domingo, 29 de janeiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1968 ACIDENTE NA DUTRA

                                          “Ôlêê, ôláá/ o nosso Vasco/ tá botando pra quebrar!”
                                                                  Canto da torcida

1968                          Acidente na Dutra

Para o time do Vasco que não disputou nada importante no ano anterior restava esperar o ano de 1968 que entrou para a História pela ebulição em todo o mundo com os protestos nas ruas e cidades feitos pelos estudantes. Em fevereiro o clube inicia a temporada com uma excursão para a Bolívia disputando cinco partidas. Coincidentemente a Bolívia era o país em maior evidência naquele período conturbado pois, quatro meses antes, era ali que foi morto o guerrilheiro Che Guevara.
 Em março um estudante era morto no Rio de Janeiro. O jovem Edson Luis foi assassinado por policias num confronto entre estudantes e policiais no restaurante dos secundaristas. Na manhã seguinte a manchete do Jornal dos Sports contrastava entre a alegria da torcida vascaína com a liderança do campeonato carioca e a noticia da morte do estudante. A política invadia outras áreas, o próprio futebol e a imprensa esportiva não ficaria a parte.
Enquanto a ditadura militar aumenta a repressão, o crescimento do movimento estudantil, apontava possíveis novos caminhos para a população oprimida com a ditadura militar e até para os protestos dos torcedores que provocariam, a partir daqueles anos, novas feições as torcidas. Neste período surgem várias dissidências nas torcidas organizadas. Era uma geração de jovens torcedores que questionavam as antigas lideranças. De acordo com o historiador Bernardo Hollanda (2012, p.109), ”os membros mais novatos das torcidas refletiam a seu modo tais questões, de uma maneira, é claro, um tanto diluída, difusa, indireta”.
O novo contexto político-social que sufocava ampliação e o fortalecimento de movimentos reivindicatórios, em função do endurecimento do regime autoritário e do Estado militarizado, criava, ao mesmo tempo, brechas que condensavam os impasses daqueles anos. É o momento onde “o foco da preocupação política foi deslocado da área da Revolução Social para o eixo da rebeldia, da intervenção localizada, da política concebida enquanto problemática cotidiana, ligada a vida, ao corpo, ao desejo, a cultura em sentido amplo”(HOLLANDA e GONÇALVES, 1982, p.66).
            Podemos situar o final dos anos 1960, como um momento importante para redefinir o papel dos torcedores no Rio de Janeiro. O mesmo fenômeno se dava em São Paulo[1] (TOLEDO, 2000) e em diversos outros países (GIULIANNOTI, 2002). Provando que fatores internos e externos ao futebol, traziam novos componentes para as mudanças que configuravam a diversidade de conflitos e contradições das sociedades contemporâneas.
Seguindo a tendência de valorização do povo nas manifestações populares, era lançado, em maio de 1968, uma obra pioneira: o livro “Torcedores de Ontem e de Hoje”, baseada na pesquisa de João Antero de Carvalho retratando em crônicas alguns torcedores cariocas. Entre eles, os tradicionais vascaínos Cartola, Tavares, Ramalho e Dulce Rosalina.
Um marco editorial deste ano foi a publicação de dois livros importantes sobre futebol: Gol de Letra e Olho na Bola. O primeiro era uma antologia deste esporte reunindo os maiores escritores brasileiros. No segundo, 25 famosos cronistas esportivos abordam diversos temas desde o craque até os cartolas suburbanos, tema do cronista Álvaro Nascimento, também conhecido como Zé de São Januário. Álvaro era uma dos mais antigos jornalistas, começando a carreira em 1922. Ele foi o primeiro proprietário do Jornal dos Sports (fundado em 1931). Continuou no jornal depois de vendê-lo para Mario Filho em 1936, escrevendo uma coluna por mais de 40 anos (Uma Pedrinha na Chuteira). Era famoso por sua paixão clubística, sendo Benemérito do Vasco.
Em campo a esperança vascaína de uma conquista veio em junho na decisão do Campeonato Carioca e, mesmo com um time inferior ao Botafogo, a torcida vascaína acreditava na “escrita” e preparava uma grande festa para comemorar o título. A folia começaria no Maracanã e terminaria em São Januário. Os preparativos já haviam sido acertados entre dirigentes e torcedores que levaram muito material de incentivo ao time: “FESTA DO VASCO JÁ ESTÁ PRONTA. O Vasco vai distribuir mil bolas de gás para seus torcedores na entrada do Maracanã. Os balões tem o escudo do Clube e serão soltos pelos torcedores na hora em que o quadro entrar em campo. Além disso, o Vice Presidente Social, Sr Valdemar Diniz, já entregou  cem caixas de serpentinas e outra de confete para Dulce Rosalina, Chefe da Torcida Organizada. Ainda sem saber como entrará com eles no Maracanã, o Vasco pretende distribuir NCr$15 mil de fogos de artifício para seus torcedores e vai dar também 300 faixas para serem colocadas no Estádio e mil bandeiras do Clube no tamanho 1.50 metros por 0.80.FESTA PREPARADA. Para a Festa no Clube, se o quadro for campeão, já foram compradas 500 caixas de cerveja e 200 de refrigerantes. O Ginásio de São Januário foi lavado ontem e já está preparado para um Baile, que contará com a Orquestra Homero e um conjunto de lê-lê-lê[2]”.
O Vasco foi derrotado de forma arrasadora pelo resultado de 4 a 0 e, assim, continuava mais um ano (10 anos) sem o título carioca. A torcida do Botafogo em êxtase comemora provocando os vascaínos gritando “olé” e “”Botafogo”, além de cantar “é ou não é/ piada de salão/ o time português querer ser campeão” (Augusto, 2004).
A festa alvinegra aconteceu em pleno mês de junho. Do lado de fora do estádio aumenta o número de manifestações estudantis violentamente reprimidas. Um dos piores episódios aconteceu no campo do Botafogo em General Severiano, quando a PM encurrala 400 estudantes que faziam uma assembléia na Faculdade de Economia da UFRJ. Em 26 de junho acontece no Rio de Janeiro a Passeata dos Cem Mil. Para o jornalista Zuenir Ventura, autor do livro 1968, o ano que não terminou, este dia “foi um dos espetáculos de rua mais impressionantes a que o Rio de Janeiro jamais assistiu”. Um ano antes, os torcedores liderados por Dulce Rosalina, já apoiavam os jogadores organizados que fizeram uma passeata em defesa da manutenção da taxa da FUGAP no Maracanã[3].
Em agosto, seguindo o clima de organização dos movimentos populares, as torcidas reunidas na Federação Carioca de Futebol recebem uma homenagem e anunciam “uma novidade, com o projeto de formação de uma inédita entidade desportiva: a Associação de Torcedores do Futebol Carioca. Mediante sugestão de um dirigente do América, Ícaro França, firmava-se ali um acordo para a criação da ATFC, uma associação representativa dos interesses dos torcedores cujos patronos seriam o Presidente do Vasco, Reinaldo Reis, e o próprio Jornal dos Sports, conforme assegurava seu diretor-secretário, o professor Ênio Sérvio” (Hollanda, 2010).
A harmonia entre as torcidas cariocas contratrastava com as constantes brigas com as torcidas de estados vizinhos. Assim como em São Paulo, lugar que os cariocas eram recebidos a pedradas, em Minas Gerais, o tratamento não era diferente. Em 1967 ocorreu uma grande briga entre as torcidas de Botafogo e Atlético em Belo Horizonte. A resposta  dos cariocas veio neste ano com a união das torcidas de Vasco e Botafogo, no Maracanã, contra os atleticanos: “os torcedores do Rio de Janeiro não pareciam ter esquecido o que ocorrera em Belo Horizonte em 1967 (Atlético MG X Botafogo). A recepção hostil aos torcedores do Atlético ocorreria em uma partida no Maracanã, contra o Vasco da Gama, válida também pela Taça de Prata. O numeroso deslocamento dos atleticanos ao Rio seria objeto de charges de Henfil, ele próprio um mineiro simpatizante do clube de sua terra, com a chamada: “A torcida do Atlético veio em 20 ônibus”. Na matéria com título dúbio, “Galo cantou no estádio”, um repórter falava da presença marcante da massa atleticana e a reação pouco hospitaleira de setores da torcida cruzmaltina à sua presença. Os vascaínos tentavam intimidar e ameaçar nas arquibancadas os torcedores adversários, com ações antidesportivas que repugnavam aquele repórter. É possível ter uma idéia da gravidade dos confrontos por meio da carta de um correspondente mineiro intitulada “Nem choro nem vela”, na qual articula com clareza memória e ressentimento: “Estamos esperando a torcida do Vasco para o jogo contra o Cruzeiro aqui no Mineirão no próximo dia 27. Saibam os torcedores do Vasco que nós não nos esquecemos do que aconteceu aí no Estádio Mário Filho naquele jogo em que o Atlético perdeu. Fomos vítimas de uma verdadeira selvageria e estamos aguardando o troco para o próximo dia 27. Atenção torcedores do Vasco: venham quentes porque a torcida mais famosa e potente do Brasil – a do Atlético Mineiro – está à espera de vocês. Vocês ainda se lembram do que aconteceu naqueles jogos contra o Botafogo? Pois é, vocês começam e depois não queremos choro nem vela. Vamos ver se os vascaínos são bons cabritos e não berram” (Rômulo Brandão Torsequi, BH, MG)” (Hollanda, 2010).
Anos depois, no programa “O Baú do Esporte” ( Rede Globo), um jovem na torcida do Vasco leva uma guitarra[4] e um amplificador para o estádio e leva o som do rock para as arquibancadas. Em seguida aparecem cenas de brigas e correrias entre os torcedores do Vasco que invadem a área reservada aos atleticanos.
Com a ampliação do número de clubes no campeonato nacional (chamado de Taça de Prata), novas rivalidades começavam a despontar. Agora era a vez da briga entre cariocas e gaúchos. É o que revela a manchete do jornal: “GUERRA EM PORTO ALEGRE: Viagens mais distantes, como ao Rio Grande do Sul, podiam eventualmente trazer dissabores”. Numa carta para o jornal com o título de “Guerra”, uma torcedora cruzmaltina se queixava da maneira pela qual havia sido tratada no Beira-Rio pela Torcida do Internacional, com ofensas, pilhérias e desacatos. A leitora sugeria para Porto Alegre o que já havia sido adotado para o Maracanã: a separação das torcidas pela Polícia, com a divisão de territórios que impedisse o contato entre os torcedores adversários”[5].
Para piorar, em novembro de 1968, um acidente com a torcida do Vasco que ia para São Paulo acompanhar o time em um jogo contra o Corinthians pela Taça de Prata, provocou inúmeras vítimas, inclusive a sua grande liderança nas arquibancadas: Dulce Rosalina ficou bastante ferida “quando um dos ônibus precipitou-se numa ribanceira de cerca de 15 metros de altura, próxima ao quilômetro 195 da Rodovia Presidente Dutra, sem que se registrasse nenhum caso de morte. A Chefe da Torcida Organizada, Dulce Rosalina Ponce, sofreu fraturas no braço e na clavícula, e só 2 feridos voltaram ao Rio, já que os outros 16 continuam internados no Hospital”[6].
O ano terminaria sem título para o Vasco e péssimo para as liberdades democráticas. Se com o golpe de 1964 já havia uma época de bastante opressão, a partir da edição do Ato Institucional n 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, as manifestações praticamente se extinguiriam.
            A liderança de Jaime de Carvalho e Dulce Rosalina, por exemplo, continuariam prevalecendo no seio de suas torcidas, a despeito do surgimento de novos grupos e da aglutinação destes em outros setores dos estádios, principalmente atrás dos gols. De fato, as Torcidas Jovens sinalizavam o caráter renovador das torcidas e mostrava o processo de extrema dinamicidade que traria dimensões de grande extensão aos antagonismos e conflitos entre os torcedores.
            Não seria mais possível encobrir a existência de divergências nesta nova formação social nas arquibancadas. Revelava-se um acentuado descompasso entre a liderança tradicional dos torcedores-símbolos e o novo quadro de críticas que se avolumavam entre as novas lideranças, que exigiam uma ruptura de princípios básicas que sustentaram a formação das torcidas organizadas nos anos 1940. O ideário de consenso entre os torcedores seria substituído por um desejo de romper qualquer limitação no monopólio de representação das torcidas.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Em 1969 surgia  a Gaviões da Fiel (Corinthians).
[2] Fonte: Jornal do Brasil 09 de Junho de 1968.
[3] Fonte: Jornal Diário de Notícias 09 de Junho de 1967.
[4] É sempre bom lembrar que este período foi bastante agitado na cena musical com os festivais lotando auditórios e ginásios  e o público torcia como se estivesse em um estádio de futebol.
[5]  Fonte: Jornal dos Sports Rio de Janeiro, 14 de Novembro de 1968.
[6] Fonte: Jornal do Brasil 21 de Novembro de 1968 

Vasco Jornal O Globo 1968

Vasco Revista O Cruzeiro 1968

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1967 CUIDADO COM A TORCIDA DO PALMEIRAS

                                “Se bicha fosse flor, a torcida tricolor era um jardim”
                             Provocação da torcida vascaína sobre o Fluminense

1967             Cuidado com a Torcida do Palmeiras

A vida dos torcedores cariocas em São Paulo em meados dos anos 1960 não estava nada fácil. Depois de serem maltratados pelos corintianos, chegou a vez dos palmeirenses que agiram com as mesmas armas dos rivais: “a Sra Dulce Rosalina, chefe da Torcida Organizada do Vasco, disse que um grupo de torcedores do seu clube foi maltratado pela torcida do Palmeiras no Pacaembu. Informou que o tratamento no Pacaembu da torcidas visitantes é de inimigo em guerra”[1].
Em 1967 foi disputado o primeiro Torneio Roberto Gomes Pedrosa, um esboço de um campeonato nacional, ampliando o Rio-São Paulo que foi extinto, e incluindo os clubes de Minas Gerais, Rio do Grande do Sul e do Paraná.
As alianças entre torcidas de diferentes estados só seriam estabelecidas no  início da década de 1980. A novidade nestes anos era o xingamento coletivo das torcidas, com os primeiros coros de palavrões entoados por milhares de pessoas ao mesmo tempo.
Durante toda a década, principalmente após o Golpe de 1964, a reação da imprensa foi fazer campanhas contra os palavõres nos estádios. E os chefes de torcida serão responsabilizados por não conseguirem coibirem uma atitude considerada antiesportiva. Por diversas vezes e, nas palavras de diferentes cronistas, o papel dos líderes é questionado, sendo vistos como incapazes de conter o ímpeto dos liderados ou mesmo de incentivá-los: “urge uma campanha que acabe para sempre com a falta de educação que se manifesta em coro no Estádio Mário Filho. Como informei ontem, o Juiz de Menores pensa em proibir o ingresso de menores no Estádio, se os palavões continuarem agredindo mais a sensibilidade dos espectadores do que os brios dos juízes de futebol. Fizemos, Armando Nogueira, Valdir Amaral, Ricardo Serran, Doalcei Camargo e tanos colegas, um esforço considerável para colocar os menores no Maracanã. Agora, temos de evitar que alguns desbocados comandem o descontentamento da Torcida no deplorável sentido da ofensa grosseira, que ouvimos, ultimamente, dos torcedores do Fluminense e Botafogo. Os Chefes de Torcida precisam colaborar. Por sinal, é deles a maior responsabilidade, porque o xingamento sai do núcleo da torcida Organizada. Se Dulce Rosalina (Vasco), Tarzã (Botafogo), Jaime de Carvalho (Flamengo), Paulista ou Bolinha (Fluminense), Juarez (Bangu) e Elias (América) tem força de comando para arrancar aplausos e vaias dos torcedores que lideram também devem ter para controlá-los nas expanções negativas. Se os menores forem retirados do futebol, os grandes culpados serão os Chefes de Torcida”[2].
Enquanto a imprensa e os conservadores se preocupavam com os palavrões, a torcida vascaína queria um técnico capaz de montar um time vencedor. Em 1967 a sucessão de técnicos prosseguia e só neste ano foram três: Zizinho, Gentil Cardoso e Ademir Menezes. O Vasco procura descobrir um técnico e a “solução”, na maioria das vezes, foi dar a oportunidade a ex-jogadores com passagens vitoriosas pelo clube mas sem grande experiência como treinadores. Depois de Ademir, Paulinho de Almeida (1968) e Pinga (1969) foram as próximas tentativas. O clube “serviu” de laboratório para ídolos que não vingaram fora das quatro linhas.
No final do ano um novo técnico é escolhido mas a divisão de opiniões no clube permanecia, dividindo ainda mais o clube: “a contratação de Paulinho de Almeida, concretizada ontem, para técnico do Vasco, está criando um clima de agitação com esboço de crise, e ontem, na Igreja do Rosário, por ocasião da missa de aniversário do benemérito Álvaro Ramos, o assessor do Presidente eleito, Reinaldo Reis, Sr José Iraci Brandão, a saída, discutiu acalorada e asperamente com o Sr Alá Batista, pois este último é categoricamente contra Paulinho. Apesar disso, Paulinho está contratado por um ano, com NCr$ 2 mil mensais, além de prêmios normais. Dulce Rosalina e a Torcida, querem impor Martin Francisco. Mas, Reinaldo Reis declarou que assume toda a responsabilidade pela contratação do novo treinador que assumirá seu cargo no próximo dia 04 de Janeiro”[3].
Em dezembro, torcedores de diversos clubes fazem uma homenagem ao aniversariante Jaime de Carvalho (56 anos) e sua torcida: a Charanga que comemorava 25 anos (1942-1967). “Comemorado com uma festa no Morro da Viúva, com direito a discursos de dirigentes, a mensagens do Presidente do Clube e a presentes como um moderno megafone importado dos Estados Unidos (...) representantes das torcidas co-irmãs do Vasco, do Botafogo, do Fluminense e até do Corinthians reputavam Jaime como o Chefe dos Chefes de Torcida, viria a receber ainda o título de torcedor número um do Rio, outorgado pelo capitão de policiamento do Maracanã” (Hollanda, 2010).
Tanto Dulce como Jaime viviam momentos muito complicados como torcedores e chefes de torcida. Os dois clubes das maiores torcidas na cidade do Rio de Janeiro amargavam mais um ano de péssimos resultados nos gramados. Em particular, o Flamengo que terminou o ano com mais derrotas que vitórias em 1967. Chegou a sofrer mais gols que fez. O Vasco concluiu o ano com o mesmo número de vitórias e derrotas (21 vezes) e também ficou com um saldo negativo.
 Enfim, não foi um ano para fazer grandes comemorações. Nesse período começam a surgir os primeiros sinais de ruptura institucional nas torcidas organizadas. O tempo dos torcedores pacíficos que tolerariam os times de pouca expressão estavam com os dias contados.
            Jaime necessitava muito do apoio de seus amigos, pois neste final de ano sua torcida e seu clube viviam momentos de muita tristeza. Em menos de um mês seu time perde para o Vasco por duas goleadas (4 a 0 em 11 de novembro e 3 a 0 em 2 de dezembro), Insatisfeitos com a liderança de Jaime, que não permitia que os jogadores de seu clube fossem vaiados, um grupo resolve fundar uma torcida dissidente e que seria o embrião da futura torcida Jovem[4].
            Depois de serem surrados pelo Vasco por 7 a 0, o líder da torcida do Flamengo realmente estava coberto de razão. Este time tinha que ser aplaudido.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Jornal A Luta Democrática 15 de Março de 1967.
[2] Fonte Coluna de Achilles Chirol no Jornal Correio da Manhã 09 de Agosto de 1967
[3] Fonte: Jornal Diário de Notícias 22 de Dezembro de 1967.
[4] Em sua data de fundação , a torcida considera o dia 5 de dezembro de 1967.

Vasco Jornal O Globo 1967

Vasco 1967

domingo, 22 de janeiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1966 CAMPANHA CONTRA OS CARONAS


                                                        “Bicha, Bicha, Bicha!!!”
                                          Protesto contra o juiz Armando Marques


1966              Campanha Contra os Caronas (CCC)

O ano começa com a expectativa do Brasil conquistar o tricampeonato mundial na Inglaterra. Para o Vasco o começo de ano não foi positivo. Além da preocupação com a contratação de reforços para o time voltar a ser competitivo, os torcedores pediam para o presidente do clube Manoel Lopes não sair. Mas este estava irredutível. A crise vascaína nos anos 1960 parecia não ter fim.
No torneio Rio-São Paulo, o entusiasmo de 1965 deu lugar ao temor diante dos episódios de violência dos paulistas: “o medo de novas baixas como na última refrega, quando alguns companheiros voltaram com pernas e cabeças quebradas a pedradas, impediu a Senhora Dulce Rosalina, chefe da Torcida Organizada do Vasco, de reunir mais de 20 pessoas para ir hoje, a São Paulo, animar a equipe do Vasco contra o Corinthians”[1].
Aquela não seria uma partida qualquer. Era a primeira partida de Garrincha pelo Corinthians, contratado junto ao Botafogo e maior esperança dos paulistas do fim de jejum de 11 anos sem o campeonato paulista. E o receio dos cariocas realmente fazia sentido pois o Pacaembu ficou lotado para a estreia de seu novo ídolo. Em campo, quem brilhou foi o Vasco, que vence por 3 a 0.
            No aniversário de Dulce, em março, comparecem lideres de várias torcidas. Entre eles: Paulista do Fluminense, Trazan do Botafogo e Jaime de Almeida do Flamengo, além de dirigentes do Vasco que cedem a sede no centro como o local da festa.
            Mal comemorava o aniversário, Dulce investia suas garras contra os dirigentes do Santos dispostos a levar o zagueiro Brito para a equipe paulista: “Os Chefes da Torcida Vascaína, Dulce Rosalina e Ramalho, prometeram comparecer hoje ao Aeroporto Santos Dumont, para hostilizar o Presidente do Santos, que segundo se anuncia, vêm fazer nova tentativa para contratar o zagueiro central Brito para o Santos. A torcida vascaína promete fazer tudo que estiver a seu alcance para dissuadir os dirigentes do Santos do seu intento”[2].
            Pela primeira vez o torneio Rio-São Paulo termina com o título dividido por quatro clubes (Vasco, Botafogo, Santos e Corinthians) em função da falta de datas para uma disputa entre os finalistas. A maior preocupação para os dirigentes era a seleção brasileira e até aquele momento ninguém sabia quem seria escolhido.
A preparação da seleção para a Copa do Mundo na Inglaterra foi a pior possível e a convocação de 44 jogadores, formando 4 times que disputavam entre si qual seria o grupo final, provocou indisciplina, disputas e intrigas entre jogadores e dirigentes, com acusações contra tudo e todos. O resultado foi previsível para muitas pessoas com a eliminação do Brasil ainda na primeira fase. O vascaíno e poeta Carlos Drummond resumia a tristeza generalizada no país com a derrota:  “não há nada mais triste do que o papel picado, no asfalto, depois de um jogo perdido. São esperanças picadas”[3] .
De volta ao Brasil, os dirigentes fazem de tudo para impedir a fúria dos torcedores no aeroporto. Com chegada prevista para as 9 horas da manhã de domingo, o vôo é transferido para chegar às 11 da noite. Novos atrasos e finalmente o desembarque é feito na madrugada de segunda-feira.
            O resultado pífio na Inglaterra mostrava que medidas urgentes deveriam ser tomadas para melhorar a administração do futebol. Neste intuito, dirigentes da Federação carioca de Futebol reuniram as principais lideranças dos torcedores: “sugeriram que os sócios dos Clubes paguem uma arquibancada em jogos no Maracanã em local reservado, a extinção da FUGAP e a revogação da lei que da 15% aos jogadores quando a venda de seus passes. Os Chefes das Torcidas foram a FCP a fim de tratar com o Sr Ícaro França do concurso para eleger a melhor Torcida, mas como o dirigente pediu que dessem sugestões, ao mesmo tempo em que sugeria que os torcedores formassem uma Associação”[4]. Além disso os líderes pediram para acabar com as gratuidades que os dirigentes tem direitos, chegando a mais de 1.000 por partida, segundo denúnica dos torcedores.
 Com a fraca campanha no campeonato carioca o alvo principal de parte da torcida recaiu sobre os ombros de Zéze Moreira, técnico do clube desde 1965, que tem seu nome numa faixa pedindo a sua saída. No entanto, os protestos partem de outro setor diferente da TOV: “Dona Dulce Rosalina contou que a Torcida Organizada nada tem a ver com relação a esta faixa. Esclareceu, inclusive, que as pessoas que fizeram a faixa tentaram colocá-la no lugar onde fica a Torcida Organizada e ela não consentiu”[5].
            No dia primeiro de novembro os jornais anunciam que o presidente do Vasco, João Silva, proíbe Dulce Roslaina de frequentar as dependencias do clube, acusando-a de atrapalhar o trabalho do técnico. No dia seguinte vem a resposta de Dulce que “decidiu recolher as bandeiras em sinal de protesto, ou o clube despede Zezé Moreira, o técnico, ou ela, Dona Dulce, leva a torcida a greve, esvaziando as arquibancadas do Maracanã, lado direito da Tribuna de Honra. É um direito que tem a moça atribuir ao treinador a culpa de tanta derrota, mas gostaria de pedir a dona Dulce que, na medida do possível, procure maneirar a torcida do Vasco que anda muito desbocada. No mais, Dona Dulce, dou razão a senhora: O Time do Vasco da Gama está justificando uma greve unânime da classe Vascaína[6]. A promessa de uma greve em plena ditadura militar era um sinal que os torcedores não queriam mais ser tratados de forma passiva e passavam a incorporar discursos e praticas de resistencias ao regime excludente.
            Mesmo o Jornal do Brasil sendo apontado como um período liberal e simpático aos movimentos populares da época, o tratamento que uma notícia dá para Dulce Rosalina é o pior possível, acusando-a de não saber se portar como torcedor, comparando com as atitudes de Jaime, em que este dá total apoio ao clube: “D. Dulce Rosalina deu com os burros nágua em sua Campanha contra o Time do Vasco. Nessa jogada, D. Dulce perdeu todo o prestigio, porque se portou como péssima torcedora. Torcedor, D. Dulce é o Jaime de Carvalho, que leva sua Charanga para apoiar o Flamengo, seja quem for o Técnico, esteja o Time como estiver, é o Juarez, do Bangu, que bota a camisa do Clube no corpo, pinta sua casa de vermelho e branco e já perdeu a conta das vezes que chorou nas decisões perdida”[7].
Satisfação em 1966 ocorreu somente com a vitória do Bangu sobre o Flamengo na final do campeonato carioca. O Maracanã viu juntar as torcidas de Vasco, América, Fluminense e Botafogo, que comemoraram um dos maiores bailes numa final, além de uma incrível pancadaria em campo, protagonizada pelo nosso ex-ídolo Almir, inconformado com o “olé” dos jogadores banguenses e prometendo aos dirigentes rubro-negros que o Bangu não daria a volta olímpica.
Quando Almir iniciou a briga, a torcida do Flamengo estava revoltada. Ele relembra: “Assim que voltei, a torcida do Flamengo, mais de 100 mil presentes, começou a gritar”:
- Por-ra-da ! Por-ra-da ! Por-ra-da !
            Depois do jogo a briga se estendeu para as arquibancadas, com confrontos generalizadas entre os torcedores. Numa das maiores brigas no Maracanã até então. O jogo terminou com o resultado de Bangu 3 a 0 no Flamengo, levando um público de 143.978 no dia 18 de Dezembro.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal Diário de Notícias 02 de Março de 1966.
[2] Fonte: Jornal Correio da Manhã 11 de Março de 1966.
[3] Drummond, Carlos. Quando é dia de futebol. Rio de Janeiro; Record, 2002. p.82. Crônica publicada no jornal Correio da Manhã  em 17 de julho de 1966.
[4] Fonte: Jornal do Brasil 23 de Agosto de 1966.
[5] Fonte: Jornal do Brasil 18 de Outubro de 1966.
[6] Fonte: Jornal do Brasil Coluna “Na grande área” de Armando Nogueira 02 de Novembro de 1966
[7] Fonte: Jornal do Brasil 05 de Novembro de 1966.

Vasco 1966

 
Vasco Jornal O Globo 1966

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1965 TORCIDA BOSSA NOVA

                                               “Eu quero ver o Mengo/Pererê- Pererê- Pererê/
                                                                     oi, sambando na roda do Vasco”
                                                                             canto da Torcida

1965                                                                Torcida Bossa Nova

As comemorações do quarto centenario da fundação da cidade do Rio de Janeiro se estenderam por todo o ano em diversos campos, inclusive o esportivo que teve no torneio intenacional em janeiro o seu ponto de partida, com a participação de dois clubes cariocas: Vasco e Flamengo, terminando com a vitória vascaína em ritmo de festa: “com músicas do carnaval passado, entre as quais “É Com Esse Que Eu Vou” e “Saci Pererê”, e outras melodias populares com letras arranjadas na hora para exaltar o Vasco, como o “Joga A Chave Meu Amor”, os torcedores Vascaínos festejaram em delírio a vitória sobre o Flamengo, como se a conquista do Torneio IV Centenário valesse tanto quanto um Campeonato Mundial, num extravasamento dos complexos adquiridos nos últimos anos e adotaram o “pois-pois” como réplica do “Olé”.
A ausência de títulos já incomodava bastante a torcida quando mais um técnico (mais um!!!) era contratado. Desta vez Zezé Moreira, famoso por levar times com poucos supercraques aos títulos (como aconteceu com o Fluminense em 1951 e 1959). Logo o treinador caiu nas graças da galera virando o tema das canções: “BOSSA É POIS-POIS. Em meio dos festejos, explicaram os torcedores que o Vasco não deu Olé no Flamengo, porque isso é coisa já superada. Que agora a bossa é o pois-pois, que faz o adversário ficar na roda mais uma homenagem aos portugueses, que são a alma do Clube. As musicas cantadas durante o pois-pois no campo e repetidas depois nos bares, estavam com as seguintes letras.“É com esse que eu vou/ abre a roda ia-ía/ esse é o Vasco da Gama/ com Zezé pra ganhar.”Essa letra era cantada com a música do Bafo da Onça.Com a música de Saci Pererê, também do Bafo da Onça, os torcedores cantavam.“Eu quero ver o Mengo/Pererê- Pererê- Pererê/ oi, sambando na roda do Vasco/ imitando Saci Pererê. Quero ver.”Além dessas e da “joga a Chave”, muitas outras foram cantadas, em todas havendo uma letra exaltando o Vasco e mexendo com o Flamengo e seus torcedores.Quando alguém criticava a euforia demasiada dos Vascaínos, Dulce Rosalina respondiam que era porque ninguém sabe o que é ficar tantos anos sofrendo e sendo ironizado por  todos[1].
E enfim o novo Vasco, que a barulhenta Torcida Organizada por Dulce Rosalina cantou no Maracanã, com a música de Mulata Bossa Nova, após a goleada sobre o Flamengo.
O Vasco Bossa Nova
Caiu no hully-gully
E só deu ele
Zé, Zé, Zé, Zé, Zé, Zé, Zezé
É culpa dele[2].”
            O entusiasmo dos torcedores fez com que o clube conseguisse levar 17 ônibus para São Paulo para a primeira partida do torneio Rio-Sao Paulo, no jogo contra o Corinthians. Neste dia ocorrem muitos confrontos entre os torcedores, com o ferimento de vários cariocas.
            Vasco e Botafogo protagonizaram várias partidas de destaque nos anos 1960. Mesmo em sua década de melhor desempenho, os alvinegros tiveram muito trabalho para superar a equipe da Colina. Em tempo que ainda era um jovem torcedor rubro-negro, Zico recorda do clima do Maracanã nos grandes clássicos: “(na final entre Botafogo e Flamengo em 1962) lembro do estádio lotado, chegamos no sexto andar e saímos do elevador e vimos de um lado preto e branco, do outro preto e vermelho, é uma imagem maravilhosa. A imagem que se tinha do elevador na chegada ao sexto andar era maravilhosa, tinha gente que chegava atrasado de propósito para ver as cadeiras e arquibancadas cheias, é bonito ver o estádio com as cores. É uma coisa linda, fantástica. Gosto quando é Fla x Flu, verde e vermelho, ou preto e vermelho, e já vi Vasco e Botafogo também é bacana, pois fica todo branco e preto e o contraste com o verde do gramado”[3].
Em 1965 a vitória do Botafogo foi atribuida a péssima arbitragem do juiz Armando Marques que foi xingado pelos cruzmaltinos, o que provocou a prisão de vários torcedores: “ a torcida do Vasco é quem reclama. E contra o Árbitro Armandes Marques, que foi por ela xingado no Maracanã. Ontem a tarde, Dona Dulce Rosalina, Chefe da Torcida Organizada, conversou com o senhor Antônio Calçada e lhe pediu em nome dos Vascaínos para que não deixasse nunca mais Armando Marques apitar um jogo do Clube. O Vice Presidente de Futebol ainda tentou explicar que o Juíz não teve interferência no resultado, mais Dulce Rosalina não se convenceu e manteve seu pedido, explicando ainda que muitos dos torcedores foram presos por terem se manifestado, com ofensas contra Armando Marques[4].
Disputada a primeira Taça Guanabara em 1965 (um torneio que teria a importância de indicar o vencedor para disputar a Copa Brasil), e o Vasco finalmente alcançou seu objetivo: vence a competição, com destaque para os atacantes Célio[5] e Nado. A disputa era anunciada como uma batalha no campo e nas arquibancadas: “DUELO ENTRE TORCIDAS TEM FIBRA DE D. DULCE DE UM LADO E O EXEMPLO DE TARZÃ DO OUTRO. Vasco e Botafogo já escolheram padrinhos, já aprontaram armas, já tomaram mil outras providências e estão prontos para mais um duelo de Torcidas, amanhã a tarde no Maracanã, onde será decidida a Taça Guanabara. Do lado direito da Tribuna de Honra, no meio de uma bateria enfezada, bem perto do reco-reco do Paulinho, do talo de mamona do Ramalho e dos dentes com escudo do Vasco do velho Cartola, Dona Dulce estará chefiando, disposta a tudo, até mesmo a trocar alguns bofetões com um inimigo em lugar errado, a vibrante Torcida Organizada do Vasco. Do outro lado, embora tenham perdido com Tarzã um Líder de primeira, Samar, Camélia e o grupo do Coelho se unirão aos rapazes do Colégio Pedro II e ao sempre embandeirado Bertoldo, para dar ânimo a apaixonada Torcida Botafoguense.Dona Dulce, que não se intimida com palavrão, pois ela mesma não consegue evitar que algum lhe escape, nem tem medo de polícia, lembrando que já foi presa por amor ao Vasco, promete uma festa barulhenta e colorida, com foguetes explodindo e chuva de papel picado.Bertolo ou Beto para os mais íntimos, também já picou papel em quantidade e acha que a festa, afinal será mesmo do Botafogo, cuja Torcida fez muito bem em trocar o velho símbolo do pacato Pato Donald pela cara amarrada do Galo Carijo. Tudo isso será feito de modo bem carioca, bem apaixonado, bem a altura de um drible de Garrincha ou de uma investida de Célio, e bem ao gosto de duas Torcidas imensas como as de Vasco e Botafogo[6].
No mesmo dia o Jornal do Brasil faz uma entrevista com Dulce destacando seu amor ao clube, sua dedicação e abnegação levando-a a enfrentar a polícia pelo clube do coração: “não só presa, como também briguei já muito. A última vez em que fui presa, por coincidência, foi no jogo com o Botafogo, pelo Torneio Rio-São Paulo. Estavamos no estádio, eu e meus dois filhos, Poncinho de 15 anos, Maria de Lourdes, de 12, um guarda arrancou das mãos do garoto um embrulho com papel picado. Eu reagi, chamei-o de rubro negro e ele prendeu as duas crianças, colocando-nos num xadrez que estava cheio de marginais. Esta diretoria do Vasco, contudo, dá todo apoio aos torcedores, o Presidente Lopes e o Dr Agatirno Gomes, do Departamento Jurídico, foram nos soltar, ameaçando, inclusive que o Vasco não jogaria se continuássemos presos. Quanto a briga, chegamos a trocar bofetões até com o Tarzã, que hoje é meu grande amigo e já brigou duas a três vezes do nosso lado”.
A reportagem prossegue com Dulce revelando ter sido convidada para a diretoria do clube mas ter recusado, além de explicar como era o perfil social da organizada: “meu lugar é na arquibancada. Chefiar a torcida dá tanto trabalho como ser dirigente, e eu prefiro ficar lá. Dona Dulce é Chefe da Torcida do Vasco há 9 anos. Este encargo foi herdada de outra mulher: Dona Margarida, que era auxiliada pelo seu irmão Mário. A torcida organizada do Vasco conta com cerca de 100 pessoas que vão sempre aos jogos, com chuva ou sol. Das 100, 15 são mulheres, que segundo Dona Dulce, adotam a tese de que “os palavrões que são proferidos em campo entram por um ouvido e saem pelo outro. Mas no entusiamo as vezes até nós mesmas dizemos algum”.
.    O jogo que decidia a Taça Guanabara de 1965 foi vencido pelo Vasco (2 a 0). No finalzinho houve então o olé, que foi comemorado e cantado em coro pela torcida vascaína nas arquibancadas. Na saída do estádio a torcida ainda gritava o tradicional "1, 2, 3, Botafogo é freguês", e um novo refrão: "Garrincha foi João, e o Vasco é campeão" (Castro, 1995).
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Jornal Diário Carioca 16 de Janeiro de 1965.
[2] Fonte: Jornal do Brasil 23 de Janeiro de 1965.
[3] ALMEIDA, ROSÂNGELA DE SENA. DE COPA A COPA: Memórias do Estádio de futebol do Maracanã. Rio de Janeiro, 2014.
[4] Fonte: Jornal do Brasil 13 de Agosto de 1965.
[5] O atacante Célio, que, depois de chegar a ser testado na seleção, foi vendido para o Nacional de Montevidéu, onde tornou-se um ídolo. Cf. www.netvasco/mprais
[6] Fonte: Jornal do Brasil 04 de Setembro de 1965.

Vasco Jornal do Brasil 1965

Vasco Jornal do Brasil 1965


terça-feira, 17 de janeiro de 2017

ASTOVA 1982: CONCURSO FRASE SOBRE ROBERTO DINAMITE

Aconteceu um Concurso promovido pelas Torcidas Organizadas do Vasco (ASTOVA) cujo tema era Roberto Dinamite, a melhor frase foi “Perigo: não fumem. Dinamite em campo.”
Fonte: Revista Placar 26 de Fevereiro de 1982




domingo, 15 de janeiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1964 TORCIDA JOVEM GUARDA

                                                                              “Vocês querem Bacalhau?”
                                                                                             Chacrinha

1964                      Torcida Jovem Guarda

Até 1964 a TV podia transmitir ao vivo os jogos principais dos campeonatos regionais. No entanto este seria o último ano com o impedimento legal conseguido pelos dirigentes dos clubes. Ao longo de todo ano este debate esteve na ordem do dia colocando em lados opostos empresários da TV e dirigentes esportivos. Mesmo com o rádio ainda sendo o principal veículo de comunicação de massa, a TV dava os primeiros passos de se tornar o principal veículo de comunicação. Para se ter uma idéia em 1970, 24% dos lares já tinha um aparelho.
O sucesso da TV ia revelando novos ídolos, neste ano a dupla de cantores vascaínos, Roberto e Erasmo Carlos, lança o sucesso “Eu sou Terrível”. Era o início da Jovem Guarda e a “vertiginosa transformação no comportamento dos jovens e sua crescente influência na sociedade e no mercado consumidor”(Motta, 2000,p.89).Os programas musicais transformavam-se em verdadeiros espetáculos de disputas entre torcidas e fãs-clubes com vaias e aplausos para os artistas preferidos. Também pela TV, o vascaíno e apresentador Chacrinha começava a fazer sucesso com seu programa de auditório estimulando a intensa participação do público, Seguindo uma linha diferente, o sambista Paulinho da Viola dava seus primeiros passos numa Casa de Samba que marcou época, mas durou somente três anos (1963-1965), o Zicartola. Era um espaço cultural de resistência que teve entre os seus maiores promotores, o jornalista Sérgio Cabral, defensor da boa música de raiz e um dos vascaínos mais entusiastas de todos os tempos. Lá ele conheceu e reforçou a amizade com muitos sambistas de primeira linha, muitos deles também torcedores do seu time: “Nelson Cavaquinho, Jamelão, Ismael Silva, Clementina de Jesus, Araci de Almeida, todo mundo é vascaíno. Paulinho da Viola, Aldir, Guinga (...) todos os sambistas são vascaínos. Os que não são, são exceções” afirma em depoimento para o artigo “Vidas Vascaínas”, do livro Memória Social dos Esportes (2006).
Enquanto isso, no cinema brasileiro aparecem os primeiros filmes tentando entender o comportamento da massa nos estádios de futebol. É nítida a ênfase sociológica ao comparar a atitude do torcedor com o fanático religioso, sendo o futebol visto como uma variação da religião no século XX[1]. Esta crítica ficou evidente em alguns filmes como em Subterrâneos do Futebol (1965), de Maurice Capovilla, Rio 40 graus (1955), de Nélson Pereira dos Santos, A Falecida (1965), de Leon Hirszman, Garrincha, Alegria do Povo (1963), de Joaquim Pedro de Andrade[2], O Corintiano (1966), de Milton Amaral, uma comédia onde o ator cômico Mazzaropi vive o papel de um barbeiro fanático pelo Corinthians, com a participação de Elisa, torcedora-símbolo daquele time.
            Mas a melhor lembrança da relação entre cinema e futebol nestes anos vem com o Canal 100 (1959-1985). O cinejornal do Canal 100 apresentava notícias como os outros cinejornais mas terminava com as imagens mais esperadas que eram as que traziam as cenas do Maracanã vistas de um ângulo totalmente diferente. Além dos jogadores havia uma interação com cenas dos torcedores e suas expressões físicas capazes de emocionar quem estava numa poltrona do cinema provocando uma identificação imediata com o público dos estádios e a platéia do cinema. Além disso, tinha uma música inesquecível que fazia uma marca registrada do canal 100. “A tela grande enchia os olhos e encantava gerações, unindo duas paixões: o cinema e o futebol (...) são nítidas as marcas na memória daqueles que o viram. O segredo era a técnica aliada a uma linguagem poética, expressiva, combinando som e imagem de forma nunca antes vista no Brasil” afirma o historiador Paulo Maia no artigo “Canal 100 e a Construção do Imaginário”.
O Botafogo deixava por algum tempo de ser a maior equipe do futebol carioca em função da venda de seus craques e das constantes lesões de  Garrincha. Nos próximos anos, a dupla Fla-Flu, predominou no futebol carioca, com os títulos de 1963 e 1965 para o Flamengo e 1964 para o Fluminense. No campeonato de 1963, a final entre Flamengo e Fluminense, contou com o maior público pagante na história do Maracanã, na disputa entre clubes, com a presença de mais de 177.000 pessoas.
A má-fase de Garrincha levou até a torcida vascaína que andava cabisbaixa naquele ano, a zombar do maior ídolo alvinegro. Ruy Castro cita o coro da torcida vascaína para zombar de Garrincha e da torcida do Botafogo, com a atuação do inexpressivo lateral do Vasco: “o Pereira é o fino/ o Garrincha é o grosso/ o Pereira botou/ o Garrincha no bolso” (Castro, 1995, p.328).
Durante os anos 1960, o Maracanã foi o palco principal da seleção brasileira se apresentar para a torcida brasileira nos diversos jogos marcados (a maioria era amistoso). Para se ter uma idéia da importância deste estádio e do Rio de Janeiro para a seleção nacional neste período, em comparação com São Paulo, aconteceram 31 partidas no RJ (média de 3 por ano), enquanto em São Paulo ocorreram 9 partidas (nenhuma das eliminatórias). Ou seja, o Rio teve o triplo de jogos disputados em São Paulo. Se compararmos com Minas Gerais, que inaugurou o Mineirão em 65, a diferença ainda é maior, foram disputados apenas 5 jogos. Quer dizer, 6 vezes menos jogos que no Rio de Janeiro.
A Argentina foi a principal adversária sendo disputadas 5 partidas. Nestas disputas apenas um empate e 4 vitórias de goleadas. Nunca o Brasil venceu tantas vezes nossos vizinhos em outra década (o platinismo estava definitivamente sepultado). Um outro adversário de destaque foi a seleção inglesa, derrotada antes da Copa na Inglaterra por goleada (5 a 1 em 1964).
 Um registro daquele ano foi o comportamento esportivo das duas maiores torcidas diante da atuação do goleiro Marcelo (Vasco) contra o Flamengo. Ao falhar bisonhamente em um gol, o arqueiro foi substituído ainda durante o primeiro tempo. Na saída para o vestiário o goleiro caminha aos prantos. As duas torcidas então, num gesto surpreendente e inédito, comovidas com o desespero do atleta, aplaudiram respeitosamente o jogador (Nogueira, 1973).
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] o historiador inglês Eric Hobsbawn chamou o futebol de “a religião leiga da classe operária”.
[2] De acordo com Luiz Carlos Barreto, o diretor Joaquim Andrade “que não curtia muito futebol, revolucionou a forma de filmar futebol e torcida introduzindo a teleobjetiva de 1 metro para captar em close-up, as emoções da jogada e das reações do torcedor. Daí para frente o Canal 100 passou a adotar a mesma técnica”. (ORICCHIO, 2006, p.336).

Vasco Jornal O Globo 1964

Vasco Canal 100 1964