quarta-feira, 23 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1951 ADEMIR - ÍDOLO NACIONAL

 “zum-zum-zum-zum/ Vasco dois a um”
Canção do 1° título no Maracanã

1951                     Ademir – ídolo Nacional

Com o Maracanã a partir de 1950, o futebol carioca passaria a contar um estádio neutro que alteraria substancialmente a espacialidade das torcidas. Se antes foi comum uma intensa mistura de torcedores de times rivais nas arquibancadas, agora esta mistura estaria deslocada para as gerais e cadeiras azuis. A maior parte do público estaria concentrada nas arquibancadas. Este setor ganharia uma divisão “natural”, entre as tribunas de honra e cadeiras especiais (também neutro), em que cada torcida de cada clube teria o seu local específico. Separadas pela tribuna e cadeiras especiais, de um lado, e pelo meio das arquibancadas (também neutro), de outro lado, as torcidas ganhariam maior identidade própria e, por outro lado, a alteridade serie mais evidenciada.
            Se o sucesso das torcidas organizadas no Maracanã  não se traduziu no seu crescimento numérico, pelo menos, serviu de modelo para os torcedores exteriorizarem seu sentimento de amor ao clube. Neste momento, os chefes de torcidas e/ou torcedores-símbolos acabavam por representar os milhares de torcedores “anônimos”, que representar somente sua torcida. Talvez, esta tenha sido uma das explicações para o não-surgimento de várias torcidas durante estes anos. Havia uma diluição de incentivo e organização em diferentes pontos das arquibancadas. Ao lado de uma massa una e coesa (imagem predominante da imprensa), criavam-se grupos semi-estruturados.
        João de Luca e os torcedores vascaínos tinham motivos de sobra para acreditar que o ano de 1951 seria um ano de novos títulos. Depois da conquista do título de 1950, realizada em janeiro de 1951, o esquadrão cruzmaltino enfrentou a base da seleção do Uruguai, o clube do Penarol, por duas vezes, em abril. E venceu nas duas oportunidades, tanto no Uruguai, no famoso Jogo da Vingança, como no Maracanã.
Pouco depois da Copa de 1950 ficou estabelecido pela FIFA que a Copa do Mundo em 1958 seria na Suécia. Daí surgir o convite dos suecos para a Vasco (o melhor time do Brasil e base da seleção que venceu os suecos por 7 a 1) fazer uma excursão aquele país. Porém, o Vasco declinou o convite pois estava preocupado em manter o elenco no Brasil para se preparar melhor diante do Torneio Internacional de Clubes Campeões – A Copa Rio. Então os suecos escolheram o Flamengo que excursionaria para a Europa pela primeira vez. Ou seja, há exatos 20 anos depois do Vasco. O sucesso do Almirante fazia os rivais reagirem indignados. José Lins do Rego exaltava a torcida do Flamengo: “o torcedor rubro-negro é um autêntico herói. Não é um rasga-carteira, não é um pessimista doente. Está sempre a espera da vitória mesmo quando lhe amarga a boca o perigo da derrota”(COUTINHO, 1995, p.341). Rego reivindica a construção de um monumento ao torcedor rubro-negro.
            O prestígio do Vasco era transferido para seu maior ídolo: no programa “No Mundo da Bola” da Rádio Nacional foi instituído um concurso famoso nos anos 1950: cada ouvinte deveria mandar para a emissora num envelope de Melhoral, o nome do jogador de futebol de sua preferência. O vencedor foi Ademir com 5.304.935 votos. O total de envelopes de Melhoral que chegou a estação foi de 19.105.856 votos.
            Os jogadores de futebol já competiam com os grandes ídolos do rádio e do cinema. Ainda com a TV dando os primeiros passos, o cinema era a maior diversão nacional: em 1950 o cinema recebeu um público total de 180.653.657 para 2.411 salas de exibição. Sendo que neste período a população brasileira era de aproximadamente 52.000.000 de habitantes.
            Em julho de 1951 começa o primeiro mundial de clubes disputado por 8 equipes da Europa e da América do Sul com sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos estádios do Pacaembu e Maracanã. Em princípio, a lista dos participantes incluía clubes da Inglaterra e Espanha. Depois começaram a ocorrer as trocas, finalizando com a chegada ao Brasil do Olympique de Nice (da França), Estrela Vermelha (da Iugoslávia), Juventus (da Itália), Nacional (do Uruguai), Austria Viena (da Áustria) e Sporting (de Portugal).
A maior parte da imprensa esportiva brasileira apontava o Vasco da Gama como o grande favorito para conquistar a competição. Os resultados iniciais com duas goleadas por 5 a 1, confirmavam o favoritismo e o entusiasmo da torcida no Maracanã que recebeu, em média, 90.000 torcedores por partida. No entanto, o Palmeiras surpreende e derrota o Vasco nas semi-finais. O maior jogador da competição foi um ex-jogador do Vasco: Jair da Rosa Pinto, do Palmeiras.
            Nas finais disputadas no Maracanã (em duas partidas) contra o time italiano (Juventus), o Palmeiras conquista o seu grande título. Para surpresa dos paulistas, houve uma grande comemoração no Rio de Janeiro para do título feito pelos torcedores cariocas, quando a equipe palmeirense desfilou em carro aberto pela cidade. Na volta a São Paulo, o Palmeiras foi recebido por uma grande multidão na Estação Roosevelt. No trajeto entre a estação e o Parque Antártica, o povo aglomerou-se em todos os lugares possíveis para reverenciar os campeões.
            Restava aos vascaínos se resignar com a perda do título internacional e torcer pelo tricampeonato estadual. Uma das preocupações das torcidas organizadas durante os campeonatos cariocas eram os jogos contra os clubes de subúrbio e a força de suas torcidas em seus pequenos estádios, com o reforço das torcidas dos grandes clubes, rivais do Vasco. Os jornais convocavam os vascaínos para se juntarem a torcida com a sua tradicional faixa e os sons dos clarins:  “já funcionou no jogo contra o Canto do Rio, a Torcida Organizada Vascaína para o Tri Campeonato, tendo a frente João de Lucca, que atendendo ao apelo feito pelos jogadores, agora com Toni, para levar a todos os campos o tradicional grito de guerra que tanto incentivo e entusiasmo tem dado aos jogadores para a conquista da vitória. Amanhã, no Campo do São Cristóvão, lá estará a dupla De Lucca e Toni com os clarins e uma grande painel com a legenda “Com o Vasco, onde Estiver o Vasco”, esperando a colaboração de todos os Vascaínos[1].
Neste mesmo dia é anunciada a criação do monumento ao torcedor carioca em São Paulo, como parte das homenagens da diretoria do Palmeiras, campeão mundial em 1951 no Maracanã, que contou com o apoio dos cariocas. Na ocasião os três principais lideres da torcida carioca, João de Lucca, do Vasco, Jaime de Carvalho, do Flamengo e Antônio Leal Guimarães, do Fluminense, recebiam passagens para a capital paulista prestigiar o evento em comemoração a conquista da Copa Rio, o primeiro torneio internacional de clubes.
            Com a sequencia dos jogos do campeonato carioca, a equipe não consegue reeditar as grandes exibições do ano anterior e perde muitos jogos, inclusive para o Flamengo. O Vasco foi perder para o rival em setembro, depois de seis anos invicto. O Vasco ficou todo este tempo invicto, acumulando 15 vitórias e 5 empates (Assaf e Martins, 1999).
            Em outubro, o Jornal dos Sports promove durante o Fla-Flu uma competição entre as torcidas, tentando reeditar, agora no Maracanã, a disputa criada em 1936. A intenção dos criadores do evento era estimular o público a seguir o exemplo das principais lideranças das torcidas e dar maior visibilidade a festa que estas faziam. A partida contou ainda com a presença do Presidente da República, Getúlio Vargas, o que não era muito comum.
            Os dois clubes se juntavam a setores importantes da imprensa para garantir
 que o clássico “mais charmoso da cidade”, continuasse a ser o mais tradicional. O Expresso saía do trilho no final de 1951, mas prometia voltar no ano seguinte...
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal dos Sports 24 de Agosto de 1951

Vasco Jornal dos Sports 1951

Vasco Centro de Memória do Vasco 1951


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