segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1974 DINAMITE NELES!

                                          “Presente, Passado, Futuro. Força Jovem é isso”
                                                               Lema da Torcida     

1974                     Dinamite Neles!
Durante o período do “milagre econômico” o Brasil viveu uma febre de grandes construções, especialmente de gigantescos estádios de futebol, mas também foram erguidas pontes, estradas, viadutos, rodovias, enfim, era a crença de que o país cresceria rapidamente rumo ao progresso e ao desenvolvimento urbano. No Rio de Janeiro a principal obra do milagre foi concluída em março de 1974. Justamente no ano do fim do “milagre econômico” era inaugurada com toda a pompa pelos militares a Ponte Rio-Niterói, um monumento a opção do uso do automóvel como meio de transporte de massa.
O novo presidente do Brasil, o general Ernesto Geisel, assume o poder no mesmo mês da inauguração já com os efeitos da crise internacional com a escalada dos preços do petróleo no mercado externo.
Não era só a inflação que o governo queria esconder mas as mazelas sociais que insistiam em permanecer como a grande desigualdade nas grandes cidades. Com elas o aumento da violência começava a  se disseminar como podemos constatar na carta de um torcedor vascaíno alertando para a sequência de conflitos entre as torcidas e o modus operanti dos agressores: “as cenas de vandalismo continuam se repetindo a cada dia em que o Flamengo atua no Mário Filho (...) quando esses covardes que só atacam em bando tentaram arrancar a bandeira das mãos de um torcedor pertencente à Força Jovem do Vasco, além de agredi-lo a socos e pontapés”. A carta termina com uma ameaça de revide. O que provavelmente aconteceu. A escalada de violência se institucionalizava enquanto nenhuma medida de controle por parte de dirigentes e autoridades se efetivada.
Em agosto de 1974 a torcida vascaína foi agraciada com um título marcante. Conquistávamos em pleno Maracanã diante do Cruzeiro nosso primeiro título brasileiro diante de mais de 110 mil pagantes que realizaram uma festa pela cidade por toda a madrugada. A Revista Placar estampa em sua capa uma bela foto da Torcida Força Jovem, que promoveu a comemoração do título em São Januário e na quadra da Unidos de Vila Isabel.
A conquista reforçou a importância  da torcida Força Jovem que teve mais espaço no Maracanã com a cessão de mais uma sala para os vascaínos: “ainda não tínhamos Sala e éramos obrigado a guardar os materiais, as bandeiras e a bateria junto com a Organizada da Dulce (TOV), foram 2 anos assim, até que o Ely perante ao Otavio Pinto Guimarães, que na época era o Presidente da ADEG (Depois mudou o nome pra SUDERJ) e Federação Carioca, o Ely conseguiu a Sala para a Torcida em 1974” relembra Carlinhos Português. Mais que um espaço para guardar materiais. Ali seria o local de construir um projeto coletivo de torcida baseada na organização, no trabalho e na memória da própria torcida: “o pensamento de todos era fazer com que a nossa Sala fosse um exemplo, aonde todos não só nós  componentes, mais todos os vascaínos pudessem entrar e se sentir orgulhoso”, conclui o torcedor.
Enquanto hoje em vivemos numa civilização com excesso de imagens, com a facilidade de tirar fotos, gravar vídeos, de ter tudo ao alcance em segundos, nos anos 1970 conseguir ver a imagem de sua torcida era uma emoção só captada nos estádios a não ser através dos noticiários esportivos e reportagens em jornais e revistas. Mas o que deixava o torcedor em êxtase, além dos estádios, era na exibição dos cinejornais nas salas de cinema.
Junto com o futebol, o cinema era a maior diversão das massas nestes anos e o futebol era presença marcante nos cinejornais que antecediam os filmes, especialmente o Canal 100, ficou guardado na memória dos torcedores entre os anos de 1959 e 1986. Embora a TV em cores já fosse uma realidade, a verdade é que a grande parte da população não tinha acesso as imagens coloridas a não ser no cinema e com a vantagem da tela gigantesca. O gramado verdinho, a festa das bandeiras coloridas e os closes dos torcedores da geral enchiam de emoção acompanhada da música característica do cinejornal.
A equipe do Canal 100, comandada por Carlinhos Niemeyer, produz em 1974 um filme que se tornou sucesso de bilheteria com mais de 1 milhão de espectadores.Trata-se do filme Futebol Total, com imagens da Copa do Mundo na Alemanha e do futebol carioca, demonstrando que quando o futebol é bem filmado ele tem público, ao contrário do que muitos que afirmavam que o futebol não era assunto de cinema.
Ainda em 1974 era lançado o filme de Oswaldo Caldeira, Passe Livre, baseado na vida do jogador Afonsinho (ele jogou no Vasco em 1971), sua luta por liberdade profissional e uma visão menos idílica sobre a profissão de jogador de futebol. No filme há belas imagens das torcidas cariocas no Maracanã, mas o destaque é sobre o autoritarismo dos dirigentes de futebol.
O ano fecha com a decisão do campeonato carioca entre Vasco e Flamengo para mais de 100 mil torcedores. Uma tragédia antes de o jogo começar marcou a torcida vascaína: “a explosão de 1 mil 500 bolas de gás, pouco antes do jogo, provocou queimaduras em 25 torcedores. Sete foram internados em estado grave. O acidente começou quando fogos de artifícios atingiram as bolas, que seriam soltas no momento em que o Vasco entrasse em campo”. O problema aconteceu justamente na parte onde ficava a Força Jovem e vários membros da torcida ficaram feridos “apesar da proibição, a torcida da geral começou a soltar fogos de artifício. Uma faísca caiu sobre as bolas, ocasionando a explosão e o incêndio no placar eletrônico. Todos os que estavam próximos saíram queimados, enquanto outros se feriram durante o tumulto que se seguiu”. Apesar de ninguém ter falecido ocorreu um grande descontentamento entre parte da torcida e vários integrantes se afastavam da mesma naquele momento.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Jornal O Globo 1974

Vasco Revista Placar 1974



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