“mulato
majestoso e bem vestido” descrição
de Polar
1930 Concurso
leva um torcedor a Copa
Os
anos 1930 começam com a expectativa geral dos torcedores na primeira Copa da
Mundo de Futebol a ser disputada no Uruguai, país vencedor do futebol nas
Olimpíadas de 1924 e 1928. A seleção brasileira se preparava para enfrentar os
seus adversários com os principais jogadores do país. Entretanto, acabou
viajando desfalcada dos jogadores de São Paulo, pois ocorreu em junho uma crise
entre a federação paulista e a CBD (entidade sediada no RJ) e o nosso time foi
formado praticamente por jogadores da capital federal, a cidade do Rio de
Janeiro. Do Vasco foram convocados Itália, Fausto, Russinho e Tinoco.
O
jogador mais famoso do futebol brasileiro dos anos 1910 e 20, o atacante
Friedenreich, foi um dos atletas que não puderam participar do campeonato
mundial. Ele que foi uma das atrações no jogo amistoso entre o seu novo time, o
São Paulo e o Vasco em São Januário. “Fried é o alvo de manifestações calorosas
da torcida carioca (...) marcaria de cabeça o gol de honra do tricolor na
derrota por 2 a 1” (Duarte, 2012, 195-196). Este seria o primeiro gol do
atacante, na primeira partida ao artilheiro contra o Vasco.
Com
a seleção brasileira de 1930 repleta de jogadores vascaínos, uma emoção febril
tomou conta dos estádios em cada partida disputada entre os maiores clubes da
cidade. O jornalista Álvaro Moreira (pai do famoso cronista esportivo dos anos
1960, 70 e 80, Sandro Moreira) escreveu uma crônica em estilo
telegráfico o incentivo das torcidas: “o clássico entre Vasco e Fluminense num
estádio cheio, cheio, cheio. De lado a lado a participação da torcida é intensa.
Começa a torcida eh...eh...eh.... A cada ataque adversário torcedores provocam
seus adversários...Uh...Uh...Uh...Fluminense! E continua a disputa nas
arquibancadas para ver qual era a torcida mais animada. Palmas com as mãos e
com os pés, palmas, guinchos, assobios, delírio. Fim do jogo um 0 a 0 em campo,
mas na arquibancada o jogo continua. Cada lado grita o nome de seus jogadores
principais. Vasco! Jaguaré! Fortes! Russinho! Fluminense! Os nomes dos clubes e
dos jogadores esparramaram-se no ar como confetes sincronizados” (Pedrosa,
1968, p.132-133).
Enquanto
a imprensa paulista boicotava a seleção nacional e incentivava os paulistanos torcerem
contra o Brasil, o jornalismo carioca dava total apoio aos jogadores,
promovendo uma campanha inédita através do diário “A Crítica” para levar um
torcedor para o Uruguai como representante da torcida brasileira. Pelo Vasco,
concorreram vários torcedores conhecidos no clube, sendo o mais votado Polar,
com 90.000 votos, outros torcedores que também concorreram foram Ítalo
Saine, o “Loló”, Jayme Silva, J. Correa de Araujo, Armando Tavares de Oliveira
e Elyseu Coelho.
O jornal “A Crítica” era de Mario Rodrigues e sofreu
uma grande perda naquele tempo com a morte do seu dono. Em seu lugar assumiram
os filhos, entre eles, Mário Filho, um dos maiores incentivadores da
participação ativa das torcidas e uma figura que se tornaria central para o
desenvolvimento do jornalismo esportivo nesta década.
Outro jornal que promoveu uma imensa campanha foi o
Diário da Noite em parceria com uma empresa de cigarros para eleger o jogador
mais popular do Brasil. Cada clube podia indicar um candidato. O Vasco indicou
o atacante Russinho. O pesquisador João Malaia Casquinha apresenta os números
impressionantes do concurso: “durante
o mês de maio, o número de carteiras contabilizadas era tão alto, que o
periódico que patrocinou o concurso chegou a afirmar que os cariocas se
envolviam mais na escolha do maior footballer do país do que na eleição para
presidente, entre Julio Prestes e Getúlio Vargas. Realmente, os números finais
do concurso dão uma ideia do que foi aquele pleito. Russinho ficou em primeiro
lugar, com 2.900.649 votos. Fortes foi o segundo, com 2.048.483 votos, seguido
por Filó, com 722.563, Friedenreich, com 319.050 e por Nonô, com 129.890. No
total, seis milhões de carteiras de cigarros”.
Dentre os vários
jogadores vascaínos que participaram da
primeira Copa do Mundo no Uruguai, Fausto foi o que obteve as maiores glórias,
recebendo da imprensa uruguaia o apelido de "Maravilha Negra". Com o
seu estilo elegante, exímio controle de bola e passes longos, Fausto foi o
primeiro de uma escola brasileira de jogadores de talento indiscutível.
Na
volta ao Brasil, os jogadores vascaínos se incorporam ao elenco para o
campeonato carioca. Mesmo fazendo uma boa campanha, o Vasco perde o título na
última rodada com uma derrota surpreendente para o modesto time do Sírio do
zagueiro Aragão. Após o jogo, surge um boato que o clube recebeu um premio
extra de 500 mil reis oferecido pelo Botafogo, interessado na derrota do Vasco.
Aragão quebrou quase todo o time do Vasco, que perdeu o jogo e a chance de chegar
ao bicampeonato.
Se
oferecer dinheiro para jogadores quebrarem seus adversários era uma prática que
existia, uma outra atitude desonesta já permeava o universo do futebol. Já era
comum a evasão de renda com a entrada de diversas pessoas sem pagar ingressos
nos estádios. Um prejuízo que saía caro para os cofres dos clubes que, prestes
a ingressarem no profissionalismo, viam suas receitas com o futebol saírem pelo
ralo. Foi pensando nisto que o Vasco designou o torcedor símbolo dos anos 1920,
José Paradantas, para fiscalizar as bilheterias em São Januário e também formou várias comissões
de associados para a fiscalização dos portões do Estádio[1].
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
[1] Fonte: Diário de Notícias 16 de Novembro de
1930.
Vasco Jornal Crítica 1930 |
Vasco Revista Lusitania 1930 |
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