“Felicidade, teu nome é Vasco”
faixa da torcida
1961 Torcedora N° 1
O
sucesso da seleção brasileira se refletia em estádios cheios e em maiores investimentos
dos meios de comunicação com o futebol. A partir de 1959 uma nova revista
estava nas bancas: a “Revista do Esporte” fazia sua estréia em março daquele
ano. Ela seria um sucesso nos anos seguintes e ocuparia a lacuna da Manchete
Esportiva (1955-1959).
Nesta
década o prestígio de Dulce Rosalina era tamanho, que numa eleição promovida
pela própria Revista do
Esporte (entre dezembro de 1959 e abril de 1960), ela derrotou
Jayme de Carvalho do Flamengo e Eliza do Corinthians, ficando com o título de
Torcedora nº 1 do Brasil.
Na mesma época a torcida do Vasco dava nova
demonstração de sua força com a vitória na disputa promovida pelo jornal A
Noite que lançou o desafio de trazer o Real Madrid ao Rio de Janeiro, pela
primeira vez, para disputar um amistoso com o clube que desse mais votos no
concurso lançado. O Vasco venceu com 30 mil votos, superando o segundo
colocado, o Flamengo. A líder da torcida vascaína foi uma das maiores
incentivadoras para promover a partida: “Dulce Rosalina, chefe da Torcida Organizada
do Vasco, esteve ontem na redação de A Noite, onde declarou não temer nadinha o
jogo com o Real, pois quando há perigo ela sente a derrota na alma e agora tem
quase certeza (pode até jurar) que o Vasco vencerá o grande match”.
Este duelo está no livro “Jogos Memoráveis do Vasco”,
resultado de uma minuciosa pesquisa para escolher as 30 mais importantes
partidas do clube ao longo de toda a sua trajetória. O jogo levou uma
verdadeira multidão ao Maracanã motivada com ingressos a preços populares em
pedido feito pelos dirigentes vascaínos atendendo uma reivindicação de sua
torcida: “até o amistoso com o Real Madrid, em 08 de Fevereiro de 1961, o maior
público no Maracanã fora o de 16 de Julho, da final da Copa do Mundo: 199.854
presentes, dos quais 173.850 pagaram. Vieram, então, os merengues, 11 anos
depois. Com a imprensa carioca badalando o encontro, os dois times iriam
para o seu quarto duelo, um desempate, já que havia uma vitória para cada lado
e uma igualdade. Era o "Jogo do Século", mesmo com o Vasco em
quinto lugar no Campeonato Carioca. Para o torcedor, porém, o que importava era
ver em ação o assombroso melhor time do planeta. Mais de 140 mil foram ao
Estádio, dos quais 122.038 compraram ingresso, gerando o maior público
de jogo de um clube sul-americano”[1].
A motivação da torcida vascaína implicava em trazer
novidades. Até então o som das charangas, fogos e buzinas eram os sons
característicos, além do talo de Ramalho, porém, lançou-se o recurso de uma
maior aproximação com os sambistas trazendo vários instrumentos que davam uma
sonoridade típica de uma agremiação carnavalesca para espanto de alguns
jornalistas: “a torcida do Vasco da Gama apareceu no Maracanã, na noite do jogo
com o Botafogo (18 de Março), organizada em Escola de Samba: surdos, taróis,
pandeiros, tamborins, agogôs, caçarolas, reco-recos e coral. Enquanto não se
definiu a derrota, aquela gente tocou samba, fazendo um barulho infernal que
prejudicava a atenção do público e quero crer, o próprio trabalho do árbitro.
Entende-se que na comemoração de um gol, por minutos, bate-se o bumbo nas
arquibancadas, onde, por sinal, já nos enervam os foguetes mortais do Tarzan
(Chefe da Torcida Organizada do Botafogo), as clarinetas do mamoeiro Ramalho,
as buzinas dos flamenguistas e os sinos tricolores. Vá lá que no instante da
grande emoção de um gol tudo isso aconteça, deve ser a alma do povo que se
exprime por tais instrumentos. Mas sambar o jogo inteiro, tocando tambores
infernais, taróis diabólicos, surdos demoníacos, isso é demais”[2].
A música brasileira estava em alta assim como a
seleção brasileira que buscaria no ano seguinte a conquista do bicampeonato
mundial. Com o sucesso da campanha para trazer o Real Madri, o jornal A Noite
promove uma nova iniciativa envolvendo os torcedores, motivando vários
torcedores-simbolos em uma nova disputa: “dizendo que sua maior vontade é ver o
Brasil levantar o Campeonato Mundial de Santiago e estar presente com a sua
mamona, no Chile, Domingos Ramalho, fervoroso torcedor do Vasco e que sacode o
Maracanã e outros estádios com o som do talo que carrega, disse que já esta
participando do concurso promovido por A Noite e Rádio Nacional e quer ser um
dos 20 premiados, a fim de dirigir o grupo brasileiro, nos Andes, e ver de
perto os jogos do nosso Scratch que, na vez passada na Suécia, não foi
possível”[3].
No final do ano o jornalista Mario Filho, dono do
Jornal dos Sports, também lança a sua campanha. Desta vez a disputa era saber “qual era o jogador mais querido
no Rio de Janeiro”. Cada clube teve direito de indicar um jogador. Eis a lista:
Bellini, pelo Vasco; Garrincha, pelo Botafogo; Castilho, pelo Fluminense e
Babá, pelo Flamengo, foram os principais concorrentes. Durante sete semanas o
jornal publicava um cupom diário para ser enviado pelos leitores correspondendo
a 1 voto. Faltando poucas semanas para o resultado final e sabendo o resultado
parcial favorável a Bellini (com mais de 20 mil votos de diferença), vários
“figurões” do Botafogo se mobilizaram para comprar grandes quantidades de
jornal e dar a vitória para Garrincha. O saldo final foi favorável ao atacante
alvinegro com 300.247 votos contra 245.308 de Bellini (Castro, 1996, p.328).
Neste
mesmo período ocorreria a disputa pela presidência do clube com dois candidatos
disputando a preferência da ajuda dos torcedores mais conhecidos. De um lado
ficava o ex-presidente da TOV, João de Lucca, apoiando a “Velha Guarda”, e
Dulce e Ramalho com o candidato da chapa Tradição. A reportagem dá total apoio
a De Lucca que ameaça: “Deixei a liderança a conselho médico, pois diversas
vezes perdi o sentido em razão da agitação que as emoções de um jogo do Vasco
me provocam, mas, se for preciso que volte para fazer retornar a torcida que
nós criamos, com os mesmos objetivos, não teria dúvidas em sacrificar-me de
novo, pois a causa vale, embora recorresse aos muitos valores novos que
surgiram”. “Vi uma coisa que me deixou triste”, lembrou De Lucca, quando nossa
Torcida se levantava até os adversários ficavam admirados, mas no outro dia
aconteceu o contrário. Até Vascaínos deram vaia. Foi um jogo feminino, contra o
Botafogo, quando nossos atletas precisavam de incentivo, Ramalho tocou seu
instrumento (talo de mamona) e quando todos esperavam que desse o Casaca ou
gritasse Vasco, fez propaganda da Tradição. Não é essa a finalidade da Torcida,
e para que aquele acontecimento triste não se repita, faço um apelo a Dulce e
ao Ramalho, não desvirtuem o sentido que criou nossa Torcida, e obedecendo ao
lema “Com O Vasco Onde Estiver O Vasco”. Nunca pedi nada aos meus amigos para
mim, mas para o Vasco eu peço, não deixem de comparecer ao Cineac, dia 14, para
votar na Chapa da Velha Guarda, pois essas eleições são de grande importância
para a vida do Vasco da Gama e podem significar a volta do Expresso da Vitória”[4].
Ao final da disputa venceu João da Silva Rocha da Chapa “Velha Guarda” com 3.104 votos contra 1.586 da Tradição.
Esta foi a disputa que mobilizou mais sócios entre todos os clubes da cidade de
todos os tempos. Um recorde de votantes!!!
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
No livro do Ruy Castro ( Garrincha, a estrela solitária) ele diz que Bellini ganhou um terreno em Cabo Frio no concurso de maior idolo do país
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