quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1961 TORCEDORA Nº 1

                                                       “Felicidade, teu nome é Vasco”
                                                                  faixa da torcida

1961                             Torcedora N° 1

O sucesso da seleção brasileira se refletia em estádios cheios e em maiores investimentos dos meios de comunicação com o futebol. A partir de 1959 uma nova revista estava nas bancas: a “Revista do Esporte” fazia sua estréia em março daquele ano. Ela seria um sucesso nos anos seguintes e ocuparia a lacuna da Manchete Esportiva (1955-1959).
Nesta década o prestígio de Dulce Rosalina era tamanho, que numa eleição promovida pela própria Revista do Esporte (entre dezembro de 1959 e abril de 1960), ela derrotou Jayme de Carvalho do Flamengo e Eliza do Corinthians, ficando com o título de Torcedora nº 1 do Brasil.
Na mesma época a torcida do Vasco dava nova demonstração de sua força com a vitória na disputa promovida pelo jornal A Noite que lançou o desafio de trazer o Real Madrid ao Rio de Janeiro, pela primeira vez, para disputar um amistoso com o clube que desse mais votos no concurso lançado. O Vasco venceu com 30 mil votos, superando o segundo colocado, o Flamengo. A líder da torcida vascaína foi uma das maiores incentivadoras para promover a partida: “Dulce Rosalina, chefe da Torcida Organizada do Vasco, esteve ontem na redação de A Noite, onde declarou não temer nadinha o jogo com o Real, pois quando há perigo ela sente a derrota na alma e agora tem quase certeza (pode até jurar) que o Vasco vencerá o grande match”.
Este duelo está no livro “Jogos Memoráveis do Vasco”, resultado de uma minuciosa pesquisa para escolher as 30 mais importantes partidas do clube ao longo de toda a sua trajetória. O jogo levou uma verdadeira multidão ao Maracanã motivada com ingressos a preços populares em pedido feito pelos dirigentes vascaínos atendendo uma reivindicação de sua torcida: “até o amistoso com o Real Madrid, em 08 de Fevereiro de 1961, o maior público no Maracanã fora o de 16 de Julho, da final da Copa do Mundo: 199.854 presentes, dos quais 173.850 pagaram. Vieram, então, os merengues, 11 anos depois. Com a imprensa carioca badalando o encontro, os dois times iriam para o seu quarto duelo, um desempate, já que havia uma vitória para cada lado e uma igualdade. Era o "Jogo do Século", mesmo com o Vasco em quinto lugar no Campeonato Carioca. Para o torcedor, porém, o que importava era ver em ação o assombroso melhor time do planeta. Mais de 140 mil foram ao Estádio, dos quais 122.038 compraram ingresso, gerando o maior público de jogo de um clube sul-americano”[1].
A motivação da torcida vascaína implicava em trazer novidades. Até então o som das charangas, fogos e buzinas eram os sons característicos, além do talo de Ramalho, porém, lançou-se o recurso de uma maior aproximação com os sambistas trazendo vários instrumentos que davam uma sonoridade típica de uma agremiação carnavalesca para espanto de alguns jornalistas: “a torcida do Vasco da Gama apareceu no Maracanã, na noite do jogo com o Botafogo (18 de Março), organizada em Escola de Samba: surdos, taróis, pandeiros, tamborins, agogôs, caçarolas, reco-recos e coral. Enquanto não se definiu a derrota, aquela gente tocou samba, fazendo um barulho infernal que prejudicava a atenção do público e quero crer, o próprio trabalho do árbitro. Entende-se que na comemoração de um gol, por minutos, bate-se o bumbo nas arquibancadas, onde, por sinal, já nos enervam os foguetes mortais do Tarzan (Chefe da Torcida Organizada do Botafogo), as clarinetas do mamoeiro Ramalho, as buzinas dos flamenguistas e os sinos tricolores. Vá lá que no instante da grande emoção de um gol tudo isso aconteça, deve ser a alma do povo que se exprime por tais instrumentos. Mas sambar o jogo inteiro, tocando tambores infernais, taróis diabólicos, surdos demoníacos, isso é demais”[2].
A música brasileira estava em alta assim como a seleção brasileira que buscaria no ano seguinte a conquista do bicampeonato mundial. Com o sucesso da campanha para trazer o Real Madri, o jornal A Noite promove uma nova iniciativa envolvendo os torcedores, motivando vários torcedores-simbolos em uma nova disputa: “dizendo que sua maior vontade é ver o Brasil levantar o Campeonato Mundial de Santiago e estar presente com a sua mamona, no Chile, Domingos Ramalho, fervoroso torcedor do Vasco e que sacode o Maracanã e outros estádios com o som do talo que carrega, disse que já esta participando do concurso promovido por A Noite e Rádio Nacional e quer ser um dos 20 premiados, a fim de dirigir o grupo brasileiro, nos Andes, e ver de perto os jogos do nosso Scratch que, na vez passada na Suécia, não foi possível”[3].
No final do ano o jornalista Mario Filho, dono do Jornal dos Sports, também lança a sua campanha. Desta vez a disputa era saber “qual era o jogador mais querido no Rio de Janeiro”. Cada clube teve direito de indicar um jogador. Eis a lista: Bellini, pelo Vasco; Garrincha, pelo Botafogo; Castilho, pelo Fluminense e Babá, pelo Flamengo, foram os principais concorrentes. Durante sete semanas o jornal publicava um cupom diário para ser enviado pelos leitores correspondendo a 1 voto. Faltando poucas semanas para o resultado final e sabendo o resultado parcial favorável a Bellini (com mais de 20 mil votos de diferença), vários “figurões” do Botafogo se mobilizaram para comprar grandes quantidades de jornal e dar a vitória para Garrincha. O saldo final foi favorável ao atacante alvinegro com 300.247 votos contra 245.308 de Bellini (Castro, 1996, p.328).
Neste mesmo período ocorreria a disputa pela presidência do clube com dois candidatos disputando a preferência da ajuda dos torcedores mais conhecidos. De um lado ficava o ex-presidente da TOV, João de Lucca, apoiando a “Velha Guarda”, e Dulce e Ramalho com o candidato da chapa Tradição. A reportagem dá total apoio a De Lucca que ameaça: “Deixei a liderança a conselho médico, pois diversas vezes perdi o sentido em razão da agitação que as emoções de um jogo do Vasco me provocam, mas, se for preciso que volte para fazer retornar a torcida que nós criamos, com os mesmos objetivos, não teria dúvidas em sacrificar-me de novo, pois a causa vale, embora recorresse aos muitos valores novos que surgiram”. “Vi uma coisa que me deixou triste”, lembrou De Lucca, quando nossa Torcida se levantava até os adversários ficavam admirados, mas no outro dia aconteceu o contrário. Até Vascaínos deram vaia. Foi um jogo feminino, contra o Botafogo, quando nossos atletas precisavam de incentivo, Ramalho tocou seu instrumento (talo de mamona) e quando todos esperavam que desse o Casaca ou gritasse Vasco, fez propaganda da Tradição. Não é essa a finalidade da Torcida, e para que aquele acontecimento triste não se repita, faço um apelo a Dulce e ao Ramalho, não desvirtuem o sentido que criou nossa Torcida, e obedecendo ao lema “Com O Vasco Onde Estiver O Vasco”. Nunca pedi nada aos meus amigos para mim, mas para o Vasco eu peço, não deixem de comparecer ao Cineac, dia 14, para votar na Chapa da Velha Guarda, pois essas eleições são de grande importância para a vida do Vasco da Gama e podem significar a volta do Expresso da Vitória”[4]. Ao final da disputa venceu João da Silva Rocha da Chapa “Velha Guarda” com 3.104 votos contra 1.586 da Tradição. Esta foi a disputa que mobilizou mais sócios entre todos os clubes da cidade de todos os tempos. Um recorde de votantes!!!
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: http://kikedabola.blogspot.com.br/2012/02/o-jogo-do-seculo-vasco-2-x-2-real.html
[2] Fonte: Fonte Jornal Diário Carioca 23 de Março de 1961.
[3] Fonte: Jornal A Noite 25 de Julho de 1961.
[4] Fonte: Jornal Diário Carioca 04 de Novembro de 1961

Vasco Revista do Esporte 1960

Vasco Jornal O Globo 1961


Um comentário:

  1. No livro do Ruy Castro ( Garrincha, a estrela solitária) ele diz que Bellini ganhou um terreno em Cabo Frio no concurso de maior idolo do país

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