“Entra homem, entra menino/ Entra velho,
entra mulher
É só dizer que é vascaíno/ Que é amigo do Lelé”.
Marchinha do Carnaval de 1946
É só dizer que é vascaíno/ Que é amigo do Lelé”.
Marchinha do Carnaval de 1946
1946
No Boteco do José
A marchinha de carnaval No Boteco do José criada por Wilson
Batista e Augusto Garcez e gravada por Linda Batista tornou um grande sucesso no Carnaval de 1946.
A música faz uma homenagem a torcida vascaína personificada no português vascaíno
e dono de bar, José, que comemorava as conquistas franqueando aos consumidores
as bebidas. Na letra, o artilheiro Lelé é citado como um dos maiores ídolos
daquele ano capaz de aglutinar em torno de si pessoas de diferentes idades,
sexo e condição social. Apesar de rubro-negro declarado, Wilson Batista, um dos
grandes compositores populares dos anos 1940, dava uma demonstração de
esportividade escrevendo uma composição que retratava o espírito do torcedor da
época.
Uma outra música que animava os vascaínos era gravada pela cantora
cruzmaltina Araci de Almeida, o samba “Memórias de um Torcedor”, também de
Wilson Batista, assinala a revolta dos rubro-negros pelo momento de fracassos
do seu clube. O melhor trecho é o lamento: "Eu hoje vim da Gávea tão cansada/ estou com a
cabeça inchada/ pois o Flamengo voltou a perder”.
Depois das alegrias do carnaval a torcida vascaína tinha o dissabor de
ver o grande artilheiro Ademir se transferir para o Fluminense em março de
1946. Atendendo aos apelos do técnico tricolor, Gentil Cardoso, que havia
prometido o título caso o seu clube contratasse Ademir. Para voltar a dominar o
futebol carioca, os dirigentes tricolores não economizaram esforços para
retirar o ídolo dos cruzmaltinos. A saída do ídolo provocou reação da torcida
mas foi ignorada pelo cartolas confiantes no elenco do Expresso.
Ademir brilhava não apenas no Vasco, também era o titular absoluto da
seleção brasileira que disputou a Taça Rio Branco e o campeonato Sul-Americano
na Argentina, em janeiro e fevereiro de 1946. Ainda na Argentina, em 1946, no
congresso Sul-Americano, foi aprovada a indicação para o Brasil sediar a
próxima Copa do Mundo sem data definida. No entanto, foi neste ano que as
seleçoes brasileiras e argentinas se enfrentaram pela última vez nos anos 1940.
Tudo em função de uma briga generalizada entre os jogadores no Sul-Americano.
Em função destes desentendimentos, Brasil e Argentina só viriam a se enfrentar
novamente em 1956.
No início de 1946 assume a presidência do Brasil, Eurico Gaspar
Dutra,ex-ministro de Vargas. Estes dois ex-presidentes do Brasil
(Eurico Dutra, 1946-1950 e Getúlio Vargas, 1951-1954), fizeram doações e
favores ao Flamengo nos anos 1940 e 1950. De acordo com (LEVER, 1983, p.91),
“Dutra doou um terreno excepcional no centro do Rio ao Flamengo (...) Vargas
concedeu ao clube um vultuoso empréstimo, a juros baixo”.
Este
é o momento de fortalecimento da vida social dos clubes que ampliam as suas
atividades esportivas e recreativas. Os salões de festas e a criação de novas
áreas de lazer estimulam os clubes a investirem em suas sedes proporcionando
maior conforto e fonte de lucros na receita das agremiações. Mário Lamosa,
ex-remador e grande benemérito do Vasco, recorda: “toda a minha infância foi em
São Januário”. Em outro depoimento para o artigo Vidas Vascaínas, do livro Memória
Social dos Esportes (2002. p. 373-374), o médico Alberto Moutinho, relembra o
tempo áureo dos clubes cariocas: “o Vasco tinha sua parte social toda em São
Januário, onde hoje é o salão de troféus, aquele salão bonito! Ali era o salão
em que eles faziam as reuniões dançantes, as festas (...) minha esposa já
freqüentava os bailes infantis (...) os clubes, hoje em dia, não tem mais
atividades sociais (...) a minha geração era de clube”.
O fenômeno associativo se dava tanto
na Zona Norte como na Zona Sul, com a proliferação de clubes por toda a cidade
promovendo as suas competições internas, as festas e os seus bailes, alguns com
perfis mais esnobes e outros mais populares. Em alguns de mesmo perfil
socioeconômico, a divisão se fazia no horário: “no suntuoso palacete de General
Severiano havia baile quase todo sábado, no salão nobre. Os bailes do Botafogo
eram de tarde, à noite eram os do Tricolor” (NEVES, 2006, p.37).
Dutra era grande
benemérito do Flamengo e, para mostrar sua parcialidade, comemora (em seu
primeiro ano de mandato) a tradicional festa no dia Primeiro de Maio com um
jogo entre as equipes do Flamengo e São Paulo, em São Januário.
Mesmo favorito absoluto antes do campeonato carioca começar, o time do Vasco
surpreende e não consegue chegar entre os primeiros colocados. Uma das
explicações para o clube terminar em 5° lugar foi a saída do técnico vitorioso
Ondino Vieira. Para o seu lugar, o escolhido foi Ernesto Santos, que assumiu a
vaga após o clube fazer um anúncio pela imprensa[1]
a procura de um novo comandante para o Expresso um dia antes do campeonato
carioca de 0146 começar. Eis o anúncio:
Club de Regatas Vasco da Gama
Aviso
O
Departamento de Futebol Profissional do Club de Regatas Vasco da Gama convida
os técnicos de futebol com serviços prestados em clubes das federações paulista
e carioca, que desejarem se candidatar a ocupar o lugar de técnico de futebol
do referido clube, a se apresentarem até o dia 10 do corrente, às 18 horas, no
Departamento Técnico, no estádio de São Januário, munidos de provas de suas
habilitações e de documentos de sua idoneidade moral e profissional, mediante
contrato nas seguintes bases:
a)
prazo do contrato: 15 de julho de 1946 a 31 de dezembro de 1947;
b)
luvas de Cr$ 45.000,00;
c)
ordenado de Cr$ 3.000,00;
d)
prêmios por vitórias ou empates iguais aos estabelecidos para os jogadores, nas
divisões principal, imediata e aspirantes;
e)
prêmio de Cr$ 20.000,00 pela conquista do Campeonato da Divisão Principal.
O Club de Regatas Vasco da Gama se reserva o direito, não só de não
aproveitar qualquer dos pretendentes, mas ainda o de escolher livremente entre
os candidatos aquele que, a seu exclusivo juízo, for considerado o mais
indicado.
Uma decisão inédita reúne quatro clubes que chegam empatados ao final da
última rodada do campeonato. Fluminense, Flamengo, Botafogo e América disputam,
no final do ano, um supercampeonato terminando com a final entre Fluminense e
Botafogo. O desfecho terminou com a vitória tricolor por 1 a 0 com gol de
Ademir. Uma grande frustração para os vascaínos que viram seu ídolo dar o
título ao rival.
Restavam as alegrias para o Remo do Vasco que conquistava mais um
título. Era a comemoração do tricampeonato nas regatas (1944-45 e 46).
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte:
www.netvasco.com/Curiosidades/Mauro Prais
Vasco Jornal Diário de Notícias 1946 |
Vasco Jornal O Globo Esportivo 1946 |
Nenhum comentário:
Postar um comentário