“Que bonito é o início da constelação de
estrelas amarelas na bandeira do Vascão”
Erasmo Carlos
1985 Eddie
No
final de 1984 e começo de 1985 uma novela na Rede Globo fez grande sucesso e
utilizou o futebol como um de seus temas principais. Era a novela Vereda
Tropical, que trazia o personagem Luca, interpretado pelo ator Mário Gomes, No
jogo entre o Corinthians e o Vasco no começo do campeonato brasileiro de 1985
foram usadas cenas reais do jogo misturadas com outras encenadas. Na novela o
atacante vivia o drama de sair de um clube da 2ª divisão e jogar no Corinthians, clube que o havia contratado. Na hora do gol do atacante Serginho,
Luca corre em direção ao mesmo e comemora junto, como se o gol da ficção fosse
dele.
Ao
final, com a frustração do resultado real (empate em 1 a 1) quem comemorou foram
os vascaínos, que ouviam os paulistas reclamarem de seu time gritando após o
apito do juiz: “Luca, Luca”.
No
primeiro carnaval no sambódromo em 1984, as torcidas organizadas do Vasco desfilaram
pela Portela (no primeiro e único título da escola de Madureira até 2016 na
Passarela do Samba). No ano de 1985 os vascaínos desfilariam pela Tradição, uma
escola criada em função de uma dissidência na própria Portela. Entre os novos
líderes da nova agremiação carnavalesca está Sergio Aiub, da torcida do
Fluminense, que chamou todos os amigos das outras torcidas.
O
clássico Baile do Almirante realizado em São Januário durante vários anos, entrava
em decadência neste período, não foi de um dia para o outro, mas acompanhou uma
tendência do carnaval carioca de esvaziamento nos bailes dos clubes. Uma
tradição de vários anos era perdida para sempre.
Ainda
dois acontecimentos fora do campo esportivo devem ser registrados ao lembrar o
ano de 1985: o primeiro, no início de janeiro (dia 11) quando se apresentou
pela primeira vez no Brasil no Rock in Rio, a banda de heavy metal Iron Maiden,
junto ao grupo (que muitos não conheciam) vinham as imagens da banda. Uma delas
seria incorporada pela Força Jovem do Vasco a partir de 1989 em suas camisas,
bandeiras, adesivos e demais distintivos. Trata-se de Eddie, logo ele seria
identificado por todas as torcidas como um dos melhores símbolos das
organizadas.
Ainda
em 1985, em março desembarcava na cidade uma outra banda que formada apenas por
adolescentes de até 16 anos. Eram os Menudos que fariam um único show na cidade
maravilhosa no estádio de São Januário. Nem o presidente Getúlio Vargas em
pleno Estado Novo levou tantas pessoas. A menudomania virou uma febre entre as
adolescentes que conseguiram arrastar seus pais para ver os jovens cantores.
Cerca de 80.000 pessoas estiveram presentes naquele dia lotando o gramado e as
demais dependências do estádio. Não era futebol mas lá estavam elementos
estruturantes presentes no futebol dos anos 1980: a ganância dos dirigentes, a
busca do lucro fácil, a superlotação, a falta de respeito com o público e o uso
do estádio para outros fins.
No futebol mundial o fato de maior repercussão foi a
decisão da Copa dos Campeões Europeus, em maio de 1985, entre Juventus (Itália)
e o Liverpool (Inglaterra). Colocando na pauta permanente da imprensa mundial o
problema da violência crescente entre as torcidas no continente europeu. Era a
tragédia de Heysel (estádio na Bélgica), nome do conflito provocado
principalmente pelos “hooligans” ingleses causando a morte de dezenas de
pessoas, além de centenas de feridos.
A
violência entre os torcedores ingleses durante os campeonatos locais já vinha
ganhando repercussão internacional na imprensa e até no Brasil, as imagens de
brigas e confusões já apareciam sem muito alarde, sem maiores análises, eram
tratadas como manifestações da cultura local, apenas com algo típico da
rebeldia juvenil inglesa, como o movimento punk.
Transportado
de fato esportivo em fato criminal, a reação inicial da imprensa foi de
criminalizar qualquer confronto de torcedores e passar a fazer campanhas
sistemáticas contra os “bandidos” que se infestavam pelos estádios. Aos poucos
surgem as primeiras análises mais pormenorizadas e substanciais tentando
entender as variáveis do problema e sugerindo medidas de prevenção, mudanças na
legislação e campanhas educativas.
As
alianças entre as torcidas de Vasco e Palmeiras e, por outro lado, de Flamengo
e Corinthians, eram evidenciadas durante as partidas entre os clubes e pela
seleção brasileira. Ao disputar as Eliminatórias para a Copa do México em 1986,
o Brasil recebe o Paraguai no Maracanã. Na ocasião, as torcidas aliadas ficam do
mesmo lado e provocam as rivais: “Ely Mendes (FJV) ficou preocupado em defender
os amigos que vieram de São Paulo num ônibus especial, eram Torcidas
Organizadas do Palmeiras, como a TUP, a Mancha Verde e a Falange Verde. Eles
foram agredidos por torcedores do Flamengo que saíram do outro lado, sem as
camisas para não ser identificados. “É a turma da Torcida Jovem do Flamengo,
que não perdoa os Palmeirenses”, acusa Ely, e acrescenta. “Tinha gente da
Torcida Jovem e dos Gaviões da Fiel misturada com os Rubros Negros”[1].
Uma pausa na rivalidade entre as torcidas cariocas foi
dada na final do campeonato brasileiro de 1985, quando o Bangu e o Coritiba disputam
o título no Maracanã. Na ocasião, o clube de Moça Bonita contou com o apoio de
todas as torcidas cariocas, inclusive a do Vasco. Milhares de torcedores
cariocas levaram suas bandeiras e camisas para incentivar o clube carioca que
só não teve o apoio da TOV que preferiu ficar do lado dos curitibanos, em
gratidão pelo tratamento que os torcedores do Coritiba deram aos vascaínos nos
anos anteriores.
Na
política interna do clube as atenções estavam voltadas para as eleições em
novembro. Se Agathyrno Gomes foi o dirigente mais importante no clube para as
torcidas organizadas nos anos 1970, a figura carismática de Eurico Miranda foi
se consolidando ao longo dos anos 1980. Em 1985, praticamente todas principais
lideranças das torcidas organizadas apoiavam sua candidatura para presidente
contra o candidato da situação, Antonio Soares Calçada[2].
Com
faixas nas arquibancadas desde julho, o torcedor vascaíno tinha plena
identificação com o dirigente que, ao contrário de Calçada, visto como alguém
frio, burocrata, de estilo empresarial e distante das pessoas mais simples,
Eurico encarnava o personagem dirigente-torcedor. Suas atitudes, seus gestos
expansivos, sua maneira de ser agressiva e contestadora, logo se tornou quase
uma religião em São Januário. O cartola vai ser visto como o único cartola que
“entendia o sofrimento e a dedicação dos torcedores que freqüentam as arquibancadas
do Brasil”.
Com
a saída de Otávio Pinto Guimarães da Federação Carioca de Futebol e a sua
substituição por Eduardo Vianna, conhecido como Caixa D’água, Eurico ganha um
grande aliado e os dois vão construindo uma aliança política que renderia frutos
políticos para ambos. Cada um com seus interesses, as vezes contraditórios, mas
para os inimigos da dupla, esta união era motivada por interesses de usar
qualquer recurso para se manterem no poder.
A grande novidade do elenco vascaíno
em 1985 foi a entrada de Romário no time titular a partir do segundo semestre
do ano. O jogador revela desde a sua primeira temporada no campeonato carioca a
vocação para artilheiro, sendo o vice-artilheiro da competição. Vale destacar o
primeiro gol sobre o Flamengo em sua primeira partida contra o rival, na
goleada de 4 a 0.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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