quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1955 ADEUS ADEMIR

                                                                       “No tempo em que Pelé era o Ademir”
                                                                                Nelson Rodrigues

1955                           Adeus Ademir

            Em meados da década de 1950 era possível observar algumas mudanças sutis no futebol brasileiro provocado por vários fatores. A primeira alteração foi o crescimento da TV como meio de comunicação nesta década e o início da transmissões esportivas ao vivo. Outra variação foi a perda da importância das disputas entre paulistas e cariocas, principalmente entre os selecionados. Esta era a competição que mais envolvia torcida nos anos 1940.
            A entrada da TV no futebol, não substituiu a força do rádio nos anos 1950 nem tirou o público dos estádios. No entanto, o crescimento da TV era inegável. Basta considerarmos a evolução da TV no Brasil: em 1956, havia 70.000 aparelhos. Este número multiplicou em 1960, saltando para 1.200.000, sendo que no Rio de Janeiro havia 230.000 aparelhos. Apesar desse crescimento, prevalecia a necessidade de assistir a TV na casa de um vizinho mais abastado.
            O alcance do rádio carioca em todo o Brasil fazia dos clubes da cidade verdadeiros times nacionais. O poeta Ferreira Gullar lembra que em sua infância mesmo não sendo um torcedor fanático tinha entre suas predileções a adesão ao clube da capital: “não sou torcedor apaixonado. Sou Vasco desde os doze anos, quando pus o nome de Vasco em meu time de botão. Isso em São Luís do Maranhão; portanto, nunca tinha visto o Vasco jogar, mas sabia de cor a escalação do time”.
            Outro meio de comunicação bastante popular nos anos 1950 era o cinema, mas poucos filmes tinham o futebol como seu tema principal. Em 1955, o cineasta Nelson Pereira dos Santos realiza Rio, 40 graus, filme que faz um panorama da sociedade carioca e que, entre os seus personagens principais, estão os torcedores. No filme o futebol desencadeia paixão e sentimentos controversos. Em algumas cenas filmadas no Maracanã, é possível entender o que o futebol representava na época para os cariocas. As diversas imagens encenadas nas arquibancadas, cadeiras e gerais mostram a torcida em vários ângulos, desde os mais abertos até os mais fechados com as expressões faciais demonstrando as  alegrias e os sofrimentos. Pode-se notar que os torcedores estão trajando roupas mais simples e não usam o terno e a gravata (vestimentas comuns até os anos 1940), os únicos que usam estas roupas são os dirigentes que se localizam nas cadeiras especiais. Em todo o jogo é profunda a interação da torcida com o desenrolar da partida, há xingamentos ao juiz, discussões, vaias, briga na geral, aplausos, bandeiras, fogos e a presença do rádio de pilha acompanhando os torcedores nos estádios (uma novidade para a época e marca registrada nos anos seguintes).
Na competição do torneio Rio-São Paulo, a hegemonia dos paulistas foi total nesta época. Só perdendo dois campeonatos (Fluminense em 1957 e Vasco em 1958). O mesmo acontecia com a seleção paulista[1] que venceria a carioca em muitas oportunidades. A verdade é que a disputa entre paulistas e cariocas foi deixada de lado pelos cariocas, enquanto os paulistas faziam questão de continuar medindo forças contra os cariocas.
E foi assistindo o brilhante atacante paulista jogando, Valter Marciano, que o Vasco resolveu contratá-lo do Santos neste ano. O jogador vai ser o grande destaque no título carioca de 1956 e o maior nome do jogo com o Real Madrid em 1957. Suas grandes atuações na Europa acabaram despertando o interesse do Valência da Espanha que o contrata no mesmo ano.
Esta década consagrou o futebol brasileiro como artigo de exportação. Nunca os jogadores e os times nacionais jogaram tanto pelo mundo afora. O lugar mais visitado era a América do Sul. Antes dos anos 1950 o Vasco só havia feito duas excursões para a Europa. Neste decênio foram várias vezes. Nesse ano de 1955 o clube ficou mais de dois meses fora do Brasil. No ano seguinte foram quase quatro meses viajando para vários países. A experiência internacional deu aos jogadores maior possibilidade de conhecer os adversários europeus, porém as condições de trabalho dos atletas (com jogos seguidos), eram desrespeitadas.
            Duas figuras centrais do Expresso da Vitória nos anos 1940 começavam a se despedir do clube. O técnico Flavio Costa que voltara a São Januário em 1953, perdia novamente o campeonato carioca de 1955 para o Flamengo, embora o Almirante tenha sido o clube com maior número de pontos em todos os três turnos do campeonato. Ao final da competição em 1956 Flávio era demitido e Martin Francisco assumiria o seu lugar.
            Enquanto isso, o atacante Ademir Meneses fazia seu último campeonato carioca pelo Vasco se tornando definitivamente um dos maiores ídolos dos cruzmaltinos de todos os tempos. Por outro lado, um outro jogador de estilo e posição bem diferente ia se firmando como ídolo no clube. O zagueiro Bellini, com sua raça e desprendimento conquista a cada ano o coração do torcedor. O jornalista Nelson Rodrigues resume a importância do defensor para o clube: “não se pode imaginar um jogador que dedique mais a um jogo, que lute e se mate tanto. E eu creio que um Vasco sem Bellini já seria menos Vasco”.
Além do futebol, outros esportes faziam sucesso entre os torcedores. O tradicional remo e o atletismo deram muitos motivos de celebrações de vitórias. Em Vidas Vascaínas (2003, p.357) o ex-remador Mario Lamosa relembra a importância deste esporte e a paixão que ele despertava: “Na época, na década de 1950, o remo era o segundo esporte do Brasil. Quando fizeram aquele estádio de remo na Lagoa, você tinha, no mínimo, dez mil pessoas a sua volta. Os últimos 500 metros você já escutava o grito da torcida”. Outro esporte que cresceu muito no Vasco foi o atletismo, principalmente depois da chegada de Adhemar Ferreira da Silva, em 1955. O atleta que foi medalha de ouro no salto triplo em Helsinque (1952), venceria novamente, já como atleta do Vasco, nas Olimpíadas no ano seguinte (Melbourne).
 Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] O campeonato de seleções entrava em seu declínio, pelo menos para os cariocas. Em vários anos, por falta de calendário, a competição não foi disputada. Entre 1951 e 1959, os paulistas venceram todas: 52, 54, 56 e 59. Já no torneio Rio-São Paulo, o Corinthians venceu em 53 e 54, o Santos em 59, o Palmeiras em 51 e a Portuguesa em 52 e 55.

Vasco Jornal Sport Ilustrado 1955

Vasco Jornal O Globo 1955

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