quarta-feira, 16 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1949 GILDA NA COLINA

   “Heleno foi saudado com intermináveis palmas"
Primeiro treino do atacante no Vasco

1949                          Gilda na Colina
            
            A preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo em 1950 passava por um teste importante em São Januário com a competição do Sul-Americano em 1949. Com a ausência da Argentina, em função dos conflitos e do rompimento das relações em 1946, o maior adversário era o Uruguai. Mas, para surpresa geral, a final foi contra a seleção do Paraguai.
            Em maio o Arsenal, clube tradicional inglês, visitava o país pela primeira vez. Para a imprensa brasileira, era uma antecipação de uma possível final entre o selecionado inglês e o brasileiro para a Copa de 1950. Foram jogos que levaram milhares de pessoas a São Januário. Jogando contra Fluminense, Vasco e Flamengo, respectivamente, os ingleses puderam conhecer de perto a paixão dos brasileiros pelo esporte criado por eles.
            Nesta época estavam proibidas as substituições durante as partidas, menos nos jogos amistosos. No intervalo do jogo com o Arsenal, a torcida vascaína em coro pedia a entrada de Heleno já que o jogo estava empatado e todos queriam ver a estreia do atacante. Ao entrar em campo o novo ídolo contribuiu para a vitória dos brasileiros por 1 a 0. O craque temperamental voltava ao Rio depois de uma temporada frustrada na Argentina atuando pelo Boca Juniors.
Antes de ser contratado pelo Vasco, Heleno primeiro tentou voltar ao seu clube de coração, o Botafogo. No entanto, no início de 1949, a esperança de retornar ao clube e regressar aos braços da torcida havia fracassado. Após a recusa de seu ex-clube apareceu a oportunidade de Heleno integrar o “Expresso da Vitória”. Mesmo repleto de atacantes de primeira linha, a presença de Heleno era vista pelos dirigentes vascaínos como a oportunidade de aumentar a arrecadação do clube: “o primeiro treino de Heleno no Vasco foi cercado de grande expectativa. Portões abertos em São Januário, confusão do lado de fora, um desavisado que pelas redondezas passasse pensaria que era dia de jogo. Ao entrar com o novo uniforme, Heleno foi saudado com intermináveis palmas por vascaínos uniformizados (Neves, 2006, p.106). Em sua estréia contra o time inglês do Arsenal ele foi “aplaudido  por todos, ovação para Heleno. Quando o ídolo tocou pela primeira vez na bola gritos histéricos eclodiram no estádio” (Neves, op.cit., p.106). Sua volta não poderia ser em melhor hora e no time mais importante do país naquele momento:  atual campeão sul-americano e base da seleção na futura Copa de 50. A campanha  do Vasco em 1949 foi inesquecível e Heleno pode, pela primeira vez, comemorar um campeonato carioca. Invicto e com números impressionantes:   84 gols em 20 partidas.
            Nem tudo era festa, brigando com companheiros de clube, se indispondo com o técnico Flavio Costa, não foram poucas as vezes que Heleno se meteu em confusão também no Vasco. Brigava por tudo e com todos. Ao assistir a um jogo entre Vasco e Botafogo nas sociais de seu ex-clube, para sua surpresa, ele não foi poupado pelos seus fiéis admiradores. Acusado de traidor, o atacante acabou brigando com torcedores.
            Chamado de Gilda pelos adversários, o atacante se transformava e foi em um Vasco e Flamengo na Gavea que o tempo fechou. Hostilizado pela torcida rubor-negra, ele pula o alambrado e parte para cima dos torcedores rivais. (NEVES, 2006, p.204).
Este ano foi marcado por jogos internacionais e pela rivalidade entre as torcidas e seus maiores craques. Depois do Arsenal foi a vez da temporada do Rapid de Viena disputar partidas no Rio de Janeiro. Um episódio que marcou a torcida do Vasco foi a atitude do maior ídolo do Flamengo nos anos 1940, o meia Zizinho, que “deixou o gramado em face de uma recomendação da autoridade policial que surpreendeu o atleta rubro-negro fazendo gestos condenáveis para o público localizado na parte social do Vasco” era a notícia do Jornal dos Sports no dia 21 de junho. Em depoimento ao escritor Edilberto Coutinho (1995, p.264), o atleta dá sua versão para o incidente: “jogos em São Januário era vaia o tempo todo. Não podia ir na bola. A torcida me tratava como inimigo (..) naquele dia, não me contive. Deixei o calção cair até os pés. Aí veio um senhor que estava na social do Vasco exigir que eu fosse preso”.
            Outro jogo que mobilizou a atenção dos torcedores foi o clássico entre Vasco e Flamengo em São Januário. O Flamengo, liderado pelo ex-vascaíno Jair da Rosa Pinto faz 2 a 0 nos minutos iniciais. Em seguida Jair perde um gol feito. Então o Vasco iniciou uma fulminante reação, marcando um, dois, três, quatro, cinco gols, terminando com a goleada por 5 a 2 e a revolta da torcida rubro negra incentivada pelo locutor Ary Barroso que acusa o jogador de covardia e pede para a torcida invadir o vestiário e queimar a sua camisa. A lenda deste episódio marcou a vida de Jair que resolve abandonar o clube e se transferir para o Palmeiras.
            A rivalidade entre os dois clubes está em todos os lados. Em dezembro, um torcedor do Vasco incita a sua torcida ao distribuir ao manifesto contra o colunista do Jornal dos Sports, José Lins do Rego, pedindo uma grande vaia quando ele fosse novamente para a tribuna de honra em São Januário. O escritor resolve publicar o protesto em sua coluna com o título “as fúrias de um torcedor”. Este reclama do tratamento vip dado pelo seu clube para o colunista ao contrário “do grande número de sócios (que) assiste de pé, mal acomodado, acotovelado ou ensanduichado, as partidas do clube. Refastelado na tribuna de honra do nosso clube, o peralta torce rasgadamente contra este. Por isso, perguntamos aos vascaínos – que devemos fazer com o ‘do Rego’? É merecedor de uma grande vaia”.
            A década chega ao fim consagrando um dos maiores períodos de vitória para o clube e de profundas alegrias para a torcida vascaína que aguarda para o ano seguinte a Copa do Mundo de 1950 e sua estréia no Maracanã.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Revista da Semana 1949

Vasco Jornal O Globo Esportivo 1949







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