quarta-feira, 21 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2007 SÃO JANUÁRIO, MEU CALDEIRÃO

                                                                                “Cabeça feita pelo Vasco”     
                                                                                    Lema da torcida Rasta

2007                 São Januário, meu caldeirão

No início deste ano Roberto Monteiro, ex-presidente da FJV, se tornava o primeiro vereador no Rio de Janeiro com origem em torcida organizada. Roberto conquista a vaga na Câmara Municipal pois era suplente de Fernando Gusmão, que se elege deputado estadual em 2006 e abre a vaga para o vascaíno.
Neste ano o jornalista Hilton Mattos lança o livro “Heróis do Cimento – o torcedor e suas emoções”, coletando depoimentos de vários torcedores cariocas que narravam suas aventuras pelos estádios, suas alegrias e tristezas com seus clubes. Do Vasco foram escolhidos Tia Aida e César da TOV, Zeca da Pequenos Vascaínos, Sandra da Vasguaçu, Penha da Tulipas Vascaínas e Mister M. Cada torcedor escolhia um jogo marcante e contava a sua participação no dia, além de descrever sua trajetória familiar  e profissional conciliando com a vida de torcedor que acompanha o clube por todo o país.
No mesmo período uma equipe inglesa coletava imagens das torcidas brasileiras para uma série de documentários sobre torcidas violentas em todo o mundo. Viajando por Turquia, Argentina, Rússia, Sérvia e Brasil os repórteres da "THE REAL FOOTBALL FACTORIES" entrevistam membros da Força Jovem que concentram seus relatos na rivalidade com os flamenguistas.
Romário voltava ao Vasco em 2007 disposto a encerrar sua carreira e alcançar a meta histórica dos 1000 gols. De janeiro a maio a imprensa carioca não falou de outra coisa. Para muitos torcedores do Vasco, os dirigentes cruzmaltinos tinham esquecido o time e só pensavam em ajudar o atacante a atingir sua façanha pessoal.
Começava a contagem regressiva para o gol 1000. Faltando dois gols Romário enfrenta o Flamengo e tem grande atuação, fazendo um gol e quase marcando o milésimo no fim da partida. A partir daí vieram os jogos com o Botafogo e Romário passa em branco. Vem o jogo com o Gama pela Copa do Brasil que é transferido para o Maracanã. Nova decepção, além de não marcar o clube é eliminado. Finalmente contra o Sport, em São Januário, pelo campeonato brasileiro, Romário marca de pênalti  o gol 1000.
Enquanto o atacante atingia sua marca histórica a torcida vascaína acompanhava o crescimento da GDA, agora com 50 bandeiras, novas músicas e coreografias, contando com um maior número de integrantes nos estádios e no site de relacionamento Orkut. Também surgia a Rasta, uma nova torcida formada por jovens admiradores do reggae e de seu maior ídolo Bob Marley. Pregando a não violência nos estádios e utilizando as cores características do movimento político musical, os integrantes defendiam a união do futebol com a música temperada com a luta contra ao racismo e a afirmação dos valores democráticos e igualitários. É a 1ª e única Torcida Rasta do Brasil.
No início do mês de maio é realizada uma grande manifestação da torcida na Cinelândia até o Palácio da Justiça. Centenas de torcedores percorreram as ruas do Centro com cartazes contra o presidente interino Eurico Miranda. Tudo começou com uma mobilização pela internet numa página do ORKUT intitulada “Vascaíno de verdade protesta”. Com apoio de um carro de som os manifestantes cantaram o hino do clube e o samba da Unidos da Tijuca, além de gritarem palavras de ordem contra Eurico. Entre as paródias cantadas a que chamou mais atenção era a de Raul Seixas Al Capone, dizendo “Hei Eurico Miranda vê se te orienta mais três anos de roubalheira o Vasco não agüenta”, outros gritavam "Eurico ladrão, Dinamite é a solução".
Para a FJV o ano prometia uma reestruturação que começaria com a criação de um novo site www.fjvasco.com que faz uma retrospectiva com 238 fotos contando um pouco da história da maior organizada do clube e a preocupação em recuperar a imagem de uma grande torcida. Uma propaganda no jornal O Dia anuncia o 37° aniversario da torcida, que promove em agosto a seleção de sua nova rainha. A escolha de Alessandra Mattos, rainha de bateria da Estácio de Sá, permite a torcida uma série de reportagens positivas. Talvez uma explicação para isso fosse a contratação de uma assessoria de imprensa neste ano. Um jornalista profissional (Eddie) tinha a função de entrar em contato com os principais veículos de comunicação do Brasil e agilizar as informações no site. Contudo a tarefa não seria fácil. A relação entre as T.O.s e a imprensa passava por um difícil arranjo e em agosto a Força Jovem leva uma faixa diferente com os dizeres "NÃO LEIAM - GLOBO + LANCE + EXTRA". A torcida pregou um boicote a este grupo jornalístico empresarial que adota, segundo a organizada, uma linha editorial de perseguição política ao Clube de Regatas Vasco da Gama.
Não era somente com a imprensa que os conflitos continuavam. No mês de julho, durante o jogo entre Vasco e Goiás, explode uma briga entre a FJV e a IRA. O resultado é a apreensão pela PM de materiais (faixa, bandeira e bateria).
Enquanto isso a GDA consagrava uma música criada neste ano que se tornaria marca registrada de toda a torcida vascaína. A letra foi feita em cima da música “Bebendo Vinho”, composta pelo gaúcho Wander em 1993, e regravada pelo grupo de Rock Ira, anos depois:
Vou torcer pro Vasco ser Campeão
São Januário, meu Caldeirão
Vasco, tua glória é sua história
É relembrar o Expresso da Vitória
Contra o River Plate, sensacional
Gol do Juninho Monumental
Vou torcer pro Vasco.....

A torcida estava entusiasmada com a boa campanha do time no campeonato brasileiro no primeiro turno (3° lugar), com os bons resultados em São Januário (que passa a ser chamado de caldeirão) e com a promoção da empresa Nestlé (torcer faz bem). Nestes meses foram batidos vários recordes de público em São Januário (que tinha sua capacidade limitada de acordo com os novos padrões dos estádios). A GDA prometia um mosaico com mais de 1000 peças para comemorar os 109 anos do clube.
A imprensa começa a fazer grandes reportagens com a GDA para traçar o seu perfil dos seus integrantes. A “torcida” ou movimento assiste aos jogos na arquibancada do lado esquerdo das cadeiras sociais do Estádio Vasco. Nas entrevistas seus líderes reafirmam o que diziam no ano anterior: a neutralidade na política do clube, o pacifismo e um novo modo de torcer que não quer ser confundido com as organizadas. “A Guerreiros, vive de doações, rejeita ajuda financeira do Clube, praxe entre as Organizadas e presta conta no Site  www.guerreirosdoalmirante.com.br. Pagamos os ingressos para ajudar o clube a crescer, como na Europa. O grupo mantém a neutralidade na disputa pela Presidência do Clube entre o Presidente interino Eurico Miranda e a chapa de oposição liderada por Roberto Dinamite. É um dos nossos fundamentos, não existe ligação com grupo político do Clube ou fora, seja oposição ou situação” afirmou Ferreira, que salienta “a Guerreiros não é violenta, mas rejeita o título de Torcida da Paz. “Não surgimos para fazer campanha nem pregar nada, mas para incentivar o Time. É chato esse negócio de as outras Torcidas dizerem estes caras são bonzinhos, porém nunca brigamos, não é nosso objetivo”, afirma Ferreira”. A torcida começa a crescer no momento em que o Vasco mais precisa. “A torcida é composta por Médicos, Advogados, Universitários e etc. Há 400 pessoas que já conhecemos. Mas esse número chega a dobrar em jogos de maior apelo”.
No Brasil o movimento maior dos vascaínos é em torna da Força Jovem e das atividades de suas famílias que organizam festas, criam sedes e mantêm um intenso contato com os torcedores de sua região acompanhando pela televisão aos jogos do clube. Para citar alguns exemplos: “Convidamos todos os Vascaínos de Santa Catarina a participarem do primeiro churrasco de confraternização da 28ª Família-SC, com objetivo de reunir todos os Vascaínos no Estado e o fortalecimento da Força Jovem”. No dia 16 de dezembro, a Força Jovem do Vasco nos EUA reuniu os aliados Palmeiras, Atlético Mineiro e Grêmio para uma grande festa de final de ano. O evento foi realizado na Sede da Força Jovem, em Pompano Beach. Em Brasília a 22ª Família da Força Jovem mandou confeccionar uma faixa em homenagem aos portadores de Síndrome de Down. No próximo dia 03 de Junho, à partir das 12:00 estaremos realizando a IV Feijoada da FJV 26ª Família. No Maranhão, em São Luis, no dia 06 de outubro de 2007 vamos comemorar nossa 1°Sede, buscando sempre o Resgate da Historia de anos na luta por um Vasco vencedor e por uma Força Jovem imbatível em nossa cidade e em todo Brasil.
Enquanto por todo o Brasil as “famílias” da FJV faziam as suas festas de confraternização, no Rio de Janeiro, as relações da torcida com o dirigente principal foram abaladas com o péssimo segundo turno no campeonato brasileiro. Aliado a isso as eleições no clube de 2006 (estavam na Justiça) esquentavam o clima com a disputa acirrada entre a situação e a oposição capitaneada por Roberto Dinamite. “O Presidente interino do Vasco ficou bastante irritado com as vaias e xingamentos que recebeu durante a partida Vasco 1 x 2 Internacional, em São Januário, realizada em 04 de novembro. Após o segundo gol do Internacional, muitos torcedores, inclusive vários da Força Jovem, passaram a hostilizar o dirigente e gritaram o nome de Roberto Dinamite”[1].
Pouco meses depois da FIFA ter escolhido o Brasil para sediar a Copa do Mundo em 2014, a preocupação dos dirigentes era com a estrutura “ultrapassada” dos estádios e o comportamento violento das torcidas organizadas. Um confronto que juntou as torcidas de Vasco e Botafogo contra a torcida do Flamengo na Praça XV, foi o grande destaque da imprensa no final de ano que acompanhou a operação policial desencadeada após o episódio, que terminou com a morte de um torcedor-símbolo da Torcida Jovem do Flamengo, Germano Soares, de 44 anos.
As imagens do confronto foram divulgadas pela imprensa através das câmeras de inúmeros prédios da região:mostram a truculência dos grupos, que transformaram as ruas do Centro em praça de guerra naquele dia. Torcedores do Vasco e do Botafogo aparecem armados com paus, barras de ferro, morteiros, pedras e faca. Até uma cadeira foi usada como arma. O confronto, que saiu da Praça 15 para as principais ruas do Centro, parou o trânsito por 10 minutos”[2].
Ao todo foram 28 torcedores presos e outros considerados foragidos da Justiça. Entre os acusados estavam: o segundo sargento fuzileiro naval Aleksander dos Santos Barbosa, o Chernobil; Guilherme Guimarães de Andrade; Jonathan Fernandes dos Santos;Mauro Ribeiro de Paiva; Robson Moreira da Cruz; e Rafael da Silva Rodrigues, que está foragido, além de um menor. Apontados como líderes da torcida vascaína, Robson aparece nas imagens jogando pedras no grupo rival, e Rafael, segurando blusa que testemunhas dizem ser de Germano, tirada dele depois de espancado”.
O inquérito de 520 páginas acusa as torcidas Força Jovem do Vasco e Fúria Jovem do Botafogo de promoverem atos de violência, corrupção de menores e consumo de drogas. Dos 28 capturados, metade tem menos de 18 anos, entre os foragidos estava “um dos principais alvos da DPCA é o lutador  de Muay Tai Leonardo Scorza, o Russo. Ele aparece nas imagens do confronto segurando uma cadeira e uma faca. O lutador também foi flagrado no lugar onde Germano foi agredido”.
A vítima do Flamengo era uma figura conhecida entre os torcedores e era constantemente identificada como uma das lideranças nos confrontos comandados pelos rubro-negros, inclusive na morte de um torcedor do Botafogo dois anos antes: “ele tinha passagens pela polícia: três vezes por agressão, uma por ameaça e outra por tentativa de homicídio. Numa das brigas em que se envolveu, levou facada na cabeça. Germano ficou preso por um mês após briga, em 2005, em que botafoguense foi morto, em Barra do Piraí”.
O clima entre as torcidas rivais promete ser mais tenso no ano que vem. No clube, a disputa jurídica entre o grupo de Eurico (presidente) e a oposição, liderada por Roberto Dinamite, prosseguia intensa e continuará sendo alvo de constantes polêmicas entre os partidários da cada lado.
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: www.supervasco.com
[2] Fonte: O Dia Online

Vasco Maracanã 2007

Vasco Jornal Extra 2007

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