domingo, 4 de dezembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1954 ALMIRANTE DOMINA O REMO

“urubu, urubu, urubu”
                                                                           o rival ganha um apelido  

1954                   Almirante domina o Remo

O ano começa com uma extensa viagem do Vasco por vários países da América (México, Costa Rica, Peru e Guatemala), depois do time perder o campeonato carioca de 1953, em janeiro. O clube ficou dois meses jogando no exterior. Na volta ao Brasil, no início de abril, a torcida fez uma recepção calorosa no aeroporto para comemorar com os atletas os resultados expressivos: em 16 jogos, 11 vitórias e apenas 1 derrota. “Torcedores do Vasco invadiram o Galeão para receber os jogadores, lá fora a Torcida gritava erguendo bandeiras. Os jogadores foram descendo, lá fora a Torcida se mostrava impaciente para ver os cracks. Além de torcedores anônimos, dirigentes, ex-dirigentes. Em frente ao portão de saída torcedores estiraram uma enorme faixa que tinham estes dizeres: ”Felicidade seu nome é Vasco”. E a medida que os jogadores se desembarcavam da Alfandega e cruzavam os portões quase os sufocavam de abraços” [1].
A alegria dos vascaínos no aeroporto só não foi maior que a de uma família de Duque de Caxias, município do Rio de Janeiro. Nascia Carlos Roberto de Oliviera. No futuro este recém-nascido daria muitas alegrias para os vascaínos. Vinte anos depois, ele seria campeão brasileiro pelo Vasco, com o nome de Roberto Dinamite. Não apenas campeão, mas artilheiro do campeonato ...
A derrota da seleção brasileira na final da Copa de 1950 para o Uruguai em pleno estádio recém-construído causou um efeito considerável: o Maracanã só seria utilizado novamente pela seleção nacional quatro anos depois. Somente em 1954, o Brasil, já com o uniforme amarelo, enfrentou o Chile, nas eliminatórias para a Copa do Mundo na Suíça. Portanto, de 16 de julho de 1950 até 14 de março de 1954, a seleção brasileira esteve ausente do Maracanã, ou melhor, não disputou uma partida sequer no próprio país, apesar da conquista do Pan-americano em 1952. Este foi, até então, o maior tempo de ausência da seleção no Rio de Janeiro desde 1917. O time nacional ficou distante dos torcedores cariocas durante praticamente todo o segundo governo Vargas (1951-1954).
A mudança na cor da camisa da seleção contou com o apoio das lideranças das torcidas cariocas em 1953: “Jaime de Carvalho (o homem da Charanga) e João de Lucca (o homem do Casaca, Casaca), que os torcedores que eles representam acreditam que uma camisa mais expressiva para o nosso selecionado simbolicamente poderia dar lhe mais vida, mais expressões, enfim incestaria no espirito de nossos jogadores a mística  de que o uniforme que ele veste, mais do que uma simples peça de vestuário , representa também um pouco de nosso Brasil...”[2].
Entre 1953 e 1956 a Torcida Organizada do Vasco foi alvo de uma disputa de dois grupos que se auto-intitulavam representantes verdadeiros do clube nos estádios. De um lado estava o líder tradicional João de Lucca, e de outro, capitaneados pelo dirigente Alvaro Ramos, um grupo começa a se organizar e divulgar por toda a imprensa sua “ideologia”, sem deixar de atacar nas entrelinhas De Lucca, visto como “chefe”, torcedor só das boas horas, com interesses etc. Destacamos alguns trechos das reportagens: “queremos esclarecer que a nossa torcida não tem chefe, mas nós constituímos uma comissão diretora, para umas determinadas providencias e decidimos que o Sr Alvaro Ramos seria o nosso patrono, como lhe prestamos pelo muito que ele tem feito” O cartola afirma outra matéria: “vi que se tratava de um movimento espontâneo e sincero, sem qualquer objetivo de agradar aos dirigentes eventuais do clube, como acontece com outros chefes de torcida”. Liderada pelos irmãos Mario Portugal e Margarida e outros como Aida de Almeida o grupo defende sua diferença: “essa torcida, que não tem o apelo oficial do Clube[3] e não se organiza somente para dar “casacas” nos dias de vitória, como acontece com determinado grupo, constitui a mais soberba demonstração de vitalidade de uma Torcida, que vibra e sofre com o seu Clube, que acompanha o team nas boas e mas horas, que enfrenta sol e chuva, encontrando na vitória a única recompensa”.
Neste período o Flamengo conquista seu tricampeonato (1953-54-55) e a rivalidade com os outros clubes cariocas aumenta. Para ofender a torcida rubro-negra as torcidas rivais criaram o urubu. Alguns torcedores do Vasco dizem que foram os primeiros a chamá-los assim, outros discordam. Um deles é o jornalista Roberto Porto que dá uma explicação para a origem do apelido pejorativo: “Otacílio Batista Nascimento, o Tarzan, ele era de Minas Gerais e veio para o Rio ..... em Belo Horizonte, ele era Atlético, que tinha muitos torcedores negros. A torcida do Cruzeiro xingava e dizia para o Atlético: “urubu, urubu”, então quando Tarzan veio para o Rio resolveu se vingar e xingar o Flamengo dessa forma, então foi o Tarzan que botou o apelido aqui no Rio ...[4]”.
Assim como o urubu incomodava os flamenguistas, o “pó-de-arroz” afetava a auto-estima dos tricolores, que revidaram inventando o “pó-de-carvão”, para os rubro-negros, com a mesma alusão em considerar a torcida do Flamengo como a torcida dos negros. Mas não pegou, como também não colou chamar os vascaínos de “pó da Pérsia”, numa referencia a um produto que matava os vermes.
            Para encerrar o ano com um título expressivo a torcida vascaína comemora a vitória no remo sobre o seu maior rival. Pela 11ª vez consecutiva os remadores cruzmaltinos conquistaram o título máximo da cidade, derrotando os seus famosos competidores do Botafogo e Flamengo. E a alegria foi maior ainda, quando o oito Vascaíno venceu o do Flamengo, que era bicampeão carioca, brasileiro e sul americano.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: Jornal Diário da Noite 05 de Abril de 1954.
[2] Fonte: Fonte Correio da Manhã 30 de Agosto de 1953.
[3] Em outra reportagem, contradizendo o que diziam os novos líderes uma reportagem exalta o apoio de dirigentes vascaínos Antônio Soares Calçada, José Ribeiro de Paiva, o “Almirante” , Arthur da Fonseca Soares (Cordinha), José do Amaral Osório.
[4] Depoimento de Roberto Porto concedido a mim em janeiro de 2008.

Vasco Jornal Diário da Noite 1954

Vasco Jornal Diário da Noite 1954

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