“O futebol tinha, para o remador, uma
delicadeza de ballet”
Mário
Filho, jornalista
1910 Há
muito tempo nas águas da Guanabara
A temperatura política foi
agitada no final desse ano em Portugal e no Brasil. Na Europa explodia uma
revolta em outubro que provocou o fim da Monarquia portuguesa levando milhares
de moradores saírem de seu país e se deslocarem para o Brasil. Aqui a situação
parecia calma até que, em novembro, os marinheiros iniciaram uma revolta e
ameaçaram bombardear a cidade.
De acordo com o censo da época a
população brasileira era de aproximadamente 24 milhões, que seriam acrescidos
de mais de 800 mil imigrantes ao longo dos anos 1910. Eles vão se somar aos outros
três milhões de imigrantes que escolheram a nossa terra para viver.
Desses novos imigrantes, a maioria
era de portugueses (316.481). Muitos saíram de Portugal em função dos conflitos
políticos e da crise da instauração da República. O perfil desse pessoal era
diferente das massas empobrecidas do campo que buscavam alternativas para sair
da miséria. Agora eram famílias de boa situação financeira que aplicavam suas
economias na compra de imóveis, no comércio de bares e restaurantes e na
criação de indústrias. Muitos desses “novos cariocas” seriam empresários de
sucesso na rua do Acre, tradicional reduto dos vascaínos. Entretanto, a maior
parte era proveniente das zonas rurais e no Rio de Janeiro seriam carregadores
no porto, vendedores ambulantes ou vão formar a crescente massa trabalhadora
nas indústrias da Capital Federal.
Um desses portugueses que chegaria
ao Brasil em 1912 e se tornaria uma lenda no Vasco era o jovem Adão Brandão que
abandona a sua terra em busca de novas oportunidades e vem para o Rio de
Janeiro. Em pouco tempo ele já estaria integrado na comunidade portuguesa local
e se iniciado na prática de esportes. Primeiro o remo e depois muitos outros,
sendo, inclusive, um dos pioneiros no futebol vascaíno em 1916.
No campeonato de remo a vitória
coube ao Santa Luzia e no futebol, o Botafogo alcançava o seu primeiro título
no dia 25 de setembro, superando a hegemonia tricolor dos primeiros anos.
Apesar
do público crescente e da presença da elite no estádio do Fluminense, reunindo
elegantes senhoritas e homens de fraque e cartola, o maior interesse ainda estava
nas águas da Guanabara.
Em
comparação com os jogadores de futebol que eram mais fracos, baixos, os atletas
do remo ainda dominavam o imaginário da época como os autênticos representantes
do esporte moderno. A rivalidade entre eles era visível: “quem era do remo
olhava quem era do futebol por cima. Julgando-se superior, mais fino. O futebol
não despertava o entusiasmo do remo. Em dia de regata, na Enseada de Botafogo,
sempre à tarde, na hora do futebol, não havia jogo”, compara o jornalista Mario
Filho, que escreve baseado em informações de antigos esportistas, para o seu
livro sobre a história do futebol carioca[1].
Em novembro todas as regatas foram
suspensas, pois uma semana após o Presidente Hermes da Fonseca assumir a
presidência, os marinheiros revoltam-se em várias embarcações no Rio de
janeiro. Comandados pelo negro João Candido, eles exigiam o fim do tratamento humilhante
com punições de chibatadas, alem de melhores condições de trabalho e
remuneração mais justa. Os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade. Alguns
dias depois o Congresso Nacional se reuniu as pressas e vota favorável as
reivindicações. Em dezembro acontece uma nova rebelião no Batalhão Naval, mas o
desfecho foi terrível, com a prisão, morte e exílio de centenas de revoltosos.
Fonte: Livro “100 anos da
Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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