segunda-feira, 9 de junho de 2025

TOV 1959: RAMALHO, VASCAÍNO FANÁTICO

Já se tornou característico, em todos os jogos de que o Vasco participe, ouvir-se aquela corneta, inconfundível, incentivando os jogadores cruzmaltinos à vitória. Às vezes, o toque da corneta age como uma "guerra de nervos" contra a torcida adversária e a reação não se faz esperar...

Sempre houve curiosidade, por parte dos torcedores, em conhecer o corneteiro, que outrora "tocava" que outro se não, Domingos do Espírito Santo Ramalho. Hoje, já aposentado, sem intimidade e só um homem pobre, com esposa e seis filhos, sua aparência está em consonância com sua condição — ex-árduo trabalhador nas estivas do Cais do Porto.

“Seu” Ramalho recebeu a R.E. na sua humilde moradia, na favela de Vasco. “Não se incomodem, aqui os meninos não haviam mesmo de sair, uns quatro vascaínos do Vasco em quantidade. Os meninos correm pela casa, brincando, vestidos com a camiseta cruzmaltina, com a qual Ramalho seria, feliz.

— Desde quando você toca sua mamona, Ramalho?

— Desde garoto. Nasci de oito mês... quando, lá em Inhaúma, em dezembro de 1921, brincava com os meninos de rua. Naquele tempo, a gente costumava imitar os foguistas dos navios. A gente morava, bem ao lado do 2º B.C. da Polícia Militar. De tanto ouvir o corneteiro do quartel dar aqueles toques, acabei aprendendo a ponto de ainda tocar melhor do que ele.

NEM POR UM MILHÃO TOCARIA MAMONA PARA OUTRO CLUBE

[...] que ele. Como chefiava a garotada, inventei a brincadeira de “Tiro de Guerra”: dava os toques e a meninada executava minhas ordens. Um dia, o comandante do Quartel, Cel. Alfredo Coelho, mandou-me cabra até minha casa a fim de buscar o “corneteiro”. Tendo à presença dele, o Comandante exigiu que eu tocasse, diante de todo o batalhão formado, julgado no pátio do interior do quartel. Toquei. Ele achou muita graça, colocou um branquinha ali da camarada de banda, e me pôs a ajudar os tambores, nas formaturas e nos exercícios. [...]

Aqui cabem alguns dados pessoais sobre essa figura simpática, eminentemente popular, admirador dos desportistas vascaínos: Ramalho é casado e tem 6 filhos. Resultaram seis filhos: Maria de Lourdes, Nanci Maria da Luz, Luís, Valter (em homenagem às grandes direitas do Vasco) e Tereza Herrera (em homenagem ao espanhol Tereza Herrera e Vasco conquistou na Espanha).

Sabe o José, há um aspecto interessante (aconteceu Ramalho), um dia em que jogava o Vasco e o seu Ramalho. Ademir disse ao Ramalho: “Vou te ensinar a bater na bola, rapaz, pois você só faz barulho com esse tubo de mamona.” Ademir disse isso em tom de brincadeira, e riram bastante os dois. Ramalho conserva, com prazer, uma bola passada, suja, assinada por todos os jogadores cruzmaltinos. [...]

— Como foi que você se tornou vascaíno?

— Por causa de um rapaz amigo meu, que era foguista de um navio do Lóide. Ele se chamava Aníbal Bene e seu apelido era “Sir”. Pois bem: “Sir”, sem que voltava do Rio, me trazia uma lembrança qualquer do time do Vasco. Num dia, me deu uma camisa preta com uma cruz de cimento. Tinha fé no meu gosto, achava que eu seria vascaíno, mesmo sem nunca ter visto...

— Quando foi que você tocou para o Vasco, pela primeira vez?

— Estava no Rio há pouco, pois viera tentar a sorte na “Cidade Maravilhosa”. Arranjei um emprego na portaria da Rádio Mayrink Veiga, e José Hermano me convidou. Um dia fui a São Januário assistir uma partida entre o Vasco e o Botafogo, que, aliás, foi goleado pelo time, por 3 x 1, só de Ademir!

Quando o Vasco festejou seu aniversário, em 1946, fui convidado para tocar. No gramado, onde estavam os jogadores, e o busto da Cruz de Malta, levantei o meu clarim e toquei com mais força, tamanha era minha emoção. Nesse momento, dois homens me levaram ao vestiário do Vasco...

— E o senhor se tornou sócio do Vasco?

— Sim. Fui à secretaria e matriculei a 25.846 da associação. Em 1923, Eurico Lisboa me fez sócio remido, por consideração. Depois vieram Antônio Soares Calçada, Eurico Alves e agora o Sr. Barreira, que me estimam tanto, que me têm em muita consideração. Para mim, é uma grande honra ser vascaíno, porque esse é um dos títulos dos dirigentes do clube.

— Você tocaria por outro clube?

— Nem pensar! Já bati no espanhol umas trinta vezes!

— E se lhe dessem um milhão?

— Sou pobre, mas jamais aceitaria tocar essa mamona para outro clube, especialmente contra o Vasco. O dinheiro se consome, morre, mas a glória de servir Nosso Senhor Vasco da Gama, essa não morre nunca! Nunca aceitaria. Jamais trairia esse grande querido Vasco!

Fonte: Revista do Esporte 1959, fotos Memória do Torcedor Vascaíno, Jorge Medeiros

TOV Domingos Ramalho Revista do Esporte 1959

TOV Domingos Ramalho Revista do Esporte 1959

TOV Domingos Ramalho Revista do Esporte 1959

TOV Domingos Ramalho Revista do Esporte 1959


Nenhum comentário:

Postar um comentário