“Entusiasmo, Disciplina e Respeito”
Lema da Torcida
1976 Viva Santo Antônio!!!
Uma das afirmações do cronista Nelson Rodrigues sobre
o comportamento do torcedor se encaixa perfeitamente com os acontecimentos da torcida vascaína nos anos de 1976 e 1977.
Diz ele: “o que nós procuramos no futebol é o sofrimento. As partidas que
ficam, que se tornam históricas, são as que mais doem na carne, na alma”. Nesta época foram duas decisões concluídas
somente na disputa por pênaltis, ambas vencidas pelo Vasco e são eternamente
lembradas pelos vascaínos que puderam tripudiar o adversário e sobre seus
ídolos.
Na final da Taça Guanabara de 1976, Zico perde o
pênalti defendido por Mazaropi. O rubro-negro era considerado pela imprensa
carioca o sucessor de Pelé na seleção e era exímio cobrador de pênaltis. No ano
seguinte, Tita era a mais jovem promessa do clube da Gávea e sucessor de Zico.
Ambos foram derrotados pelo mesmo jogador e no mesmo local: no gol ao lado
direito, atrás da torcida do Vasco que consagrava um novo herói, o jovem
Mazaropi, que substituía outro grande ídolo, o argentino Andrada.
Disputada em dia de Santo Antônio, a partida entrou
para o folclore vascaíno como o resultado do apoio sobrenatural. De um lado, Dulce
Rosalina atribuiu a vitória ao santo católico, de outro, o massagista Santana,
também conhecido como Pai Santana, considerou que o resultado veio através de
seus “trabalhos espirituais”. Em entrevista a Revista Placar, Dulce relembrava:
“como no dia 13 de Junho, é dia de Santo
Antônio. Sabia que naquele dia o Vasco seria Campeão da Taça Guanabara. Não
tinha dúvida alguma. Afinal, Santo Antônio é português, nasceu em Lisboa.
Então, o Zico tinha de perder aquele pênalti. Não deu outra coisa”.
Tanto Roberto (que marcou na cobrança de penaltis)
quanto Zico já eram apresentados pela imprensa carioca como os grandes craques
da nova geração do futebol brasileiro. Este reconhecimento será ampliado com a
vitória da Seleção Nacional no Torneio do Bicentenário da Independência dos
EUA. Os dois jogadores foram destaques na conquista do primeiro título da
seleção com os jogadores atuando como titulares.
Iniciado o campeonato brasileiro de 1976, prosseguiam
as caravanas dos clubes pelos estados, sendo a mais famosa a chamada “Invasão
Corintiana” nas semifinais, quando milhares de torcedores de São Paulo vieram
ao Rio de Janeiro acompanhar o seu clube que disputava uma partida decisiva
contra o Fluminense no Maracanã.
Se nesta partida nenhum grande incidente envolvendo as
torcidas foi registrado, o mesmo não podemos dizer do jogo entre Vasco e
Atlético, em Minas Gerais. Na coluna do jornalista João Saldanha ele alerta
para um problema que vinha se tornando corriqueiro nos jogos entre os dois
clubes mas que se estendia para outros jogos. Era uma revanche da torcida
mineira que já tinha sofrido quando jogou no Rio de Janeiro quando teve vários
feridos e ônibus destruídos.
Saldanha faz questão de isentar as torcidas
organizadas nos atos de agressão partindo da lógica de que são os torcedores
que não viajam que cometem tais delitos. Os que viajam, na sua opinião, sabem
que isso é uma covardia, um desestímulo para as novas viagens e uma agressão
gratuita. “As Torcidas Organizadas, são torcidas que estão sempre no campo e
que em parte acompanham o time, jamais tomam atitudes agressivas. Já contei o
fato, quando Dulce Rosalina foi com seu grupo confraternizar com um pequeno
número de torcedores do Internacional, para salvá-los de outros torcedores
Vascaínos que já estavam começando a incendiar. Os que tascam ou agridem
torcedores de outros Estados são exatamente elementos que não fazem parte de
caravanas ou das Torcidas renitentes ou Organizadas”, conclui o cronista
isentando categoricamente qualquer envolvimento das associações. Uma conclusão
que poderia ser estendido por toda a imprensa que até aquele momento dá total
apoio as organizadas.
Também em junho de 1976, o Jornal do Brasil faz uma
grande reportagem com o presidente da Força Jovem, Ely Mendes, com o título:
“TORCIDA ORGANIZADA O VERDADEIRO ESPETÁCULO É O DAS ARQUIBANCADAS”, a matéria
traça um simpático perfil do líder e explica como funciona a arrecadação de
dinheiro, a relação com o clube e os jogadores, o sistema de representação,
enfim, considera a presença das torcidas como algo necessário para incrementar
a beleza de uma partida. “Só de carteirinhas temos 300 sócios. É uma Torcida
grande e a primeira a organizar uma ala em Escola de Samba: Vasco da Vila, na
unidos de Vila Isabel. A maior caravana a acompanhar um Clube para fora do Rio
foi organizada por nós. Eram 88 ôninus, lotando a Avenida Rio Branco, do
Edificio Cineac a Praça Mauá. E já apresentamos a maior bandeira feita no
Brasil: 1 mil 250 metros de pano. Os integrantes da Força Jovem pagam Cr$ 10.00
de mensalidades e tem uma Diretoria reeleita de oito e oito meses. Quem não
trabalha não tem regalias. Tudo como incentivo do Presidente do Clube”, afirma
Ely Mendes.
Ao contrário dos anos 1980 em diante quando os líderes
serão denunciados constantemente pela imprensa como favorecidos pelo
clubes, de responsáveis por tudo de
errado no futebol, a matéria isenta quando o assunto é violência, considerando
um ato irracional, próprio do comportamento das massas: ““Depois que estoura a
boiada, não há jeito. Em Belo Horizonte num jogo do Vasco com o Cruzeiro,
voltamos com o ônibus todo quebrado. Mas as rivalidades entre os Clubes já
foram maiores. De qualquer maneira, sem elas, não existiria o Maracanã”.
Em agosto o jornal O Globo, faz uma manchete
destacando a participação da torcida do Vasco, especialmente enfatizando as
duas principais organizadas: “FORÇA JOVEM E TOV: TORCIDA DO VASCO, COM GRITOS E
MUITA FÉ, LEVOU TIME Á REAÇÃO”. Tratava-se do jogo entre Vasco e Fluminense,
quando o Almirante depois de estar perdendo por 2 a 0, consegue reagir e
empatar em 2 a 2: “a participação ativa da Torcida do Vasco se tornou decisiva
ao empate de ontem contra o Fluminense. Foi ela, após o gol de Roberto, que
levou o time a frente com seus gritos e uma vibração fora do comum, intimidando
os torcedores adversários e até mesmo os jogadores do Fluminense, que não
contavam com aquela reação (...) até Toninho empatar não houve um minuto de
descanso, a charanga não parou de tocar. Cada oportunidade perdida era um
incentivo para a jogada seguinte. Os gritos de Vasco, Vasco, Vasco em um som
uníssono e vibrante, faziam estremecer o estádio. O empate foi comemorado como
vitória. Torcedores felizes, descontraídos, alegres com o resultado, num jogo
em que tiveram participação ativa e decisiva. Luís Carlos reconheceu isso a
saída do Estádio, ao abraçar Dulce Rosalina” .
O ano terminava com eleição para presidente no clube.
Duas chapas concorriam: pela situação Agathyrno Gomes lutava pela sua
reeleição, enquanto pela oposição disputava Medrado Dias que contava com o
apoio da líder da TOV, Dulce Rosalina. As outras principais torcidas
organizadas ficaram com o candidato da situação que acabou vencendo. Por causa
deste motivo e por outros desentendimentos no seio de sua organização, Dulce
sai de seu grupo e resolve fundar a torcida Renovascão, em março de 1977.
Depois de 20 anos na liderança da TOV e principal referência na imprensa, a
torcedora-símbolo de São Januário aposta suas fichas no crescimento das
pequenas torcidas e no enfraquecimento das tradicionais. Justamente no ano da morte
da principal liderança da mais tradicional torcida do Flamengo. Em 1976, morria
Jaime de Carvalho, da Charanga.
A
multiplicação de torcidas parecia uma tendência irreversível naqueles anos. Um vascaíno escrevia para a coluna do
Jornal dos Sports e publicava uma lista das faixas por ele identificadas nos
estádios, em um total de 28 Torcidas Organizadas do Vasco: Força Jovem, Adeptos
de Petrópolis, Torcida Organizada do Vasco (TOV), Vascante, Vascancela,
Olavasco, Vascooper, Pievasco, Vascarepaguá, Vascambi, Vascaxias, Vascachaça,
Vasco Real, Vascalhau, Saravasco, Exorci-Vasco, Alfivascos, Vaspenha,
Buda-Vasco, Com o Vasco onde o Vasco estiver, Feminina Camisa 12, Elite
Vascaína, Presvasco, Vascopo, Vascoelho, Vascanem, Vasquita e Pequenos
Vascaínos”. No ano seguinte, o número de Torcidas vascaínas saltava de 28 para
40, na contagem de outro correspondente cruzmaltino.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Vasco O Globo 1976 |
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