domingo, 8 de outubro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1919 PRÓXIMA PARA: ENGENHO DE DENTRO

                            “do morro e das arquibancadas, um grito uníssono: Viva o Brasil’”
                                          Jornal do Brasil, final do Sul-Americano em 1919

1919             Próxima Parada: Engenho de Dentro

            A formação de uma grande equipe era o melhor atalho para chegar a Primeira Divisão. Em busca de conseguir os grandes jogadores da Liga Suburbana, o Vasco encontrou no Engenho de Dentro, tricampeão (1916-17 e 18), a base de seu elenco para o campeonato carioca da Segunda Divisão.
            O historiador João Malaia registra que o empenho da diretoria em montar um time competitivo deu certo, pelo menos do ponto de vista do crescimento da torcida entre 1918 e 1919: “o Vasco da Gama que teve em média 220$857 de receita por jogo em 1918 para, no ano seguinte, pular para 421$833, num crescimento de mais de 90% de arrecadação com a venda de bilhetes para seus jogos, passando a ser o clube com a maior média de arrecadação por jogo na 2ª Divisão” (2010, p.222).
            Apesar de ter o melhor elenco da competição, o time vascaíno, apontado pela imprensa esportiva como o franco favorito para vencer o campeonato, não conseguiu realizar o intento mesmo contando com o apoio da torcida que não mediu esforços de incentivar seus jogadores e vaiar os adversários. Esta atitude, que já vinha se tornando comum nos jogos mais decisivos, ainda recebia repreensão de parte da imprensa. Em uma crônica do jornal O Paiz, o jornalista pedia providência ao presidente do Vasco, exigindo que “reprovem seus associados por terem agido de forma tão pouco cavalheiresco como hontem agio com os players locaes”[1].
            Uma das principais atrações do novo elenco vascaíno era o goleiro Nelson Conceição, conhecido como o “Chauffeur”. Vindo do Engenho de Dentro, ele será titular absoluto nos próximos anos e um dos ícones na campanha memorável do titulo de 1923. Vai ser o primeiro jogador do Vasco a vestir a camisa da seleção brasileira no mesmo ano da conquista do campeonato carioca. Até o final dos anos 1920, ele será o jogador que mais vezes envergará a camisa cruzmaltina.
            O campeonato Sul-Americano de Futebol disputado no Rio de Janeiro no mês de maio é considerado por muitos estudiosos como um marco divisor na história do futebol brasileiro. A competição foi a primeira organizada no país pela Confederação Brasileira de Desportes (CBD) e contou com uma intensa participação dos torcedores que lotaram o estádio das Laranjeiras em todos os jogos da seleção nacional. Mais do que os jogos e os resultados, o que chamava atenção era a repercussão geral, quando a cidade praticamente parava para acompanhar os resultados.
A vitória da seleção brasileira servia para aumentar o sentimento nacionalista que o futebol despertava e demarcava que a partir daquele instante o futebol elitista estava com os seus dias contados.
Para se ter uma idéia de como a população se envolveu nos jogos, basta lembrar que muitos torcedores ao verem impossibilitados de entrar no estádio lotado buscavam formas próprias de prestigiar o evento. Enquanto alguns se apertavam no morro em volta do campo, outros foram acompanhar o desenrolar da partida final com o Uruguai na Avenida Rio Branco, local onde ficava a sede do jornal O Paiz que havia colocado um painel informando dos principais lances da partida.
Para os clubes de futebol, este seria o ano de consagração do Fluminense que conquistava o tricampeonato (1917-18-19) com uma das melhores equipes de sua história. Festa nas Laranjeiras com muito champanhe para os associados na luxuosa sede. Sua torcida cresce em toda a cidade, especialmente entre as camadas mais ricas que se identificavam com o perfil mais elitista. “Ele era Fluminense por isso mesmo, escolheu o clube mais fino para torcer” (...) procurava ser Fluminense, distinguindo-se dos torcedores dos outros clubes”, explicava o jornalista Mario Filho.
A tranqüilidade do tricolor vai durar até 1923. Daí em diante só restará a turma das Laranjeiras contar com o seu esnobismo e o ar confiante de sua “superioridade”. O fato inegável será que no campo, nas arquibancadas e nas gerais, uma nova nação comandará o futebol carioca.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Jornal  O Paiz, setembro de 1919.

Vasco Revista Careta 1919

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