quarta-feira, 30 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1953 CARNAVAL EM JANEIRO


                                                                     “se a canoa não virar, olê. olê , olá”
                                                                        marchinha nas arquibancadas

1953                 Carnaval de Janeiro a Dezembro

Depois de decepcionar a torcida em 1951, o Expresso da Vitória voltava a triturar os adversários e conquistava o título de 1952 no início do ano seguinte. Como era véspera de carnaval, a festa foi completa se estendendo por diversos dias com direito a folia em São Januário, criação de marchinhas e desfile carnavalesco em pleno centro da cidade. “Inteiramente iluminado, São Januário reviveu suas noites de maior esplendor. As sirenas soando, sem parar, como incessante também se fazia ouvir o estourar dos foguetes, Os casacas, então, nem é necessário falar, Casacas ao Vasco, como o foram dedicados ao Presidente Cyro Aranha, seus diretores e ao técnico Gentil Cardoso. (...) Registro-se um desfile improvisado de autênticas Escolas de Samba, com faixas trazendo inscrições alusivas ao feito cruzmaltino, recebiam saudações entusiastas do público, a sua passagem. Até parodias surgiram de imediato, como aquela da marchinha “Você pensa que cachaça é água”. Cantavam na assim:
“Você pensa que o Vasco é sopa
O Vasco não é sopa não
Sem jogar com o Olaria
O Vasco já é Campeão.”[1]

“O corso constou de cerca de mil automóveis, vários carros alegóricos e algumas Escolas de Samba, e a sua organização esteve a cargo do Chefe da Torcida Organizada do Vasco, Sr. João de Lucca”[2].
Mas a temporada vitoriosa estava só começando. Em fevereiro, jogando o Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro (Boca Juniors, Racing, Flamengo), O Vasco conquista o campeonato ao vencer o Flamengo por 5 a 2. Uma goleada para mostrar toda a força do Expresso.
Dois meses depois o clube volta para Santiago no Chile (onde foi campeão em 1948) e conquista mais um troféu. Porém, o melhor estava a caminho com a disputa de um torneio internacional no Brasil.
No mesmo mês que o Vasco vencia mais um torneio internacional, estreava no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, A Falecida, de Nelson Rodrigues. No primeiro ato de sua peça alguns homens discutem sobre a partida do Vasco que se realizaria no domingo, no Maracanã. O futebol era a obsessão de Tuninho, um dos personagens centrais da peça. Vascaíno fervoroso e desempregado, ele seria capaz de apostar em seu time contra todo o Maracanã, se tivesse dinheiro para tal: “TUNINHO – Seja 150 ou 200 mil pessoas. Não importa. Até aí morreu o Neves. Pois eu, se tivesse o dinheiro, dinheiro meu, no bolso, eu, sozinho, apostava com 200 mil pessoas no Vasco. Havia de esfregar a gaita assim, na cara das 200 mil pessoas, desacatando: “Seus cabeças-de-bagre! Dois de vantagem e sou Vasco!” Te juro que ia fazer a minha independência, que ia lavar a égua”
O fanatismo dos torcedores e a fidelidade destes aos seus clubes pode ser medida pelo acompanhamento permanente em todos os estádios. Para a temporada na Argentina e no Chile, a torcida vascaína foi representada por um grupo de torcedores liderados pelo chefe da TOV, João de Lucca. Batizada de Embaixada Torcedora, o que não era uma novidade pois este nome que já era utilizada nos anos 1930. Mas também servia para antecipar uma possivel embaixada da torcida brasileira na Copa da Suiça em 1954. O tom da reportagem faz um exagero da figura do lider vascaíno e sua atuação teria surpreendido os argentinos. No entanto, qualquer pesquisa saberia apontar para o exagero pois as torcidas argentinas tinham um alto grau de participação. Eis a reportagem do enviado especial: “João de Lucca fez furor no Chile. Só quem esta convivendo com os componentes da brilhante embaixada que o Vasco da Gama mandou a Buenos Aires e agora a Santiago, pode testemunhar o muito de sacrifício, abnegação, compreensão e disciplina por todos empregados na defesa do desporto nacional, em sua até agora triunfal campanha.... João de Lucca é sem favor algum, uma das figuras de proa da delegação cruz maltina. Comandando os célebres Casacas em todos os cantos a que chega a imediatamente requestrado os dirigentes do Racing tentaram de todos os modos, prende-los em Buenos Aires, por um mês a fim de que ele discipline a Hinchada do tricampeão Argentino. Claro está que De Lucca não aceitou, todavia, isso serve para que se comprove o sucesso que o Chefe da Torcida Organizada no Chile e na Argentina” [3].
Enquanto a viagem da torcida vascaína para a Argentina e o Chile foi um sucesso o mesmo não aconteceu na caravana para Santos, em junho, para acompanhar o time na última partida do Torneio Rio-São Paulo, terminando com uma tragédia automobilistica no acidente em que 7 torcedores morreriam. No mesmo caminho de volta ocorre outro problema com um “violento conflito entre torcedores do Vasco e populares que se encontravam nas proximidades de um bar, onde os componentes da caravana pararam para fazer ligeiro lanche. Os torcedores do Vasco foram vaiados e os veículos apedrejados, o que deu causa ao conflito, somente dominado após a chegada de uma tropa de choque da Força Pública e viaturas da Rádio Patrulha” [4]. Para este jogo foram mobilizadas centenas de torcedores na maior caravana da torcida vascaína até então (4 ônibus, 25 caminhonetes e dezenas de automóveis). O time vinha embalado depois de vencer o Corinthians no Maracanã e assumido a liderança do campeonato. O clube paulista trouxe uma imensa legião de torcedores (5 mil pessoas), na chamada “invasão do maracanã”. Os dois clubes lideravam não somente o campeonato, como eram os líderes nas rendas, com vantagem para o clube carioca. Esta disputa acirrada explica a tensão entre as duas torcidas e a animosidade que continuaria nas semifinais do octogonal no mês seguinte.
Em junho e julho, oito clubes disputam o Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer (Fluminense, Botafogo e Hibernian-Escócia, na chave do Vasco e na outra chave São Paulo, Corinthians, Olympia- Paraguai e Sporting). O Vasco derrotou o Corinthians nas semifinais e o São Paulo nas finais.
A partir deste campeonato a nova grande estrela da torcida vascaína era o atacante Pinga, contratado junto a Portuguesa-SP, na maior contratação do futebol brasileiro da época. O novo camisa 10 do Vasco vestia também o uniforme da seleção no Sul-Americano no Peru. Na seleção do Brasil  que disputou o Sul-Americano no Peru, em março, foram convocados do Vasco os jogadores Barbosa, Ely, Danilo, Haroldo, Ipojucan e Ademir.
A expectativa da torcida era o Expresso continuar dominando o futebol carioca. Neste ano a novidade foi a inclusão de um terceiro turno com a disputa dos seis clubes com as melhores campanhas nos dois turnos iniciais. E, assim como nos anos anteriores, o campeonato de 1953 não terminaria neste ano.
Para os vascaínos o segundo semestre seria de grandes emoções nos esportes amadores. O seu clube conseguia fazer da natação e do atletismo um motivo de orgulho. Em agosto era inaugurado o Parque Aquático, “o maior e mais moderno da cidade”. E, em outubro, os atletas vascaínos conquistavam o 2° troféu Brasil de Atletismo, em São Paulo, acompanhado da torcida organizada: “o estádio do Tietê na Ponte Grande parecia ser carioca. Ouviam-se os Casacas como se a vitória houvesse sido obtida em São Januário com algazarra e entusiasmo, e até comandados pelo João de Lucca, o Chefe da Torcida Organizada, que acompanhou em São Paulo a consagração da equipe da colina como a maior do país”[5].
Enquanto os adeptos futebol ficavam esperando os jogos finais do campeonato de 1953 a serem disputados em janeiro de 1954, os torcedores vascaínos terminavam o ano comemorando o décimo título seguido no remo. Em dezembro a torcida cruzmaltina lotou as arquibancadas do estádio da Lagoa para acompanhar o decacampeonato (um título inédito). O ano fechava com chave de ouro: Campeão de Terra e Mar (em janeiro campeonato de futebol de1952 e dezembro no remo), além dos títulos internacionais no Chile (abril) e Maracanã (junho-julho).
  Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: Jornal O Globo 19 de Janeiro de 1953.
[2] Fonte: Jornal A Noite 26 de Janeiro de 1953.
[3] Fonte: Jornal Última Hora 06 de Abril de 1953.
[4] Fonte: Jornal O Globo 05 de Junho de 1953.
[5] Fonte: Jornal Última Hora 20 de Outubro de 1953.

Vasco Jornal A Noite Suplemento 1952

Vasco Jornal O Globo 1952

domingo, 27 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1952 SURURU NA BARIRI

     "Eu estou com as massas, e as massas derrubam até governo".
                                                            Gentil Cardoso – técnico campeão em 1952

1952                           Sururu na Bariri

        Em abril a seleção brasileira dava o seu primeiro passo para superar o trauma da derrota de 1950 com a conquista do Torneio Pan-Americano no Chile. Esta foi a primeira vez que o Brasil venceu uma competição internacional fora do país.
            Para comemorar a vitória do selecionado nacional. O presidente Vargas faz uma homenagem aos jogadores presenteando-lhes com uma medalha de ouro na última vez que Vargas comemora o Dia do Trabalho no estádio de São Januário. 1952 veria a ultima festa ser realizada por Vargas no estádio do Vasco da Gama, A festa ainda contou com jogos de futebol e com uma apresentação de basquete dos Harlem Globe-Trotters, seguidos de um show de musicas populares.
Em agosto começava o campeonato carioca que prometia muita disputa entre os principais candidatos ao título. Vencedor da segunda Copa Rio, o Fluminense era apontado pela imprensa como o maior obstáculo para o Vasco.
Enquanto em campo, os grandes clubes brigavam pelo título, fora das quatro linhas o desafio para os torcedores estava nos pequenos estádios de subúrbio. As grandes brigas envolvendo torcedores na década de 1950 ocorriam justamente nos pequenos estádios, em função da superlotação e da presença das torcidas rivais que se somavam aos clubes da região. Geralmente terminavam com poucos feridos e intervenção imediata da polícia que agia com extremo rigor: “confusão no estádio do São Cristóvão entre a policia e os torcedores emocionados as lamentáveis cenas de lançamentos das bombas de gás lacrimogêneo contra a multidão que pagou para assistir um espetáculo e não para ser vítima de uma Polícia Especial, que infelizmente ainda não compreendeu o papel que deve exercer, de mantenedora ordem”.[1]
            Nas lembranças de Armando Giesta, o bairrismo de clubes de subúrbio contra os clubes da Zona Sul provocava uma tensão entre os torcedores visitantes: “em Bangu o pau comia, em Bangu era uma aventura, em Madureira também era brabo. Mas não tinha briga, só na saída, tinha as provocações... Em Bangu você tem que passar aos pés das arquibancadas e eles jogavam coisas de cima. A torcida do Bangu era uma torcida doente. Os clubes pequenos tinham as suas torcidas. Principalmente Bangu e Madureira. Madureira tinha uma senhora torcida...”[2].
Em algumas ocasiões a confusão partia de lugares destinados aos sócios e dirigentes dos clubes que assistiam aos jogos lado-a-lado com os rivais. A cordialidade do anfitrião cedia espaço para a paixão desenfreada: “VIROU “ FAR-WEST” A TABA BARIRI. Há muito tempo que a Torcida não tinha o prazer. A grata satisfação de assistir o tempo fechar tão feio numa partida de futebol, mas não entre os jogadores, porém na própria assistência, e o que ainda é mais grave, entre o público das cadeiras numeradas, ou seja a elite dos pagantes”.
Foi durante um jogo do Vasco contra um clube de subúrbio que Dulce Rosalina acabou se integrando a Torcida Organizada do Vasco. Dulce foi trazida para a TOV por intermédio de Tia Aida, que nos conta como tudo aconteceu: “Estávamos em Teixeira de Castro, campo do Bonsucesso, e uma jovem sentou-se ao meu lado e vibrava muito com os gols do Vasco, foi quando eu a convidei para que fizesse parte da nossa Torcida, e de tal maneira ela se dedicou e se apaixonou que tempos depois entregamos a ela a chefia da Torcida. Ela era uma pessoa muito querida e educada, amava o Vasco acima de tudo, pelo clube ela se doou, deu a sua vida, deixou de cuidar de sua saúde, mas deixou o legado para todas as futuras gerações de vascaínos, de sua imensa paixão pelo Vasco[3].
      Em 1952 a “escrita” contra o Flamengo voltava com novas vitórias do Vasco e a conquista de mais um campeonato. O Expresso ainda se fazia respeitar. Ainda neste ano, em novembro, foram concedidos os títulos de sócio honorários do Vasco a Rachel de Queiroz e Gilberto Freyre. Os dois ilustres escritores eram do Nordeste (ela do Ceará, ele de Pernambuco), região que nos anos 1950 recebia uma forte influência das predileções esportivas em função das transmissões radiofônicas. Essa região será, nesta época, um local de forte emigração para os grandes centros do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo). No Rio de Janeiro, por exemplo, ao longo dos anos 1940 chegaram mais de 700 mil nordestinos numa população de 2,5 milhões.
Os dois clubes continuariam numa disputa fora de campo envolvendo a contratação do técnico Flávio Costa pelo Vasco. O boato de que dirigentes do clube de São Januário o traria de volta estimulou o então treinador do Vasco, Gentil Cardoso, dar uma volta olímpica após a conquista do título acenando com o seu boné para os torcedores e sendo aplaudido pelos mesmos. O jornalista Mario Filho (2003, p. 306) descreve o episódio: “(ele) tratou de buscar apoio dos torcedores, achando que eles lhe garantiriam a sua permanecia. Como o Vasco ia sair desta? Feito um triunfador, Gentil Cardoso entrou no vestiário do Vasco (...) A consagração da torcida subira-lhe a cabeça. A prova é que disse alto, levantando o boné inseparável amassado na mão fechada – as massas estão comigo!”. Logo em seguida acontece um bate-boca entre ele e um grande dirigente do clube. Na mesma semana o técnico estava demitido e, mesmo campeão, a torcida aceitava resignada esta decisão dos dirigentes.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

[1] Fonte: Jornal Sport Ilustrado 06 de Novembro de 1952
[2] Depoimento do torcedor concedida a Jorge Medeiros, em 2008.
[3] Depoimento de Tia Aida concedida a Jorge Medeiros, em 2008.

Vasco Revista Sport Ilustrado 1952

Vasco Jornal dos Sports 1952



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1951 ADEMIR - ÍDOLO NACIONAL

 “zum-zum-zum-zum/ Vasco dois a um”
Canção do 1° título no Maracanã

1951                     Ademir – ídolo Nacional

Com o Maracanã a partir de 1950, o futebol carioca passaria a contar um estádio neutro que alteraria substancialmente a espacialidade das torcidas. Se antes foi comum uma intensa mistura de torcedores de times rivais nas arquibancadas, agora esta mistura estaria deslocada para as gerais e cadeiras azuis. A maior parte do público estaria concentrada nas arquibancadas. Este setor ganharia uma divisão “natural”, entre as tribunas de honra e cadeiras especiais (também neutro), em que cada torcida de cada clube teria o seu local específico. Separadas pela tribuna e cadeiras especiais, de um lado, e pelo meio das arquibancadas (também neutro), de outro lado, as torcidas ganhariam maior identidade própria e, por outro lado, a alteridade serie mais evidenciada.
            Se o sucesso das torcidas organizadas no Maracanã  não se traduziu no seu crescimento numérico, pelo menos, serviu de modelo para os torcedores exteriorizarem seu sentimento de amor ao clube. Neste momento, os chefes de torcidas e/ou torcedores-símbolos acabavam por representar os milhares de torcedores “anônimos”, que representar somente sua torcida. Talvez, esta tenha sido uma das explicações para o não-surgimento de várias torcidas durante estes anos. Havia uma diluição de incentivo e organização em diferentes pontos das arquibancadas. Ao lado de uma massa una e coesa (imagem predominante da imprensa), criavam-se grupos semi-estruturados.
        João de Luca e os torcedores vascaínos tinham motivos de sobra para acreditar que o ano de 1951 seria um ano de novos títulos. Depois da conquista do título de 1950, realizada em janeiro de 1951, o esquadrão cruzmaltino enfrentou a base da seleção do Uruguai, o clube do Penarol, por duas vezes, em abril. E venceu nas duas oportunidades, tanto no Uruguai, no famoso Jogo da Vingança, como no Maracanã.
Pouco depois da Copa de 1950 ficou estabelecido pela FIFA que a Copa do Mundo em 1958 seria na Suécia. Daí surgir o convite dos suecos para a Vasco (o melhor time do Brasil e base da seleção que venceu os suecos por 7 a 1) fazer uma excursão aquele país. Porém, o Vasco declinou o convite pois estava preocupado em manter o elenco no Brasil para se preparar melhor diante do Torneio Internacional de Clubes Campeões – A Copa Rio. Então os suecos escolheram o Flamengo que excursionaria para a Europa pela primeira vez. Ou seja, há exatos 20 anos depois do Vasco. O sucesso do Almirante fazia os rivais reagirem indignados. José Lins do Rego exaltava a torcida do Flamengo: “o torcedor rubro-negro é um autêntico herói. Não é um rasga-carteira, não é um pessimista doente. Está sempre a espera da vitória mesmo quando lhe amarga a boca o perigo da derrota”(COUTINHO, 1995, p.341). Rego reivindica a construção de um monumento ao torcedor rubro-negro.
            O prestígio do Vasco era transferido para seu maior ídolo: no programa “No Mundo da Bola” da Rádio Nacional foi instituído um concurso famoso nos anos 1950: cada ouvinte deveria mandar para a emissora num envelope de Melhoral, o nome do jogador de futebol de sua preferência. O vencedor foi Ademir com 5.304.935 votos. O total de envelopes de Melhoral que chegou a estação foi de 19.105.856 votos.
            Os jogadores de futebol já competiam com os grandes ídolos do rádio e do cinema. Ainda com a TV dando os primeiros passos, o cinema era a maior diversão nacional: em 1950 o cinema recebeu um público total de 180.653.657 para 2.411 salas de exibição. Sendo que neste período a população brasileira era de aproximadamente 52.000.000 de habitantes.
            Em julho de 1951 começa o primeiro mundial de clubes disputado por 8 equipes da Europa e da América do Sul com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos estádios do Pacaembu e Maracanã. Em princípio, a lista dos participantes incluía clubes da Inglaterra e Espanha. Depois começaram a ocorrer as trocas, finalizando com a chegada ao Brasil do Olympique de Nice (da França), Estrela Vermelha (da Iugoslávia), Juventus (da Itália), Nacional (do Uruguai), Austria Viena (da Áustria) e Sporting (de Portugal).
A maior parte da imprensa esportiva brasileira apontava o Vasco da Gama como o grande favorito para conquistar a competição. Os resultados iniciais com duas goleadas por 5 a 1, confirmavam o favoritismo e o entusiasmo da torcida no Maracanã que recebeu, em média, 90.000 torcedores por partida. No entanto, o Palmeiras surpreende e derrota o Vasco nas semi-finais. O maior jogador da competição foi um ex-jogador do Vasco: Jair da Rosa Pinto, do Palmeiras.
            Nas finais disputadas no Maracanã (em duas partidas) contra o time italiano (Juventus), o Palmeiras conquista o seu grande título. Para surpresa dos paulistas, houve uma grande comemoração no Rio de Janeiro para do título feito pelos torcedores cariocas, quando a equipe palmeirense desfilou em carro aberto pela cidade. Na volta a São Paulo, o Palmeiras foi recebido por uma grande multidão na Estação Roosevelt. No trajeto entre a estação e o Parque Antártica, o povo aglomerou-se em todos os lugares possíveis para reverenciar os campeões.
            Restava aos vascaínos se resignar com a perda do título internacional e torcer pelo tricampeonato estadual. Uma das preocupações das torcidas organizadas durante os campeonatos cariocas eram os jogos contra os clubes de subúrbio e a força de suas torcidas em seus pequenos estádios, com o reforço das torcidas dos grandes clubes, rivais do Vasco. Os jornais convocavam os vascaínos para se juntarem a torcida com a sua tradicional faixa e os sons dos clarins:  “já funcionou no jogo contra o Canto do Rio, a Torcida Organizada Vascaína para o Tri Campeonato, tendo a frente João de Lucca, que atendendo ao apelo feito pelos jogadores, agora com Toni, para levar a todos os campos o tradicional grito de guerra que tanto incentivo e entusiasmo tem dado aos jogadores para a conquista da vitória. Amanhã, no Campo do São Cristóvão, lá estará a dupla De Lucca e Toni com os clarins e uma grande painel com a legenda “Com o Vasco, onde Estiver o Vasco”, esperando a colaboração de todos os Vascaínos[1].
Neste mesmo dia é anunciada a criação do monumento ao torcedor carioca em São Paulo, como parte das homenagens da diretoria do Palmeiras, campeão mundial em 1951 no Maracanã, que contou com o apoio dos cariocas. Na ocasião os três principais lideres da torcida carioca, João de Lucca, do Vasco, Jaime de Carvalho, do Flamengo e Antônio Leal Guimarães, do Fluminense, recebiam passagens para a capital paulista prestigiar o evento em comemoração a conquista da Copa Rio, o primeiro torneio internacional de clubes.
            Com a sequencia dos jogos do campeonato carioca, a equipe não consegue reeditar as grandes exibições do ano anterior e perde muitos jogos, inclusive para o Flamengo. O Vasco foi perder para o rival em setembro, depois de seis anos invicto. O Vasco ficou todo este tempo invicto, acumulando 15 vitórias e 5 empates (Assaf e Martins, 1999).
            Em outubro, o Jornal dos Sports promove durante o Fla-Flu uma competição entre as torcidas, tentando reeditar, agora no Maracanã, a disputa criada em 1936. A intenção dos criadores do evento era estimular o público a seguir o exemplo das principais lideranças das torcidas e dar maior visibilidade a festa que estas faziam. A partida contou ainda com a presença do Presidente da República, Getúlio Vargas, o que não era muito comum.
            Os dois clubes se juntavam a setores importantes da imprensa para garantir
 que o clássico “mais charmoso da cidade”, continuasse a ser o mais tradicional. O Expresso saía do trilho no final de 1951, mas prometia voltar no ano seguinte...
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal dos Sports 24 de Agosto de 1951

Vasco Jornal dos Sports 1951

Vasco Centro de Memória do Vasco 1951


domingo, 20 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1950 O EXPRESSO NA SELEÇÃO

marchinha Touradas  em Madri
milhares de torcedores na goleada do Brasil na Espanha

1950                    O Expresso na Seleção

Entre os preparativos da Copa do Mundo de 1950, a primeira a ser realizada no Brasil, estava a preocupação com o comportamento dos torcedores brasileiros durante os jogos. Havia o temor de invasões de campo, confusões e atitudes antiesportivas (como atirar objetos no gramado). Tudo isso poderia contribuir para manchar a imagem do país diante do resto do mundo. Portanto,   não era somente dentro do gramado e com o desempenho dos jogadores brasileiros que as autoridades imaginavam impressionar a população mundial. Um comportamento exemplar dos torcedores seria a demonstração cabal que nosso país estava no rumo certo. Era uma demonstração de que já éramos um “povo de civilizados”. Naquele momento a torcida dentro dos estádios representaria toda a nação brasileira.
Segundo a historiadora Gisella de Araújo Moura, em seu livro “O Rio Corre para o Maracanã”, os confrontos eram comuns em competições acirradas envolvendo os brasileiros e os clubes e selecionados estrangeiros: “Inicialmente, jornalistas, jogadores e dirigentes esportivos mostram-se bastante receosos quanto às reações da multidão, temendo excesso e desacato a torcedores estrangeiros. Os jornais estrangeiros publicam inclusive algumas noticias sobre invasões de campo e confusões nos gramados tropicais, gerando um certo receio no exterior em relação a postura da torcida brasileira durante o campeonato do mundo” (Moura,1998, p. 61).
A experiência de reunir mais de cem mil expectadores era aguardada com ansiedade. Na verdade ninguém sabia ou tinha certeza sobre a atitude dos torcedores diante de um estádio gigantesco. A presença massiva de 30 a 40 mil pessoas em São Januário (Rio de Janeiro) e Pacaembu (São Paulo) não era uma  novidade. Entretanto, previam-se públicos três, quatro ou cinco vezes maior. Como ia ser o comportamento, se apoiando ou não, por isso, deveriam ser tomadas algumas atitudes de preparação para o evento.
O primeiro sinal de que a seleção poderia enfrentar problemas com vaias dos torcedores veio através dos jogos-treino da seleção pouco antes da disputa: “o que angustia agora é o pessimismo da torcida, a desconfiança em relação aos jogadores e as suas possibilidades. A crença inabalável na conquista da taça cedeu lugar a um sentimento diametralmente oposto (...) o torcedor que paga ingresso para assistir aos jogos-treino, tomado pelo pânico de uma derrota, vaia o desempenho do escrete. Essa demonstração de inconformismo preocupa o técnico e os próprios  jogadores, que  se dirigem a torcida para lhe assegurar que estão cientes de sua responsabilidade”, é o que afirma a historiadora.
Do otimismo ao pessimismo, do nacionalismo ao bairrismo, do patriotismo ao clubismo. As tensões aumentam à medida que a proximidade do início da Copa se apresenta. Os jornais reproduzem e induzem os torcedores manifestarem suas diferenças.  Para os paulistas, a seleção tem muitos cariocas como titulares. No Rio, as torcidas cariocas acham que o técnico Flávio Costa privilegiou os jogadores do seu clube, o Vasco, com a convocação de 8 jogadores. Temia-se a união de torcedores cariocas contra a torcida vascaína. Apesar do reconhecimento da superioridade do clube de São Januário, para os torcedores rivais, a vitória da seleção seria mais um motivo de exaltação dos torcedores vascaínos. Como reconhece o jornalista Armando Nogueira, ao admitir como se sentia na época:  “Aflora outra vez em mim, a mágoa clubística.  Lanço sobre a equipe um olhar de botafoguense ressentido (...) Sete  (jogadores) são vascaínos (em campo). Velhos e mortais inimigos da pequena porém brava nação botafoguense (...) quer saber de uma coisa? Melhor mesmo que ganhe o Uruguai. Eles são gringos, vão todos embora daqui amanha. Ninguém vai encarnar em mim” (Nogueira, 1998. p.23).
Uma das estratégias para “controlar” a torcida seria a “eleição” de Jaime de Carvalho, da Charanga Rubro-Negra, como torcedor número um do Brasil. Cabia a Jaime de Carvalho simbolizar a torcida nacional. O mais importante era impedir o clubismo, dando lugar ao patriotismo. A conquista do campeonato não seria apenas o triunfo da seleção brasileira, mais a elevação da nação ao topo do sucesso mundial. Porém, no último treino da seleção no Maracanã (chamado de Estádio Municipal), justamente contra o Flamengo, a torcida (parte) gritava, aplaudia e vibrava somente com os jogadores rubro-negros. O que gerou discussão na imprensa no dia seguinte sobre a atitude dos torcedores. Alguns apoiavam (José Lins do Rego), enquanto outros manifestavam insatisfação com aquela “demonstração de antipatriotismo”.
Na estréia diante do México, um adversário considerado fácil, uma vitória tranqüila da seleção (4 a 0) acionava o otimismo de todos. Tudo saiu como previsto: a torcida apoiou, o time conseguiu mostrar logo sua superioridade. Nenhuma surpresa desagradável. A principal surpresa foi positiva: o público presente e o comparecimento de muitas famílias, principalmente mulheres, então afastadas nos últimos anos dos estádios. Para alguns jornalistas, o estádio gigantesco ofereceria conforto e comodidade ausentes dos estádios (mesmos os maiores) como São Januário e Pacaembu.
As vitórias expressivas diante da Suécia (7 a 1) e Espanha  (6 a 1), criaram otimismo sem igual entre os torcedores. A cada jogo novas demonstrações de carnavalização nas arquibancadas, de festas e mais festas, antes, durante e depois dos jogos. Nunca uma torcida foi tão criativa e empolgada como aquela que compareceu aos jogos finais. Na partida contra a temível Espanha, com a vitória consagradora a torcida inventou um novo canto de apoio: “quando o jogo se aproxima do final, a música torna a invadir o estádio. É a multidão que, numa explosão de alegria, lembra uma marchinha de um antigo carnaval e agita seus lenços brancos. Milhares de vozes cantam o refrão de Touradas de Madri, sucesso do carnaval de 1938”, como relata a pesquisadora Gisela Moura.
Restava o Uruguai, um adversário difícil, velho rival nos campeonatos sul americanos. Um time que merecia respeito dos torcedores. Contudo, o otimismo contagiou a todos. A vitória era vista como certa. Mais que isso, ela viria de goleada. Foi com esse sentimento que os torcedores partiram para o Maracanã para assistirem o triunfo final de um jogo memorável. O compositor Lamartine Babo, fez o hino da torcida brasileira para ser entoado por todos naquele jogo através do sistema de som dos auto-falante do estádio.
O público estimado na derrota de 2 a 1 para o Uruguai foi de 200.000 pessoas o que representava 10% de toda a população do Rio de Janeiro em 1950. A mesma platéia dos jogos anteriores caminha em direção ao estádio ainda mais numerosa: “são famílias inteiras, senhoras, gente nova, gente de idade (...) a festa comemorativa da vitória já esta preparada, fogos de artifício, bolas coloridas, confetes, serpentinas, bandas de musica e escolas de samba. Os rojões e batucadas começavam antes mesmo do inicio do jogo”.
As cenas de torcedores chorando melancolicamente seriam guardadas em fotos e filmes que registravam uma cena trágica e inesquecível para todos os observadores, amantes ou não do futebol. Para os jogadores uruguaios, a atitude respeitosa dos torcedores, que aplaudiram os vitoriosos ao final da partida, foi uma surpresa, pois eles imaginavam que os espectadores reagiriam de forma furiosa no estádio, hostilizando-os e provocando cenas de violência e irracionalismo com a derrota.
Muitos jornalistas estrangeiros que cobriam a Copa registravam em suas matérias a surpresa diante do comportamento ordeiro dos torcedores dentro e fora do estádio, apesar do resultado adverso. Para eles, que antes da Copa, demonstravam temor diante do público sul americano, aquela atitude teria que ser louvada.
A conduta exemplar da torcida durante todo o campeonato, fez o escritor José Lins do Rego, em 6 de agosto de 1950, sugerir em uma crônica a construção do monumento ao torcedor. “Estou inteiramente de acordo que se faça um monumento ao torcedor brasileiro. Nada mais justo que se ponha em arte a exuberância, a alegria e as tristezas de todos os que vão aos campos de football torcer pelas cores de sua paixão” (Jornal dos Sports). A verdade é que nada foi feito (COUTINHO, 1995, p.315).
Depois daquele jogo a seleção brasileira se apresentaria outras vezes para grandes platéias no Maracanã, como nos jogos de classificação para as próximas Copas do Mundo. No entanto, ele seria o palco maior nas disputas entre os clubes cariocas, estes sim, a partir de 1950, é que seriam os novos donos do estádio, que representaria um cartão postal do país, mas especialmente da cidade. Um palco para celebração dos futuros craques. O Maracanã era o teste definitivo para expressar a grandeza de paixão do carioca pelo futebol. Os próximos anos comprovarão que sua construção foi uma obra acertada.
Realmente a derrota em 1950 causou muitas tristezas nos torcedores brasileiros e, por isso, muitos jornalistas acreditavam que o próximo campeonato carioca seria o teste final para o gigantesco estádio e para uma geração de brilhantes jogadores dos anos 1940. Como o time do Vasco era a base da seleção de 1950, as atenções estavam todas voltadas para acompanhar o desempenho do “Expresso da Vitória”.
A verdade era que quando os anos 1950 começaram, a supremacia do Vasco no futebol carioca era incontestável.  O grande exemplo do poderio do clube de São Januário foi a sua maior “escrita” sobre o Flamengo: desde 13 de março de 1945, o Vasco não perdia para o Flamengo. Ao ver seu time perder mais uma partida para o Vasco por 4 a 1, em setembro de 1950, José Lins do Rego desabafava: “Não sou um homem amargo, sou um homem humilhado”.
Nos dois primeiros jogos entre Vasco e Flamengo no Maracanã o público presente não superou a marca dos 50.000 espectadores em cada confronto. Talvez pelo não comparecimento das torcidas que “já sabiam” do resultado. Os torcedores rubro-negros tinham motivos de sobra para ficarem em casa. Nas 13 primeiras partidas do clube no novo estádio, o Flamengo conseguiu a proeza de perder nove vezes!!!
O desespero do torcedor do Flamengo era já tema de um dos programas de humorismo maior audiência dos anos 50. Em “Edifício Balança, Mais Não Cai”, um grande sucesso da Rádio Nacional, entre os personagens criados por Max Nunes, famoso torcedor do América, estava o personagem Peladinho, fanático torcedor do Flamengo, interpretado pelo humorista Germano.
A suspeita de que os ídolos da Copa de 1950 fracassariam no campeonato carioca, ainda abalados pela perda do título mundial, era desfeita pelos jogadores vascaínos. Ademir, o grande nome do time, artilheiro da seleção na Copa, continuou sendo o mais festejado atacante do país e brilhou novamente junto com seus companheiros de clube e seleção, com a conquista do campeonato carioca de 1950[1].  O Vasco vence o América por 2 a 1, com um gol de Ademir. Em depoimento oral, o jornalista Sérgio Cabral, relembra a criatividade do torcedor ao unir a paixão pelo futebol com o ritmo das marchinhas de carnaval: “Um dos sucessos do carnaval de 1951 (a música já estava sendo cantada pelas ruas) era uma homenagem ao Edu, que era um aviador, que era do Clube dos Cafajestes, e que tinha morrido num acidente de avião. O refrão da música dizia:”zum, zum, zum, tá faltando um”. A música era uma homenagem ao Edu, era ele que estava faltando. E a torcida do Vasco cantava: zum,zum, zum, Vasco 2 a 1” (SILVA e SANTOS, 2006, p.347).
No final, muitos jogadores em campo sentiram a emoção de meses antes com o estádio lotado e o clima de decisão: “a grande arquibancada se encheu (...) o torcedor fazia as pazes com o futebol. Entrando em campo os jogadores poderiam experimentar essa alegria. Acabara-se a tragédia de 16 de julho. Com o Maracanã e a divisão “natural” das torcidas em lados opostos, a função das torcidas (entre outras, é claro) de reunir e mostrar a força dos torcedores do mesmo clube, estimulando seus respectivos times, foi diluída em diferentes pontos de cada lado.
Para um clube que já neste período sentia a dificuldade em acompanhar o crescimento das torcidas de Vasco, Fluminense, Flamengo e Botafogo, o América teve como consolo o sucesso das arrecadações nas rendas e as manchetes nos jornais. O recorde de rendas fez o América se interessar em contratar Heleno de Freitas para o campeonato de 1951 e completar as obras em seu estádio, que receberia o Vasco para sua inauguração (VALLE, p.259 e 267). O América constituía a quinta torcida do Rio e era ameaçado nesta época pela torcida do Bangu, empolgada com a contratação de Zizinho junto ao Flamengo, em março de 1950, quando o clube da zona oeste fez a maior contratação do futebol daquela época, retirando do Flamengo o seu maior ídolo.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Vencido pelo Vasco numa final disputada com o América somente no início de 1951. Aliás, esta seria a  marca dos anos 1950: vários campeonatos só terminariam nos anos seguintes.

Vasco Jornal O Globo 1950

Vasco Revista Sporte Ilustrado 1950

sábado, 19 de novembro de 2016

PEQUENOS VASCAÍNOS 1980: A MELHOR BATERIA DE TORCIDA DO BRASIL

Dona de uma das melhores baterias de Torcida Organizada do Rio, a Pequenos Vascaínos foi se constituindo em ponto de encontro dos que apreciam o ritmo de samba, inclusive de alguns vindo de Torcidas adversárias.
O maior orgulho da Torcida, segundo Zeca, é a sua Bateria. 
Composta por mais de 40 peças, ela chama a atenção nas arquibancadas do Maracanã não só por seu volume mas, principalmente, por sua harmonia.
“Ela é, sem dúvida; o ponto alto da nossa Torcida é o fator mais importante para o sucesso que nós alcançamos. Modéstia a parte; a Pequenos Vascaínos, tem hoje a melhor bateria de Torcida do Rio”.
Não é a toa que muitos integrantes de outras Torcidas gostam de parar algum tempo por lá e ajudar a tocar alguns instrumentos. E até mesmo de Torcidas adversárias vem alguns que já se tornaram verdadeiros fãs da bateria da Pequenos Vascaínos.
- O Niltinho, da Torcida Jovem do Flamengo é um deles. Quando o Vasco joga contra outro time que não seja o dele, ele está lá com a gente, levando no tarol ou no repique, informou.
Isso tudo ajudou a Torcida a crescer, de tal forma, que ela hoje é presença obrigatória em todos os compromissos do Vasco, seja no futebol, ou nos esportes amadores, no Rio e em todo o Brasil. De grande importância para o seu desenvolvimento é também a atuação constante de seus diretores: Cláudio Lopes, José Petito, Antônio dos Santos, Paulo Martins e Laerte Chagas que tem ajudado, inclusive, na parte financeira.
“Para se manter uma Torcida, sempre de bandeiras novas e couros esticados, não basta o espírito e o coração Vascaínos. É necessário, sobretudo o auxílio financeiro e graças a esses seis Diretores, é que temos sobrevivido, confessou Zeca.
Fonte: Jornal do Vasco 1980

Pequenos Vascaínos bateria década de 1980

Pequenos Vascaínos bateria década de 1980

Pequenos Vascaínos bateria década de 1980

Pequenos Vascaínos bateria década de 1980

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1949 GILDA NA COLINA

   “Heleno foi saudado com intermináveis palmas"
Primeiro treino do atacante no Vasco

1949                          Gilda na Colina
            
            A preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo em 1950 passava por um teste importante em São Januário com a competição do Sul-Americano em 1949. Com a ausência da Argentina, em função dos conflitos e do rompimento das relações em 1946, o maior adversário era o Uruguai. Mas, para surpresa geral, a final foi contra a seleção do Paraguai.
            Em maio o Arsenal, clube tradicional inglês, visitava o país pela primeira vez. Para a imprensa brasileira, era uma antecipação de uma possível final entre o selecionado inglês e o brasileiro para a Copa de 1950. Foram jogos que levaram milhares de pessoas a São Januário. Jogando contra Fluminense, Vasco e Flamengo, respectivamente, os ingleses puderam conhecer de perto a paixão dos brasileiros pelo esporte criado por eles.
            Nesta época estavam proibidas as substituições durante as partidas, menos nos jogos amistosos. No intervalo do jogo com o Arsenal, a torcida vascaína em coro pedia a entrada de Heleno já que o jogo estava empatado e todos queriam ver a estreia do atacante. Ao entrar em campo o novo ídolo contribuiu para a vitória dos brasileiros por 1 a 0. O craque temperamental voltava ao Rio depois de uma temporada frustrada na Argentina atuando pelo Boca Juniors.
Antes de ser contratado pelo Vasco, Heleno primeiro tentou voltar ao seu clube de coração, o Botafogo. No entanto, no início de 1949, a esperança de retornar ao clube e regressar aos braços da torcida havia fracassado. Após a recusa de seu ex-clube apareceu a oportunidade de Heleno integrar o “Expresso da Vitória”. Mesmo repleto de atacantes de primeira linha, a presença de Heleno era vista pelos dirigentes vascaínos como a oportunidade de aumentar a arrecadação do clube: “o primeiro treino de Heleno no Vasco foi cercado de grande expectativa. Portões abertos em São Januário, confusão do lado de fora, um desavisado que pelas redondezas passasse pensaria que era dia de jogo. Ao entrar com o novo uniforme, Heleno foi saudado com intermináveis palmas por vascaínos uniformizados (Neves, 2006, p.106). Em sua estréia contra o time inglês do Arsenal ele foi “aplaudido  por todos, ovação para Heleno. Quando o ídolo tocou pela primeira vez na bola gritos histéricos eclodiram no estádio” (Neves, op.cit., p.106). Sua volta não poderia ser em melhor hora e no time mais importante do país naquele momento:  atual campeão sul-americano e base da seleção na futura Copa de 50. A campanha  do Vasco em 1949 foi inesquecível e Heleno pode, pela primeira vez, comemorar um campeonato carioca. Invicto e com números impressionantes:   84 gols em 20 partidas.
            Nem tudo era festa, brigando com companheiros de clube, se indispondo com o técnico Flavio Costa, não foram poucas as vezes que Heleno se meteu em confusão também no Vasco. Brigava por tudo e com todos. Ao assistir a um jogo entre Vasco e Botafogo nas sociais de seu ex-clube, para sua surpresa, ele não foi poupado pelos seus fiéis admiradores. Acusado de traidor, o atacante acabou brigando com torcedores.
            Chamado de Gilda pelos adversários, o atacante se transformava e foi em um Vasco e Flamengo na Gavea que o tempo fechou. Hostilizado pela torcida rubor-negra, ele pula o alambrado e parte para cima dos torcedores rivais. (NEVES, 2006, p.204).
Este ano foi marcado por jogos internacionais e pela rivalidade entre as torcidas e seus maiores craques. Depois do Arsenal foi a vez da temporada do Rapid de Viena disputar partidas no Rio de Janeiro. Um episódio que marcou a torcida do Vasco foi a atitude do maior ídolo do Flamengo nos anos 1940, o meia Zizinho, que “deixou o gramado em face de uma recomendação da autoridade policial que surpreendeu o atleta rubro-negro fazendo gestos condenáveis para o público localizado na parte social do Vasco” era a notícia do Jornal dos Sports no dia 21 de junho. Em depoimento ao escritor Edilberto Coutinho (1995, p.264), o atleta dá sua versão para o incidente: “jogos em São Januário era vaia o tempo todo. Não podia ir na bola. A torcida me tratava como inimigo (..) naquele dia, não me contive. Deixei o calção cair até os pés. Aí veio um senhor que estava na social do Vasco exigir que eu fosse preso”.
            Outro jogo que mobilizou a atenção dos torcedores foi o clássico entre Vasco e Flamengo em São Januário. O Flamengo, liderado pelo ex-vascaíno Jair da Rosa Pinto faz 2 a 0 nos minutos iniciais. Em seguida Jair perde um gol feito. Então o Vasco iniciou uma fulminante reação, marcando um, dois, três, quatro, cinco gols, terminando com a goleada por 5 a 2 e a revolta da torcida rubro negra incentivada pelo locutor Ary Barroso que acusa o jogador de covardia e pede para a torcida invadir o vestiário e queimar a sua camisa. A lenda deste episódio marcou a vida de Jair que resolve abandonar o clube e se transferir para o Palmeiras.
            A rivalidade entre os dois clubes está em todos os lados. Em dezembro, um torcedor do Vasco incita a sua torcida ao distribuir ao manifesto contra o colunista do Jornal dos Sports, José Lins do Rego, pedindo uma grande vaia quando ele fosse novamente para a tribuna de honra em São Januário. O escritor resolve publicar o protesto em sua coluna com o título “as fúrias de um torcedor”. Este reclama do tratamento vip dado pelo seu clube para o colunista ao contrário “do grande número de sócios (que) assiste de pé, mal acomodado, acotovelado ou ensanduichado, as partidas do clube. Refastelado na tribuna de honra do nosso clube, o peralta torce rasgadamente contra este. Por isso, perguntamos aos vascaínos – que devemos fazer com o ‘do Rego’? É merecedor de uma grande vaia”.
            A década chega ao fim consagrando um dos maiores períodos de vitória para o clube e de profundas alegrias para a torcida vascaína que aguarda para o ano seguinte a Copa do Mundo de 1950 e sua estréia no Maracanã.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Revista da Semana 1949

Vasco Jornal O Globo Esportivo 1949







domingo, 13 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1948 O EXPRESSO CONQUISTA A AMÉRICA

“Tua imensa torcida é bem feliz
Norte-Sul, Norte-Sul deste país”
            Hino criado Lamartine Babo

1948             O Expresso conquista a América

Na década de 1940, durante o domínio do Expresso da Vitória, o carnaval dos vascaínos durava mais que 4 dias, se prolongando por semanas e até meses, como no ano de 1948. Entre o final de 1947 (conquista do campeonato carioca) e o título sul-americano em março de 1948, a torcida vascaína não teve tempo de descanso. Em janeiro os jornais noticiavam: “Promovida pela Legião da Vitória do Vasco da Gama, realiza-se hoje no trecho da Rua General Caldwell, entre a Avenida Presidente Vargas e Rua Frei Caneca, a maior Batalha de confete do ano, Milhares de lâmpadas, ornamentação soberba e três bandas de música, a saber: Banda Portugal, Banda da Polícia Militar e Banda Municipal (...) Um grande cortejo será formado na Praça da Bandeira, ás 22 horas, a fim de conduzir a Diretoria do Vasco ao local dos festejos. Os associados que desejarem incorporar-se ao mesmo, deverão comparecer as 21.30 horas, a Praça da Bandeira junto ao Cinema”[1].
Na volta da delegação para o Rio de Janeiro, em março, depois do inédito campeonato no Chile, a torcida vascaína preparou uma grande festa.  Os pesquisadores Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida, autores do livro "Um Expresso chamado Vitória” (2008), descrevem o cenário apoteótico na cidade em que “as ruas estavam repletas de torcedores de todos os clubes que levaram faixas e cartazes para saudar seus heróis. A chegada ao Santos Dumont aconteceu somente duas horas mais tarde. A multidão se apertava para recepcionar os campeões do continente (...) No trajeto até São Januário, mais folia: as avenidas Rio Branco e Presidente Vargas pareciam estar em plena época de Carnaval. Estampava-se no semblante de toda aquela gente um orgulho diferente de ser brasileiro. E tudo isso graças ao Expresso da Vitória”.
As conquistas internacionais do Vasco não se encerraram no Chile em 1948. Em junho, um atleta vascaíno do basquete (Alfredo da Motta) ganhava uma medalha de bronze, pela seleção brasileira nos Jogos Olímpicos em Londres. Era a pela primeira vez que o clube tinha um medalhista olímpico. Ainda neste mês o futebol inglês, representado pelo Southampton, fazia uma excursão pelo Rio de Janeiro, enfrentando os clubes cariocas. Depois de derrotar o Flamengo em São Januário, os ingleses seriam derrotados pelo Vasco. Fora de campo as duas torcidas travaram um duelo à parte. Antes da partida com o Vasco, o escritor José Lins do Rego escrevia em sua coluna no Jornal dos Sports no dia 10 de junho com a seguinte manchete: “Vamos torcer pelo Vasco” e faz um apelo nacionalista para que todos se unissem contra o rival estrangeiro: “a torcida vascaína que vaiou o Flamengo de modo tão fora de ética cometeu um erro tremendo (...) nós do Flamengo deveremos aplaudir os brasileiros do Vasco da Gama. Como se fossem os brasileiros do Flamengo”.
O sucesso do clube em campo era transferido também para os seus torcedores. Em julho, o jornalista Mario Filho escreve  três crônicas no Revista O Globo Sportivo, narrando o drama familiar de João de Luca, líder da torcida vascaína (TOV), casado com uma torcedora do Flamengo. Do início do namoro quando um não sabia o time do outro até a descoberta da divisão das paixões futebolísticas, cada um tentando respeitar o direito do outro de torcer pelo seu time. Em casa, no meio da poltrona, um objeto para lá de suspeito na residência de um vascaíno: uma almofada bordada pela noiva como enxoval do casamento com as cores do Flamengo: “João de Lucas (sic) só soube como era a almofada depois que se casou: uma almofada toda bordada, de seda vermelha e preta, e com um enorme escudo do Flamengo, bem no centro. A almofada ficou colocada no lugar de honra da sala de visitas da casa de João de Lucas, para escândalo de todo Vascaíno que aparecia por lá”. Para evitar a gozação dos amigos vascaínos, João encheu as paredes de flâmulas do Vasco. Quem passava pela rua via as flâmulas , pois as janelas da sala de visitas estavam sempre abertas, não via a almofada. Quem entrava, porem, olhava, como fascinado, para a almofada que Dona Helvecia tinha bordado”. Casados, eles não frequentavam os estádios, em casa sua esposa percebia que a alegria e a tristeza do marido variavam de acordo com o desempenho de seu time. Para surpresa de Lucas, sua esposa silenciosamente ia se tornando vascaína só de acompanhar a paixão do marido pelo clube. Ela faz um pedido para o marido lhe levar em São Januário para ver um Vasco e Flamengo: “Para não passar os domingos longe do De Lucas, dona Helvecia pedira para ver aquele Vasco e Flamengo. Podia ter escolhido outro jogo, antes ou depois, Mas não, escolhera justamente aquele jogo, um Vasco e Flamengo. Outro jogo não provaria nada, que ela não era Flamengo, que era Vasco. “Você quer saber de uma coisa, meu bem? Disse o De Lucas. “Foi Deus que mandou você hoje aqui”. Deus ou Nossa Senhora das Vitórias. Saíram os dois de braços dado de São Januário. A primeira coisa que João de Lucas fez foi dar sumiço na almofada toda bordada com o escudo do Flamengo”. Mario Filho termina de contar sua história que todo vascaíno queria ler. A esposa, em nome do amor, troca de clube e passa a torcer junto do marido pelo mesmo time.
            O jornalista Mario Filho vivia um momento especial com o início das obras de construção do Maracanã em agosto. A cada mês o jornalista fazia questão de comparecer com uma equipe de reportagem e registrar a evolução das obras e fiscalizar o cumprimento dos prazos. Ele que, no ano anterior, havia lançado sua principal obra, “O Negro no Futebol Brasileiro”.
Começa o campeonato carioca de 1948 e o favoritismo do Vasco leva a  sua torcida acompanhar com tranquilidade os jogos, com exceção de  um clássico em São Januário, que terminou em confusão envolvendo as torcidas quando “a cancha foi invadida por torcedores do Fluminense, que dominados pelo entusiasmo, chegaram até próximos as sociais cruzmaltinas. Foi então, que elementos do Vasco, tomando a invasão como um acinte, procuraram enfrentá-la. Houve discussão, desafios e agressão. Policiais fardados e em traje civil, aumentaram ainda mais a confusão, aqueles, principalmente, com franca distribuição de pancadas. Como se tratava de violência, muitos revidaram. E ai, aumentou a confusão porque um dos policiais puxou da arma e disparou-a. Ao tumulto, felizmente, vingou o bom senso da maioria”[2].
Pouco antes em um outro episódio, a torcida vascaína recebe os elogios de um cronista do Jornal dos Sports que mesmo perdendo em São Januário para o Boca Juniors por 5 a 3, não provocou protestos, pelo contrário: “gostei de ver o comportamento da torcida do Vasco (...) ouvi comentários de todas as matizes ao sair do estádio. E não ouvi um só que exprimisse mága, agravo ou ataques a diretoria ou ao técnico. Sofreu o Vasco uma derrota esmagadora, e a esta derrota não correspondeu a histerismo algum de sua torcida”.
            Para este campeonato carioca de 1948 tudo indicava que o Vasco venceria facilmente e levantaria o bicampeonato com facilidade. No entanto, em campo a surpresa foi o título do Botafogo com duas vitórias sobre o Vasco. A primeira em São Januário no primeiro turno e a segunda, na última partida disputada, no estádio de General Severiano. Com a vitória assegurada por 3 a 1, os torcedores botafoguenses levantavam os lenços brancos mostrando para os vascaínos o sinal de despedida do título de bicampeonato sonhado pelos vascaínos.
            O troco do Vasco seria no ano seguinte, com o maior ídolo do Botafogo nos anos 1940 vestindo a camisa do Vasco e sendo campeão carioca pelo primeira  e única vez.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal dos Sports 31 de Janeiro de 1948.
[2] Fonte: Jornal O Globo Esportivo 24 de Setembro de 1948.

Vasco Revista Careta 1948

Vasco Jornal O Globo Esportivo 1948