domingo, 26 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1976 VIVA SANTO ANTÔNIO !!!

                                                             “Entusiasmo, Disciplina e Respeito”
                                                                       Lema da Torcida

1976                     Viva Santo Antônio!!!
Uma das afirmações do cronista Nelson Rodrigues sobre o comportamento do torcedor se encaixa perfeitamente com os acontecimentos  da torcida vascaína nos anos de 1976 e 1977. Diz ele: “o que nós procuramos no futebol é o sofrimento. As partidas que ficam, que se tornam históricas, são as que mais doem na carne, na alma”.  Nesta época foram duas decisões concluídas somente na disputa por pênaltis, ambas vencidas pelo Vasco e são eternamente lembradas pelos vascaínos que puderam tripudiar o adversário e sobre seus ídolos.
Na final da Taça Guanabara de 1976, Zico perde o pênalti defendido por Mazaropi. O rubro-negro era considerado pela imprensa carioca o sucessor de Pelé na seleção e era exímio cobrador de pênaltis. No ano seguinte, Tita era a mais jovem promessa do clube da Gávea e sucessor de Zico. Ambos foram derrotados pelo mesmo jogador e no mesmo local: no gol ao lado direito, atrás da torcida do Vasco que consagrava um novo herói, o jovem Mazaropi, que substituía outro grande ídolo, o argentino Andrada.
Disputada em dia de Santo Antônio, a partida entrou para o folclore vascaíno como o resultado do apoio sobrenatural. De um lado, Dulce Rosalina atribuiu a vitória ao santo católico, de outro, o massagista Santana, também conhecido como Pai Santana, considerou que o resultado veio através de seus “trabalhos espirituais”. Em entrevista a Revista Placar, Dulce relembrava: “como no dia 13 de Junho,  é dia de Santo Antônio. Sabia que naquele dia o Vasco seria Campeão da Taça Guanabara. Não tinha dúvida alguma. Afinal, Santo Antônio é português, nasceu em Lisboa. Então, o Zico tinha de perder aquele pênalti. Não deu outra coisa”.
Tanto Roberto (que marcou na cobrança de penaltis) quanto Zico já eram apresentados pela imprensa carioca como os grandes craques da nova geração do futebol brasileiro. Este reconhecimento será ampliado com a vitória da Seleção Nacional no Torneio do Bicentenário da Independência dos EUA. Os dois jogadores foram destaques na conquista do primeiro título da seleção com os jogadores atuando como titulares.
Iniciado o campeonato brasileiro de 1976, prosseguiam as caravanas dos clubes pelos estados, sendo a mais famosa a chamada “Invasão Corintiana” nas semifinais, quando milhares de torcedores de São Paulo vieram ao Rio de Janeiro acompanhar o seu clube que disputava uma partida decisiva contra o Fluminense no Maracanã.
Se nesta partida nenhum grande incidente envolvendo as torcidas foi registrado, o mesmo não podemos dizer do jogo entre Vasco e Atlético, em Minas Gerais. Na coluna do jornalista João Saldanha ele alerta para um problema que vinha se tornando corriqueiro nos jogos entre os dois clubes mas que se estendia para outros jogos. Era uma revanche da torcida mineira que já tinha sofrido quando jogou no Rio de Janeiro quando teve vários feridos e ônibus destruídos.
Saldanha faz questão de isentar as torcidas organizadas nos atos de agressão partindo da lógica de que são os torcedores que não viajam que cometem tais delitos. Os que viajam, na sua opinião, sabem que isso é uma covardia, um desestímulo para as novas viagens e uma agressão gratuita. “As Torcidas Organizadas, são torcidas que estão sempre no campo e que em parte acompanham o time, jamais tomam atitudes agressivas. Já contei o fato, quando Dulce Rosalina foi com seu grupo confraternizar com um pequeno número de torcedores do Internacional, para salvá-los de outros torcedores Vascaínos que já estavam começando a incendiar. Os que tascam ou agridem torcedores de outros Estados são exatamente elementos que não fazem parte de caravanas ou das Torcidas renitentes ou Organizadas”, conclui o cronista isentando categoricamente qualquer envolvimento das associações. Uma conclusão que poderia ser estendido por toda a imprensa que até aquele momento dá total apoio as organizadas.
Também em junho de 1976, o Jornal do Brasil faz uma grande reportagem com o presidente da Força Jovem, Ely Mendes, com o título: “TORCIDA ORGANIZADA O VERDADEIRO ESPETÁCULO É O DAS ARQUIBANCADAS”, a matéria traça um simpático perfil do líder e explica como funciona a arrecadação de dinheiro, a relação com o clube e os jogadores, o sistema de representação, enfim, considera a presença das torcidas como algo necessário para incrementar a beleza de uma partida. “Só de carteirinhas temos 300 sócios. É uma Torcida grande e a primeira a organizar uma ala em Escola de Samba: Vasco da Vila, na unidos de Vila Isabel. A maior caravana a acompanhar um Clube para fora do Rio foi organizada por nós. Eram 88 ôninus, lotando a Avenida Rio Branco, do Edificio Cineac a Praça Mauá. E já apresentamos a maior bandeira feita no Brasil: 1 mil 250 metros de pano. Os integrantes da Força Jovem pagam Cr$ 10.00 de mensalidades e tem uma Diretoria reeleita de oito e oito meses. Quem não trabalha não tem regalias. Tudo como incentivo do Presidente do Clube”, afirma Ely Mendes.
Ao contrário dos anos 1980 em diante quando os líderes serão denunciados constantemente pela imprensa como favorecidos pelo clubes,  de responsáveis por tudo de errado no futebol, a matéria isenta quando o assunto é violência, considerando um ato irracional, próprio do comportamento das massas: ““Depois que estoura a boiada, não há jeito. Em Belo Horizonte num jogo do Vasco com o Cruzeiro, voltamos com o ônibus todo quebrado. Mas as rivalidades entre os Clubes já foram maiores. De qualquer maneira, sem elas, não existiria o Maracanã”.
Em agosto o jornal O Globo, faz uma manchete destacando a participação da torcida do Vasco, especialmente enfatizando as duas principais organizadas: “FORÇA JOVEM E TOV: TORCIDA DO VASCO, COM GRITOS E MUITA FÉ, LEVOU TIME Á REAÇÃO”. Tratava-se do jogo entre Vasco e Fluminense, quando o Almirante depois de estar perdendo por 2 a 0, consegue reagir e empatar em 2 a 2: “a participação ativa da Torcida do Vasco se tornou decisiva ao empate de ontem contra o Fluminense. Foi ela, após o gol de Roberto, que levou o time a frente com seus gritos e uma vibração fora do comum, intimidando os torcedores adversários e até mesmo os jogadores do Fluminense, que não contavam com aquela reação (...) até Toninho empatar não houve um minuto de descanso, a charanga não parou de tocar. Cada oportunidade perdida era um incentivo para a jogada seguinte. Os gritos de Vasco, Vasco, Vasco em um som uníssono e vibrante, faziam estremecer o estádio. O empate foi comemorado como vitória. Torcedores felizes, descontraídos, alegres com o resultado, num jogo em que tiveram participação ativa e decisiva. Luís Carlos reconheceu isso a saída do Estádio, ao abraçar Dulce Rosalina” .
O ano terminava com eleição para presidente no clube. Duas chapas concorriam: pela situação Agathyrno Gomes lutava pela sua reeleição, enquanto pela oposição disputava Medrado Dias que contava com o apoio da líder da TOV, Dulce Rosalina. As outras principais torcidas organizadas ficaram com o candidato da situação que acabou vencendo. Por causa deste motivo e por outros desentendimentos no seio de sua organização, Dulce sai de seu grupo e resolve fundar a torcida Renovascão, em março de 1977. Depois de 20 anos na liderança da TOV e principal referência na imprensa, a torcedora-símbolo de São Januário aposta suas fichas no crescimento das pequenas torcidas e no enfraquecimento das tradicionais. Justamente no ano da morte da principal liderança da mais tradicional torcida do Flamengo. Em 1976, morria Jaime de Carvalho, da Charanga.
            A multiplicação de torcidas parecia uma tendência irreversível naqueles anos. Um vascaíno escrevia para a coluna do Jornal dos Sports e publicava uma lista das faixas por ele identificadas nos estádios, em um total de 28 Torcidas Organizadas do Vasco: Força Jovem, Adeptos de Petrópolis, Torcida Organizada do Vasco (TOV), Vascante, Vascancela, Olavasco, Vascooper, Pievasco, Vascarepaguá, Vascambi, Vascaxias, Vascachaça, Vasco Real, Vascalhau, Saravasco, Exorci-Vasco, Alfivascos, Vaspenha, Buda-Vasco, Com o Vasco onde o Vasco estiver, Feminina Camisa 12, Elite Vascaína, Presvasco, Vascopo, Vascoelho, Vascanem, Vasquita e Pequenos Vascaínos”. No ano seguinte, o número de Torcidas vascaínas saltava de 28 para 40, na contagem de outro correspondente cruzmaltino.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco O Globo 1976

Vasco O Globo 1976



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1975 NA CADÊNCIA DO SAMBA

                                                                          “Um, dois, três, Botafogo é freguês”.
                                                                                           Coro tradicional
1975                  Na Cadência do Samba

O sonho de toda torcida organizada é crescer e se tornar eterna como é o próprio clube, mas nem sempre isso é possível, pelo contrário, ao longo dos anos, o que mais aconteceu nas arquibancadas do Maracanã e de São Januário nos anos 1970, foi o nascimento e morte de inúmeras torcidas.
A crise na Força Jovem no final de 1974 teve como reflexo imediato a saída de muitos integrantes e várias lideranças. Muitos abandonaram definitivamente as organizadas mas outros fundaram novas torcidas, como a Exorci-Vasco, fundado por Valfrido, um dos principais líderes da Força Jovem, responsável pela bateria. Logo em janeiro de 1975 ele anunciava nos jornais: “você, que gosta de curtir uma boa, tomando sua cerveja nos intervalos de jogos e vibrando sob a bateria incrementada daqueles que sabem das coisas, venha fazer parte da Exorci-Vasco, a nova Torcida, que terá o comando de Valfrido, que vai sacudir o Mário Filho em dias de jogos do Vascão, segurando a ferradura do estádio e levando a alegria a todos”.
Outra torcida que surgiu neste período e que se tornou tradicional foi a Pequenos Vascaínos fundada em 20 de Agosto de 1975. “A Torcida foi criada pelo meu pai, Jorge Macedo, no quintal da minha casa, na Rua Carlina, nº 93 Olaria e um amigo, sr. Cláudio e seus filhos adolescentes, Jorge e Lúcio, disse Valéria Macedo, filha do Fundador Jorge Macedo. Desde esta época, adota como lema: “VAMOS TORCER SEM VIOLÊNCIA”. Em 1979 assumia o comando Zeca, que ficou por muitos anos liderando.
A temática da violência já dominava a preocupação das principais lideranças apesar da imprensa não acompanhar o problema com mais atenção. Em maio uma iniciativa da torcida Flachop promovia um torneio de futebol de salão no clube Milionários em Pilares. Entre os participantes estavam a Força Jovem do Vasco, a Young Flu do Fluminense, a Flachopp do Flamengo e a Torcida Jovem do Botafogo.
Os conflitos maiores entre as torcidas continuavam nos jogos entre os clubes fora do Rio de Janeiro. Na sua estreia na Libertadores, os vascaínos sofrem na partida contra o Cruzeiro no Mineirão. Um torcedor denuncia na coluna  de cartas do Jornal dos Sports a tensão da partida: “depois de ter assistido ao jogo entre Vasco e Cruzeiro, tive o desprazer de ver aquilo que um torcedor brasileiro não deve fazer nunca. No final da partida houve de tudo, meus caros. O comportamento dos torcedores foi lamentável (...) Infelizmente o que se passou foi uma lástima, pois eu mesmo tive que vir de carona, pois meu ônibus foi completamente danificado. Isso para não falar dos torcedores que ficaram em situação pior”. Já pelo campeonato brasileiro em 1975 uma outra carta relatava a forma amistosa com que os vascaínos eram recebidos no Paraná e registrava a paz selada entre vascaínos e cruzeirenses no mesmo ano. O que demonstrava a capacidade das torcidas organizadas ainda negociarem acordos de pacificação e reconhecer que o problema maior da violência em meados doa anos 1970 estava entre os torcedores não-organizados de cada estado que faziam do bairrismo, o seu sentimento principal: “a Torcida Força Jovem do Vasco tem o prazer de agradecer ao simpático povo curitibano e em particular à Torcida do Coritiba MUC (Movimento Unido Coritibano), pela maneira simpática e carinhosa como recebeu os integrantes da caravana da ‘Forja’, uma verdadeira lição de desportividade e hospitalidade. Daqui, só podemos dizer aos colegas de Curitiba que não vamos esquecer o carinho de vocês e apenas aguardaremos a oportunidade para retribuirmos. O mesmo aconteceu em BH, na quarta-feira, quando a Torcida Jovem do Cruzeiro apagou toda aquela mancha deixada por uma minoria irresponsável, na última vez em que estivemos em Belo Horizonte”.
O crescimento e o fortalecimento das Escolas de Samba do Rio de Janeiro nos anos 1970 foi acompanhado do aumento da participação dos torcedores organizados junto as agremiações carnavalescas. A medida que as principais torcidas utilizavam instrumentos de percussão para animar as partidas foi natural que os torcedores se integrassem nas escolas e vice-versa.
Reconhecido como um clube adorado por muitos sambistas, o Vasco da Gama podia se orgulhar de ser o preferido no mundo do samba, de que seus ilustres sambistas faziam questão de manifestar seu amor pelo Almirante. Dentre eles, podemos destacar Jamelão, Aldir Blanc, Guinga, Nelson Sargento, Martinho da Vila e Paulinho da Viola que liderados pelo jornalista Sérgio Cabral, sempre pontuavam a relação entre o seu clube de origem popular e o ritmo musical consagrado pelos cariocas.
Nesta época ocorreu a popularização dos sambas enredos que logo viravam hits nas arquibancadas, o melhor exemplo era a música “Domingo” da União da Ilha do Governador de 1976. Já nos festejos de 1970 a torcida contava com o apoio da bateria da Mangueira, escola que meia  Alcir freqüentava. Foi assim com a Vila Isabel em 1975, com a Portela, o Salgueiro, enfim, foi se consolidando esta aproximação entre torcedores e sambistas.
O próprio clube de São Januário soube explorar este filão com o concorrido Baile do Almirante, sucesso nos  carnavais da década de 1970 e 80. Traçando um paralelo entre o Vasco e o Flamengo, o jornalista Sérgio Cabral compara a diferença entre um carnaval de caráter popular e outro com traços elitistas: “pega o carnaval do Vasco em São Januário, aquele imenso salão com 12,15 mil pessoas gente de Vaz Lobo, Penha, Madureira. O Flamengo era o baile ‘Vermelho e Preto’, era uma coisa assim, chique”.
Na década de 1970 o mercado editorial registra uma ampliação de livros cuja temática eram os relatos das memórias dos protagonistas da História, se tornando o grande filão de venda de livros da época que viveu uma expansão de vendas em função da crescente ampliação da classe média e do aumento do nível de escolaridade da população brasileira.
Em 1975 era lançado o livro de José da Silva Rocha, ex-presidente do clube e uma memória viva dos primeiros anos. Rochinha, como era conhecido foi um ex-atleta de vários esportes do Vasco nos anos 1910 e 1920. Trabalhou muitos anos na imprensa esportiva e resolve fazer esta grande obra de caráter histórico e memorialístico. O livro é o primeiro volume que vai de 1898 até 1923. Porém, os outros volumes não foram escritos.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


Vasco Jornal do Vasco 1975

Vasco 1975

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1974 DINAMITE NELES!

                                          “Presente, Passado, Futuro. Força Jovem é isso”
                                                               Lema da Torcida     

1974                     Dinamite Neles!
Durante o período do “milagre econômico” o Brasil viveu uma febre de grandes construções, especialmente de gigantescos estádios de futebol, mas também foram erguidas pontes, estradas, viadutos, rodovias, enfim, era a crença de que o país cresceria rapidamente rumo ao progresso e ao desenvolvimento urbano. No Rio de Janeiro a principal obra do milagre foi concluída em março de 1974. Justamente no ano do fim do “milagre econômico” era inaugurada com toda a pompa pelos militares a Ponte Rio-Niterói, um monumento a opção do uso do automóvel como meio de transporte de massa.
O novo presidente do Brasil, o general Ernesto Geisel, assume o poder no mesmo mês da inauguração já com os efeitos da crise internacional com a escalada dos preços do petróleo no mercado externo.
Não era só a inflação que o governo queria esconder mas as mazelas sociais que insistiam em permanecer como a grande desigualdade nas grandes cidades. Com elas o aumento da violência começava a  se disseminar como podemos constatar na carta de um torcedor vascaíno alertando para a sequência de conflitos entre as torcidas e o modus operanti dos agressores: “as cenas de vandalismo continuam se repetindo a cada dia em que o Flamengo atua no Mário Filho (...) quando esses covardes que só atacam em bando tentaram arrancar a bandeira das mãos de um torcedor pertencente à Força Jovem do Vasco, além de agredi-lo a socos e pontapés”. A carta termina com uma ameaça de revide. O que provavelmente aconteceu. A escalada de violência se institucionalizava enquanto nenhuma medida de controle por parte de dirigentes e autoridades se efetivada.
Em agosto de 1974 a torcida vascaína foi agraciada com um título marcante. Conquistávamos em pleno Maracanã diante do Cruzeiro nosso primeiro título brasileiro diante de mais de 110 mil pagantes que realizaram uma festa pela cidade por toda a madrugada. A Revista Placar estampa em sua capa uma bela foto da Torcida Força Jovem, que promoveu a comemoração do título em São Januário e na quadra da Unidos de Vila Isabel.
A conquista reforçou a importância  da torcida Força Jovem que teve mais espaço no Maracanã com a cessão de mais uma sala para os vascaínos: “ainda não tínhamos Sala e éramos obrigado a guardar os materiais, as bandeiras e a bateria junto com a Organizada da Dulce (TOV), foram 2 anos assim, até que o Ely perante ao Otavio Pinto Guimarães, que na época era o Presidente da ADEG (Depois mudou o nome pra SUDERJ) e Federação Carioca, o Ely conseguiu a Sala para a Torcida em 1974” relembra Carlinhos Português. Mais que um espaço para guardar materiais. Ali seria o local de construir um projeto coletivo de torcida baseada na organização, no trabalho e na memória da própria torcida: “o pensamento de todos era fazer com que a nossa Sala fosse um exemplo, aonde todos não só nós  componentes, mais todos os vascaínos pudessem entrar e se sentir orgulhoso”, conclui o torcedor.
Enquanto hoje em vivemos numa civilização com excesso de imagens, com a facilidade de tirar fotos, gravar vídeos, de ter tudo ao alcance em segundos, nos anos 1970 conseguir ver a imagem de sua torcida era uma emoção só captada nos estádios a não ser através dos noticiários esportivos e reportagens em jornais e revistas. Mas o que deixava o torcedor em êxtase, além dos estádios, era na exibição dos cinejornais nas salas de cinema.
Junto com o futebol, o cinema era a maior diversão das massas nestes anos e o futebol era presença marcante nos cinejornais que antecediam os filmes, especialmente o Canal 100, ficou guardado na memória dos torcedores entre os anos de 1959 e 1986. Embora a TV em cores já fosse uma realidade, a verdade é que a grande parte da população não tinha acesso as imagens coloridas a não ser no cinema e com a vantagem da tela gigantesca. O gramado verdinho, a festa das bandeiras coloridas e os closes dos torcedores da geral enchiam de emoção acompanhada da música característica do cinejornal.
A equipe do Canal 100, comandada por Carlinhos Niemeyer, produz em 1974 um filme que se tornou sucesso de bilheteria com mais de 1 milhão de espectadores.Trata-se do filme Futebol Total, com imagens da Copa do Mundo na Alemanha e do futebol carioca, demonstrando que quando o futebol é bem filmado ele tem público, ao contrário do que muitos que afirmavam que o futebol não era assunto de cinema.
Ainda em 1974 era lançado o filme de Oswaldo Caldeira, Passe Livre, baseado na vida do jogador Afonsinho (ele jogou no Vasco em 1971), sua luta por liberdade profissional e uma visão menos idílica sobre a profissão de jogador de futebol. No filme há belas imagens das torcidas cariocas no Maracanã, mas o destaque é sobre o autoritarismo dos dirigentes de futebol.
O ano fecha com a decisão do campeonato carioca entre Vasco e Flamengo para mais de 100 mil torcedores. Uma tragédia antes de o jogo começar marcou a torcida vascaína: “a explosão de 1 mil 500 bolas de gás, pouco antes do jogo, provocou queimaduras em 25 torcedores. Sete foram internados em estado grave. O acidente começou quando fogos de artifícios atingiram as bolas, que seriam soltas no momento em que o Vasco entrasse em campo”. O problema aconteceu justamente na parte onde ficava a Força Jovem e vários membros da torcida ficaram feridos “apesar da proibição, a torcida da geral começou a soltar fogos de artifício. Uma faísca caiu sobre as bolas, ocasionando a explosão e o incêndio no placar eletrônico. Todos os que estavam próximos saíram queimados, enquanto outros se feriram durante o tumulto que se seguiu”. Apesar de ninguém ter falecido ocorreu um grande descontentamento entre parte da torcida e vários integrantes se afastavam da mesma naquele momento.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Jornal O Globo 1974

Vasco Revista Placar 1974



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1973 O OVO DA SERPENTE ENTRE A FESTA E A GUERRA

                                             “Difícil é acreditar que tudo não seja Vasco” 
                                                               Rachel de Queiroz

1973   O Ovo da Serpente, entre a Festa e a Guerra
A rivalidade entre os dois clubes das maiores torcidas no Rio de Janeiro ganha mais emoção com a contratação do armador Zanata que troca o Flamengo pelo Vasco. A resposta rubro-negra é a compra do artilheiro do Atlético Mineiro, Dario. Um jogador que foi o alvo da polêmica em 1970 envolvendo a opinião do então técnico da seleção brasileira, João Saldanha e o Presidente da República, o General Médici.
O Chefe da Nação era um dos maiores entusiastas do futebol do atacante e sua contratação era uma forma do Flamengo aproximar o presidente de  seu clube do coração. Por outro lado, era importante para o governante melhorar sua imagem popular comparecendo aos jogos do Flamengo na tribuna de honra junto de seu tradicional radinho de pilha.
Os anos de 1972 e 1973 são decisivos para definir o comportamento das torcidas organizadas cariocas para toda a década seguinte. Vasco e Flamengo fizeram 15 partidas nestes anos. Entre elas estava a decisão da Taça Guanabara de 1973 que teve a maior cobertura da imprensa sobre os preparativos das torcidas para uma decisão.
Foi neste contexto de grande envolvimento emocional que a torcida vascaína esteve organizada e mobilizada para um jogo como nunca antes. Havia a necessidade da torcida provar que ela era superior a rival. Organizar uma festa memorável, fazer um carnaval fora de época no mês de maio, este era o intuito dos vascaínos que levaram para o Maracanã: “três mil toneladas de papel picado, 50 faixas, uma bandeira de 1250 metros quadrados que será levantada com 150 metros de corda, uma bateria com mais de 50 peças e uma banda de música, são as armas da Torcida Força Jovem, para ajudar o Vasco a conquistar a 9ª Taça Guanabara”. Todo este aparato envolveu dias de trabalho e dedicação dos torcedores. Muito além do envolvimento do torcedor  em um dia de jogo. Toda esta entrega, sacrifício e amor ao clube, forjam aos poucos uma nova identidade nos torcedores organizadas que começam a se perceberem como “os verdadeiros torcedores”, os “autênticos”, ao contrário do “torcedor comum” que só chega na hora da decisão. Aos poucos este sentimento foi se consolidando no seio das principais torcidas que começavam a cultivar um amor sem paralelo as próprias torcidas organizadas. Ser da Força Jovem, por exemplo, era mais do que exaltar seu amor pelo clube, mas provar para si mesmo que ele era capaz de realizar um trabalho voluntário, coletivo, de união entre pessoas voltadas para o mesmo ideal.
O trabalho de cortar papel picado por toda a semana, preparar faixas, arrecadar dinheiro com rifas para ter a bateria inteira, confeccionar um bandeirão, enfim um ritual de devotamento que consolida uma nova forma de perceber sua relação com o futebol, com o clube e a própria torcida marcada pela renúncia, pelo desinteresse, pelo altruísmo de construir algo maior que a si próprio.
Todo este sacrifício marcado também pelo signo da festa, da alegria, da comemoração sem limites, da confraternização, do espírito carnavalesco provoca pelas músicas, pelos cantos e por uma zombaria coletiva contra os adversários.
A festa e a guerra caminharam juntas com as torcidas, até que ponto uma leva a outra, ou onde uma começa a outra termina, são discussões permanentes entre todos aqueles que estudam o fenômeno dos torcedores.
Neste mesmo ano aparecem várias denuncias de torcedores organizados ou não nas cartas de leitores alertando para o aumento da incidência de casos de violência nas arquibancadas e fora dos estádios. A crítica do torcedor tem um endereço certo: a ausência do poder público em tomar medidas de revide e fazerem vistas grossas contra atos que se tornavam rotineiros, mas tratados como meras desavenças: “porque está virando rotina ao final de cada jogo em que participe o Flamengo, a agressão física e moral aos torcedores adversários. Gostaria que fossem tomadas providências, pois senão saberemos revidar esse vandalismo. Existe aquele ditado: quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
Uma reclamação típica dos anos 1990 já é dita neste período quando os torcedores percebem que o ambiente tenso e agressivo impede e inibe a presença de crianças e mulheres: “tempo bom aquele amigo, em que podíamos ir ao Maracanã, com a família. Quem sabe um dia nossos filhos ou nossos netos, possam também desfrutar desse espírito de cordialidade que havia entre as torcidas”. A queixa revela que as brigas já vinham aumentando nos anos anteriores e as rixas se acentuavam no decorrer do tempo. E com lucidez, percebe que não será de um dia para o outro que o problema ia ser facilmente resolvido.
Alguns torcedores já antecipavam que os chefes não conseguiam controlar a violência das mesmas e que suas lideranças vinham se enfraquecendo diante de novos lideres com atitudes diametralmente opostas aos guias tradicionais. Eis a declaração do torcedor: “alguns componentes da Força Jovem vão ao estádio apenas para brigar ou fazer confusão... o fato é que o Ely Mendes é boa pessoa mas não tem pulso suficiente para comandar a Força Jovem do Vasco, que no início era uma torcida bacana, mas que agora virou bagunça”.
Os próprios torcedores organizados criaram iniciativas para debelar o comportamento agressivo fazendo encontros antes dos jogos com demonstrações públicas de que as brigas eram fotos isolados e iniciativas que não contavam com o apoio das lideranças. Se realizaram encontros chamados “ Conversação da Paz” entre membros da TOV e da Flamante e a Torcida Jovem do Flamengo.
Neste ano a Revista Placar e o Jornal dos Sports promovem uma campanha para decidir qual é o clube mais querido do Rio: Vasco ou Flamengo. O resultado revela a vitória da torcida vascaína, garantindo um total de 157.157 votos, contra 125.604 do Flamengo, 28.594 do Fluminense e 27.416 do Botafogo, numa prova incontestável do prestígio cruzmaltino. Os números, evidentemente, não expressavam a real divisão da popularidade dos clubes nas cidade. Mas registrava que a forte rivalidade entre os clubes permaneceria nos anos seguintes. As próximas grandes decisões do decênio provariam isso, incrementadas pela rivalidade com a ascensão de duas novas estrelas: Roberto e Zico, assumiriam a condição de eternos ídolos de seus clubes já no ano seguinte.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Canal 100 1973

Vasco Canal 100 1973



domingo, 12 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1972 UM NOVO ÍDOLO

                                                                    “Tua imensa torcida é bem feliz”
                                                                        Hino do clube
1972                          Um Novo Ídolo
A contratação de Tostão (Cruzeiro) foi a maior cartada do Almirante para apagar de vez a desastrosa década de 1960 e retomar a tradição do clube possuir grandes atacantes (Russinho, Leônidas da Silva, Ademir, Vavá, Almir). Era o maior valor já pago por um clube brasileiro por um jogador (cerca de Cr$ 3 milhões), motivando a torcida comparecer em massa no aeroporto para receber o jogador vindo da cidade de Belo Horizonte e levá-lo em carreata do Centro até São Januario.
Tostão estava no auge de sua carreira durante a Copa do Mundo no México em 1970 e, depois da despedida de Pelé da seleção brasileira em 1971, era o herdeiro natural da camisa 10. Uma estrela do futebol mundial e um dos principais protagonistas da seleção nacional naquele período.
Aos 25 anos, o atleta chegou ao Vasco em abril de 1972 para disputar o campeonato carioca daquele ano que prometia grandes emoções ao reunir ídolos do porte de Jairzinho (Botafogo), Gérson (Fluminense), Paulo Cesar Caju (Flamengo) e Edu (América). Sua estreia aconteceu somente em maio quando o clube enfrentou o Flamengo. Pouco depois ele era convocado pelo técnico Zagalo para a seleção brasileira que iria disputar o torneio internacional em comemoração aos 150 anos da independência do Brasil.
Ao comemorar o título no Maracanã vencendo a final diante de Portugal por 1 a 0, a torcida vascaína passava a se orgulhar de ter o novo ídolo participado desta campanha vitoriosa e vislumbrava que aquela seria a primeira de muitas conquistas para os próximos anos.
Não foi o que aconteceu, pelo contrário, em fevereiro de 1973, depois de voltar dos EUA para realizar exames médicos, Tostão anunciava que poderia abandonar o futebol devido a possibilidade de agravar o problema de sua visão no olho esquerdo. Mal começava o ano e a torcida recebia a triste notícia e frustração de não realizar o sonho de um novo ídolo de ataque para os anos vindouros. Ao todo foram 44 partidas e 7 gols, poucas atuações brilhantes, apesar da categoria e do talento reconhecido.
Em seu livro de memórias, o craque não poupa jogadores e dirigentes do Vasco: “fiquei assustado com a péssima qualidade do time e da falta de profissionalismo dos jogadores. Não treinavam, saíam para os pagodes todas as noites, e a maior parte não estava nem aí para a derrota” (Tostão, 1997, p.79). Sobre a nossa torcida, nenhuma linha, apenas o registro de que ele queria vir para o Fluminense, seu clube de infância.
Enquanto o mineiro abandonava o gramado em definitivo, uma jovem promessa vinda das divisões de base ganhava mais espaço: Roberto (ainda sem o Dinamite) já vinha entrando nas partidas desde 1971 e chegou a jogar junto de Tostão algumas vezes em 1972.
Neste ano a imprensa começa a divulgar pequenos atritos nas arquibancadas. Porém, as provocações e as brigas entre as torcidas eram apresentadas pela imprensa em tom jocoso, que faziam parte do folclore do futebol, algo para não ser levado a sério e sem maiores preocupações. No jogo entre Vasco e Fluminense no Maracanã, a reportagem em questão narra a saga da torcida Fúria Vascaína  de Niterói que é ameaçada pela Torcida Young Flu. Liderados por um senhor de nome Ivanildo Santana os cruzmaltinos advertem: “É que nós recebemos um bilhete do chefe da Torcida Jovem Flu do Fluminense. O bilhete dizia que nós íamos começar a apanhar na barca. Engraçado, Né? Eles pensam que nós somos o que? Estamos ai, decididos e dispostos ao que der e vier”. A reportagem não diz se teve ou não o confronto entre os torcedores, prefere continuar acentuando as características do torcedor: “solteiro, sem nenhum compromisso, a não ser com o Vasco, Ivanildo, antes de começar o jogo, pode ser encontrado no Bar 320, das arquibancadas, tomando a sua cervejinha”.
Talvez a ausência de notícias das brigas seja em função da boa relação entre as novas lideranças que procuravam promover eventos conjuntos em que as jovens lideranças se congraçavam. Um bom exemplo foi o torneio de futebol de salão com o nome Paulo Cesar Pedruco em homenagem ao jovem lider tricolor, um dos fundadores da torcida Young Flu, falecido em 1972 por desastre automobilístico[1].
Poucos meses depois, durante uma partida entre o Vasco e o Internacional–RS no Rio de Janeiro, Dulce Rosalina e as lideranças da TOV não deixam que um grupo de torcedores do Vasco invada a área destinada a torcida gaúcha para tomar as bandeiras. Com o título: “TOV: BACANA A ATITUDE DE DULCE ROSALINA”, a matéria exalta o comportamento dos torcedores organizados e atribui a violência a outros torcedores cariocas que não viajam:” a turma das Torcidas Organizadas nunca hostiliza com agressão as torcidas visitantes porque sabe muito bem que não passaria de um ato de covardia”. A conclusão é que as torcidas organizadas cumpriam o papel de receber as torcidas de fora, se confraternizando com as mesmas elevando o espírito esportivo ao mais alto grau.
A popularização do uso das bandeiras pelos torcedores era algo recente no futebol brasileiro. Acompanhando as imagens produzidas pelo Canal 100, é possível constatar que não tínhamos este comportamento tão generalizado até meados dos anos 1960. Foi algo que surgiu e se alastrou rapidamente. Nelson Rodrigues chamava de “tempestade de bandeiras”, acentuando um caráter impactante do novo visual existente nos estádios. Em grandes partidas, praticamente todo o anel superior do Maracanã era tomado pelas bandeiras que não ficavam circunscritas aos torcedores organizados. Eram milhares de bandeiras de tamanho médio (entre um e dois metros de largura e comprimento). Este visual nos estádios será a marca característica de toda a década de 1970.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Jornal O Globo 24 de Agosto de 1972.

Vasco O Globo 1972

Vasco Jornal do Brasil 1972

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1971 ENTRE A TOV E A FORÇA

                                                                                   “Fica, fica, fica”.
                                                           Despedida de Pelé da seleção no Maracanã.


1971                   JOVENS PROMISSORES
A promessa de uma grande temporada começava com o lançamento da Revista Grandes Clubes do Futebol Brasileiro. O número 1 é dedicado ao Vasco. Na capa uma foto principal traz uma panorâmica dos vascaínos empunhando as suas bandeiras na arquibancada do Maracanã lotado. Na revista aparecem inúmeras fotos dos torcedores comemorando o campeonato carioca de futebol e o título do remo no ano anterior. Ainda mereceu destaque uma página inteira de propaganda apresentando Chacrinha como o maior vascaíno da Rede Globo de televisão, além de uma grande foto e entrevista com a torcedora-símbolo Dulce Rosalina. Esta ainda lamenta não poder continuar frequentando os estádios com a assiduidade dos anos 1960 e lamenta: “não dá mais para acompanhar todos os jogos, mas sempre que posso estou lá torcendo pelo meu Vasco” (p.74).
A conquista do bicampeonato carioca era a grande esperança da torcida vascaína para o ano de 1971. No entanto, a péssima campanha do time ao longo de toda a competição, fez com que as atenções fossem voltadas para o time juvenil[1] que conseguia vitórias empolgantes nas preliminares.
Depois de conquistar o campeonato juvenil em 1969, surgia uma outra geração liderada pelo goleador Roberto. Enquanto a equipe principal acumulava derrotas e decepções, as jovens promessas de São Januário conseguiam de maneira brilhante levar mais um título para o salão de troféus.
A situação do time principal era tão preocupante que a Revista Placar     (lançada no ano anterior) faz uma grande reportagem de duas páginas com a manchete: “Rezem pelo Vasco. Promessas mentirosas, campanha, ridícula, beirando a lanterna”. No texto, a explicação de um desempenho sofrível de apenas 8 vitórias em 25 partidas “na sua mais lamentável campanha dos últimos tempos”. O maior alvo da reportagem são as promessas dos dirigentes que ouviam sempre o nome de prováveis reforços para o time: “semana que vem a torcida vai ter uma grande surpresa. Toda sexta-feira a mesma mentira. Natal, Aladim, Afonsinho, o time inteiro do Cruzeiro, o time inteiro do Olaria (...) nada. Tudo mentira”.
Verdade ou mentira, o fato foi que o Vasco conseguiu “metade do time do Olaria” para disputar o primeiro campeonato brasileiro com 28 clubes de diversos estados do país. Foi do clube da Zona da Leopoldina (o Olaria foi a grande surpresa do campeonato carioca ao chegar em 3° lugar) que vieram os maiores reforços para São Januário. Passaram a vestir a camisa vascaína os zagueiros Haroldo, Miguel e Alfinete. E o grande destaque do time o meia Afonsinho, famoso por sua imensa barba e por ter conseguido o passe livre numa luta jurídica com o Botafogo.
Depois do campeonato carioca, em julho de 1971, Pelé se despedia da seleção brasileira em jogo no Maracanã[2]. O apelo em todo estádio de milhares de torcedores ecoa com o grito de “Fica, fica”. Era a última partida do rei no estádio como jogador da seleção. Pelé ainda jogaria mais três anos como jogador do Santos.
No mês de julho uma matéria na imprensa carioca revela o interesse do presidente do Vasco, Agathyrno Gomes, ao sugerir a saída de Dulce Rosalina da chefia da TOV, sendo substituída por Ely Mendes que havia saído da TOV para liderar a Força Jovem. O motivo da desavença era a interferência da torcedora querendo a mudança de treinador.
A entrada de Ely Mendes na Força Jovem deu um outro impulso a torcida que passou a contar com a experiência de Ely e de outros amigos[3] que trocaram a TOV pela Força Jovem. A boa relação do novo líder com os dirigentes vascaínos e sua capacidade de aglutinar pessoas para um trabalho coletivo, foi logo reconhecido. Em pouco tempo a Força Jovem dá um salto qualitativo em sua organização e torna-se a torcida organizada mais importante do clube. Entretanto, a liderança de Dulce Rosalina junto a imprensa ainda era maior, bem como a identificação do grande público.
Empolgada com os reforços do Olaria a torcida cruzmaltina começou a acreditar no título brasileiro quando o Vasco derrotou o campeão carioca de 1971 na terceira rodada. Não era uma vitória qualquer, era também o fim de uma escrita que já durava 3 anos diante do Fluminense[4].
No segundo semestre começaria o primeiro campeonato brasileiro e o fenômeno das caravanas dos torcedores começa a ser acompanhado com mais interesse pela imprensa que registra a movimentação dos torcedores pelos diversos estados, especialmente aquelas realizadas no eixo Rio-São Paulo.
Na medida que o campeonato brasileiro incorporava novos clubes de vários estados do país, chegando até 94 clubes em 1979, diferentes lugares se integravam no horizonte dos torcedores. Com a proliferação das caravanas a partir da criação do campeonato nacional em 1971, as torcidas ganhariam um componente identitário mais aventureiro e juvenil.
As caravanas dos anos 1960 juntavam geralmente dois ônibus para alguns jogos de maior interesse. Agora, as torcidas mais estruturadas passaram a contar com a organização dos clubes para o contato com empresas de transporte, usar a sede para vender as passagens e principalmente financiar as viagens. A título de exemplo, uma viagem para São Paulo em 1971 de ida e volta custava Cr$ 20,00, quando o preço normal custava 25% a mais.
O grande destaque do ano em relação as caravanas[5] aconteceu em setembro quando a torcida do Vasco conseguiu reunir milhares de torcedores que partiram em 83 ônibus rumo a São Paulo para enfrentar o Corinthians, no Parque Antártica. Este jogo ficou marcado pelo confronto dos torcedores dentro e fora do estádio. Para os padrões da época foi uma briga de grandes proporções mas nada comparado com os conflitos depois dos anos 1990. Apesar disso foi a maior briga entre torcidas de diferentes estados já registrada, gerando por definitivo uma rivalidade entre as duas torcidas, antes mesmo da aliança que seriam realizadas entre as torcidas de Vasco e Palmeiras e a de Flamengo e Corinthians.
Em outubro era realizado outro grande clássico: era o primeiro jogo entre Vasco e Flamengo pelo campeonato brasileiro. Os jornais davam destaque ao duelo entre o zagueiro Moisés e a jovem promessa do Flamengo: Zico, com apenas 18 anos. Aquela seria a segunda vez de Zico com o Vasco que fizera sua estréia justamente contra o Vasco, em julho.
            As palmas unânimes dos quase 100 mil torcedores das duas equipes vieram para o goleiro argentino Andrada, grande destaque daquele jogo e de toda a competição. Andrada receberia o Bola de Prata da Revista Placar como o melhor goleiro da competição. Mais do que nunca, os vascaínos tinham certeza de poder confiar no maior ídolo da camisa 1 do Vasco depois de Barbosa.
            Não era apenas Zico que fazia a sua estréia no profissional naquele ano. No final da temporada, a pedido dos torcedores das arquibancadas o técnico do Vasco Admildo Chirol, dava as primeiras chances ao jovem atacante Roberto. E foi no dia 25 de novembro[6], no Maracanã, que veio o primeiro gol no time titular no jogo diante do Internacional, na vitória por 2 a 1. Começava a surgir o “Dinamite”[7]nas páginas do Jornal dos Sports.
            Era o Jornal dos Sports que dava a maior cobertura para os torcedores expressarem suas idéias. Não foram poucas as vezes que os vascaínos escreviam para a seção de carta de leitores. Buscando incentivar esta participação, o  “Cor-de-Rosa”, inovava com uma página voltada para resenhas de jornalistas esportivos apaixonados por seus clubes. Coube a Sérgio Cabral, escrever o que pensavam os vascaínos. Entre as inúmeras crônicas deste fim de ano, intitulada o clube mais popular, Cabral destaca uma pesquisa de 1969[8] em que o Vasco perdia para todos os clubes na preferência na classe A: “ na classe A nós escolhemos os torcedores. Perdemos em quantidade e ganhamos em qualidade. Quem é o melhor poeta brasileiro? Carlos Dummond de Andrade. É vascaíno. O maior comunicador? Chacrinha. É vascaíno. Os maiores nomes da chamada música jovem? Roberto e Erasmo Carlos. São vascaínos. E Paulinho da Viola? E Edu Lobo? E Zé Keti? E Nelson cavaquinho? E Doris Monteiro? E Danusa Leão? E Araci de Almeida. São todos vascaínos. Há muitos outros para citar mas acabou o espaço”.
            Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros

[1] No ano de 1971 foi editado o livro de Levy Magalhães de Melo sobre os 30 anos da História do Departamento de Infanto-Juvenil do Vasco da Gama (1941-1971, Bodas de Pérola).
[2] Na preliminar jogou o time juvenil do Vasco ( campeão em 1971) contra a seleção carioca.
[3] Francisco Carlos Português relembra em 2010: “juntos vieram o Aroldo, a Márcia, Beth, Paulinho, Marcel, Carlinhos Bicudo, Rogério Alves, Fernando Salves, Suely, entre outros”.
[4] Foram 13 jogos. A maior escrita da história desse clássico. De acordo com o livro de Sergio Frias, “Eurico Miranda. Todos contra ele” (2012, p.102).
[5] Outra caravana importante foi para Belo Horizonte quando saíram 25 ônibus. Fonte: Jornal Correio da Manhã, 04 de Setembro de 1971.

[6] Conhecido pelos frequentadores de São Januário, o atacante já tinha virado notícia na semana anterior quando a torcida Força Jovem pediu a sua escalação contra o Bahia, conforme noticiou o Correio da Manhã, no dia 13 de novembro.
[7] Os jornalistas vascaínos do Jornal dos Sports, Sérgio Cabral e Aparício Pires conversavam sobre um apelido para aquele jovem e surgia o “Roberto Dinamite”, criado por Aparício Pires.
[8] No fim de 1971, a Revista Placar publica uma nova pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, revelando o percentual das torcidas: Flamengo 35%, Vasco 18%, Fluminense 16% e Botafogo 14%.


Vasco Jornal Tribuna da Imprensa 1971

Vasco 1971


domingo, 5 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1970 A FORÇA DOS LEÕES

                 “somente um interesse apaixonado pode levar o sujeito a existir plenamente”
                                                                               Kieerkgaard
1970                       A Força dos Leões
A crise política no clube que culminou com a saída do Presidente Reynaldo Reis no fim de 1969, sendo substituído por Agathyrno da Silva Gomes, demonstrava como a ausência de títulos em todos os anos 1960 (o último carioca foi em 1958) afetou por completo o ambiente da agremiação esportiva. Dentro e fora do campo a tensão permanente gerou inúmeras desconfianças em relação ao início de ano de 1970.
A maior novidade do mercado editorial em 1970 era o lançamento da Revista Placar, pela editora Abril. Embora estivéssemos na Época de Ouro do Futebol Brasileiro não havia nenhuma revista especializada em esportes neste ano. A última revista que fez relativo sucesso era Revista do Esporte (1959-1970) que saía pela última vez ainda em 1970, mas já dava sinais de esgotamento desde 1968.
Apesar de adotar uma linha editorial ao privilegiar o futebol paulista, Placar se tornou referência para os torcedores de todo o pais, graças ao talento da equipe de repórteres que a revista reuniu ao longo dos anos. Apesar da ditadura e da censura imperando na imprensa, havia espaço no periódico para a crítica sobre os poderosos no futebol.
Mas o grande sonho dos torcedores a partir de 1970 era se tornar milionário com a criação da loteria esportiva. Semanalmente os apostadores jogavam e acompanhavam os 13 palpites dos jogos dos campeonatos regionais. Em 1971, o campeonato nacional daria novo incentivo para os apostadores conhecerem o futebol nacional com mais interesse.
Enquanto a seleção brasileira treinada por João Saldanha se estruturava para o campeonato mundial no México, o Vasco iniciava os preparativos para a Taça Guanabara e para o campeonato regional com um novo técnico (Tim) ciente do desafio de encontrar um clube em ebulição e uma torcida carente de títulos.
O clube da Colina procurava reforços e um deles poderia vir da Europa. Antes de ser demitido e substituído por Zagalo, o técnico João Saldanha escreve uma coluna no jornal O Globo declarando o seu apoio na tentativa do presidente do Vasco trazer o maior craque da história de Portugal para o seu clube. O passe de Eusébio estava avaliado em 160 milhões. Dinheiro que o clube carioca tentava arrecadar através de uma “vaquinha”. O próprio Saldanha promete ajudar, mas revela, de forma infeliz como ele vê a torcida cruzmaltina: “agora vocês vão dizer; o que é que você tem com isso? Você não é Vasco, não é português (...) O Vasco tem de levar novamente a colônia portuguesa para dentro do Maracanã. Ela já está fora há algum tempo e, para o Vasco da Gama eu creio que isso é perigossíssimo” (Saldanha, 2006, p. 110). O resultado é que nem o atacante veio para o Vasco, nem Saldanha continuou na seleção.
Desde 1923 quando os cruzmaltinos passaram a disputar o campeonato carioca da primeira divisão aquele era o período de maior jejum de conquistas, como revela a manchete da reportagem: “Torcida perde a paciência após 11 anos sem títulos” (23-02-70). A matéria é sobre a recém-criada torcida organizada Força Jovem do Vasco, que através de uma carta pública pede ao novo presidente uma reunião com o técnico e com um jogador. Uma situação no mínimo paradoxal para os padrões daqueles Anos de Chumbo com a pressão de uma torcida para o presidente já que era o auge de repressão do regime militar (1964-1985) onde qualquer manifestação de protesto era terminantemente proibida após a decretação do AI-5, em  dezembro de 1968. No entanto, no futebol este Ato não teve o efeito devastador que atingiu a sociedade pois desde os fins dos anos 1960 (particularmente a partir de 1967) que as torcidas organizadas cariocas resolveram mudar sua atitude de apoio incondicional ao clube e passaram a se comportar de forma mais crítica e incorporando palavras, atitudes e gestos dos movimentos sociais de contestação ao regime militar. Os protestos nas arquibancadas tinham como alvo não somente os dirigentes, como técnicos e jogadores do clube do coração.
Enquanto a Torcida Organizada do Vasco (TOV) chefiada por Ely Mendes na ausência de Dulce Rosalina (torcedora-símbolo e liderança desde 1956), que se recuperava de um acidente no ônibus da torcida durante uma caravana para São Paulo em 1968, outros torcedores se movimentavam para organizar suas própria torcidas e/ou apoiarem atos de protestos contra os fracassos sucessivos nos últimos anos.
As novas torcidas organizadas do Vasco surgiram ainda em 1968. Se em Paris o mês de maio viu as ruas pegarem fogo nos inúmeros protestos dos estudantes contra o governo francês, em São Januário, o rastilho de pólvora chegava em 14 de maio com a criação da Torcida Disssidente, intitulada Leões Vascaínos, criada no embalo das manifestações de rua na cidade do Rio de Janeiro, no período anterior ao AI-5. Para Zuenir Ventura, autor do livro 1968, o ano que não acabou, é difícil encontrar uma explicação para tantas revoltas ao mesmo tempo: “movida por até hoje uma misteriosa sintonia de inquietação e anseios, a juventude de todo o mundo parecia iniciar uma revolução planetária” (2013, p.75).
O português Abílio Machado era o principal líder da torcida Leões Vascaínos que, junto de vários outros torcedores (principalmente da região da Tijuca) e de vários associados do clube, romperam com a ideia de uma torcida por clube. Este movimento já vinha ocorrendo na mesma intensidade nos outros clubes com o surgimento de Torcidas Jovens.
Abílio foi um dos principais articuladores do movimento que provocou a saída do presidente Reynando Reis em 1969. Pouco tempo depois, em fevereiro de 1970, um outro grupo de vascaínos da região do Grande Méier se reúne para fundar sua própria torcida. As primeiras reuniões aconteceram ainda em 1969 e tiveram como base inicial uma casa na rua Cônego Tobias, onde residia um médico conhecido da região e frequentador assíduo do Maracanã.
A Força Jovem e os Leões Vascaínos se colocavam nas arquibancadas atrás do gol, no Maracanã, bem distante da TOV que ficava sempre no início do lado direito das cadeiras especiais e tribuna de honra. Juntas e separadas as duas torcidas tinham momentos em que se uniam e se separavam. Em seção de cartas dos leitores é possível perceber que se travava um duelo amigável de quem teria a hegemonia dos jovens torcedores vascaínos, insatisfeitos com o clube o a torcida oficial.
Seja nas arquibancadas onde o duelo era de quem incentivava ou protestava mais ou nos jornais, ambas se acusavam de não serem totalmente independentes e de ainda viverem de favores dos dirigentes do clube.
Iniciado o campeonato carioca de 1970, o clube tem uma campanha modesta mas depois dá uma arrancada no final e surpreende vencendo seus adversários (mesmo sem ter um time de grandes estrelas, como o goleiro argentino Andrada e o experiente atacante Silva, ambos considerados os craques daquele elenco).
Na semana da conquista, o poeta Carlos Drummond escreve uma carta para seu neto que vivia na Argentina, demonstrando entusiasmo com a campanha do seu time do coração: “este ano estou com uma bruta esperança de ver o meu Vasco campeão carioca. Desde 1958 que nao temos este gostinho” (Drummond, 2002, p.228). O título vem por antecipação, em setembro, após derrotar o Botafogo na penúltima rodada. A festa da torcida vascaína vinha três meses depois da seleção brasileira conquistar de forma brilhante o tricampeonato no México (1958-62-70) com um futebol exuberante que encantou o mundo.
Comemorado intensamente pelo povo brasileiro que saía as ruas a cada vitória, era impossível dos militares não tirarem proveito de tamanha euforia. Foi o que se viu com a chegada dos jogadores ao país e milhares de pessoas acompanhavam os ídolos desfilando em carros abertos.
Transformar 90 milhões de cidadãos em torcedores foi a receita dos propagandistas do governo que souberam tirar proveito do futebol para promoverem suas campanhas como “Ninguém Segura Este País” e “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
E foi nas ruas que a torcida vascaína mais comemorou o título com direito a passeata do Maracanã até São Januário após o jogo e, pelo Centro, da rua do Acre até a Rio Branco durante a semana e, finalizando, com uma carreata da sede na Lagoa até o Maracanã, no domingo seguinte.
Torcida e torcedores ganham as ruas e o destaque nos jornais. No dia seguinte a conquista é apresentada uma grande reportagem com Dulce Rosalina, já quase que inteiramente recuperada do acidente, ela é a figura principal ocupando uma página entre textos e fotos (aparece ainda com o braço engessado). Aos 38 anos, ela está na TOV liderando os torcedores e toda a tensão do jogo com o Botafogo é descrita. A medida que o clube faz 2 a 0 todos começam a ensaiar o grito de “Campeão”, mas ela resiste, pede para não cantar a vitória antes do tempo. Até o apito final o drama persiste. Eis que a partida termina e todos se confraternizam e choram como crianças.
Com o prestigio recuperado a torcida tem as manchetes dos jornais para varias iniciativas. Dirigentes, torcedores e jogadores esquecem as desavenças. Ely Mendes promete dois mil balões de gás vermelho para o jogo das faixas, os dirigentes (Adriano Lamosa) oferecem barris de chope em São Januário, enfim uma festa completa para tornar aquela conquista como inesquecível. Para apagar da memória os tenebrosos anos 1960.
No dia do último jogo (com o Fluminense) que seria a entrega das faixas, uma outra grande reportagem destaca um outro torcedor-simbolo do Vasco, Cartola. Um humilde senhor que se vestia sempre com roupas de gala para os jogos e tinha nos seus dentes símbolos do Vasco. O próprio torcedor já havia sido homenageado no livro de João Antero de Carvalho em 1968.
Terminava o ano e o clube era eliminado da Taça de Prata, mas a união com o clube e jogadores estava refeita. Mesmo com o fim do tradicional (1 clube = 1 torcida), o ambiente entre os torcedores vascaínos era de confraternização. O azar dos anos 1960 tinha ficado para trás, o pessimismo dos anos anteriores tinha passado. O signo do “milagre econômico” tinha entrado em São Januário, os tempos de protesto tinham ficado para trás. Talvez...
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Revista O Cruzeiro 1970

Vasco Jornal O Globo 1970