“A Taça
do Mundo é nossa”
Marchinha de 1958
1958 Bellini levanta a Taça
O
campeonato carioca de 1958 estava marcado para começar depois da Copa do Mundo
na Suécia. Por isso a maior preocupação dos torcedores vascaínos no primeiro
semestre era acompanhar a convocação da seleção. A alegria em São Januário foi
imensa com a convocação de três jogadores no dia 31 de março: Bellini, Orlando
e Vavá.
Nesta
época as atenções ainda estavam voltadas para as rádios que transmitiam as
partidas para o Brasil (a TV brasileira ainda mostrava as partidas da Europa).
Com a torcida se reunindo em locais públicos, vibrando e se emocionando com a
seleção. O torcedor número um do Brasil foi o Presidente da Republica JK, que
fazia questão de torcer junto de convidados, ao lado de um imenso rádio.
Neste mundial, o futebol
finalmente consegue dar ao povo brasileiro a maior alegria com uma conquista internacional
de forma incontestável. Todo o país vibrava com a narração dos locutores de
rádio, o poeta vascaíno Ferreira Gullar,
se espantava com sua atitude tão apaixonada: “sem saber como nem porque, vi-me
de repente de ouvido grudado ao rádio, submetido a uma tortura diabólica “. E
narra porque estranhava sua atitude “confesso que há muitos anos o futebol
deixara de me interessar. A derrota de 1950 no Maracanã (...) tornou-me um
descrente do nosso futebol. Em 1954, ouvi por acaso alguns jogos, e a Hungria
confirmou meu pessimismo (...) é por isso que não consigo acreditar que somos
mesmo campeões do mundo”. Constatado o resultado, o poeta se incorpora aos
vencedores e adere a folia em ”um domingo de felicidade nacional e a euforia
com que todos acordaram esta semana para recomeçar a vida. A cidade hoje vai
parar para abraçar os seus heróis.”
Em
plena Copa do Mundo a TOV organiza um baile no Clube Municipal com orquestra de
Raul de Barros, reunindo astros do rádio e da televisão, refletindo como a
competição fazia todos quererem se encontrar para comentar os jogos e garantir
a confraternização por todo o mês.
Se aqui no Brasil a torcida
comemorou como nunca, fazendo verdadeiros carnavais após as partidas, nos
estádios suecos, a torcida brasileira, foi comandada por Cristiano Lacorte,
torcedor do Botafogo, paraplégico, que tornou-se uma figura tão popular que no
mesmo ano acabou se elegendo vereador pela
cidade do Rio de Janeiro.
Na
volta para o Brasil, os jogadores tiveram direito de passeio no carro do Corpo
de Bombeiros após desembarque da delegação no Brasil. Com as ruas cheias, os
jogadores comemoravam com os populares até o Palácio do Catete onde seriam
recebidos pelo presidente JK. Era a recuperação do sentimento de auto-estima do
brasileiro.
Foi
o reconhecimento internacional e a conquista do campeonato de 1958 que ajudaram
a fazer dos jogadores, ídolos nacionais de primeira grandeza. Este é um dado
importante no processo de popularização do futebol. A partir daí, o Maracanã
ficaria pequeno para receber os campeões do mundo. Como todos os jogadores
atuavam no Brasil, as competições regionais eram a grande atração do segundo
semestre daquele ano, com partidas que lotavam o “maior do mundo”.
Duas
semanas depois da conquista na Suécia começava o campeonato carioca com
transmissão direta da TV, pela primeira vez, apesar da oposição dos dirigentes.
Seria uma competição de encher os olhos, pois Vasco, Botafogo e Flamengo
forneceram vários jogadores para a seleção e agora o público carioca teria seus
ídolos de volta como os melhores do mundo. Não é pó acaso que o campeonato de
1958 é apontado como um dos melhores de todos os tempos. Terminando com a
disputa dos três times em equilíbrio de forças na final duas etapas decisivas,
chamada de Super-super[1].
Era a primeira no Maracanã, que Vasco e Flamengo, detentores das maiores
torcidas disputavam uma final.
A
torcida vascaína ainda vivia uma indefinição (pelo menos para a imprensa) de
qual o seu líder e onde ficariam os sócios: “a Torcida
Social do Vasco, um novo grupo que surge em São Januário, nos moldes das
grandes Torcidas norte-americanas, destinado a incentivar o quadro de futebol
ao longo do certame da Cidade (...) constituída exclusivamente de associados do
Clube e que se singularizará por um detalhe, o grupo ficará sempre na parte
Social sendo que no Maracanã ficará localizada atrás do gol, nas cadeiras
cativas, local destinado aos associados dos Clubes que mandam o jogo no maior
Estádio do Mundo. Os torcedores usarão um boné, mas não levaria charanga,
devendo conduzir no painel com dizeres alusivos, estréia amanhã a noite, em São
Januário, sendo aguardada com vivo interesse, já que representaria incentivo a
mais ao esquadrão cruzmaltino, que tão bem iniciou o campeonato de 1958” [2].
No primeiro Vasco e Flamengo a imprensa promoveu a
tradicional disputa entre as duas torcidas. Cada clube apresentava os seus
líderes. No Vasco junto com o conhecido Ramalho, aparece uma “nova liderança”
de cartola. Um símbolo da torcida do Fluminense. O torcedor português,
conhecido como Cartola (João Martins) pretende ser chamado, a partir daquele
momento, de Casaca, traje que usava junto da cartola.
Em
outra reportagem Cartola ou Casaca explica mais alguns detalhes das mudanças
que ocorriam na torcida vascaína, destacando um personagem pouco conhecido e
que era o responsável pela bateria da torcida: “Agora estamos
com um grande plano de unificar a Torcida. A da parte Social vai acabar, fazendo
a fusão com a da arquibancada. Estamos pensando até numa Sede. A Sede do
torcedor Vascaíno. Álvaro Ramos, nosso patrono, os dirigentes da Diretoria
atual e da passada prestigiam a iniciativa e temos certeza que conseguiremos
apresentar novidades. Agora quando ele chegar ao Maracanã o Eli, Chefe do
batuque, vai comandar os casacas para o Casaca”[3].
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] SUPERCAMPEONATO 20.12.1958 Vasco 2
x 0 Flamengo - 03.01.1959 Vasco 0 x
1 Botafogo SUPER-SUPERCAMPEONATO 10.01.1959 Vasco 2 x 1 Botafogo - 17.01.1959
Vasco 1 x 1 Flamengo. Fonte: Site oficial do Vasco
[2] Fonte: Jornal Diário da Noite 24 de
Julho de 1958.
[3] Fonte: Jornal Diário da Noite 19 de
Setembro de 1958. Ely é descrito por Casaca como “ um criolo alto e forte que
comanda o samba. Há oito anos acompanha a Torcida do Vasco e é um dos
administradores.”
Vasco Jornal Extra 2013 |
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