“Remos à
proa, medalhas ao peito”
Lema do Clube
1913 Brasileiros x Portugueses
A versão tradicional sobre a origem
do departamento de futebol no C. R. Vasco da Gama remonta a visita de um
selecionado português para enfrentar o Botafogo F.C em julho de 1913. Durante
as disputas acirradas a questão da nacionalidade levou a comportamentos
exacerbados em ambos os lados. A repercussão dos jogos acabou por incentivar a
comunidade portuguesa residente na cidade em criar os seus próprios times.
No entanto, com já demonstramos nos
anos anteriores, alguns relatos diferentes registram que a vontade de montar
uma equipe de futebol dentro do clube já vinha sendo tentada em inúmeras
ocasiões, na medida em que o futebol ganhava cada vez mais a divulgação da
imprensa e um número significativo de clubes surgia por toda a cidade, em
diversas camadas sociais, comprovando que o futebol já teria desbancado o remo
como esporte preferido para a sua prática bem como entre os assistentes.
Enquanto os atletas do remo partiam
em busca de mais um campeonato, os sócios mantinham sua fidelidade aos seus
ídolos e garantiam um relativo sucesso de público nas regatas mais concorridas.
Na última do ano, ocorrida no final de outubro, os torcedores comparecem em peso,
tanto nos setores mais populares “a amurada da Avenida Beira-Mar se via uma
linha cerrada de espectadores apreciando os movimentos dos páreos náuticos”
quanto nas áreas mais nobres do Pavilhão, “com crescido número de pessoas da
nossa melhor sociedade”[1].
A
revista Fon-fon, especializada em reportagens sobre a vida moderna na cidade e
em acompanhar o novo estilo de vida que o mundo seguia, registrava que no Rio
de Janeiro, o desenvolvimento da prática esportiva como grande espetáculo
seguia os mesmos passos dos países mais avançados do mundo e cita que a cidade
carioca estava se igualando a França, Inglaterra, EUA, ou seja, em lugares que
o esporte havia se desenvolvido. Antes praticados como exercício de lazer ou
para a manutenção da saúde, agora haviam se transformado em eventos sociais que
davam uma nova identidade as zonas urbanas: “as nossas festas esportivas
evoluíram incontestavelmente e hoje em dia uma corrida no Derby, ou no Jockey,
uma regata em Botafogo, ou uma partida de football tem a importância de um
acontecimento na vida da cidade”[2].
A verdade era de que o remo
ainda era o esporte mais tradicional da cidade e durante as principais
competições, a presença de público era bem significativa, no entanto, como
paixão popular, o futebol já dominava as atenções de parcelas significativas da
sociedade, tanto entre as elites da Zona Sul, como entre os moradores do
Centro, Zona Norte e Suburbana.
O futebol contava com aspectos
favoráveis como a ampla possibilidade de ser praticado por toda a cidade, numa
época de expansão urbana e crescimento populacional para todas as regiões,
especialmente a zona suburbana. O local se revelou um verdadeiro celeiro de
craques formados nos mais diversos clubes que se formavam para a prática
exclusiva do futebol.
Outro fator que beneficiou o futebol
foi a rivalidade entre paulistas e cariocas e vice-versa. Também ocorre um
maior intercâmbio com outros países e a possibilidade do futebol representar a
nação. O sentimento nacionalista foi reforçado neste ano com as vitórias sobre
os selecionados português (em julho) e chileno (em setembro) e contra a equipe
inglesa do Corinthians (em agosto).
No clube, a cada ano era inventada
uma nova moda para atrair futuros sócios e garantir o fortalecimento da
instituição que vivia uma época de glórias com a conquista do bicampeonato de
remo. No último dia do ano, era promovido pelo grupo dos “Mademoiselles
Barbados” uma festa irreverente, conforme anunciava o jornal O Imparcial em 30
de dezembro de 1913. Mais uma demonstração que o clube procurava expandir suas
atividades além das esportivas e se constituir numa autêntica família ampliada.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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