“se
a canoa não virar, olê. olê , olá”
marchinha nas arquibancadas
1953 Carnaval de Janeiro a Dezembro
Depois
de decepcionar a torcida em 1951, o Expresso da Vitória voltava a triturar os
adversários e conquistava o título de 1952 no início do ano seguinte. Como era
véspera de carnaval, a festa foi completa se estendendo por diversos dias com
direito a folia em São Januário, criação de marchinhas e desfile carnavalesco
em pleno centro da cidade. “Inteiramente iluminado, São Januário reviveu suas
noites de maior esplendor. As sirenas soando, sem parar, como incessante também
se fazia ouvir o estourar dos foguetes, Os casacas, então, nem é necessário
falar, Casacas ao Vasco, como o foram dedicados ao Presidente Cyro Aranha, seus
diretores e ao técnico Gentil Cardoso. (...) Registro-se um desfile improvisado
de autênticas Escolas de Samba, com faixas trazendo inscrições alusivas ao
feito cruzmaltino, recebiam saudações entusiastas do público, a sua passagem.
Até parodias surgiram de imediato, como aquela da marchinha “Você pensa que
cachaça é água”. Cantavam na assim:
“Você
pensa que o Vasco é sopa
O
Vasco não é sopa não
Sem
jogar com o Olaria
O
Vasco já é Campeão.”[1]
“O corso constou de cerca de mil automóveis, vários carros alegóricos e algumas
Escolas de Samba, e a sua organização esteve a cargo do Chefe da Torcida
Organizada do Vasco, Sr. João de Lucca”[2].
Mas a temporada vitoriosa estava só começando. Em fevereiro, jogando o
Quadrangular Internacional do Rio de Janeiro (Boca Juniors, Racing, Flamengo),
O Vasco conquista o campeonato ao vencer o Flamengo por 5 a 2. Uma goleada para
mostrar toda a força do Expresso.
Dois meses depois o clube volta para Santiago no Chile (onde foi campeão
em 1948) e conquista mais um troféu. Porém, o melhor estava a caminho com a
disputa de um torneio internacional no Brasil.
No mesmo mês que o Vasco
vencia mais um torneio internacional, estreava no Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, A Falecida, de Nelson Rodrigues. No primeiro ato de sua peça alguns
homens discutem sobre a partida do Vasco que se realizaria no domingo, no
Maracanã. O futebol era a obsessão de Tuninho, um dos personagens centrais da
peça. Vascaíno fervoroso e desempregado, ele seria capaz de apostar em seu time
contra todo o Maracanã, se tivesse dinheiro para tal: “TUNINHO – Seja 150 ou
200 mil pessoas. Não importa. Até aí morreu o Neves. Pois eu, se tivesse o
dinheiro, dinheiro meu, no bolso, eu, sozinho, apostava com 200 mil pessoas no Vasco.
Havia de esfregar a gaita assim, na cara das 200 mil pessoas, desacatando:
“Seus cabeças-de-bagre! Dois de vantagem e sou Vasco!” Te juro que ia fazer a
minha independência, que ia lavar a égua”
O fanatismo dos torcedores e a fidelidade destes aos seus clubes pode
ser medida pelo acompanhamento permanente em todos os estádios. Para a
temporada na Argentina e no Chile, a torcida vascaína foi representada por um
grupo de torcedores liderados pelo chefe da TOV, João de Lucca. Batizada de
Embaixada Torcedora, o que não era uma novidade pois este nome que já era
utilizada nos anos 1930. Mas também servia para antecipar uma possivel
embaixada da torcida brasileira na Copa da Suiça em 1954. O tom da reportagem
faz um exagero da figura do lider vascaíno e sua atuação teria surpreendido os
argentinos. No entanto, qualquer pesquisa saberia apontar para o exagero pois
as torcidas argentinas tinham um alto grau de participação. Eis a reportagem do
enviado especial: “João de Lucca fez furor no Chile. Só quem esta convivendo
com os componentes da brilhante embaixada que o Vasco da Gama mandou a Buenos
Aires e agora a Santiago, pode testemunhar o muito de sacrifício, abnegação,
compreensão e disciplina por todos empregados na defesa do desporto nacional,
em sua até agora triunfal campanha.... João de Lucca é sem favor algum, uma das
figuras de proa da delegação cruz maltina. Comandando os célebres Casacas em
todos os cantos a que chega a imediatamente requestrado os dirigentes do Racing
tentaram de todos os modos, prende-los em Buenos Aires, por um mês a fim de que
ele discipline a Hinchada do tricampeão Argentino. Claro está que De Lucca não
aceitou, todavia, isso serve para que se comprove o sucesso que o Chefe da
Torcida Organizada no Chile e na Argentina” [3].
Enquanto a viagem da torcida vascaína para a Argentina e o Chile foi um
sucesso o mesmo não aconteceu na caravana para Santos, em junho, para
acompanhar o time na última partida do Torneio Rio-São Paulo, terminando com
uma tragédia automobilistica no acidente em que 7 torcedores morreriam. No
mesmo caminho de volta ocorre outro problema com um “violento conflito entre
torcedores do Vasco e populares que se encontravam nas proximidades de um bar,
onde os componentes da caravana pararam para fazer ligeiro lanche. Os
torcedores do Vasco foram vaiados e os veículos apedrejados, o que deu causa ao
conflito, somente dominado após a chegada de uma tropa de choque da Força
Pública e viaturas da Rádio Patrulha” [4].
Para este jogo foram mobilizadas centenas de torcedores na maior caravana da
torcida vascaína até então (4 ônibus, 25 caminhonetes e dezenas de automóveis).
O time vinha embalado depois de vencer o Corinthians no Maracanã e assumido a
liderança do campeonato. O clube paulista trouxe uma imensa legião de
torcedores (5 mil pessoas), na chamada “invasão do maracanã”. Os dois clubes
lideravam não somente o campeonato, como eram os líderes nas rendas, com
vantagem para o clube carioca. Esta disputa acirrada explica a tensão entre as
duas torcidas e a animosidade que continuaria nas semifinais do octogonal no mês
seguinte.
Em junho e julho, oito clubes disputam o Torneio Octogonal Rivadavia Corrêa Meyer (Fluminense,
Botafogo e Hibernian-Escócia, na chave do Vasco e na outra chave São Paulo,
Corinthians, Olympia- Paraguai e Sporting). O Vasco derrotou o Corinthians nas
semifinais e o São Paulo nas finais.
A partir deste campeonato
a nova grande estrela da torcida vascaína era o atacante Pinga, contratado
junto a Portuguesa-SP, na maior contratação do futebol brasileiro da época. O
novo camisa 10 do Vasco vestia também o uniforme da seleção no Sul-Americano no
Peru. Na seleção do Brasil que disputou
o Sul-Americano no Peru, em março, foram convocados do Vasco os jogadores
Barbosa, Ely, Danilo, Haroldo, Ipojucan e Ademir.
A expectativa da torcida
era o Expresso continuar dominando o futebol carioca. Neste ano a novidade foi
a inclusão de um terceiro turno com a disputa dos seis clubes com as melhores
campanhas nos dois turnos iniciais. E, assim como nos anos anteriores, o
campeonato de 1953 não terminaria neste ano.
Para os vascaínos o
segundo semestre seria de grandes emoções nos esportes amadores. O seu clube
conseguia fazer da natação e do atletismo um motivo de orgulho. Em agosto era
inaugurado o Parque Aquático, “o maior e mais moderno da cidade”. E, em outubro,
os atletas vascaínos conquistavam o 2° troféu Brasil de Atletismo, em São Paulo,
acompanhado da torcida organizada: “o estádio do Tietê na Ponte Grande
parecia ser carioca. Ouviam-se os Casacas como se a vitória houvesse sido
obtida em São Januário com algazarra e entusiasmo, e até comandados pelo João
de Lucca, o Chefe da Torcida Organizada, que acompanhou em São Paulo a
consagração da equipe da colina como a maior do país”[5].
Enquanto os adeptos futebol ficavam esperando os jogos finais do
campeonato de 1953 a serem disputados em janeiro de 1954, os torcedores
vascaínos terminavam o ano comemorando o décimo título seguido no remo. Em
dezembro a torcida cruzmaltina lotou as arquibancadas do estádio da Lagoa para
acompanhar o decacampeonato (um título inédito). O ano fechava com chave de
ouro: Campeão de Terra e Mar (em janeiro campeonato de futebol de1952 e
dezembro no remo), além dos títulos internacionais no Chile (abril) e Maracanã
(junho-julho).
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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