“Cabeça feita pelo
Vasco”
Lema da torcida Rasta
2007 São Januário, meu caldeirão
No
início deste ano Roberto Monteiro, ex-presidente da FJV, se tornava o primeiro
vereador no Rio de Janeiro com origem em torcida organizada. Roberto conquista
a vaga na Câmara Municipal pois era suplente de Fernando Gusmão, que se elege
deputado estadual em 2006 e abre a vaga para o vascaíno.
Neste
ano o jornalista Hilton Mattos lança o livro “Heróis do Cimento – o torcedor e
suas emoções”, coletando depoimentos de vários torcedores cariocas que narravam
suas aventuras pelos estádios, suas alegrias e tristezas com seus clubes. Do
Vasco foram escolhidos Tia Aida e César da TOV, Zeca da Pequenos Vascaínos,
Sandra da Vasguaçu, Penha da Tulipas Vascaínas e Mister M. Cada torcedor
escolhia um jogo marcante e contava a sua participação no dia, além de
descrever sua trajetória familiar e
profissional conciliando com a vida de torcedor que acompanha o clube por todo
o país.
No
mesmo período uma equipe inglesa coletava imagens das torcidas brasileiras para
uma série de documentários sobre torcidas violentas em todo o mundo. Viajando
por Turquia, Argentina, Rússia, Sérvia e Brasil os repórteres da "THE REAL
FOOTBALL FACTORIES" entrevistam membros da Força Jovem que concentram seus
relatos na rivalidade com os flamenguistas.
Romário
voltava ao Vasco em 2007 disposto a encerrar sua carreira e alcançar a meta
histórica dos 1000 gols. De janeiro a maio a imprensa carioca não falou de
outra coisa. Para muitos torcedores do Vasco, os dirigentes cruzmaltinos tinham
esquecido o time e só pensavam em ajudar o atacante a atingir sua façanha
pessoal.
Começava
a contagem regressiva para o gol 1000. Faltando dois gols Romário enfrenta o
Flamengo e tem grande atuação, fazendo um gol e quase marcando o milésimo no
fim da partida. A partir daí vieram os jogos com o Botafogo e Romário passa em
branco. Vem o jogo com o Gama pela Copa do Brasil que é transferido para o
Maracanã. Nova decepção, além de não marcar o clube é eliminado. Finalmente
contra o Sport, em São Januário, pelo campeonato brasileiro, Romário marca de
pênalti o gol 1000.
Enquanto
o atacante atingia sua marca histórica a torcida vascaína acompanhava o
crescimento da GDA, agora com 50 bandeiras, novas músicas e coreografias,
contando com um maior número de integrantes nos estádios e no site de
relacionamento Orkut. Também surgia a Rasta, uma nova torcida formada por
jovens admiradores do reggae e de seu maior ídolo Bob Marley. Pregando a não
violência nos estádios e utilizando as cores características do movimento
político musical, os integrantes defendiam a união do futebol com a música
temperada com a luta contra ao racismo e a afirmação dos valores democráticos e
igualitários. É a 1ª e única Torcida Rasta do Brasil.
No
início do mês de maio é realizada uma grande manifestação da torcida na
Cinelândia até o Palácio da Justiça. Centenas de torcedores percorreram as ruas
do Centro com cartazes contra o presidente interino Eurico Miranda. Tudo
começou com uma mobilização pela internet numa página do ORKUT intitulada
“Vascaíno de verdade protesta”. Com apoio de um carro de som os manifestantes
cantaram o hino do clube e o samba da Unidos da Tijuca, além de gritarem
palavras de ordem contra Eurico. Entre as paródias cantadas a que chamou mais
atenção era a de Raul Seixas Al Capone, dizendo “Hei Eurico Miranda vê se te
orienta mais três anos de roubalheira o Vasco não agüenta”, outros gritavam
"Eurico ladrão, Dinamite é a solução".
Para
a FJV o ano prometia uma reestruturação que começaria com a criação de um novo
site www.fjvasco.com que faz uma retrospectiva com 238 fotos contando um pouco
da história da maior organizada do clube e a preocupação em recuperar a imagem
de uma grande torcida. Uma propaganda no jornal O Dia anuncia o 37° aniversario
da torcida, que promove em agosto a seleção de sua nova rainha. A escolha de
Alessandra Mattos, rainha de bateria da Estácio de Sá, permite a torcida uma
série de reportagens positivas. Talvez uma explicação para isso fosse a contratação
de uma assessoria de imprensa neste ano. Um jornalista profissional (Eddie)
tinha a função de entrar em contato com os principais veículos de comunicação
do Brasil e agilizar as informações no site. Contudo a tarefa não seria fácil.
A relação entre as T.O.s e a imprensa passava por um difícil arranjo e em
agosto a Força Jovem leva uma faixa diferente com os dizeres "NÃO LEIAM -
GLOBO + LANCE + EXTRA". A torcida pregou um boicote a este grupo
jornalístico empresarial que adota, segundo a organizada, uma linha editorial
de perseguição política ao Clube de Regatas Vasco da Gama.
Não
era somente com a imprensa que os conflitos continuavam. No mês de julho,
durante o jogo entre Vasco e Goiás, explode uma briga entre a FJV e a IRA. O
resultado é a apreensão pela PM de materiais (faixa, bandeira e bateria).
Enquanto
isso a GDA consagrava uma música criada neste ano que se tornaria marca
registrada de toda a torcida vascaína. A letra foi feita em cima da música
“Bebendo Vinho”, composta pelo gaúcho Wander em 1993, e regravada pelo grupo de
Rock Ira, anos depois:
Vou
torcer pro Vasco ser Campeão
São
Januário, meu Caldeirão
Vasco,
tua glória é sua história
É
relembrar o Expresso da Vitória
Contra
o River Plate, sensacional
Gol
do Juninho Monumental
Vou
torcer pro Vasco.....
A
torcida estava entusiasmada com a boa campanha do time no campeonato brasileiro
no primeiro turno (3° lugar), com os bons resultados em São Januário (que passa
a ser chamado de caldeirão) e com a promoção da empresa Nestlé (torcer faz
bem). Nestes meses foram batidos vários recordes de público em São Januário
(que tinha sua capacidade limitada de acordo com os novos padrões dos
estádios). A GDA prometia um mosaico com mais de 1000 peças para comemorar os
109 anos do clube.
A
imprensa começa a fazer grandes reportagens com a GDA para traçar o seu perfil
dos seus integrantes. A “torcida” ou movimento assiste aos jogos na
arquibancada do lado esquerdo das cadeiras sociais do Estádio Vasco. Nas
entrevistas seus líderes reafirmam o que diziam no ano anterior: a neutralidade
na política do clube, o pacifismo e um novo modo de torcer que não quer ser
confundido com as organizadas. “A Guerreiros, vive de doações, rejeita ajuda
financeira do Clube, praxe entre as Organizadas e presta conta no Site www.guerreirosdoalmirante.com.br.
Pagamos os ingressos para ajudar o clube a crescer, como na Europa. O grupo
mantém a neutralidade na disputa pela Presidência do Clube entre o Presidente
interino Eurico Miranda e a chapa de oposição liderada por Roberto Dinamite. É
um dos nossos fundamentos, não existe ligação com grupo político do Clube ou
fora, seja oposição ou situação” afirmou Ferreira, que salienta “a Guerreiros
não é violenta, mas rejeita o título de Torcida da Paz. “Não surgimos para
fazer campanha nem pregar nada, mas para incentivar o Time. É chato esse
negócio de as outras Torcidas dizerem estes caras são bonzinhos, porém nunca
brigamos, não é nosso objetivo”, afirma Ferreira”. A torcida começa a crescer
no momento em que o Vasco mais precisa. “A torcida é composta por Médicos,
Advogados, Universitários e etc. Há 400 pessoas que já conhecemos. Mas esse
número chega a dobrar em jogos de maior apelo”.
No
Brasil o movimento maior dos vascaínos é em torna da Força Jovem e das
atividades de suas famílias que organizam festas, criam sedes e mantêm um
intenso contato com os torcedores de sua região acompanhando pela televisão aos
jogos do clube. Para citar alguns exemplos: “Convidamos todos os Vascaínos de
Santa Catarina a participarem do primeiro churrasco de confraternização da 28ª
Família-SC, com objetivo de reunir todos os Vascaínos no Estado e o
fortalecimento da Força Jovem”. No dia 16 de dezembro, a Força Jovem do Vasco
nos EUA reuniu os aliados Palmeiras, Atlético Mineiro e Grêmio para uma grande
festa de final de ano. O evento foi realizado na Sede da Força Jovem, em
Pompano Beach. Em Brasília a
22ª Família da Força Jovem mandou confeccionar uma faixa em homenagem aos
portadores de Síndrome de Down. No próximo dia 03 de Junho, à partir das 12:00
estaremos realizando a IV Feijoada da FJV 26ª Família. No Maranhão, em São
Luis, no dia 06 de outubro de 2007 vamos comemorar nossa 1°Sede, buscando
sempre o Resgate da Historia de anos na luta por um Vasco vencedor e por uma
Força Jovem imbatível em nossa cidade e em todo Brasil.
Enquanto
por todo o Brasil as “famílias” da FJV faziam as suas festas de
confraternização, no Rio de Janeiro, as relações da torcida com o dirigente
principal foram abaladas com o péssimo segundo turno no campeonato brasileiro.
Aliado a isso as eleições no clube de 2006 (estavam na Justiça) esquentavam o
clima com a disputa acirrada entre a situação e a oposição capitaneada por
Roberto Dinamite. “O Presidente interino do Vasco ficou bastante irritado com
as vaias e xingamentos que recebeu durante a partida Vasco 1 x 2 Internacional,
em São Januário, realizada em 04 de novembro. Após o segundo gol do
Internacional, muitos torcedores, inclusive vários da Força Jovem, passaram a
hostilizar o dirigente e gritaram o nome de Roberto Dinamite”[1].
Pouco
meses depois da FIFA ter escolhido o Brasil para sediar a Copa do Mundo em
2014, a preocupação dos dirigentes era com a estrutura “ultrapassada” dos
estádios e o comportamento violento das torcidas organizadas. Um confronto que
juntou as torcidas de Vasco e Botafogo contra a torcida do Flamengo na Praça
XV, foi o grande destaque da imprensa no final de ano que acompanhou a operação
policial desencadeada após o episódio, que terminou com a morte de um
torcedor-símbolo da Torcida Jovem do Flamengo, Germano Soares, de 44 anos.
As
imagens do confronto foram divulgadas pela imprensa através das câmeras de
inúmeros prédios da região: “mostram
a truculência dos grupos, que transformaram as ruas do Centro em praça de
guerra naquele dia. Torcedores do Vasco e do Botafogo aparecem armados com
paus, barras de ferro, morteiros, pedras e faca. Até uma cadeira foi usada como
arma. O confronto, que saiu da Praça 15 para as principais ruas do Centro,
parou o trânsito por 10 minutos”[2].
Ao
todo foram 28 torcedores presos e outros considerados foragidos da Justiça.
Entre os acusados estavam: o segundo sargento fuzileiro naval Aleksander dos
Santos Barbosa, o Chernobil; Guilherme Guimarães de Andrade; Jonathan Fernandes
dos Santos;Mauro Ribeiro de Paiva; Robson Moreira da Cruz; e Rafael da Silva
Rodrigues, que está foragido, além de um menor. Apontados como líderes da
torcida vascaína, Robson aparece nas imagens jogando pedras no grupo rival, e
Rafael, segurando blusa que testemunhas dizem ser de Germano, tirada dele
depois de espancado”.
O
inquérito de 520 páginas acusa as torcidas Força Jovem do Vasco e Fúria Jovem
do Botafogo de promoverem atos de violência, corrupção de menores e consumo de
drogas. Dos 28 capturados, metade tem menos de 18 anos, entre os foragidos
estava “um dos principais alvos da DPCA é o lutador de Muay Tai Leonardo Scorza, o Russo. Ele
aparece nas imagens do confronto segurando uma cadeira e uma faca. O lutador
também foi flagrado no lugar onde Germano foi agredido”.
A
vítima do Flamengo era uma figura conhecida entre os torcedores e era
constantemente identificada como uma das lideranças nos confrontos comandados
pelos rubro-negros, inclusive na morte de um torcedor do Botafogo dois anos
antes: “ele tinha passagens pela polícia: três vezes por agressão, uma por
ameaça e outra por tentativa de homicídio. Numa das brigas em que se envolveu,
levou facada na cabeça. Germano ficou preso por um mês após briga, em 2005, em
que botafoguense foi morto, em Barra do Piraí”.
O
clima entre as torcidas rivais promete ser mais tenso no ano que vem. No clube,
a disputa jurídica entre o grupo de Eurico (presidente) e a oposição, liderada
por Roberto Dinamite, prosseguia intensa e continuará sendo alvo de constantes
polêmicas entre os partidários da cada lado.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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