“pó-arroz”
Início do apelido do tricolor
1914 Valoroso Centro Náutico
Enquanto a equipe de remo do Vasco
alcançava um inédito tricampeonato, a seleção brasileira de futebol realizava
duas proezas: em julho vence um time de profissional da Inglaterra (Exeter City)
e, em setembro, conquista o primeiro título ao vencer a Argentina na casa do
adversário. Os dois resultados foram cruciais para que o nacionalismo
despertado pelo esporte motivasse uma grande confiança na capacidade do futebol
representar a nação. Considerando que aquele ano foi o início da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), isso não era pouco.
Milhares
de pessoas receberiam os atletas que regressaram da Argentina no Cais do Porto.
A repercussão na imprensa foi de surpresa tanto diante da vitória como o
entusiasmo no Brasil. O nacionalismo começava a caçar as chuteiras. A revista O
Malho registrava a façanha dos jogadores: “o domingo último marcou uma data
gloriosa para o Sport brasileiro, com a vitoria de nosso team sobre o scratch
argentino, na conquista da Copa tão benemeritamente ofertada pelo General Julio
Roca ex-presidente da Argentina. O match
teve assistência de público superior a 15 mil pessoas”.
Para o Vasco, a vitória no
campeonato de remo foi o motivo de grandes comemorações dos sócios e torcedores
vascaínos que celebraram a conquista com o tradicional passeio de barco e um
animado pic nic na Ilha do Engenho. De acordo com o jornal A Gazeta de Notícias
a programação era extensa com a saída no Cais do Porto pela manhã e a volta
depois das 17 horas. Muitas atividades foram programadas, como o almoço,
sorteio de brindes, danças, passeios pela ilha, competições esportivas e
diversas outras atividades recreativas. Cabe o registro do grau de organização
do clube que designava várias comissões para o sucesso da atividade. Estas
foram assim divididas: Recepção, representação e imprensa; Buffet, Dança,
Música etc. Já o Correio da Manhã preferiu destacar a presença feminina:
“compareceram muitas senhoras e gentis senhoritas que emprestaram notável
encanto ao belo passeio”[1].
Este foi um ano repleto de glórias
para Claudionor Provenzano, considerado um dos maiores atletas de clube de
todos os tempos. Sua figura imponente e seus títulos, deram-lhe grande
divulgação. Sua imagem foi uma das mais usadas pelas revistas para enfatizar o
caráter vigoroso do remo. Em seu peito repleto de medalhas, característica das
fotos dos remadores da época, há ainda o registro de sua coragem heróica capaz
de salvar vidas no mar: “é, também, um valente nadador, sendo muitas as pessoas
que tem arrancado à morte dentro do mar”[2]
No
campeonato de futebol ocorreram algumas novidades: o Flamengo sagrava-se
campeão pela primeira vez, o Fluminense ganhava o apelido de “pó-de-arroz” da
torcida do América (na verdade o apelido era para o jogador Carlos Alberto que
havia trocado o América pelo Fluminense e usava o produto para disfarçar a pele
escura) e a última colocação do Payssandu, tradicional clube da elite (formado
por descendentes de ingleses). Com esta classificação, o clube teria que havia
conquistado o campeonato em 1912, agora teria que jogar na Segunda Divisão.
A
explicação para o apelido do Fluminense “pegar” é dada por Mario Filho no livro
O Negro no Futebol Brasileiro (2003, p.60). Para o jornalista, o clube procurar
ser o mais elitista de todos os clubes. Mesmo entre as agremiações na Zona Sul,
são associados procuravam se destacar dos demais: “o Fluminense (...) era muito
cheio de coisa, queria ser mais do que os outros, mais chique, mais elegante,
mais aristocrático. O pó-de-arroz pegou feito visgo”.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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