“Tua imensa torcida é bem
feliz”
Hino do clube
1972 Um
Novo Ídolo
A contratação de Tostão (Cruzeiro) foi a maior cartada
do Almirante para apagar de vez a desastrosa década de 1960 e retomar a
tradição do clube possuir grandes atacantes (Russinho, Leônidas da Silva,
Ademir, Vavá, Almir). Era o maior valor já pago por um clube brasileiro por um
jogador (cerca de Cr$ 3 milhões), motivando a torcida comparecer em massa no
aeroporto para receber o jogador vindo da cidade de Belo Horizonte e levá-lo em
carreata do Centro até São Januario.
Tostão estava no auge de sua carreira durante a Copa
do Mundo no México em 1970 e, depois da despedida de Pelé da seleção brasileira
em 1971, era o herdeiro natural da camisa 10. Uma estrela do futebol mundial e
um dos principais protagonistas da seleção nacional naquele período.
Aos 25 anos, o atleta chegou ao Vasco em abril de 1972
para disputar o campeonato carioca daquele ano que prometia grandes emoções ao
reunir ídolos do porte de Jairzinho (Botafogo), Gérson (Fluminense), Paulo
Cesar Caju (Flamengo) e Edu (América). Sua estreia aconteceu somente em maio
quando o clube enfrentou o Flamengo. Pouco depois ele era convocado pelo
técnico Zagalo para a seleção brasileira que iria disputar o torneio
internacional em comemoração aos 150 anos da independência do Brasil.
Ao comemorar o título no Maracanã vencendo a final
diante de Portugal por 1 a 0, a torcida vascaína passava a se orgulhar de ter o
novo ídolo participado desta campanha vitoriosa e vislumbrava que aquela seria
a primeira de muitas conquistas para os próximos anos.
Não foi o que aconteceu, pelo contrário, em fevereiro
de 1973, depois de voltar dos EUA para realizar exames médicos, Tostão
anunciava que poderia abandonar o futebol devido a possibilidade de agravar o
problema de sua visão no olho esquerdo. Mal começava o ano e a torcida recebia
a triste notícia e frustração de não realizar o sonho de um novo ídolo de
ataque para os anos vindouros. Ao todo foram 44 partidas e 7 gols, poucas
atuações brilhantes, apesar da categoria e do talento reconhecido.
Em seu livro de memórias, o craque não poupa jogadores
e dirigentes do Vasco: “fiquei assustado com a péssima qualidade do time e da
falta de profissionalismo dos jogadores. Não treinavam, saíam para os pagodes
todas as noites, e a maior parte não estava nem aí para a derrota” (Tostão,
1997, p.79). Sobre a nossa torcida, nenhuma linha, apenas o registro de que ele
queria vir para o Fluminense, seu clube de infância.
Enquanto o mineiro abandonava o gramado em definitivo,
uma jovem promessa vinda das divisões de base ganhava mais espaço: Roberto
(ainda sem o Dinamite) já vinha entrando nas partidas desde 1971 e chegou a
jogar junto de Tostão algumas vezes em 1972.
Neste ano a imprensa começa a divulgar pequenos
atritos nas arquibancadas. Porém, as provocações e as brigas entre as torcidas
eram apresentadas pela imprensa em tom jocoso, que faziam parte do folclore do
futebol, algo para não ser levado a sério e sem maiores preocupações. No jogo
entre Vasco e Fluminense no Maracanã, a reportagem em questão narra a saga da
torcida Fúria Vascaína de Niterói que é
ameaçada pela Torcida Young Flu. Liderados por um senhor de nome Ivanildo Santana
os cruzmaltinos advertem: “É que nós recebemos um bilhete do chefe da Torcida
Jovem Flu do Fluminense. O bilhete dizia que nós íamos começar a apanhar na barca.
Engraçado, Né? Eles pensam que nós somos o que? Estamos ai, decididos e
dispostos ao que der e vier”. A reportagem não diz se teve ou não o confronto
entre os torcedores, prefere continuar acentuando as características do
torcedor: “solteiro, sem nenhum compromisso, a não ser com o Vasco, Ivanildo,
antes de começar o jogo, pode ser encontrado no Bar 320, das arquibancadas,
tomando a sua cervejinha”.
Talvez a ausência de notícias das brigas seja em
função da boa relação entre as novas lideranças que procuravam promover eventos
conjuntos em que as jovens lideranças se congraçavam. Um bom exemplo foi o
torneio de futebol de salão com o nome Paulo Cesar Pedruco em homenagem ao
jovem lider tricolor, um dos fundadores da torcida Young Flu, falecido em 1972
por desastre automobilístico[1].
Poucos meses depois, durante uma partida entre o Vasco
e o Internacional–RS no Rio de Janeiro, Dulce Rosalina e as lideranças da TOV
não deixam que um grupo de torcedores do Vasco invada a área destinada a
torcida gaúcha para tomar as bandeiras. Com o título: “TOV: BACANA A ATITUDE DE
DULCE ROSALINA”, a matéria exalta o comportamento dos torcedores organizados e
atribui a violência a outros torcedores cariocas que não viajam:” a turma das
Torcidas Organizadas nunca hostiliza com agressão as torcidas visitantes porque
sabe muito bem que não passaria de um ato de covardia”. A conclusão é que as
torcidas organizadas cumpriam o papel de receber as torcidas de fora, se
confraternizando com as mesmas elevando o espírito esportivo ao mais alto grau.
A popularização do uso das bandeiras pelos torcedores
era algo recente no futebol brasileiro. Acompanhando as imagens produzidas pelo
Canal 100, é possível constatar que não tínhamos este comportamento tão
generalizado até meados dos anos 1960. Foi algo que surgiu e se alastrou
rapidamente. Nelson Rodrigues chamava de “tempestade de bandeiras”, acentuando
um caráter impactante do novo visual existente nos estádios. Em grandes
partidas, praticamente todo o anel superior do Maracanã era tomado pelas
bandeiras que não ficavam circunscritas aos torcedores organizados. Eram
milhares de bandeiras de tamanho médio (entre um e dois metros de largura e
comprimento). Este visual nos estádios será a marca característica de toda a
década de 1970.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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