“zum-zum-zum-zum/ Vasco dois a um”
Canção do 1° título
no Maracanã
1951 Ademir – ídolo Nacional
Com
o Maracanã a partir de 1950, o futebol carioca passaria a contar um estádio
neutro que alteraria substancialmente a espacialidade das torcidas. Se antes
foi comum uma intensa mistura de torcedores de times rivais nas arquibancadas,
agora esta mistura estaria deslocada para as gerais e cadeiras azuis. A maior
parte do público estaria concentrada nas arquibancadas. Este setor ganharia uma
divisão “natural”, entre as tribunas de honra e cadeiras especiais (também
neutro), em que cada torcida de cada clube teria o seu local específico.
Separadas pela tribuna e cadeiras especiais, de um lado, e pelo meio das
arquibancadas (também neutro), de outro lado, as torcidas ganhariam maior
identidade própria e, por outro lado, a alteridade serie mais evidenciada.
Se o sucesso das torcidas
organizadas no Maracanã não se traduziu
no seu crescimento numérico, pelo menos, serviu de modelo para os torcedores
exteriorizarem seu sentimento de amor ao clube. Neste momento, os chefes de
torcidas e/ou torcedores-símbolos acabavam por representar os milhares de
torcedores “anônimos”, que representar somente sua torcida. Talvez, esta tenha
sido uma das explicações para o não-surgimento de várias torcidas durante estes
anos. Havia uma diluição de incentivo e organização em diferentes pontos das
arquibancadas. Ao lado de uma massa una e coesa (imagem predominante da
imprensa), criavam-se grupos semi-estruturados.
João de Luca e os torcedores vascaínos tinham motivos
de sobra para acreditar que o ano de 1951 seria um ano de novos títulos. Depois
da conquista do título de 1950, realizada em janeiro de 1951, o esquadrão
cruzmaltino enfrentou a base da seleção do Uruguai, o clube do Penarol, por duas
vezes, em abril. E venceu nas duas oportunidades, tanto no Uruguai, no famoso Jogo da Vingança, como no
Maracanã.
Pouco
depois da Copa de 1950 ficou estabelecido pela FIFA que a Copa do Mundo em 1958
seria na Suécia. Daí surgir o convite dos suecos para a Vasco (o melhor time do
Brasil e base da seleção que venceu os suecos por 7 a 1) fazer uma excursão
aquele país. Porém, o Vasco declinou o convite pois estava preocupado em manter
o elenco no Brasil para se preparar melhor diante do Torneio
Internacional de Clubes Campeões – A Copa Rio. Então os suecos escolheram o Flamengo que excursionaria
para a Europa pela primeira vez. Ou seja, há exatos 20 anos depois do Vasco. O
sucesso do Almirante fazia os rivais reagirem indignados. José Lins do Rego exaltava
a torcida do Flamengo: “o torcedor rubro-negro é um autêntico herói. Não é um
rasga-carteira, não é um pessimista doente. Está sempre a espera da vitória
mesmo quando lhe amarga a boca o perigo da derrota”(COUTINHO, 1995, p.341).
Rego reivindica a construção de um monumento ao torcedor rubro-negro.
O prestígio do Vasco era transferido
para seu maior ídolo: no programa “No Mundo da Bola” da Rádio Nacional foi
instituído um concurso famoso nos anos 1950: cada ouvinte deveria mandar para a
emissora num envelope de Melhoral, o nome do jogador de futebol de sua
preferência. O vencedor foi Ademir com 5.304.935 votos. O total de envelopes de
Melhoral que chegou a estação foi de 19.105.856 votos.
Os jogadores de futebol já competiam
com os grandes ídolos do rádio e do cinema. Ainda com a TV dando os primeiros
passos, o cinema era a maior diversão nacional: em 1950 o cinema recebeu um
público total de 180.653.657 para 2.411 salas de exibição. Sendo que neste
período a população brasileira era de aproximadamente 52.000.000 de habitantes.
Em julho de 1951 começa o primeiro
mundial de clubes disputado por 8 equipes da Europa e da América do Sul com
sedes em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos estádios do Pacaembu e Maracanã. Em
princípio, a lista dos participantes incluía clubes da Inglaterra e Espanha.
Depois começaram a ocorrer as trocas, finalizando com a chegada ao Brasil
do Olympique de Nice (da
França), Estrela Vermelha (da Iugoslávia), Juventus (da Itália), Nacional (do
Uruguai), Austria Viena (da Áustria) e Sporting (de Portugal).
A
maior parte da imprensa esportiva brasileira apontava o Vasco da Gama como o
grande favorito para conquistar a competição. Os resultados iniciais com duas
goleadas por 5 a 1, confirmavam o favoritismo e o entusiasmo da torcida no
Maracanã que recebeu, em média, 90.000 torcedores por partida. No entanto, o
Palmeiras surpreende e derrota o Vasco nas semi-finais. O maior jogador da
competição foi um ex-jogador do Vasco: Jair da Rosa Pinto, do Palmeiras.
Nas finais disputadas no Maracanã (em
duas partidas) contra o time italiano (Juventus), o Palmeiras conquista o seu
grande título. Para
surpresa dos paulistas, houve
uma grande comemoração no Rio de Janeiro para do título feito pelos torcedores
cariocas, quando a equipe palmeirense desfilou em carro aberto pela cidade. Na
volta a São Paulo, o Palmeiras foi recebido por uma grande multidão na Estação
Roosevelt. No trajeto entre a estação e o Parque Antártica, o povo aglomerou-se
em todos os lugares possíveis para reverenciar os campeões.
Restava aos vascaínos se resignar
com a perda do título internacional e torcer pelo tricampeonato estadual. Uma
das preocupações das torcidas organizadas durante os campeonatos cariocas eram
os jogos contra os clubes de subúrbio e a força de suas torcidas em seus
pequenos estádios, com o reforço das torcidas dos grandes clubes, rivais do
Vasco. Os jornais convocavam os vascaínos para se juntarem a torcida com a sua
tradicional faixa e os sons dos clarins:
“já funcionou no jogo contra o Canto do Rio, a Torcida Organizada
Vascaína para o Tri Campeonato, tendo a frente João de Lucca, que atendendo ao
apelo feito pelos jogadores, agora com Toni, para levar a todos os campos o
tradicional grito de guerra que tanto incentivo e entusiasmo tem dado aos
jogadores para a conquista da vitória. Amanhã, no Campo do São Cristóvão, lá
estará a dupla De Lucca e Toni com os clarins e uma grande painel com a legenda
“Com o Vasco, onde Estiver o Vasco”, esperando a colaboração de todos os Vascaínos[1].
Neste mesmo dia é anunciada a criação do monumento ao
torcedor carioca em São Paulo, como parte das homenagens da diretoria do
Palmeiras, campeão mundial em 1951 no Maracanã, que contou com o apoio dos
cariocas. Na ocasião os três principais lideres da torcida carioca, João de
Lucca, do Vasco, Jaime de Carvalho, do Flamengo e Antônio Leal Guimarães, do
Fluminense, recebiam passagens para a capital paulista prestigiar o evento em
comemoração a conquista da Copa Rio, o primeiro torneio internacional de clubes.
Com a
sequencia dos jogos do campeonato carioca, a equipe não consegue reeditar as
grandes exibições do ano anterior e perde muitos jogos, inclusive para o
Flamengo. O Vasco foi perder para o rival em setembro, depois de seis anos
invicto. O Vasco ficou todo este tempo invicto, acumulando 15 vitórias e 5
empates (Assaf e Martins,
1999).
Em outubro, o Jornal dos Sports
promove durante o Fla-Flu uma competição entre as torcidas, tentando reeditar,
agora no Maracanã, a disputa criada em 1936. A intenção dos criadores do evento
era estimular o público a seguir o exemplo das principais lideranças das
torcidas e dar maior visibilidade a festa que estas faziam. A partida contou
ainda com a presença do Presidente da República, Getúlio Vargas, o que não era
muito comum.
Os dois clubes se juntavam a setores
importantes da imprensa para garantir
que o clássico “mais charmoso da cidade”, continuasse a ser o mais tradicional. O Expresso saía do
trilho no final de 1951, mas prometia voltar no ano seguinte...
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: Jornal dos Sports 24 de Agosto
de 1951
Vasco Jornal dos Sports 1951 |
Vasco Centro de Memória do Vasco 1951 |
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