domingo, 6 de novembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1946 NO BOTECO DO JOSÉ

  “Entra homem, entra menino/ Entra velho, entra mulher
   É só dizer que é vascaíno/ Que é amigo do Lelé”.
    Marchinha do Carnaval de 1946

1946                    No Boteco do José

A marchinha de carnaval No Boteco do José criada por Wilson Batista e Augusto Garcez e gravada por Linda Batista  tornou um grande sucesso no Carnaval de 1946. A música faz uma homenagem a torcida vascaína personificada no português vascaíno e dono de bar, José, que comemorava as conquistas franqueando aos consumidores as bebidas. Na letra, o artilheiro Lelé é citado como um dos maiores ídolos daquele ano capaz de aglutinar em torno de si pessoas de diferentes idades, sexo e condição social. Apesar de rubro-negro declarado, Wilson Batista, um dos grandes compositores populares dos anos 1940, dava uma demonstração de esportividade escrevendo uma composição que retratava o espírito do torcedor da época.
Uma outra música que animava os vascaínos era gravada pela cantora cruzmaltina Araci de Almeida, o samba “Memórias de um Torcedor”, também de Wilson Batista, assinala a revolta dos rubro-negros pelo momento de fracassos do seu clube. O melhor trecho é o lamento: "Eu hoje vim da Gávea tão cansada/ estou com a cabeça inchada/ pois o Flamengo voltou a perder”.
Depois das alegrias do carnaval a torcida vascaína tinha o dissabor de ver o grande artilheiro Ademir se transferir para o Fluminense em março de 1946. Atendendo aos apelos do técnico tricolor, Gentil Cardoso, que havia prometido o título caso o seu clube contratasse Ademir. Para voltar a dominar o futebol carioca, os dirigentes tricolores não economizaram esforços para retirar o ídolo dos cruzmaltinos. A saída do ídolo provocou reação da torcida mas foi ignorada pelo cartolas confiantes no elenco do Expresso.
Ademir brilhava não apenas no Vasco, também era o titular absoluto da seleção brasileira que disputou a Taça Rio Branco e o campeonato Sul-Americano na Argentina, em janeiro e fevereiro de 1946. Ainda na Argentina, em 1946, no congresso Sul-Americano, foi aprovada a indicação para o Brasil sediar a próxima Copa do Mundo sem data definida. No entanto, foi neste ano que as seleçoes brasileiras e argentinas se enfrentaram pela última vez nos anos 1940. Tudo em função de uma briga generalizada entre os jogadores no Sul-Americano. Em função destes desentendimentos, Brasil e Argentina só viriam a se enfrentar novamente em 1956.
No início de 1946 assume a presidência do Brasil, Eurico Gaspar Dutra,ex-ministro de Vargas. Estes dois ex-presidentes do Brasil (Eurico Dutra, 1946-1950 e Getúlio Vargas, 1951-1954), fizeram doações e favores ao Flamengo nos anos 1940 e 1950. De acordo com (LEVER, 1983, p.91), “Dutra doou um terreno excepcional no centro do Rio ao Flamengo (...) Vargas concedeu ao clube um vultuoso empréstimo, a juros baixo”.
Este é o momento de fortalecimento da vida social dos clubes que ampliam as suas atividades esportivas e recreativas. Os salões de festas e a criação de novas áreas de lazer estimulam os clubes a investirem em suas sedes proporcionando maior conforto e fonte de lucros na receita das agremiações. Mário Lamosa, ex-remador e grande benemérito do Vasco, recorda: “toda a minha infância foi em São Januário”. Em outro depoimento para o artigo Vidas Vascaínas, do livro Memória Social dos Esportes (2002. p. 373-374), o médico Alberto Moutinho, relembra o tempo áureo dos clubes cariocas: “o Vasco tinha sua parte social toda em São Januário, onde hoje é o salão de troféus, aquele salão bonito! Ali era o salão em que eles faziam as reuniões dançantes, as festas (...) minha esposa já freqüentava os bailes infantis (...) os clubes, hoje em dia, não tem mais atividades sociais (...) a minha geração era de clube”.
            O fenômeno associativo se dava tanto na Zona Norte como na Zona Sul, com a proliferação de clubes por toda a cidade promovendo as suas competições internas, as festas e os seus bailes, alguns com perfis mais esnobes e outros mais populares. Em alguns de mesmo perfil socioeconômico, a divisão se fazia no horário: “no suntuoso palacete de General Severiano havia baile quase todo sábado, no salão nobre. Os bailes do Botafogo eram de tarde, à noite eram os do Tricolor” (NEVES, 2006, p.37).
Dutra era grande benemérito do Flamengo e, para mostrar sua parcialidade, comemora (em seu primeiro ano de mandato) a tradicional festa no dia Primeiro de Maio com um jogo entre as equipes do Flamengo e São Paulo, em São Januário.
Mesmo favorito absoluto antes do campeonato carioca começar, o time do Vasco surpreende e não consegue chegar entre os primeiros colocados. Uma das explicações para o clube terminar em 5° lugar foi a saída do técnico vitorioso Ondino Vieira. Para o seu lugar, o escolhido foi Ernesto Santos, que assumiu a vaga após o clube fazer um anúncio pela imprensa[1] a procura de um novo comandante para o Expresso um dia antes do campeonato carioca de 0146 começar. Eis o anúncio:
Club de Regatas Vasco da Gama
Aviso
O Departamento de Futebol Profissional do Club de Regatas Vasco da Gama convida os técnicos de futebol com serviços prestados em clubes das federações paulista e carioca, que desejarem se candidatar a ocupar o lugar de técnico de futebol do referido clube, a se apresentarem até o dia 10 do corrente, às 18 horas, no Departamento Técnico, no estádio de São Januário, munidos de provas de suas habilitações e de documentos de sua idoneidade moral e profissional, mediante contrato nas seguintes bases:
a) prazo do contrato: 15 de julho de 1946 a 31 de dezembro de 1947;
b) luvas de Cr$ 45.000,00;
c) ordenado de Cr$ 3.000,00;
d) prêmios por vitórias ou empates iguais aos estabelecidos para os jogadores, nas divisões principal, imediata e aspirantes;
e) prêmio de Cr$ 20.000,00 pela conquista do Campeonato da Divisão Principal.
O Club de Regatas Vasco da Gama se reserva o direito, não só de não aproveitar qualquer dos pretendentes, mas ainda o de escolher livremente entre os candidatos aquele que, a seu exclusivo juízo, for considerado o mais indicado.

Uma decisão inédita reúne quatro clubes que chegam empatados ao final da última rodada do campeonato. Fluminense, Flamengo, Botafogo e América disputam, no final do ano, um supercampeonato terminando com a final entre Fluminense e Botafogo. O desfecho terminou com a vitória tricolor por 1 a 0 com gol de Ademir. Uma grande frustração para os vascaínos que viram seu ídolo dar o título ao rival.
Restavam as alegrias para o Remo do Vasco que conquistava mais um título. Era a comemoração do tricampeonato nas regatas (1944-45 e 46).
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: www.netvasco.com/Curiosidades/Mauro Prais

Vasco Jornal Diário de Notícias 1946

Vasco Jornal O Globo Esportivo 1946

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