“Em 04 de Dezembro de 1988, nós fomos pra São Paulo com
dois ônibus, foi minha primeira viagem pra São Paulo, eu já tinha ido pra
Minas, tinha 19 anos.
Fui escolhido para ir no ônibus Um, esse ônibus só tinha
lenda da Força, era os Metralhas, André, Jorge, Mula Manca, Pança, Rogério
Manteiga, Marcelo He Man, Roberto Monteiro, Marcondes, Arlindo, Alison, Assis Negão,
Girafa, Japão, Fusca, Foca e Marcos See de Niterói.
Em São Januário, foi escolhido a dedo quem era pra ir,
não era qualquer um que podia viajar.
Ao chegar ao Pacaembu, a gente bateu de
frente com a Gaviões da Fiel que estava enorme, tinha 53 mil pessoas no
Estádio, uns 3 mil Vascaínos, na descida do Tobogã, tinha uma galera do
Corinthians comprando ingresso na bilheteria, encontramos os caras e saímos
pegando, crente que ia se dar bem, quando fizemos a curva do Tobogã, muita camisa
preta, nós com dois ônibus, umas cento e poucas pessoas, eu que estava enfrentando aquilo pela primeira vez, de repente um componente
nosso, ele foi pra dentro
dos caras, saímos pegando geral, botamos os caras pra correr, ai chegou a polícia
aquela confusão e conseguimos entrar no Estádio.
Nós estávamos pequenos e
Corintiano pra caramba, os caras fazendo festa, de repente pula um cara da Gaviões
com a bandeira e fica tremulando, tipo aqui é tudo nosso, e finca ela no meio
de campo e volta correndo pula o alambrado e volta para a Torcida, e fica
comemorando, os caras vibrando, e eu na minha sanidade total, cheguei primeiro
para o Aloísio Foca de Niterói e falei, se pegar aquela bandeira da fama, ele
responde, não tem maluco pra isso não, pegar aquela bandeira, ia ser do
caramba.
Nesse tempo a Força estava se firmando no cenário
Estadual e Nacional, foi um feito, e foi um ponta pé para ser reconhecida e
respeita no Brasil todo, nós estávamos conseguindo aqui no Rio com muito
sacrifício.
Encontrei o
Metralha e o Japão, eu falei, vou pegar essa bandeira, nego nem deu confiança,
quem é esse moleque ai, eu estava com a camisa da Força, uma bermuda preta, três
cordões de prata (moda na época), uma touca preta e uma mascara do dito cujo, virei a mascara
para trás, e pulei o alambrado e sai correndo até o círculo central, ai nisso
aquele silêncio no Estádio, peguei a bandeira e voltei vuado, nisso eu
voltando, e olhando para a Força, nego
comemorando igual a um gol, ai peguei e joguei a bandeira pra Torcida e fui
pular de volta, só que já tinha seis PMs me esperando, ai me pegaram pela
bermuda e foram me levando pra onde era
o DPO do Estádio, só que esse DPO era debaixo da Gaviões, e por todo esse
trajeto a Torcida me hostilizando, que eu ia morrer,que eu tinha desonrado o
Timão, os PMs, falando vão juntar a gente, vamos largar esse cara aqui, ai eu
falei, não pelo amor de Deus, me leva, ai conseguimos chegar no lugar onde
fica detido.
Chegando lá o cara pega minha identidade e eu estava
sem a camisa da Força, lógico coloquei dentro da bermuda, ai entra um cara, entrando na porrada, rindo, encostaram ele na parede, e eu numa cela 2x1, ai
o cara tomando cassetete nas costas, olha pra mim e fala vou te matar, ai
jogaram ele na cela, esse cara simplesmente era um grande da Gaviões e tinha
ficado cego de um olho em São Januário, quando o cara entrou na cela, Carioca
FDP, eu vou comer seus olhos, eu falei agora vai ser na porrada, nisso entrou dois
PMs seguraram ele, o Rogério Alves (ex Força Jovem década de 1970) Advogado do
Vasco, tinha ido me tirar, a pedido de Eurico e do Ely Mendes (Presidente da
Força), me tirou da cela, o cara ficou esbravejando, eu fui com Rogério Alves, ele de terno e eu de bermuda e sem camisa, por dentro do gramado, até onde estava a Força Jovem, foi de ponta a ponta,
antes de chegar a galera me reconheceu.
Êeee, esta
chegando a hora, carioca vai morrer”, eu falei, vai pular gente no gramado, vai
dar ruim, chegando em frente a Força Jovem, tirei a camisa de dentro da
bermuda, sacudi ela e pulei o alambrado de volta, ai nego começou a cantar.
Força Jovem, eee, é a Força Jovem, eee, da porrada na
Jovem e na Fiel, Força Jovem é cruel, Eu sou da Força Jovem eu sou...
Mais uma festa, como se fosse uma goleada histórica, o
Ely Mendes, coitado, coroa, né, falou, meu filho você é maluco, blá blá blá,
você pode pedir o que você quiser no bar, a partir daí eu comecei minha
história na Força Jovem, além de vários combates, mais essa ai foi histórica, são
mais de 25 anos, e essa história perdura, acho que foi o ponta pé inicial, para
Força Jovem ser conhecida no Brasil e principalmente ser apresentada a Gaviões,
falou Serginho de Niterói.
“Nunca mais vou esquecer esse dia, Serginho entrou
para a história”, disse Rogério Manteiga
“Ali foi sobrevivência, ali foi, quando Serginho
estava voltando com a Bandeira, eu nunca vi tanta camisa preta na minha frente,
os caras correndo pela arquibancada, eu me lembro que estava com dois caras
aqui de Marechal, um dos caras falou, o que estou fazendo aqui, aquilo ali eu
pensei, o massacre, não tinha jeito, os caras apedrejando a gente daquele
terreno baldio, apedrejando a gente de cima do morro, e lá naquela arquibancada
da frente, colocaram a gente no pior lugar, aquilo foi uma sobrevivência, quanta
gente caindo de pedrada, de repente a PM jogou gás de pimenta, demos sorte, dali em diante começaram a nos respeitar, mais ainda”. Falou Japão de Marechal Hermes.
Fonte: Wattsapp "Dinossauros vem ai" em 16 de Setembro de 2015
![]() |
Força Jovem 1988 |
![]() |
Força Jovem 1988 |
![]() |
Força Jovem 1988 |