quarta-feira, 13 de setembro de 2017

VASCO 2017: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1912 TORCENDO PELOS RIVAIS

                                          “os jornais não falavam em outra coisa. Páginas e coluna
                                                       deles eram ocupadas com história de ‘matches’”
 Lima Barreto, escritor

1912                 Torcendo pelos Rivais

        Um clube no início do século geralmente se dedicava a alguns poucos esportes ou era criado exclusivamente por causa de uma atividade física que tivesse mais interessados. Isso começou a mudar com a proliferação de clubes exclusivos de futebol. Em 1912 a febre da criação desses  “clubes de football” era uma realidade em toda a cidade do Rio de Janeiro. Neste ano era criada a Liga Sportiva Suburbana, englobando clubes de futebol desta região da cidade. Uma prova que o “esporte bretão” não era mais de domínio exclusivo dos clubes da elite da Zona Sul.
            O sucesso do futebol começava a ser notado em todas as áreas. Nos estádios mais lotados, no aumento de divulgação na imprensa e na paixão do torcedor. E este foi o ponto fulcral para os amantes do esporte. Apesar do intenso ardor que o público acompanhava seus clubes nas regatas, o sentimento mais aflorado já se manifestava nos gramados onde se disputavam acirradas partidas. Era a “paixão do futebol. Era isso que assustava o clube de remo. De tal modo que foi uma luta convencer o Flamengo a entrar para o futebol. O Flamengo com sessenta sócios, se tanto, sem um campeonato de remo, impôs condições, fez tudo para não ser um clube de futebol” (Mario Filho, 2003, p.54). A criação do Departamento de futebol no Flamengo (final de 1911) não foi algo simples, pois havia um certo ciúme do setor dominante que achava que este “modismo” poderia afastar o clube de seu esporte mais importante.
            O crescente interesse pelo futebol também continuava no Vasco por meio de seus sócios e atletas que acompanhavam os jogos e torciam pelos seus clubes. Mas estes “torcedores de futebol do Vasco” ainda sonhavam com a possibilidade do nosso clube competir de igual para igual com os poderosos Fluminense, Botafogo e, a grande novidade do ano, o Flamengo, tradicional rival das regatas, que montava seu time após desentendimentos entre atletas do Fluminense  (campeão em 1911) e seus dirigentes. O memorialista vascaíno José da Silva Rocha (1975) relembra a atitude contraditória dos vascaínos entre 1911 e 1916: “aos domingos, após os jogos do campeonato, muitos sócios desciam dos bondes (...) e reuniam-se na sede de Santa Luzia comentando as peripécias dos encontros que tinham assistido. Alguns torciam pelo Fluminense, outros pelo Botafogo, pelo América, pelo Flamengo (...) os encontros eram aliciantes. Não se podia assisti-los sem tomar partido por um dos grupos em luta”
            Com a conquista do campeonato de Remo de 1912, o grupo vascaíno que se opunha se tornou mais forte e coube aos associados mais interessados na prática do futebol buscarem outras alternativas, talvez até participando de criação de clubes de futebol pelos seus locais de moradia ou de trabalho.
            Pelo campeonato carioca de futebol organizado pela Liga Metropolitana a vitória coube ao Payssandu, um clube da elite carioca, formado por muitos descendentes de ingleses. Esta foi a primeira e única conquista do grêmio. Os outros participantes foram: Mangueira, São Cristóvão, Bangu, America e Rio Cricket.
            A disputa pelo interesse da população entre o futebol e o remo viveu momentos que ora será favorável a um, ora o outro terá mais destaque. Por exemplo, no primeiro Fla-Flu disputado em 7 de julho de 1912, os jornais noticiavam com desalento que houve “pequena concorrência, calculada talvez em 800 pessoas”[1]. Mas é preciso olhar com cuidado as informações, pois nem sempre a imprensa soube representar corretamente como a paixão do público foi mudando de esporte preferido.
No mesmo dia do primeiro Fla-Flu era disputada uma regata organizada pelo Club Boqueirão do Passeio, mobilizando a maior parte das atenções da imprensa. No dia da competição estava presente o ex-presidente da Argentina Júlio Roca, que cumpria a missão diplomática de reaproximação entre os dois países. A importância dessa visita para o desenvolvimento do esporte no Brasil ainda não foi estudada pelos pesquisadores. Nos próximos anos o futebol brasileiro vai ser o maior beneficiado, com a realização de jogos entre times e selecionados dos dois países. Em 1914, será formada a primeira seleção brasileira para disputar a Copa Roca da Argentina. A partir daí vão se estreitar os laços entre outros países da região para formar a Confederação de Futebol da América.     Além de ser o ano do primeiro Fla-flu no futebol, o ano teve ainda como destaque a entrada de sócio para o Fluminense do escritor Coelho Neto, empolgado com o clube das Laranjeiras e a paixão pelo futebol de seus filhos. O literato será um dos maiores símbolos da história do tricolor, além de ter criado o hino do clube em 1915.
            O Botafogo disputou um campeonato paralelo em 1912, ao criar Associação de Football do Rio de Janeiro (AFRJ), em virtude de um protesto pela suspensão de um atleta seu no ano anterior. Além do Botafogo, campeão da competição, disputaram os seguintes clubes: o Cattete, o Internacional. O Germânia, o Paulistano e o Petropolitano.
O ano termina em festa para os torcedores vascaínos. O tradicional passeio para o pic nic na Ilha do Engelho é realizado contando com a presença de mais de 500 pessoas que lotam uma barca. Todas as principais revistas da época     (Fon-fon, O Malho e Careta) registram em fotos os momentos de descontração, animação e festividade. Era a arrancada para o inédito tricampeonato no Remo.
A grande estrela da festa do primeiro campeonato era uma embarcação chamada Íbis. Ela “tornou-se uma lenda no remo do Rio de Janeiro do início do século XX. O barco de fina fabricação italiana, construído nos estaleiros da Galinari & Co, de Livorno/ITA, ganhou a alcunha de "O Barco Invencível". Sua estréia ocorreu em julho de 1912 e reinou absoluta com dezenove vitórias consecutivas, um grande feito para época “[2].
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.


[1] Fonte: ASSAF e MARTINS, Fla-Flu , o jogo do Século, RJ, Letras & Expressões, 1999.
[2] Fonte: www.crvascodagama.com.br/história

Vasco Revista Careta 1912


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