sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ASTORJ 1981: ENTREVISTA COM O FUNDADOR ARMANDO GIESTA

Bernardo Borges Buarque de Hollanda
Depoimento de Armando Giesta (1928-2011), torcedor-símbolo do Fluminense, ex-presidente da Young-Flu e fundador da ASTORJ (Associação de Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro), em 1981.
– Entrevista concedida a Bernardo Buarque de Hollanda
– Gravada em áudio no dia 2 de março de 2005
– Local: Biblioteca do Fluminense Football Club.
– Transcrição: Bernardo Buarque de Hollanda
– Edição: Pedro Zanquetta Jr.

Gostaria que você falasse sobre o surgimento da Associação das Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro, em 1981. Como nasceu a ideia de vocês se unirem?
Desde o meu ingresso na Young-Flu, em 1974, eu tinha intenção de articular algo nesse sentido, pois já vivíamos um momento em que cada torcida reivindicava medidas para seu benefício e nada conseguia. Havia a necessidade de se estabelecer uma representação forte com um porta-voz que falasse em nome de todas as organizadas.
Sob essa premissa, em 1981, eu e outros líderes aproveitamos a anistia política e fundamos a ASTORJ. Fui o primeiro presidente e, logo no início, exigi uma reunião na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Pleiteamos, na ocasião, o direito à participação e voto no Conselho Arbitral, o que acabamos obtendo. A partir de então, colaboramos na formulação das tabelas do Campeonato Carioca e discutimos os valores dos ingressos. Por diversas vezes, conseguimos abaixar os preços e, em consequência, lotar os estádios. O Octávio Pinto Guimarães (ex-presidente da Federação Carioca de Futebol, da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro e da Confederação Brasileira de Futebol) reclamava bastante, porém nos ouvia e costumava aceitar nossos pedidos.

Ele comandou o futebol no Rio de Janeiro por muitos anos, não é?
O Octávio passou quase vinte anos no poder. Só saiu quando foi eleito presidente da CBF. Naquela ocasião, o Eduardo Viana (presidente da FERJ entre 1984 e 2006), ocupava a vice-presidência da federação e assumiu o cargo. Ele exercia uma influência no interior e foi esperto ao unir todos os clubes do Estado e filiá-los. Feito isso, substituiu o voto qualitativo - que privilegiava os clubes grandes -, pelo unitário e, devido à gratidão dos dirigentes dos times menores, vem se elegendo ano após ano.

Durante quanto tempo a ASTORJ teve uma participação efetiva nas decisões do futebol carioca?
De 1981 até 1992, ela manteve uma importante influência. 

Quem substituiu você na presidência?
A associação teve três presidentes: eu, o Wilson Amorim (ex-chefe da Bancica, torcida organizada do Bangu) e o Roberto Luís Branco (ex-líder da Raça Rubro-Negra).
O sucesso da nossa união, infelizmente, nos trouxe problemas, pois as torcidas ganharam muita expressividade e o Léo (Leonardo Ribeiro, mais conhecido como Capitão Léo, dirigente da Torcida Jovem do Flamengo no final dos anos 1980 e início dos 1990) iniciou um conflito terrível contra o Vasco e seu presidente, o Eurico Miranda. Quando os dois entraram em confronto, a coesão de todas as organizadas desapareceu. Algo muito prejudicial, tendo em vista que aqui no Rio de Janeiro, os clubes são dependentes entre si, dentro e fora do campo. Por exemplo, quando o Fluminense caiu para a Série B do Campeonato Brasileiro, nenhum clube carioca conquistou o título. Do mesmo modo, na ocasião em que o Botafogo foi rebaixado, o tricolor não foi campeão porque faltou o alvinegro para tirar pontos de um dos times grandes que disputava conosco. Há essa dependência. O que ocorreu com as Escolas de Samba no Rio também ilustra bem isso. O samba não significava nada aqui até os anos 1950, quando o Anísio Abraão David e sua turma decidiram fundar a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro. Dali em diante, ganharam tudo, pois constituíram uma força terrível. Eles tinham suas diferenças, porém, na hora de votar, estavam juntos.

A ASTORJ pretendia seguir esse exemplo da Associação das Escolas de Samba?
Sim, e, durante um bom tempo, fomos tão unidos quanto elas. Lamentavelmente, o Eduardo Viana e o Eurico Miranda foram capazes de nos desarticular. Se concebíamos uma greve, o Eurico chamava a torcida do Vasco e oferecia dois mil ingressos para eles. Os vascaínos iam ao jogo e os demais ficavam na porta em protesto. Em virtude disso, perdemos a solidariedade e, na sequência, a nossa sala, os programas de rádio e televisão que produzíamos... Tivemos tudo na mão e não fomos capazes de conservar. Por isso, somos fracos hoje. As torcidas ainda tem um papel importante no estádio, mas politicamente são insignificantes. Os tricolores não fazem um protesto sequer. Não reclamam, não reivindicam absolutamente nada e dependem do clube. Ganham o ingresso dos dirigentes e, por estarem em torcidas pobres, já se dão por satisfeitos. A única organizada que ainda luta é a do Flamengo. A do Vasco está morta, completamente dominada pelo Eurico. 
Grande parte dessa decadência está ligada ao fato de os líderes de torcida atuais não serem como os da minha geração... Os chefes antigos eram bravos e tinham personalidade.
 http://www.ludopedio.com.br/entrevistas/armando-giesta/

ASTORJ Fundadores


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