“Presente, Passado, Futuro.
Força Jovem é isso”
Lema da Torcida
1974 Dinamite Neles!
Durante o período do “milagre econômico” o Brasil
viveu uma febre de grandes construções, especialmente de gigantescos estádios
de futebol, mas também foram erguidas pontes, estradas, viadutos, rodovias,
enfim, era a crença de que o país cresceria rapidamente rumo ao progresso e ao
desenvolvimento urbano. No Rio de Janeiro a principal obra do milagre foi
concluída em março de 1974. Justamente no ano do fim do “milagre econômico” era
inaugurada com toda a pompa pelos militares a Ponte Rio-Niterói, um monumento a
opção do uso do automóvel como meio de transporte de massa.
O novo presidente do Brasil, o general Ernesto Geisel,
assume o poder no mesmo mês da inauguração já com os efeitos da crise
internacional com a escalada dos preços do petróleo no mercado externo.
Não era só a inflação que o governo queria esconder
mas as mazelas sociais que insistiam em permanecer como a grande desigualdade
nas grandes cidades. Com elas o aumento da violência começava a se disseminar como podemos constatar na carta
de um torcedor vascaíno alertando para a sequência de conflitos entre as
torcidas e o modus operanti dos agressores: “as cenas de vandalismo continuam
se repetindo a cada dia em que o Flamengo atua no Mário Filho (...) quando
esses covardes que só atacam em bando tentaram arrancar a bandeira das mãos de
um torcedor pertencente à Força Jovem do Vasco, além de agredi-lo a socos e
pontapés”. A carta termina com uma ameaça de revide. O que provavelmente
aconteceu. A escalada de violência se institucionalizava enquanto nenhuma
medida de controle por parte de dirigentes e autoridades se efetivada.
Em agosto de 1974 a torcida vascaína foi agraciada com
um título marcante. Conquistávamos em pleno Maracanã diante do Cruzeiro nosso
primeiro título brasileiro diante de mais de 110 mil pagantes que realizaram
uma festa pela cidade por toda a madrugada. A Revista Placar estampa em sua
capa uma bela foto da Torcida Força Jovem, que promoveu a comemoração do título
em São Januário e na quadra da Unidos de Vila Isabel.
A conquista reforçou a importância da torcida Força Jovem que teve mais espaço
no Maracanã com a cessão de mais uma sala para os vascaínos: “ainda não
tínhamos Sala e éramos obrigado a guardar os materiais, as bandeiras e a
bateria junto com a Organizada da Dulce (TOV), foram 2 anos assim, até que o
Ely perante ao Otavio Pinto Guimarães, que na época era o Presidente da ADEG
(Depois mudou o nome pra SUDERJ) e Federação Carioca, o Ely conseguiu a Sala
para a Torcida em 1974” relembra Carlinhos Português. Mais que um espaço para
guardar materiais. Ali seria o local de construir um projeto coletivo de
torcida baseada na organização, no trabalho e na memória da própria torcida: “o
pensamento de todos era fazer com que a nossa Sala fosse um exemplo, aonde
todos não só nós componentes, mais todos
os vascaínos pudessem entrar e se sentir orgulhoso”, conclui o torcedor.
Enquanto hoje em vivemos numa civilização com excesso
de imagens, com a facilidade de tirar fotos, gravar vídeos, de ter tudo ao
alcance em segundos, nos anos 1970 conseguir ver a imagem de sua torcida era
uma emoção só captada nos estádios a não ser através dos noticiários esportivos
e reportagens em jornais e revistas. Mas o que deixava o torcedor em êxtase,
além dos estádios, era na exibição dos cinejornais nas salas de cinema.
Junto com o futebol, o cinema era a maior diversão das
massas nestes anos e o futebol era presença marcante nos cinejornais que
antecediam os filmes, especialmente o Canal 100, ficou guardado na memória dos
torcedores entre os anos de 1959 e 1986. Embora a TV em cores já fosse uma
realidade, a verdade é que a grande parte da população não tinha acesso as imagens
coloridas a não ser no cinema e com a vantagem da tela gigantesca. O gramado
verdinho, a festa das bandeiras coloridas e os closes dos torcedores da geral
enchiam de emoção acompanhada da música característica do cinejornal.
A equipe do Canal 100, comandada por Carlinhos
Niemeyer, produz em 1974 um filme que se tornou sucesso de bilheteria com mais
de 1 milhão de espectadores.Trata-se do filme Futebol Total, com imagens da
Copa do Mundo na Alemanha e do futebol carioca, demonstrando que quando o futebol
é bem filmado ele tem público, ao contrário do que muitos que afirmavam que o
futebol não era assunto de cinema.
Ainda em 1974 era lançado o filme de Oswaldo Caldeira,
Passe Livre, baseado na vida do jogador Afonsinho (ele jogou no Vasco em 1971),
sua luta por liberdade profissional e uma visão menos idílica sobre a profissão
de jogador de futebol. No filme há belas imagens das torcidas cariocas no Maracanã,
mas o destaque é sobre o autoritarismo dos dirigentes de futebol.
O ano fecha com a decisão do campeonato carioca entre
Vasco e Flamengo para mais de 100 mil torcedores. Uma tragédia antes de o jogo
começar marcou a torcida vascaína: “a explosão de 1 mil 500 bolas de gás, pouco
antes do jogo, provocou queimaduras em 25 torcedores. Sete foram internados em
estado grave. O acidente começou quando fogos de artifícios atingiram as bolas,
que seriam soltas no momento em que o Vasco entrasse em campo”. O problema
aconteceu justamente na parte onde ficava a Força Jovem e vários membros da
torcida ficaram feridos “apesar da proibição, a torcida da geral começou a
soltar fogos de artifício. Uma faísca caiu sobre as bolas, ocasionando a
explosão e o incêndio no placar eletrônico. Todos os que estavam próximos
saíram queimados, enquanto outros se feriram durante o tumulto que se seguiu”. Apesar
de ninguém ter falecido ocorreu um grande descontentamento entre parte da
torcida e vários integrantes se afastavam da mesma naquele momento.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Vasco Jornal O Globo 1974 |
Vasco Revista Placar 1974 |
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