“A PASSEATA DOS VASCAÍNOS”
Manchete do Jornal
1947 Carnaval em São Januário
Contratados
junto ao Madureira no início dos anos 1940 os três patetas (Lelé, Isaías e
Jair) fizeram grande sucesso no Vasco nestes anos. No entanto, em 1947 o trio
começa a ser desfeito. Com a venda de Jair para o Flamengo em março e com a doença (tuberculose) e o afastamento
dos gramados de Isaías que acabou levando-o a morte em abril.
A
grande contratação do Vasco nesta temporada foi a do técnico Flávio Costa que
tracava o Flamengo pelo nosso clube. A saída do treinador mobilizou os
dirigentes e sócios rubro-negros para uma ação de represália com o rival. Em
reuio~es na Confeitaria Colombo, membros do grupo Dragão Negro, formado por
sócios endinheirados, acertam a contratação do atacante Jair Rosa Pinto.
Durante praticamente dois meses os dois clubes travam pela imprensa uma disputa
pelo passe do jogador. Em seu novo clube, Jair jamais venceu o Vasco e se
envolverá em um episódio dramático em 1949, quando saiu “expulso” da Gávea.
Depois
dessa disputa, o treinador Flávio Costa dirige a equipe carioca. Como sempre, a
rivalidade entre cariocas e paulista estava em alta durante o campeonato
brasileiro de seleções. Os cariocas venceram em São Januario e conquistaram o
tricampeonato. A base da equipe local era o time do Vasco.
Em
seguida vem os jogos da seleção brasileira, treinada por Flávio Costa. Em
função da briga com os Argentinos em 1946, restou o Uruguai como maior
adversário do Brasil nos próximos anos. Para disputar a Taça Rio Branco no
Brasil, os jogadores fazem um apelo ao público carioca já que na primeira
partida em São Paulo, a torcida vaiou a seleção. Foi escrita uma carta ao
torcedores pedindo o apoio e incentivo dos cariocas.
Mesmo
com um elenco de fazer inveja haviam dúvidas se o Expresso ia continuar em
forma. Para reforçar o elenco foi contratado o atacante Maneca. No meio do ano
o clube fazia sua segunda excursão a Europa (a primeira foi em 1931) para
amistosos em Portugal e na Espanha para disputar o Troféu Teresa Herrera. Para
o jornalista Tomas Mazzoni em sua obra “História do futebol do Brasil
(1894-1950), a viagem do Vasco “ foi o melhor feito internacional de nossa vida
esportiva em 1947. Mesmo o escritor rubro-negro José Lins do Rego se rende ao
sucesso do Vasco no exterior e afirma: “continua o Vasco a honrar com brilho o
futebol brasileiro (...) pela bravura e pela classe de sua equipe, mostrou o
tricampeão do Municipal que é, de fato, uma verdadeira seleção de valores”
(COUTINHO, 1995, p.174). Na ocasião os jornais destacam o apoio da torcida
vascaína prestigiando os jogadores no embarque no aeroporto carioca.
De
volta ao Brasil, os jogadores se preparavam para o campeonato carioca e
acompanhavam a pesquisa no Jornal dos Sports sobre a construção de um estádio para
a Copa do Mundo. Chegou-se a especular sobre a reforma de São Januário com a
ampliação de sua capacidade. Ari Barroso, rubro negro, locutor e vereador foi
contra, fazendo campanha pela cidade. O resultado final deu quase 80% de
aprovação para a construção de um novo estádio. A dúvida seria o local. Alguns
sugeriam o Maracanã no local do Derby Clube e outros sugeriam Jacarepaguá (com
apoio do vereador Carlos Lacerda).
Uma matéria no Jornal dos Sports anuncia a criação de um grupo
organizado no Vasco para incentivar o time acompanhado de uma charanga e com a
finalidade de arrecadar dinheiro para premiar os jogadores. Não é uma nova
torcida organizada porque um dos homenageados pelo grupo é João de Lucca, chefe
da TOV, talvez fosse um grupo político de sócios em torno da figura de Jose do
Amaral Ozorio, presidente de honra do coletivo: “FUNDA-SE O GRÊMIO DOS QUERIDOS
DO VASCO. Uma agremiação de grande potencialidade vem de ser fundada nesta
capital, contando desde já com 100 Vascaínos de verdade. A nobel organização
denomina-se Queridos do Vasco. O grêmio é composto de 100 “Vascaínos de
Verdade”, terá uma Charanga Uniformizada, para
auxiliarem o glorioso Vasco da Gama, a levantar o campeonato de 1947,
invicto. Cada componente do grêmio contribuirá com uma verba especial, para no
fim do campeonato, premiar os jogadores profissionais e reservas”[1].
Até o
final do ano o Expresso reviveu os melhores momentos de 1945 com uma campanha
de fazer inveja, inclusive com a goleada de 14 a 1 sobre o Canto do Rio. Fora
do campo a torcida se preparava de todas as maneira para não dar espaço para os
rivais prestigiarem os adversários, especialmente os clubes de subúrbio. Foi o
caso do jogo contra o Olaria na rua Bariri, quando os líderes da TOV foram
antes estudar os principais locais para a torcida do Vasco ficar: “há pontos
considerados estratégicos no local, como sejam as portas dos vestiários dos
jogadores e as proximidades dos gols. De qualquer maneira a enorme massa de
aficionados do Vasco espera estar dentro do campo, no máximo as 11 horas da
manhã, fato que lhe virá garantir uma situação privilegiada no esperado duelo
de incentivo com os fans locais”[2].
Organizar uma torcida no estádio ou
junto de um grupo de amigo de uma mesma região tornava-se uma atividade
rotineira dos aficionados do futebol. Em vários lugares os adeptos iam se
organizando para se deslocarem aos estádios ou se agruparem próximos e
incentivar o time de forma mais ostensiva. Um leitor pede apoio ao JS para
divulgar sua torcida organizada: “sou um dos maiores torcedores do Vasco. Reuni
no Bairro onde moro, a Rua Barreiros, na Estação de Ramos, admiradores do
pavilhão da Cruz de Malta. Tendo o seu número já se elevado a 30, tomei a
iniciativa de organizar uma torcida Uniformizada para incentivar os jogadores
do nosso clube a conquista do Campeonato da Cidade. Adianto mais, estamos em
negocio com a casa Superball para obtenção imediata dos uniformes. Assim sendo,
peço que V. S. que, pelas colunas do Jornal dos Sports, faça um apelo a todos
os Vascaínos no sentido de aderirem a nossa Torcida Organizada, bastando para
tanto, dar o meu endereço[3]”.
Enquanto em campo o time parecia imbatível fora dos
gramados a competição entre as torcidas era o “Concurso da Bala Sportiva”, com
os torcedores juntando papeis para eleger o maior ídolo da galera.
Fim do campeonato e título conquistado por antecipação,
restou aos vascaínos comemorar durante vários dias mais uma conquista memorável.
Depois do último ao derrotar o Madureira, em 28 de dezembro, a torcida preparou
um cortejo, com 12 carros alegóricos, e cerca de mil automóveis. Partiu com os
automóveis da Rua Conselheiro Galvão, promovendo a maior carreata pela cidade.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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