“Se bicha fosse flor, a torcida tricolor era
um jardim”
Provocação da
torcida vascaína sobre o Fluminense
1967 Cuidado com a Torcida do Palmeiras
A vida dos torcedores
cariocas em São Paulo em meados dos anos 1960 não estava nada fácil. Depois de
serem maltratados pelos corintianos, chegou a vez dos palmeirenses que agiram
com as mesmas armas dos rivais: “a Sra Dulce Rosalina, chefe da Torcida Organizada do
Vasco, disse que um grupo de torcedores do seu clube foi maltratado pela
torcida do Palmeiras no Pacaembu. Informou que o tratamento no Pacaembu da
torcidas visitantes é de inimigo em guerra”[1].
Em 1967 foi disputado o primeiro Torneio Roberto Gomes Pedrosa, um esboço
de um campeonato nacional, ampliando o Rio-São Paulo que foi extinto, e
incluindo os clubes de Minas Gerais, Rio do Grande do Sul e do Paraná.
As alianças entre torcidas de diferentes estados só seriam estabelecidas
no início da década de 1980. A novidade
nestes anos era o xingamento coletivo das torcidas, com os primeiros coros de
palavrões entoados por milhares de pessoas ao mesmo tempo.
Durante toda a década, principalmente após o Golpe de 1964, a reação da
imprensa foi fazer campanhas contra os palavõres nos estádios. E os chefes de
torcida serão responsabilizados por não conseguirem coibirem uma atitude
considerada antiesportiva. Por diversas vezes e, nas palavras de diferentes
cronistas, o papel dos líderes é questionado, sendo vistos como incapazes de
conter o ímpeto dos liderados ou mesmo de incentivá-los: “urge uma campanha que
acabe para sempre com a falta de educação que se manifesta em coro no Estádio
Mário Filho. Como informei ontem, o Juiz de Menores pensa em proibir o ingresso
de menores no Estádio, se os palavões continuarem agredindo mais a
sensibilidade dos espectadores do que os brios dos juízes de futebol. Fizemos,
Armando Nogueira, Valdir Amaral, Ricardo Serran, Doalcei Camargo e tanos
colegas, um esforço considerável para colocar os menores no Maracanã. Agora,
temos de evitar que alguns desbocados comandem o descontentamento da Torcida no
deplorável sentido da ofensa grosseira, que ouvimos, ultimamente, dos
torcedores do Fluminense e Botafogo. Os Chefes de Torcida precisam colaborar.
Por sinal, é deles a maior responsabilidade, porque o xingamento sai do núcleo
da torcida Organizada. Se Dulce Rosalina (Vasco), Tarzã (Botafogo), Jaime de
Carvalho (Flamengo), Paulista ou Bolinha (Fluminense), Juarez (Bangu) e Elias
(América) tem força de comando para arrancar aplausos e vaias dos torcedores que
lideram também devem ter para controlá-los nas expanções negativas. Se os
menores forem retirados do futebol, os grandes culpados serão os Chefes de
Torcida”[2].
Enquanto a imprensa e os
conservadores se preocupavam com os palavrões, a torcida vascaína queria um
técnico capaz de montar um time vencedor. Em 1967 a sucessão de técnicos
prosseguia e só neste ano foram três: Zizinho, Gentil Cardoso e Ademir Menezes.
O Vasco procura descobrir um técnico e a “solução”, na maioria das vezes, foi
dar a oportunidade a ex-jogadores com passagens vitoriosas pelo clube mas sem
grande experiência como treinadores. Depois de Ademir, Paulinho de Almeida
(1968) e Pinga (1969) foram as próximas tentativas. O clube “serviu” de
laboratório para ídolos que não vingaram fora das quatro linhas.
No final do ano um novo técnico é escolhido mas a divisão de opiniões no
clube permanecia, dividindo ainda mais o clube: “a contratação de Paulinho de
Almeida, concretizada ontem, para técnico do Vasco, está criando um clima de
agitação com esboço de crise, e ontem, na Igreja do Rosário, por ocasião da
missa de aniversário do benemérito Álvaro Ramos, o assessor do Presidente
eleito, Reinaldo Reis, Sr José Iraci Brandão, a saída, discutiu acalorada e
asperamente com o Sr Alá Batista, pois este último é categoricamente contra
Paulinho. Apesar disso, Paulinho está contratado por um ano, com NCr$ 2 mil
mensais, além de prêmios normais. Dulce Rosalina e a Torcida, querem impor
Martin Francisco. Mas, Reinaldo Reis declarou que assume toda a
responsabilidade pela contratação do novo treinador que assumirá seu cargo no
próximo dia 04 de Janeiro”[3].
Em dezembro, torcedores de diversos clubes fazem uma homenagem ao aniversariante
Jaime de Carvalho (56 anos) e sua torcida: a Charanga que comemorava 25 anos
(1942-1967). “Comemorado com uma festa no Morro da Viúva, com direito a
discursos de dirigentes, a mensagens do Presidente do Clube e a presentes como
um moderno megafone importado dos Estados Unidos (...) representantes das torcidas
co-irmãs do Vasco, do Botafogo, do Fluminense e até do Corinthians reputavam
Jaime como o Chefe dos Chefes de Torcida, viria a receber ainda o título de
torcedor número um do Rio, outorgado pelo capitão de policiamento do Maracanã”
(Hollanda, 2010).
Tanto Dulce como Jaime viviam momentos muito complicados como torcedores
e chefes de torcida. Os dois clubes das maiores torcidas na cidade do Rio de
Janeiro amargavam mais um ano de péssimos resultados nos gramados. Em
particular, o Flamengo que terminou o ano com mais derrotas que vitórias em
1967. Chegou a sofrer mais gols que fez. O Vasco concluiu o ano com o mesmo
número de vitórias e derrotas (21 vezes) e também ficou com um saldo negativo.
Enfim, não foi um ano para fazer
grandes comemorações. Nesse período começam a surgir os primeiros sinais de
ruptura institucional nas torcidas organizadas. O tempo dos torcedores
pacíficos que tolerariam os times de pouca expressão estavam com os dias
contados.
Jaime
necessitava muito do apoio de seus amigos, pois neste final de ano sua torcida
e seu clube viviam momentos de muita tristeza. Em menos de um mês seu time
perde para o Vasco por duas goleadas (4 a 0 em 11 de novembro e 3 a 0 em 2 de
dezembro), Insatisfeitos com a liderança de Jaime, que não permitia que os
jogadores de seu clube fossem vaiados, um grupo resolve fundar uma torcida
dissidente e que seria o embrião da futura torcida Jovem[4].
Depois
de serem surrados pelo Vasco por 7 a 0, o líder da torcida do Flamengo
realmente estava coberto de razão. Este time tinha que ser aplaudido.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: Jornal A Luta Democrática 15 de
Março de 1967.
[2] Fonte Coluna de Achilles Chirol no
Jornal Correio da Manhã 09 de Agosto de 1967
[3] Fonte: Jornal Diário de Notícias 22 de
Dezembro de 1967.
[4] Em sua
data de fundação , a torcida considera o dia 5 de dezembro de 1967.
Vasco Jornal O Globo 1967 |
Vasco 1967 |
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