“o
intocável Real vencedor de todas as constelações
europeias estava aprendendo a
jogar futebol"
Jacques Ferran no jornal l'Equipe:
1957 O Vascaíno Pelé
Dedicando tempo integral
ao clube, Dulce vai construindo sua imagem de torcedora dedicada e capaz de
todo o sacrifício par exaltar sua agremiação. Passa a liderar as caravanas pela
cidade do Rio de Janeiro e fora também. Sua primeira caravana no comando da TOV
foi para Juiz de Fora, em Minas Gerais. Em seguida ela promove uma aproximação
com o principal chefe de torcida do Botafogo, Tarzan, fazendo uma homenagem ao
alvinegro. No mesmo ano sua figura vai angariando cada vez mais admiradores
pela imprensa por sua luta ao romper as barreiras machistas do futebol: “DULCE
ÚNICA MULHER A DIRIGIR UMA TORCIDA ORGANIZADA: Atualmente, é a única mulher que
comanda uma Torcida de futebol. E o coração feminino torna-se desmedidamente
grande na devoção. Oferece muito e, não raro, em troca de nada. Dulce Rosalina
confirma essa verdade. Sua paixão pelo Vasco da Gama encerra algo de belo,
idolátrico, imorredouro. Vê-la nos instantes de arrebatamento esportivo ou
quando vibra de emoção ao referir-se ao Clube predileto é passar a crer na
virtude de certos seres. Bendigamos-lhe o sentimento, a intensa e admirável
veneração ao grêmio a que de todo se entregou”.
Dulce e os torcedores vascaínos não poderiam imaginar
que eles seriam testemunhas oculares de algo que muito orgulhará o clube nos
próximos anos, ao acompanhar o desabrochar de um jovem que vestia a camisa do
nosso clube na disputa de um torneio internacional em junho de 1957. O jovem
jogador do Santos vestiu a camisa vascaína no Maracanã pelo combinado
Vasco-Santos. Suas atuações chamaram atenção do técnico da seleção brasileira da época, Silvio Pirilo, que o convocou para amistosos da seleção e o garoto
nao decepcionou. Marcou um gol contra a Argentina na sua estreia pela seleção
em 1957.
As boas atuações de Pelé despertaram
o interesse do Vasco que fez uma proposta de contratação do jogador do santos
no final de agosto. No entanto, o clube paulista recusou a oferta do presidente
vascaíno, Arthur Pires. Muitas foram as versões sobre este contato de Pelé com
o Vasco. Algumas dizem que o Vasco recusou o jogador. Mas uma coisa ninguém
discute. O clube do coração de infância do “Rei do Futebol” é o Vasco, conforme
declarou o atleta em inúmeras entrevistas.
Em junho de 1957 o Vasco partia para
uma longa excursão internacional que culminaria na disputa do Torneio de Paris
com as melhores equipes do mundo, incluindo o poderoso Real Madrid, considerado
à época como um time imbatível. E foi justamente contra o time espanhol que o
Almirante enfrentou na final do torneio no dia 14 de junho. Para surpresa da
imprensa européia o Vasco vence o real Madrid por 4 a 3 e conquista o título.
Na volta ao Brasil, um mês depois (a excursão continuou passando até pela URSS)
os jogadores foram recebidos com grande festa pelos torcedores no aeroporto.
No campeonato carioca de 1957, Vasco e
Flamengo, os maiores vencedores na década de 1950 ficaram para trás e a disputa
final ficou entre Fluminense e Botafogo. Na famosa final em que o Botafogo
goleou o rival por 6 a 2, a torcida alvinegra contou com o apoio das torcidas
organizadas de Vasco e Flamengo. De acordo com o depoimento do jornalista
Roberto Porto, um dirigente provocou os torcedores dos três times dizendo que o
Fluminense já era o campeão: “ele provocou a torcida do Flamengo e do Vasco
dizendo que deveria ser distribuído geladeira, radio, televisão, que eles não
tinha mais nada a fazer no campeonato e que o Fluminense só ia cumprir o seu
dever com o seu quadro social... rapaz, no domingo estava lá o Jayme de Carvalho
e o Ramalho na torcida do Botafogo. Atrás do gol, onde ficava a torcida do
Botafogo. Hoje, isso é inimaginável, eles estavam lá. Eu me lembro de vê-los. O
Ramalho com o talo de mamona tocava sempre que o Botafogo atacava...”[1].
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