quarta-feira, 30 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1953 CARNAVAL EM JANEIRO


                                                                     “se a canoa não virar, olê. olê , olá”
                                                                        marchinha nas arquibancadas

1953                 Carnaval de Janeiro a Dezembro

Depois de decepcionar a torcida em 1951, o Expresso da Vitória voltava a triturar os adversários e conquistava o título de 1952 no início do ano seguinte. Como era véspera de carnaval, a festa foi completa se estendendo por diversos dias com direito a folia em São Januário, criação de marchinhas e desfile carnavalesco em pleno centro da cidade. “Inteiramente iluminado, São Januário reviveu suas noites de maior esplendor. As sirenas soando, sem parar, como incessante também se fazia ouvir o estourar dos foguetes, Os casacas, então, nem é necessário falar, Casacas ao Vasco, como o foram dedicados ao Presidente Cyro Aranha, seus diretores e ao técnico Gentil Cardoso. (...) Registro-se um desfile improvisado de autênticas Escolas de Samba, com faixas trazendo inscrições alusivas ao feito cruzmaltino, recebiam saudações entusiastas do público, a sua passagem. Até parodias surgiram de imediato, como aquela da marchinha “Você pensa que cachaça é água”. Cantavam na assim:
“Você pensa que o Vasco é sopa
O Vasco não é sopa não
Sem jogar com o Olaria
O Vasco já é Campeão.”[1]

“O corso constou de cerca de mil automóveis, vários carros alegóricos e algumas Escolas de Samba, e a sua organização esteve a cargo do Chefe da Torcida Organizada do Vasco, Sr. João de Lucca”[2].
Mas a temporada vitoriosa estava só começando. Em fevereiro, jogando o Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro (Boca Juniors, Racing, Flamengo), O Vasco conquista o campeonato ao vencer o Flamengo por 5 a 2. Uma goleada para mostrar toda a força do Expresso.
Dois meses depois o clube volta para Santiago no Chile (onde foi campeão em 1948) e conquista mais um troféu. Porém, o melhor estava a caminho com a disputa de um torneio internacional no Brasil.
No mesmo mês que o Vasco vencia mais um torneio internacional, estreava no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, A Falecida, de Nelson Rodrigues. No primeiro ato de sua peça alguns homens discutem sobre a partida do Vasco que se realizaria no domingo, no Maracanã. O futebol era a obsessão de Tuninho, um dos personagens centrais da peça. Vascaíno fervoroso e desempregado, ele seria capaz de apostar em seu time contra todo o Maracanã, se tivesse dinheiro para tal: “TUNINHO – Seja 150 ou 200 mil pessoas. Não importa. Até aí morreu o Neves. Pois eu, se tivesse o dinheiro, dinheiro meu, no bolso, eu, sozinho, apostava com 200 mil pessoas no Vasco. Havia de esfregar a gaita assim, na cara das 200 mil pessoas, desacatando: “Seus cabeças-de-bagre! Dois de vantagem e sou Vasco!” Te juro que ia fazer a minha independência, que ia lavar a égua”
O fanatismo dos torcedores e a fidelidade destes aos seus clubes pode ser medida pelo acompanhamento permanente em todos os estádios. Para a temporada na Argentina e no Chile, a torcida vascaína foi representada por um grupo de torcedores liderados pelo chefe da TOV, João de Lucca. Batizada de Embaixada Torcedora, o que não era uma novidade pois este nome que já era utilizada nos anos 1930. Mas também servia para antecipar uma possivel embaixada da torcida brasileira na Copa da Suiça em 1954. O tom da reportagem faz um exagero da figura do lider vascaíno e sua atuação teria surpreendido os argentinos. No entanto, qualquer pesquisa saberia apontar para o exagero pois as torcidas argentinas tinham um alto grau de participação. Eis a reportagem do enviado especial: “João de Lucca fez furor no Chile. Só quem esta convivendo com os componentes da brilhante embaixada que o Vasco da Gama mandou a Buenos Aires e agora a Santiago, pode testemunhar o muito de sacrifício, abnegação, compreensão e disciplina por todos empregados na defesa do desporto nacional, em sua até agora triunfal campanha.... João de Lucca é sem favor algum, uma das figuras de proa da delegação cruz maltina. Comandando os célebres Casacas em todos os cantos a que chega a imediatamente requestrado os dirigentes do Racing tentaram de todos os modos, prende-los em Buenos Aires, por um mês a fim de que ele discipline a Hinchada do tricampeão Argentino. Claro está que De Lucca não aceitou, todavia, isso serve para que se comprove o sucesso que o Chefe da Torcida Organizada no Chile e na Argentina” [3].
Enquanto a viagem da torcida vascaína para a Argentina e o Chile foi um sucesso o mesmo não aconteceu na caravana para Santos, em junho, para acompanhar o time na última partida do Torneio Rio-São Paulo, terminando com uma tragédia automobilistica no acidente em que 7 torcedores morreriam. No mesmo caminho de volta ocorre outro problema com um “violento conflito entre torcedores do Vasco e populares que se encontravam nas proximidades de um bar, onde os componentes da caravana pararam para fazer ligeiro lanche. Os torcedores do Vasco foram vaiados e os veículos apedrejados, o que deu causa ao conflito, somente dominado após a chegada de uma tropa de choque da Força Pública e viaturas da Rádio Patrulha” [4]. Para este jogo foram mobilizadas centenas de torcedores na maior caravana da torcida vascaína até então (4 ônibus, 25 caminhonetes e dezenas de automóveis). O time vinha embalado depois de vencer o Corinthians no Maracanã e assumido a liderança do campeonato. O clube paulista trouxe uma imensa legião de torcedores (5 mil pessoas), na chamada “invasão do maracanã”. Os dois clubes lideravam não somente o campeonato, como eram os líderes nas rendas, com vantagem para o clube carioca. Esta disputa acirrada explica a tensão entre as duas torcidas e a animosidade que continuaria nas semifinais do octogonal no mês seguinte.
Em junho e julho, oito clubes disputam o Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer (Fluminense, Botafogo e Hibernian-Escócia, na chave do Vasco e na outra chave São Paulo, Corinthians, Olympia- Paraguai e Sporting). O Vasco derrotou o Corinthians nas semifinais e o São Paulo nas finais.
A partir deste campeonato a nova grande estrela da torcida vascaína era o atacante Pinga, contratado junto a Portuguesa-SP, na maior contratação do futebol brasileiro da época. O novo camisa 10 do Vasco vestia também o uniforme da seleção no Sul-Americano no Peru. Na seleção do Brasil  que disputou o Sul-Americano no Peru, em março, foram convocados do Vasco os jogadores Barbosa, Ely, Danilo, Haroldo, Ipojucan e Ademir.
A expectativa da torcida era o Expresso continuar dominando o futebol carioca. Neste ano a novidade foi a inclusão de um terceiro turno com a disputa dos seis clubes com as melhores campanhas nos dois turnos iniciais. E, assim como nos anos anteriores, o campeonato de 1953 não terminaria neste ano.
Para os vascaínos o segundo semestre seria de grandes emoções nos esportes amadores. O seu clube conseguia fazer da natação e do atletismo um motivo de orgulho. Em agosto era inaugurado o Parque Aquático, “o maior e mais moderno da cidade”. E, em outubro, os atletas vascaínos conquistavam o 2° troféu Brasil de Atletismo, em São Paulo, acompanhado da torcida organizada: “o estádio do Tietê na Ponte Grande parecia ser carioca. Ouviam-se os Casacas como se a vitória houvesse sido obtida em São Januário com algazarra e entusiasmo, e até comandados pelo João de Lucca, o Chefe da Torcida Organizada, que acompanhou em São Paulo a consagração da equipe da colina como a maior do país”[5].
Enquanto os adeptos futebol ficavam esperando os jogos finais do campeonato de 1953 a serem disputados em janeiro de 1954, os torcedores vascaínos terminavam o ano comemorando o décimo título seguido no remo. Em dezembro a torcida cruzmaltina lotou as arquibancadas do estádio da Lagoa para acompanhar o decacampeonato (um título inédito). O ano fechava com chave de ouro: Campeão de Terra e Mar (em janeiro campeonato de futebol de1952 e dezembro no remo), além dos títulos internacionais no Chile (abril) e Maracanã (junho-julho).
  Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: Jornal O Globo 19 de Janeiro de 1953.
[2] Fonte: Jornal A Noite 26 de Janeiro de 1953.
[3] Fonte: Jornal Última Hora 06 de Abril de 1953.
[4] Fonte: Jornal O Globo 05 de Junho de 1953.
[5] Fonte: Jornal Última Hora 20 de Outubro de 1953.

Vasco Jornal A Noite Suplemento 1952

Vasco Jornal O Globo 1952

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