força ainda aborrecidos com o fato do primeiro turno tentaram criar problema. Que foi logo resolvido pela diretoria da Força. Porém o combustível de uma união é o respeito. Não podemos deixar que 30 ou 50 pessoas acabem com a amizade de 20 anos. E pensando dessa forma o Jânio (Presidente da Mancha) e o Gustavo (Presidente da Força), conversaram e acertaram todos os problemas. A Mancha Verde não enxerga a Força Jovem como inimigo, porém sabemos que devido a esses problemas o respeito foi abalado. Agora cabe o tempo e a atitude das pessoas de fortalecer a amizade que sempre existiu”.
A maior tristeza entre os vascaínos não estava apenas na briga entre os membros da Força Jovem, em junho de 2005 morria um dos maiores torcedores-símbolos de nossa torcida: Ramalho, aos 74 anos. Ele já estava doente havia vários meses e o Vasco vinha custeando suas despesas hospitalares. De profissão simples (estivador), era conhecido pelos vascaínos nos primeiros anos do Maracanã e, em toda a década de 1960, pelo seu instrumento de sopro. Seu amor pelo Vasco também lhe levou a dar à sua filha o nome de Teresa Herrera, nome da Taça conquistada pelo clube em 1957. Ramalho residia numa casa próxima a São Januário que acabou comprada pelo Vasco e incorporada ao patrimônio do clube no fim da década de 90. Tempos depois, os vascaínos nostálgicos, vendo e ouvindo os torcedores da África do Sul com as vuvuzelas se lembrarem dele: "O som da mamona do 'Seu' Ramalho era tão marcante que outro dia, assistindo  a um jogo da África do Sul com o povo tocando aquelas cometas, eu me lembrei dele", diz o vascaíno Martinho da Vila. Ainda sem a presença marcante dos instrumentos de percussão, seu instrumento no estádio: "provocava euforia na torcida e puxava mais forte no Maracanã o 'Casaca/Casaca'." 
A morte de Ramalho acontece na mesma época em que a Geral do Maracanã era fechada. Embora o torcedor vascaíno fosse um assíduo freqüentador das arquibancadas nos anos 1950, sua figura representava bem o espírito do torcedor popular que ocupava com muita alegria a Geral. Era o fim de uma época em que personagens marcantes de uma cultura popular se faziam presentes nos espaços de lazer da cidade. Nos projetos modernizantes de construção das “Arenas” esportivas, estes torcedores não terão vez nos novos estádios, sendo afastados pelos preços exorbitantes.
Enquanto na Força Jovem o clima era pesado, em outras torcidas menores, prevalecia um espírito mais tranqüilo, conciliador e agregador. Àra os membros destas associações, reunir os vascaínos em dias dos jogos não era suficiente para unir o grupo, era preciso encontrar os amigos em atividades recreativas para estreitar os laços de amizade entre os componentes.  Em 2005, a torcida Pequenos Vascaínos, terceira mais antiga do clube, comemorava o seu 30° aniversário, com a realização da III Copa Casaca de Futebol de Botão.
Em todo o Brasil despontam pesquisas sobre o fenômeno das torcidas organizadas, geralmente com enfoque na violência dos tempos atuais. Ao realizar sua pesquisa para o doutorado em História pela PUC-RJ sobre a fundação das Torcidas Jovens no final dos anos 1960, o historiador Bernardo Hollanda, procurou realizar uma análise histórica mais abrangente tentando recuperar o passado mais remoto de organização dos torcedores cariocas, entrevistando diversos torcedores que participaram daquele período. No entanto, ele no ficou preso aos anos 1960, pesquisando sobre a Charanga nos anos 1940, ele quis também ouvir uma antiga liderança da torcida do Vasco no início dos anos 1940. Daí foi conhecer Aida de Almeida, uma das figuras marcantes na história da Torcida Organizada do Vasco (TOV). Em parte do seu depoimento realizado em junho de 2005, ela aborda a sua visão comparando a sua torcida nos anos 1940 e 50 e a Força Jovem: “não há mais educação. Fico horrorizada com os palavrões que até as crianças gritam. A Força Jovem do Vasco, bem como as outras, entoa músicas com dizeres horrorosos. Naquele tempo, não tinha cabimento uma coisa dessas, pois famílias inteiras iam ao estádio e existia respeito. Os rapazes que nos acompanhavam, por exemplo, ficavam atrás de nós para nos proteger. Atualmente, eu entro no ônibus e é uma pouca vergonha. Não têm mais aquela calma, as brincadeiras sadias... Antes, todo mundo entrava nos restaurantes, comia e pagava sua conta. Se as torcidas forem agora, acontece uma roubalheira... Deus me livre! Inclusive, quando posso, me afasto da Força Jovem”. Tia Aida reserva os maiores elogios para a o presidente Eurico Miranda: “o Euriquinho é muito bom. Que coração aquele homem tem! Sempre que vou ao clube sou recebida por ele com um carinho enorme. Ele me cumprimenta: - “Oi, Aida! Tudo bem? Cadê meu beijo?”. Eu lhe digo que é o filho que não tive e ele fica todo prosa”.
O tempo das torcidas pacíficas ficava no passado. As lembranças e memórias do futebol de “outrora” sempre foram permeadas por um forte saudosismo. Uma pesquisa sobre o futebol “de antigamente” certamente ajuda a entender cada época e compreender o complexo universo que envolve o futebol. Uma atividade que não está imune as influências da sociedade e do tempo.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal Extra de  24 de Fevereiro de 2005.
[2] Fonte: NetVasco
[3] Fonte: site oficial da FJV.

Vasco Maracanã 2005

Vasco São Januário 2005