domingo, 11 de setembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1930 CONCURSO LEVA UM TORCEDOR A COPA

“mulato majestoso e bem vestido” descrição de Polar
           
1930            Concurso leva um torcedor a Copa

Os anos 1930 começam com a expectativa geral dos torcedores na primeira Copa da Mundo de Futebol a ser disputada no Uruguai, país vencedor do futebol nas Olimpíadas de 1924 e 1928. A seleção brasileira se preparava para enfrentar os seus adversários com os principais jogadores do país. Entretanto, acabou viajando desfalcada dos jogadores de São Paulo, pois ocorreu em junho uma crise entre a federação paulista e a CBD (entidade sediada no RJ) e o nosso time foi formado praticamente por jogadores da capital federal, a cidade do Rio de Janeiro. Do Vasco foram convocados Itália, Fausto, Russinho e Tinoco.
O jogador mais famoso do futebol brasileiro dos anos 1910 e 20, o atacante Friedenreich, foi um dos atletas que não puderam participar do campeonato mundial. Ele que foi uma das atrações no jogo amistoso entre o seu novo time, o São Paulo e o Vasco em São Januário. “Fried é o alvo de manifestações calorosas da torcida carioca (...) marcaria de cabeça o gol de honra do tricolor na derrota por 2 a 1” (Duarte, 2012, 195-196). Este seria o primeiro gol do atacante, na primeira partida ao artilheiro contra o Vasco.
Com a seleção brasileira de 1930 repleta de jogadores vascaínos, uma emoção febril tomou conta dos estádios em cada partida disputada entre os maiores clubes da cidade. O jornalista Álvaro Moreira (pai do famoso cronista esportivo dos anos 1960, 70 e 80, Sandro Moreira) escreveu uma crônica em estilo telegráfico o incentivo das torcidas: “o clássico entre Vasco e Fluminense num estádio cheio, cheio, cheio. De lado a lado a participação da torcida é intensa. Começa a torcida eh...eh...eh.... A cada ataque adversário torcedores provocam seus adversários...Uh...Uh...Uh...Fluminense! E continua a disputa nas arquibancadas para ver qual era a torcida mais animada. Palmas com as mãos e com os pés, palmas, guinchos, assobios, delírio. Fim do jogo um 0 a 0 em campo, mas na arquibancada o jogo continua. Cada lado grita o nome de seus jogadores principais. Vasco! Jaguaré! Fortes! Russinho! Fluminense! Os nomes dos clubes e dos jogadores esparramaram-se no ar como confetes sincronizados” (Pedrosa, 1968, p.132-133).
Enquanto a imprensa paulista boicotava a seleção nacional e incentivava os paulistanos torcerem contra o Brasil, o jornalismo carioca dava total apoio aos jogadores, promovendo uma campanha inédita através do diário “A Crítica” para levar um torcedor para o Uruguai como representante da torcida brasileira. Pelo Vasco, concorreram vários torcedores conhecidos no clube, sendo o mais votado Polar, com 90.000 votos, outros torcedores que também concorreram foram Ítalo Saine, o “Loló”, Jayme Silva, J. Correa de Araujo, Armando Tavares de Oliveira e Elyseu Coelho.
O jornal “A Crítica” era de Mario Rodrigues e sofreu uma grande perda naquele tempo com a morte do seu dono. Em seu lugar assumiram os filhos, entre eles, Mário Filho, um dos maiores incentivadores da participação ativa das torcidas e uma figura que se tornaria central para o desenvolvimento do jornalismo esportivo nesta década.
Outro jornal que promoveu uma imensa campanha foi o Diário da Noite em parceria com uma empresa de cigarros para eleger o jogador mais popular do Brasil. Cada clube podia indicar um candidato. O Vasco indicou o atacante Russinho. O pesquisador João Malaia Casquinha apresenta os números impressionantes do concurso: “durante o mês de maio, o número de carteiras contabilizadas era tão alto, que o periódico que patrocinou o concurso chegou a afirmar que os cariocas se envolviam mais na escolha do maior footballer do país do que na eleição para presidente, entre Julio Prestes e Getúlio Vargas. Realmente, os números finais do concurso dão uma ideia do que foi aquele pleito. Russinho ficou em primeiro lugar, com 2.900.649 votos. Fortes foi o segundo, com 2.048.483 votos, seguido por Filó, com 722.563, Friedenreich, com 319.050 e por Nonô, com 129.890. No total, seis milhões de carteiras de cigarros”.
Dentre os vários  jogadores vascaínos que participaram da primeira Copa do Mundo no Uruguai, Fausto foi o que obteve as maiores glórias, recebendo da imprensa uruguaia o apelido de "Maravilha Negra". Com o seu estilo elegante, exímio controle de bola e passes longos, Fausto foi o primeiro de uma escola brasileira de jogadores de talento indiscutível.
Na volta ao Brasil, os jogadores vascaínos se incorporam ao elenco para o campeonato carioca. Mesmo fazendo uma boa campanha, o Vasco perde o título na última rodada com uma derrota surpreendente para o modesto time do Sírio do zagueiro Aragão. Após o jogo, surge um boato que o clube recebeu um premio extra de 500 mil reis oferecido pelo Botafogo, interessado na derrota do Vasco. Aragão quebrou quase todo o time do Vasco, que perdeu o jogo e a chance de chegar ao bicampeonato.
Se oferecer dinheiro para jogadores quebrarem seus adversários era uma prática que existia, uma outra atitude desonesta já permeava o universo do futebol. Já era comum a evasão de renda com a entrada de diversas pessoas sem pagar ingressos nos estádios. Um prejuízo que saía caro para os cofres dos clubes que, prestes a ingressarem no profissionalismo, viam suas receitas com o futebol saírem pelo ralo. Foi pensando nisto que o Vasco designou o torcedor símbolo dos anos 1920, José Paradantas, para fiscalizar as bilheterias em São Januário  e também formou várias comissões de associados para a fiscalização dos portões do Estádio[1].
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.



[1] Fonte: Diário de Notícias 16 de Novembro de 1930.

Vasco Jornal Crítica 1930

Vasco Revista Lusitania 1930


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