“Olé. Olé, Olé”
Grito das torcidas
1962 A Banda do Almirante
Nem
mesmo a temática nacionalista presente em todo o período de redemocratização
(1946-1964) entusiasmava os diversos setores organizados da sociedade de
encararem o futebol como um campo mobilizador da mesma. Durante este período,
predominou uma visão distanciada de muitos segmentos diante da capacidade
afetiva que o futebol alimentava. O
futebol, para muitos, ainda era um assunto “sem grande importância”. Caberia
aos partidos e sindicatos representar o que de mais avançado proporcionaria as
mudanças.
Num
momento em que o futebol europeu passava por mudanças com o crescimento de
profissionalismo de seus dirigentes, no Brasil, predominavam estruturas
arcaicas, levando ao continuísmo nos clubes de uma estrutura amadora que,
porém, contrastava com o significativo aumento das arrecadações dos clubes e o
fortalecimento econômico das entidades representativas (HELAL, 1997; AGOSTINO,
2002).
Conquistando
a simpatia de sócios e torcedores, muitos dirigentes se aproveitavam da
publicidade constante para se promoverem e se beneficiarem. Alguns fizeram
longas carreiras dentro dos clubes e outros lucravam com sua rede de relações:
“os dirigentes dos clubes, muitos deles ex-interventores de Vargas ou ligados
diretamente a máquina burocrática do Estado, em geral brancos e pertencentes a
elite, tinham terreno aberto para suas
ambições políticas” (FRANCO JUNIOR, 2007, p.86).
A
rigor, até hoje a história oficial dos clubes é marcada por uma sucessão de
nomes de presidentes, sendo poucas as referências sobre as dissensões e
disputadas internas na política dos clubes. São raros os livros que mencionam,
minimamente, a face oculta das brigas internas, dos candidatos e movimentos
derrotados, de nomes que não chegaram ao poder nos clubes. A história dos
clubes no Rio de Janeiro, mais independente e crítica, ainda está por se fazer.
No
terreno do futebol, a vitória do Bicampeonato Mundial no Chile, em 1962, dava
ao Brasil a hegemonia no futebol mundial. Ainda nesta época é possível
identificar algumas mudanças que se operavam no interior das relações entre
esporte-sociedade. Na imprensa e no mercado editorial, o cultivo do espírito
crítico penetrava de forma tímida: obras da literatura esportiva começavam a
tratar o futebol por um novo ângulo.
O ambiente conturbado no Vasco contrastava com a
alegria da torcida brasileira com a conquista do torneio no Chile. Para a
torcida vascaína o mais importante era conseguir um campeonato carioca:
“Faixas, vaias, foguetes e crise de nervos. Fora do campo, muita coisa
aconteceu ontem em São Januário e a crise na Diretoria Vascaína parece que não
está ultrapassada, pois alguns dirigentes marcaram suas renúncias para hoje.
Entretanto, várias surpresas estavam sendo aguardadas por aqueles que
compareceram a São Januário, a começar pelo 0 x 0 frente ao Madureira. FAIXAS
PEDINDO VOLTA A saída de Manoel Joaquim Lopes provocou algumas discussões entre
os Vascaínos associados e torcedores. Os que não puderam participar das
reuniões, que chamaríamos de cúpula, resolveram apelar para as faixas.
“Queremos Manoel Joaquim Lopes” estava no meio da arquibancada, enquanto o ex
Vice Presidente de futebol estava no meio dos associados.”[1].
Dois meses depois a torcida dava uma trégua na luta
dos dirigentes e se voltava para reorganizar sua parte musical com a doença de
Ramalho: “Idealizada pelos torcedores Laerte e Gadelha, contando com o pronto
apoio de Dulce Rosalina, Domingos Ramalho e Fernando, surgirá domingo,
incentivando os craques Vascaínos a Banda do Almirante, com pistões,
clarinetes, chucalhos, reco recos. Músicos profissionais e amadores vão
colaborar no empreendimento, que terá o prestigio de comparecimento em massa
dos Vascaínos das três armas. A idéia surgiu quando Ramalho foi operado e
proibido de tocar seu talo de mamona, para não desaparecer o toque da vitória.
Dulce Rosalina pede aos torcedores que levem confetes e serpentinas, mas que
deixem os fogos. A vaia aos craques do Vasco foi abolida e a iniciativa
despertou o interesse dos próprios jogadores a ponto de Russo querer assinar na
lista para a compra de instrumentos[2].
O
crescimento da torcida do Botafogo e a formação da “Geração Garrincha”, foi a
marca principal da época. Se o time do Botafogo era uma verdadeira seleção, a
atração de Garrincha por si só fazia com que muitos torcedores de outros clubes
fossem assistir aos jogos do Botafogo somente para apreciar o grande
ponta-direita. Talvez apenas um outro jogador nos anos 1960 conseguiu fazer torcedores
de outros clubes torcerem por ele: Pelé. O atacante do Santos fez do Maracanã
seu palco principal e não foi a toa que o estádio entraria para a sua história
pessoal em diversas ocasiões. Como o gol de placa marcado contra o Fluminense
em 1961 e o 7 a 1 sobre o Flamengo, no mesmo ano.
Pelé
e o Santos fizeram muito sucesso no futebol brasileiro nos anos 1960.
Entretanto, como o Santos não possuía uma grande torcida (ainda estava nascendo
a “Geração Pelé”), o clube optou por fazer jogos importantes no Maracanã (para
evitar a torcida contra dos paulistas: Palmeiras, Corinthians e São Paulo) foi
então chamado de “o time mais carioca” (Nelson Rodrigues). Para o escritor
somente no Maracanã é que o Santos, empurrado pela torcida carioca podia exibir
todo o seu potencial. Nos jogos dos campeonatos mundiais do Santos contra Milan
e Benfica, a presença dos torcedores de todos os clubes cariocas com suas
bandeiras e gritos de apoio, foram decisivos.
Enquanto
Pelé vivia uma carreira em ascensão, Garrincha após 1963 enfrentaria sérios
problemas físicos e enfrentaria até mesmo protesto dos torcedores acusando-o em
sua vida particular, como o caso Elza Soares, de estar prejudicando o seu
rendimento em campo. Para alguns torcedores do Botafogo, liderados pelo chefe de
torcida Tarzan, Garrincha não deveria se comportar como vinha se comportando.
Ruy Castro relata os problemas que Garrincha enfrentava: “A torcida organizada
do Botafogo, chefiada pelo musculoso Octacílio Batista do Nascimento, “Tarzan”,
começara a marcá-lo na pinta” (Castro, 1995, p. 275) mais adiante, Tarzan
declarava sobre o pedido de aumento do jogador: “Quem Garrincha acha que é para
valer tanto? É nisso que dá o Botafogo não o ter punido antes” (Castro, 1996,
p.338).
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