Algo diferente ocorre na peça “A torcedora do Vasco”
escrita, em 1921, por Antonio Quintiliano. Apesar de ser uma obra com forte tom
caricatural, é possível perceber um novo perfil feminino traçado por intermédio
do esporte que no caso não é o futebol, mas o remo. No lugar das mocinhas
desprotegidas, à espera de um casamento ou subordinadas aos seus maridos, vemos
uma mulher que autoritariamente inverte os papéis e que ao longo da peça não
cansa de repetir “Que marido maricas!”. Sofia manda e desmanda na casa, a sua
palavra é sempre a última, cabendo ao marido Leandro apenas concordar com suas
decisões. Além de mandona Sofia não é aquele tipo de esposa prendada e sempre
preocupada em cuidar do marido, ao contrário, Sofia “só cuida de regatas!” Nada
de cozinhar, lavar roupas ou limpar a casa, pegar o carro e ir à praia torcer
pela equipe de remo do Vasco da Gama é a principal atividade de Sofia. Essa
mulher tem anexado ao seu perfil dois ícones da modernidade: o automóvel e o
esporte. Embora ambos sejam experimentados ainda de maneira passiva − já que
Sofia não dirige o carro e não pratica, mas assiste às competições de remo − a
peça “A torcedora do Vasco”, mesmo que com estilo cômico e excessivo, trabalha
ficcionalmente um fenômeno perceptível no cotidiano daquela época e que diz
respeito ao surgimento de novos modelos de mulher a partir da sua relação com a
máquina e, principalmente, com o esporte.
Fonte: O que é uma torcedora? Notas sobre a
representação e auto-representação do público feminino de futebol. Leda Maria
da Costa
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Vasco Jornal Correio da Manhã 1921 |
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Vasco O Jornal 1921 |
A Leda é professora universitária e vascaína. tem outros artigos sobre futebol
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