quarta-feira, 19 de abril de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1990 DERROTAS NA AMÉRICA, ITÁLIA E BRASIL

                                 “Da porrada na Raça e na Fiel, Força Jovem é cruel, el, el”
                                             Canção contra as principais rivais do RJ e SP

1990           Derrotas na América, Itália e Brasil

O ano começaria com grandes expectativas para a torcida vascaína pois disputaríamos nossa segunda Taça Libertadores e tínhamos vários jogadores em nível de seleção que se preparava para o mundial em junho na Itália.
È a década de maior sucesso para a Força Jovem que se torna a principal torcida organizada no Rio de Janeiro, junto com a Raça Rubro-negra. Neste período a FJV adquire status de uma organização popular de alto nível de mobilização de jovens, capaz de incomodar os poderosos dirigentes no campo esportivo e, por outro lado, foi o alvo de constantes perseguições da imprensa, polícia e cartolas.
Em março (dias 15 e 16) assume a presidência da República, Fernando Collor, 40 anos e torcedor do Flamengo. Logo em suas primeiras ações governamentais ele surpreenderia a nação com a criação do Plano Collor, um plano que, entre outras medidas, congela a poupança dos brasileiros para controlar a inflação que chegou até 84% no mês anterior.
Alheios às turbulências políticas e econômicas da vida nacional, um grupo da TOV resolve fundar sua própria torcida no dia seguinte ao Plano Collor, era fundada a torcida Tulipas Vascaínas, lideradas por antigos membros da TOV. Teve como ponto de encontro o Bar do Valdir, no Maracanã, onde um grupo de amigos se reunia para bater papo, jogar cartas e, é lógico, tomar uma cervejinha bem gelada. O coletivo incipiente endossa o coro de não ser mais uma “torcida de briga”: “é lastimável que as torcidas organizadas, tenham em seus quadros sociais, componentes que não entendem o verdadeiro espírito de união de um grupo que se diz organizado. Que esses arruaceiros  acordem a tempo antes que os estádios se esvaziem de vez”, argumenta César David, representante do grupo.
Foi uma associação que conseguiu se manter ativa e com vida própria nos próximos anos. Com um grupo reduzido mas animado, a torcida procurou não entrar em oposição com o principal dirigente vascaíno.
Outra torcida que manteve o apoio integral a Eurico nos anos 1990 foi a Pequenos Vascaínos que completava 15 anos. Liderada por um comerciante (Zeca) em todo o período ficou como o 3ª maior agrupamento em toda a década. A Pequenos Vascaínos procurava seguir uma linha equidistante da FJV e proclamava sempre sua “filosofia” com uma faixa ao lado de sua principal: “Vamos torcer sem violência”.
Basicamente a vida do clube nesta década girou em torno da figura do dirigente Eurico Miranda e de sua principal torcida organizada: a Força Jovem. Eurico e a FJV dominaram as atenções nos jornais e no xadrez do campo esportivo, cada movimento de uma peça gerava a reação imediata do outro lado. Em princípio a vantagem foi do cartola que se elegeu deputado federal em 1994 (85 mil votos com apoio da FJV) e o mesmo cargo em 1998 (105 mil votos sem apoio da torcida).
            Em campo, os jogadores vencem a Taça Guanabara em 1990, fazendo a torcida acreditar na volta da seqüência positiva de vitórias desde 1987, interrompida pelo campeonato de 1989 pelo Botafogo. E foi com o alvinegro, campeão do segundo turno que o Vasco decidiu o campeonato. Com um regulamento confuso, a última partida teve um desfecho inusitado com as duas torcidas comemorando o título e os dois times dando a volta olímpica. No tempo normal ocorre a vitória do Botafogo por 1 a 0 e na prorrogação empate sem gols. Nos dias seguintes enquanto dirigentes e torcedores discutiam quem foi o campeão, a federação confirmou o resultado final a favor do clube da Zona Sul.
            A partir daí, as duas torcidas, que sempre foram unidas e deram inúmeros exemplos de cordialidade, passam a se estranhar. O desfecho foi uma briga entre as organizadas no final do ano durante uma partida de juniores entre os dois clubes no estádio de Caio Martins, em Niterói. As imagens do conflito foram amplamente exploradas pela imprensa nos dias seguintes.
            Dificuldade maior sofreram os jogadores e o técnico da seleção brasileira, Sebastião Lazaroni, em junho após a eliminação para a Argentina na pior campanha das últimas 3 Copas. Todos os craques foram recebidos no aeroporto carioca com protestos e xingamentos. A torcida recepcionou o grupo jogando dinheiro nos atletas acusando-os de “mercenários”.
            Lazaroni vai ser um dos mais hostilizados neste período, sendo acusado de mudar o estilo de jogo brasileiro com a escalação de um terceiro zagueiro, ao adotar o líbero. Esta posição não era uma novidade no futebol europeu, mas o fracasso no mundial serviu de pretexto para a revolta.
            Dos convocados por Lazaroni, cinco eram do Vasco (Acácio, Mazinho. Bismarck, Tita e Bebeto) mas nenhum deles se tornou titular durante a competição. Entre os titulares, a maioria atuava no exterior, assim como outros reservas (no total, 12 jogavam na Europa e 10 no Brasil).
            Em ano de eleição para deputados e governadores, as torcidas começam a serem rotuladas pela imprensa como organizações que agrupavam pessoas desonestas e facilmente manipuladas por dirigentes que se transformavam em políticos. Em duas reportagens podemos constatar isto. Na primeira, com o título “Espertos tomam conta das torcidas”[1], aponta-se para o uso freqüente dos torcedores como cabos eleitorais de dirigentes como, por exemplo, Marcio Braga. O amor desinteressado dos torcedores do passado seria suplantado pelos interesses pecuniários que comandariam as ações dos novos torcedores.
            Em outra reportagem, a matéria ironiza a ausência de protestos da torcida do Vasco mesmo com o time ficar 15 jogos sem vencer no campeonato brasileiro, pois “o clima é de harmonia entre time e torcida”, afirma o texto jornalístico[2].
            A Força Jovem continuava um processo de fortalecimento interno e de grande repercussão para os próximos anos. Praticamente são nestes anos (final dos anos 1980 e início de 1990), que vários cânticos, bandeiras, comportamentos, gestos e atitudes se tornam a marca registrada da organização. A começar pela coreografia e o principal grito de guerra:
Força Jovem em Posição, pra dispersar a multidão,
Força Jovem em Movimento, pra dispersar o bem nojento,
Acima de Tudo, Abaixo de nada, FOR-ÇA JOV-EM VAS-CO.
EU SOU DA FORÇA JOVEM EU SOU, O BICHO VAI PEGAR E NINGUÉM VAI ME SEGURAR....
Este é o período que a torcida lança seu primeiro informativo, ganha o logotipo com as letras góticas, participa de viagens para Argentina e Colômbia e se apresenta na Rádio Capital as segundas-feiras para defender a agremiação e assegurar a confiança dos dirigentes do clube na maturidade das novas lideranças.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Folha de São Paulo 03 de Julho de 1990.
[2] Fonte: Jornal do Brasil 07 de Outubro de 1990.

Vasco 1990

Vasco Jornal da Força Jovem 1990

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