“Da
porrada na Raça e na Fiel, Força Jovem é cruel, el, el”
Canção contra as principais rivais do RJ e SP
1990 Derrotas na América, Itália e Brasil
O
ano começaria com grandes expectativas para a torcida vascaína pois
disputaríamos nossa segunda Taça Libertadores e tínhamos vários jogadores em
nível de seleção que se preparava para o mundial em junho na Itália.
È
a década de maior sucesso para a Força Jovem que se torna a principal torcida
organizada no Rio de Janeiro, junto com a Raça Rubro-negra. Neste período a FJV
adquire status de uma organização popular de alto nível de mobilização de
jovens, capaz de incomodar os poderosos dirigentes no campo esportivo e, por
outro lado, foi o alvo de constantes perseguições da imprensa, polícia e cartolas.
Em
março (dias 15 e 16) assume a presidência da República, Fernando Collor, 40
anos e torcedor do Flamengo. Logo em suas primeiras ações governamentais ele
surpreenderia a nação com a criação do Plano Collor, um plano que, entre outras
medidas, congela a poupança dos brasileiros para controlar a inflação que
chegou até 84% no mês anterior.
Alheios
às turbulências políticas e econômicas da vida nacional, um grupo da TOV
resolve fundar sua própria torcida no dia seguinte ao Plano Collor, era fundada
a torcida Tulipas Vascaínas, lideradas por antigos membros da TOV. Teve como
ponto de encontro o Bar do Valdir, no Maracanã, onde um grupo de amigos se
reunia para bater papo, jogar cartas e, é lógico, tomar uma cervejinha bem
gelada. O coletivo incipiente endossa o coro de não ser mais uma “torcida de
briga”: “é lastimável que as torcidas organizadas, tenham em seus quadros
sociais, componentes que não entendem o verdadeiro espírito de união de um
grupo que se diz organizado. Que esses arruaceiros acordem a tempo antes que os estádios se
esvaziem de vez”, argumenta César David, representante do grupo.
Foi
uma associação que conseguiu se manter ativa e com vida própria nos próximos
anos. Com um grupo reduzido mas animado, a torcida procurou não entrar em
oposição com o principal dirigente vascaíno.
Outra
torcida que manteve o apoio integral a Eurico nos anos 1990 foi a Pequenos
Vascaínos que completava 15 anos. Liderada por um comerciante (Zeca) em todo o
período ficou como o 3ª maior agrupamento em toda a década. A Pequenos
Vascaínos procurava seguir uma linha equidistante da FJV e proclamava sempre
sua “filosofia” com uma faixa ao lado de sua principal: “Vamos torcer sem
violência”.
Basicamente
a vida do clube nesta década girou em torno da figura do dirigente Eurico
Miranda e de sua principal torcida organizada: a Força Jovem. Eurico e a FJV
dominaram as atenções nos jornais e no xadrez do campo esportivo, cada
movimento de uma peça gerava a reação imediata do outro lado. Em princípio a
vantagem foi do cartola que se elegeu deputado federal em 1994 (85 mil votos
com apoio da FJV) e o mesmo cargo em 1998 (105 mil votos sem apoio da torcida).
Em campo, os jogadores vencem a Taça
Guanabara em 1990, fazendo a torcida acreditar na volta da seqüência positiva
de vitórias desde 1987, interrompida pelo campeonato de 1989 pelo Botafogo. E
foi com o alvinegro, campeão do segundo turno que o Vasco decidiu o campeonato.
Com um regulamento confuso, a última partida teve um desfecho inusitado com as
duas torcidas comemorando o título e os dois times dando a volta olímpica. No
tempo normal ocorre a vitória do Botafogo por 1 a 0 e na prorrogação empate sem
gols. Nos dias seguintes enquanto dirigentes e torcedores discutiam quem foi o
campeão, a federação confirmou o resultado final a favor do clube da Zona Sul.
A partir daí, as duas torcidas, que
sempre foram unidas e deram inúmeros exemplos de cordialidade, passam a se
estranhar. O desfecho foi uma briga entre as organizadas no final do ano
durante uma partida de juniores entre os dois clubes no estádio de Caio
Martins, em Niterói. As imagens do conflito foram amplamente exploradas pela
imprensa nos dias seguintes.
Dificuldade maior sofreram os
jogadores e o técnico da seleção brasileira, Sebastião Lazaroni, em junho após
a eliminação para a Argentina na pior campanha das últimas 3 Copas. Todos os
craques foram recebidos no aeroporto carioca com protestos e xingamentos. A
torcida recepcionou o grupo jogando dinheiro nos atletas acusando-os de
“mercenários”.
Lazaroni vai ser um dos mais
hostilizados neste período, sendo acusado de mudar o estilo de jogo brasileiro
com a escalação de um terceiro zagueiro, ao adotar o líbero. Esta posição não
era uma novidade no futebol europeu, mas o fracasso no mundial serviu de
pretexto para a revolta.
Dos convocados por Lazaroni, cinco
eram do Vasco (Acácio, Mazinho. Bismarck, Tita e Bebeto) mas nenhum deles se
tornou titular durante a competição. Entre os titulares, a maioria atuava no
exterior, assim como outros reservas (no total, 12 jogavam na Europa e 10 no
Brasil).
Em ano de eleição para deputados e
governadores, as torcidas começam a serem rotuladas pela imprensa como
organizações que agrupavam pessoas desonestas e facilmente manipuladas por
dirigentes que se transformavam em políticos. Em duas reportagens podemos
constatar isto. Na primeira, com o título “Espertos tomam conta das torcidas”[1],
aponta-se para o uso freqüente dos torcedores como cabos eleitorais de
dirigentes como, por exemplo, Marcio Braga. O amor desinteressado dos torcedores
do passado seria suplantado pelos interesses pecuniários que comandariam as
ações dos novos torcedores.
Em outra reportagem, a matéria
ironiza a ausência de protestos da torcida do Vasco mesmo com o time ficar 15
jogos sem vencer no campeonato brasileiro, pois “o clima é de harmonia entre
time e torcida”, afirma o texto jornalístico[2].
A Força Jovem continuava um processo
de fortalecimento interno e de grande repercussão para os próximos anos.
Praticamente são nestes anos (final dos anos 1980 e início de 1990), que vários
cânticos, bandeiras, comportamentos, gestos e atitudes se tornam a marca
registrada da organização. A começar pela coreografia e o principal grito de
guerra:
Força Jovem em
Posição, pra dispersar a multidão,
Força Jovem em
Movimento, pra dispersar o bem nojento,
Acima de Tudo,
Abaixo de nada, FOR-ÇA JOV-EM VAS-CO.
EU SOU DA
FORÇA JOVEM EU SOU, O BICHO VAI PEGAR E NINGUÉM VAI ME SEGURAR....
Este
é o período que a torcida lança seu primeiro informativo, ganha o logotipo com
as letras góticas, participa de viagens para Argentina e Colômbia e se
apresenta na Rádio Capital as segundas-feiras para defender a agremiação e
assegurar a confiança dos dirigentes do clube na maturidade das novas
lideranças.
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