domingo, 27 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1952 SURURU NA BARIRI

     "Eu estou com as massas, e as massas derrubam até governo".
                                                            Gentil Cardoso – técnico campeão em 1952

1952                           Sururu na Bariri

        Em abril a seleção brasileira dava o seu primeiro passo para superar o trauma da derrota de 1950 com a conquista do Torneio Pan-Americano no Chile. Esta foi a primeira vez que o Brasil venceu uma competição internacional fora do país.
            Para comemorar a vitória do selecionado nacional. O presidente Vargas faz uma homenagem aos jogadores presenteando-lhes com uma medalha de ouro na última vez que Vargas comemora o Dia do Trabalho no estádio de São Januário. 1952 veria a ultima festa ser realizada por Vargas no estádio do Vasco da Gama, A festa ainda contou com jogos de futebol e com uma apresentação de basquete dos Harlem Globe-Trotters, seguidos de um show de musicas populares.
Em agosto começava o campeonato carioca que prometia muita disputa entre os principais candidatos ao título. Vencedor da segunda Copa Rio, o Fluminense era apontado pela imprensa como o maior obstáculo para o Vasco.
Enquanto em campo, os grandes clubes brigavam pelo título, fora das quatro linhas o desafio para os torcedores estava nos pequenos estádios de subúrbio. As grandes brigas envolvendo torcedores na década de 1950 ocorriam justamente nos pequenos estádios, em função da superlotação e da presença das torcidas rivais que se somavam aos clubes da região. Geralmente terminavam com poucos feridos e intervenção imediata da polícia que agia com extremo rigor: “confusão no estádio do São Cristóvão entre a policia e os torcedores emocionados as lamentáveis cenas de lançamentos das bombas de gás lacrimogêneo contra a multidão que pagou para assistir um espetáculo e não para ser vítima de uma Polícia Especial, que infelizmente ainda não compreendeu o papel que deve exercer, de mantenedora ordem”.[1]
            Nas lembranças de Armando Giesta, o bairrismo de clubes de subúrbio contra os clubes da Zona Sul provocava uma tensão entre os torcedores visitantes: “em Bangu o pau comia, em Bangu era uma aventura, em Madureira também era brabo. Mas não tinha briga, só na saída, tinha as provocações... Em Bangu você tem que passar aos pés das arquibancadas e eles jogavam coisas de cima. A torcida do Bangu era uma torcida doente. Os clubes pequenos tinham as suas torcidas. Principalmente Bangu e Madureira. Madureira tinha uma senhora torcida...”[2].
Em algumas ocasiões a confusão partia de lugares destinados aos sócios e dirigentes dos clubes que assistiam aos jogos lado-a-lado com os rivais. A cordialidade do anfitrião cedia espaço para a paixão desenfreada: “VIROU “ FAR-WEST” A TABA BARIRI. Há muito tempo que a Torcida não tinha o prazer. A grata satisfação de assistir o tempo fechar tão feio numa partida de futebol, mas não entre os jogadores, porém na própria assistência, e o que ainda é mais grave, entre o público das cadeiras numeradas, ou seja a elite dos pagantes”.
Foi durante um jogo do Vasco contra um clube de subúrbio que Dulce Rosalina acabou se integrando a Torcida Organizada do Vasco. Dulce foi trazida para a TOV por intermédio de Tia Aida, que nos conta como tudo aconteceu: “Estávamos em Teixeira de Castro, campo do Bonsucesso, e uma jovem sentou-se ao meu lado e vibrava muito com os gols do Vasco, foi quando eu a convidei para que fizesse parte da nossa Torcida, e de tal maneira ela se dedicou e se apaixonou que tempos depois entregamos a ela a chefia da Torcida. Ela era uma pessoa muito querida e educada, amava o Vasco acima de tudo, pelo clube ela se doou, deu a sua vida, deixou de cuidar de sua saúde, mas deixou o legado para todas as futuras gerações de vascaínos, de sua imensa paixão pelo Vasco[3].
      Em 1952 a “escrita” contra o Flamengo voltava com novas vitórias do Vasco e a conquista de mais um campeonato. O Expresso ainda se fazia respeitar. Ainda neste ano, em novembro, foram concedidos os títulos de sócio honorários do Vasco a Rachel de Queiroz e Gilberto Freyre. Os dois ilustres escritores eram do Nordeste (ela do Ceará, ele de Pernambuco), região que nos anos 1950 recebia uma forte influência das predileções esportivas em função das transmissões radiofônicas. Essa região será, nesta época, um local de forte emigração para os grandes centros do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo). No Rio de Janeiro, por exemplo, ao longo dos anos 1940 chegaram mais de 700 mil nordestinos numa população de 2,5 milhões.
Os dois clubes continuariam numa disputa fora de campo envolvendo a contratação do técnico Flávio Costa pelo Vasco. O boato de que dirigentes do clube de São Januário o traria de volta estimulou o então treinador do Vasco, Gentil Cardoso, dar uma volta olímpica após a conquista do título acenando com o seu boné para os torcedores e sendo aplaudido pelos mesmos. O jornalista Mario Filho (2003, p. 306) descreve o episódio: “(ele) tratou de buscar apoio dos torcedores, achando que eles lhe garantiriam a sua permanecia. Como o Vasco ia sair desta? Feito um triunfador, Gentil Cardoso entrou no vestiário do Vasco (...) A consagração da torcida subira-lhe a cabeça. A prova é que disse alto, levantando o boné inseparável amassado na mão fechada – as massas estão comigo!”. Logo em seguida acontece um bate-boca entre ele e um grande dirigente do clube. Na mesma semana o técnico estava demitido e, mesmo campeão, a torcida aceitava resignada esta decisão dos dirigentes.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

[1] Fonte: Jornal Sport Ilustrado 06 de Novembro de 1952
[2] Depoimento do torcedor concedida a Jorge Medeiros, em 2008.
[3] Depoimento de Tia Aida concedida a Jorge Medeiros, em 2008.

Vasco Revista Sport Ilustrado 1952

Vasco Jornal dos Sports 1952



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