quarta-feira, 28 de junho de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 2009 AMOR INFINITO

                              “na primeira, segunda ou décima nona divisão, serei sempre Vasco”
                                                                       Aldir Blanc

  2009                      Amor Infinito
        Havia muita expectativa dos torcedores vascaínos e da imprensa em geral sobre o desempenho do presidente Roberto Dinamite para a temporada de 2009 quando o clube teria o desafio maior de voltar para a primeira divisão e formar um time capaz de honrar a tradição vitoriosa do clube.
            Como havia assumido o clube em meio a uma grave crise econômica e política, Roberto conseguiu o apoio das torcidas organizadas vascaínas e da grande mídia em seu começo de mandato. A culpa pela queda em 2008 caiu toda sobre os ombros do ex-presidente Eurico Miranda. Agora, passados seis meses e com uma grande reformulação no elenco, o novo presidente teria sua chance de mostrar todas as mudanças positivas que seriam implementadas.      
            Dentro e fora de campo esportivo, é visível que Roberto Dinamite tem uma simpatia de diversos setores da sociedade. Artistas, políticos, empresários, intelectuais e dirigentes esportivos manifestam publicamente que o Vasco é um novo clube. Aldir Blanc, desafeto de Eurico Miranda, lança o livro Vasco, A Cruz do Bacalhau, último livro da coleção da editora Ediouro, proibido na época do ex-dirigente. Blanc comenta o cenário político deste novo período: “foram afastados pelo voto democrático e livre, em eleições sem fraude, sem baixarias e, por incrível que pareça, porrada nos membros da oposição, como aconteceu no passado”. Roberto é apresentado como a antítese de Eurico, em lugar da truculência, da desonestidade, da ditadura, assume um democrata, liberal e moderno dirigente que promete reconciliar o clube com os inimigos declarados de Eurico Miranda.
            Agostinho Taveira, conselheiro do Vasco, é nomeado pelo clube para ser o elo de ligação com as torcidas organizadas. O maior desafio é fazer um diálogo com a FJV, envolvida em crises internas. A diretoria atual tem grande apoio do clube e se inicia um processo de aproximação entre as duas instituições.
            Para o campeonato carioca o clube apresenta seu elenco nos moldes dos times europeus e abre São Januário para a sua torcida que comparece em bom número. Mais de duas mil pessoas, numa sexta-feira pela manhã, atendem ao pedido da diretoria que faz uma festa com direito a foto oficial, chuva de papel picado e queima de fogos.
            Neste período a nova diretoria da FJV atuava intensamente para começar o ano corrigindo os erros do passado. Só de dívidas da última gestão são quase R$ 50 mil reais. Uma reunião entre os lideres de fora da cidade é realizada nas arquibancadas de São Januário. “No dia 10 de Janeiro em reunião histórica nas arquibancadas de São Januário, estiveram presentes os líderes de diversas Famílias de fora da Cidade do Rio de Janeiro. São elas: 12ª Família (Caxias/Petrópolis), 15ª (Nova Friburgo), 16ª (Teresópolis), 17ª (Volta Redonda), 18ª (Juiz de Fora), 19ª (Campos), 20ª (Região dos Lagos), 22ª (Brasília), 23ª (São Paulo), 35ª (Belo Horizonte), 36ª (Bahia), 45ª (Cuiabá), 57ª (Goiás) e 59ª (Itaboraí). Também participaram da reunião os Dinossauros e os membros da nova Família Costa Verde”.
            Na festa de comemoração dos 39 anos da torcida, o clube abre as portas da sede no Calabouço para a torcida fazer a sua confraternização. Estavam presentes os componentes de diversas gerações e membros de torcidas de outros estados, como a Mancha Verde que retribuiu a visita da FJV a sua festa em São Paulo, no mês de janeiro, comemorando os 26 anos de fundação. Na ocasião a FJV é presenteada com um quadro e um troféu em homenagem a “Amizade Perpétua” da “união sinistra que ninguém segura”.
            No campeonato de 2009 o grande momento foi o jogo entre Vasco 2 x 0 Flamengo no Maracanã quando 5.000 componentes foram a pé de São Januário até o palco do jogo: “a caminhada ocorreu sob o clima de paz e confiança e há tempos não víamos a torcida tão coesa e decidida a ajudar o Vasco nos enfrentamentos contra o seu rival. Este grande ato, o maior da história da torcida, aconteceu no feliz domingo em que a Mulambada levou um sacode de 2 X 0. Dentro de campo, a equipe foi aguerrida e acreditamos que esta foi a forma que o time usou para retribuir a calorosa recepção da massa Vascaína”.
            Fora de campo a FJV aproveitou que a banda Iron Maiden fazia um show na Praça da Apoteose, em março, para presenteá-los com camisas do clube e da torcida. Em abril era inaugurada a nova sede na rua Uruguaiana, no centro da cidade. “A FJV escreve um novo capítulo em sua história. O espaço, duas salas no Centro do Rio, representa um ponto de encontro para os associados e amigos. Na comemoração desta conquista, o goleiro Tiago e o atacante Rodrigo Pimpão, marcaram presença, assim como inúmeros Chefes de Família e a Rainha Daniele Sperle”.
No Dia Internacional das Mulheres (8 de março) a FJV em São Januário, com apoio da Família Feminina, distribui duas mil rosas para as torcedoras além de brindes femininos e produtos de beleza. O presidente da Força Jovem, Luís Cláudio, o Claudinho, reforçou a boa intenção da Torcida Organizada: “queremos trazer as mulheres de volta aos estádios, dos quais se afastaram devido a violência nas arquibancadas. Para isso, começamos a Campanha Força Feminina nos Estádios”.
Em maio começa a campanha para o Vasco conseguir alcançar 100 mil sócios. Tratava-se do projeto de marketing intitulado “O Vasco é Meu”. Uma ambiciosa atividade de propaganda que contou com chamadas em todos os meios de comunicação, utilizando atores e atrizes famosos convocando a torcida para aderir a este novo modelo de pertencimento clubístico.
A primeira grande divergência da FJV com a administração de Roberto Dinamite surge quando um membro da diretoria vascaína resolve criar uma grade em São Januário numa “modernização” do estádio, visando criar novos setores. A torcida reagiu e o clube voltou atrás e retirou as grades. A FJV emite uma nota sobre a sua posição no caso chamado pela torcida de “Grade da Vergonha”: “setorização injusta, que somente pode ser feita como parte de uma reforma mais ampla do Estádio que proporcione conforto e segurança para todos os setores. Separações não combinam com a alma popular que marca o espírito vascaíno. São Januário é um orgulho para todos. A história de nosso Estádio marcou não só o esporte, mas a própria vida política do Brasil. Sem medo de exageros, São Januário está entre os símbolos da democracia em nosso país. O Vasco é povo e em nosso Caldeirão: Trabalhadores, Empresários e Estudantes misturam-se, sem preconceitos, unidos pelo Amor ao Vasco”.
Nesta época é criada a FTORJ (Federação das Torcida Organizadas do Rio de Janeiro) com intuito de unir as torcidas cariocas que passavam por uma intensa campanha da mídia pela extinção das mesmas. Dois vascaínos fazem parte da primeira diretoria: o Vice-Presidente Patrimonial e Social, Jorge Henrique da Silva Matos, “Policinha” (Força Jovem do Vasco) e do  Conselho Fiscal, Rodrigo Granja Coutinho dos Santos “Batata” (Ira Jovem). Em julho a FJV participou do Seminário das Torcidas Organizadas que os Ministérios do Esporte e da Justiça realizou na Cidade de São Paulo. Contou também com a participação da FTORJ.
            Começa o campeonato brasileiro e a torcida do Vasco comparece em peso nos jogos em São Januário. Mas o grande destaque serão os jogos no Maracanã quando a torcida dará grandes demonstrações de amor ao clube com recordes de renda e jogos com público superior a quase todos os outros da 1ª divisão. O clube lança uma campanha televisiva chamada “O Vasco é Meu” para atrair novos sócios. Vários artistas aderem a campanha fazendo depoimentos favoráveis ao novo ambiente que o clube passava.
            A Força Jovem lança o desafio para os seus integrantes não esmorecerem e ajudarem o time a vencer seus jogos em casa: “Faça a diferença para o Vasco voltar à Série A e para mostrar para todo o Brasil qual é a Maior e Melhor Torcida Organizada do País. Guerreiros unidos pelo mesmo ideal: a Força Jovem e o Vasco!”
            A GDA completava 3 anos em agosto e já experimentavam  as primeiras contradições com o crescimento do número de participantes e a dificuldade de controlar suas ideias originais com a nova realidade. Neste mês eles lançam um manifesto: “fazendo chegar ao público em geral, às autoridades legalmente estabelecidas e em particular à mídia, quem somos, o que somos e o que pensamos: antes e acima de qualquer coisa Um grupo de Vascaínos que se uniu para amar o clube, sem nenhum interesse financeiro ou político-partidário!” Antes identificados com o  modelo das torcidas argentinas, eles ampliam o discurso para os ultras italianos e garantem que ter uma identidade nacional: “buscamos inspiração no apoio incondicional das Barras Sul-Americanas, na consciência política dos ULTRAS da Europa, estilos diferentes de torcer das nossas tradicionais Torcidas Organizadas (T.Os), onde é obrigatório cantar durante todo o jogo, não importando o placar da partida e onde buscamos levar o torcedor a se associar à sua paixão, com o objetivo de participar mais ativamente dos destinos do seu Clube. Mas não somos uma ‘cópia pura e simples’ de nada estrangeiro: nos consideramos um passo além! Juntamos o apoio ‘enlouquecido’ latino, a atividade política, sem ser partidária, dos europeus, com a ginga e o bom humor típico dos cariocas. Isto sintetiza o Movimento Guerreiros do Almirante!”.
            Também em agosto contra o Ipatinga no Maracanã, a FJV estreia seu novo bandeirão depois de 10 anos que havia sido feito a última grande bandeira. Acusados pela oposição de usarem a torcida para se beneficiar, a FJV escreve em seu site oficial: “que esse bandeirão sirva de “cala boca” para todos que erguiam os dedos para apontar e dizer que nós só queríamos dinheiro. É verdade, que nossa torcida teve algumas Diretorias assim, interessadas apenas em ganhar dinheiro, mas nós somos diferentes, queremos dinheiro para investir na Torcida e levá-la de volta ao seu merecido lugar como grandiosa. A nossa obrigação é com a Força Jovem do Vasco e nós vamos fazer de tudo para devolvê-la ao status de maior, melhor e mais unida”. 
            Neste momento de recuperação do clube e da FJV muitas acusações são feitas sobre as diretorias passadas. O que revela a necessidade deste grupo querer romper totalmente com as práticas anteriores e recriar uma identidade positiva da torcida junto aos antigos membros e a massa vascaína. São feitas várias campanhas sociais como o sopão e a campanha do agasalho, além da criação da TV Força no final do ano, sendo a primeira torcida a ter TV própria acessada através do seu site. Era uma resposta direta contra quem queria acabar com as torcidas organizadas mas  utilizando suas imagens para promover os seus produtos: “quando a televisão mostra e faz as chamadas pros jogos, mostram e vendem nosso espetáculo, em torcidas organizadas há muita gente de bem, que é sadia, que tem instrução, respeito e caráter, não podemos deixar essa mídia fajuta, a mesma mídia que lucra com a nossa festa, que vende nossa imagem, nos sufocar, pressionando o nosso fim, dizendo que somos marginais, violentos e tudo mais que ouvimos”, defende André Sagat.
            Durante todo o ano são feitas grandes entrevistas com os membros da nova diretoria da FJV divulgadas pelo site. Em muitas delas não faltam acusações sobre as antigas diretorias: “a torcida vem de guerra em cima de guerra, briga em cima de briga chegou uma hora que ninguém estava agüentando mais (...) uma dívida no qual chegava a quase de 50 mil reais deixada por outras diretorias e que prejudicava a torcida de diversas maneiras” (...) “quando assumimos a torcida, não havia um bambu sequer, tínhamos dois bandeirões, várias bandeiras lindas, bateria maravilhosa, tudo isso foi roubado pela antiga diretoria vendida ao Eurico, será que esses caras são Força Jovem?”.
            Nas entrevistas todas são unânimes em lembrar o passado glorioso da torcida na década de 1990 quando a facção alcançou o seu maior sucesso sendo temida e invejada por todo o país: “a Força trilhou sua grande trajetória na pista, chegando a ser eleita a Melhor Torcida do Brasil, ficamos conhecidos nacionalmente, somos a Torcida com mais vitórias na pista, envolvida nos maiores combates, conquista de territórios, de matérias (faixas, bandeiras, bandeirão, bateria), grandes vitórias em outros estados (...), quem não se lembra da campanha “EI, EURICO, 171”, mas de 2000 até 2007, perdemos espaço, credibilidade, diretores da torcida a venderam literalmente, lucraram muito através dela, abandonaram nossos associados, isso gerou muita briga, desunião, muitos se afastaram, a mística de ser força jovem foi manchada, surgiram dissidências, uma situação lamentável. Agora que estamos voltando, a torcida recuperou a identidade, depois de tantas brigas internas, retornamos aos trilhos” afirmou André Sagat (Paquito), Vice Presidente da Força Jovem do Vasco. Ele também faz um apanhado geral sobre as alianças mantidas pela FJV neste período: Mancha Verde, Galoucura, Cearamor, Mancha Azul, todas do Bahia, Inferno Coral, Fanáutico, Força Jovem do Goiás, as do Paysandu, do Grêmio, Torcida Jovem do Botafogo”.
            O jogo mais marcante da campanha de retorno a série A foi contra o Juventude, no Maracanã, quando milhares de vascaínos tomaram o estádio desde cedo fazendo uma festa inesquecível para os presentes e todo o Brasil, já que a partida foi transmitida ao vivo para todo o país. A FJV realizou um gigantesco Mosaico que cobriu todo o setor verde do Maracanã. Nele estava escrito o nome da Força Jovem. No segundo tempo do jogo, onde o cruzmaltino pode garantir a volta à primeira divisão do futebol brasileiro, torcedores vascaíno recolheram a principal faixa da organizada e abriram uma com os dizeres: "Eurico - 2ª divisão. A história não perdoará. Obrigado Dinamite". Em todo o estádio começaram os gritos de “Ei, Eurico, vai tomar no cu”.
            Apesar de o time ser limitado, a campanha de 2009 entra para a história da torcida como um momento de reerguimento de todos: clube e torcida. A esperança de dias melhores foi o que ficou nos jogos memoráveis deste ano. Em cada vascaíno era possível perceber o orgulho da torcida que passou a usar a camisa do time durante todo o ano e mostrar o seu sentimento de fidelidade. A mensagem no site da FJV antes do campeonato brasileiro parecia ser profética: “Cada capítulo do futuro se escreve no presente. Este é o nosso tempo e a torcida sabe do seu papel e vai fazer a festa, A nossa missão é estar junto ao Vasco da Gama em mais uma histórica virada. Nosso amor não tem divisão”
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

 
Vasco Maracanã 2009

Vasco Maracanã 2009

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