“votos,votos para
Rey”
apelo
de Polar aos vascaínos
1935 Concurso dos Jogadores
Enquanto
a cidade do Rio de Janeiro se preparava para o carnaval cantando o grande
sucesso daquele ano, a marchinha de André Filho, “Cidade Maravilhosa”, o verão carioca era sacudido com os amistosos
das equipes argentinas na capital do país e com a repercussão da saída do Vasco
da Liga Carioca de Futebol, em função de uma briga com o Flamengo, originado de
uma discussão no remo, no final de 1934.
Era a primeira vez que os times do
Boca Juniors (campeão argentino em 1934) e do River Plate se apresentariam no
Rio de Janeiro, numa excursão que incluiria uma seqüência de amistosos na
cidade de São Paulo.
De
sua chegada até sua despedida do país não faltaram fotos dos jogadores
argentinos nas primeiras páginas, especialmente no dia 18 de janeiro quando os
argentinos posam amigavelmente com vários jogadores do Vasco ao treinarem
juntos em São Januário, como forma de preparativo para o primeiro amistoso
contra o Botafogo no dia 20 no mesmo estádio. Diga-se de passagem, o Boca ainda
não havia construído o seu estádio.
Ao
empatar em 3 a 3, o Vasco comemorou o resultado como uma vitória pois perdia de
1 a 3 e temia-se uma nova goleada dos argentinos que venceram o Botafogo por 4
a 0. O grande destaque da partida foi o meia Fausto, considerado o melhor homem
em campo, o que motivou o líder da torcida[1]
vascaína, João de Luca, promover uma lista para comprar uma medalha de ouro em
homenagem ao jogador.
O
intercâmbio com o futebol brasileiro acabou aumentando o interesse dos clubes
argentinos de contratarem mais jogadores do Brasil. Em fevereiro de 1935 é
anunciada a venda de Waldemar de Brito (Botafogo) para o San Lorenzo. Mas a
maior investida do futebol argentino naquele ano ainda estava por vir: no dia 6
de fevereiro estoura a notícia de que o Boca já havia iniciado os
entendimentos para levar Domingos da
Guia (Vasco) para disputar o campeonato argentino de 1935. Dois dias depois fez
a vez de anunciarem a negociação de Fausto com outro clube argentino, o San
Lorenzo.
Nem
mesmo a grande atuação de Domingos da Guia (considerado o melhor jogador em
campo) salvou o Vasco de um resultado muito ruim. O River venceu facilmente por
4 a 1. Entre os destaques dos argentinos estava Moreno, que viria a ser um dos principais jogadores de todos os
tempos do River Plate, fazendo parte do lendário time dos anos 1940, intitulado
“la Maquina”.
Uma seleção brasileira era formada
as pressas para enfrentar o River Plate em sua despedida do Brasil. A CBD
convoca principalmente jogadores do Vasco, motivando seus torcedores pois seria
a possibilidade deste clube fazer uma revanche contra os argentinos.
Na despedida do River havia a
promessa de, num futuro próximo, um novo jogo entre ele e o Vasco na Argentina
(o que acabou não acontecendo). A partida seria a última de Domingos que, em
poucos dias, deixaria em definitivo o Vasco para se juntar com as estrelas do
Boca Juniors. Sua saída foi dramática para o clube brasileiro que, por duas
semanas, fez uma série de contrapropostas para evitar sua saída. Neste período
os jornais procuraram acompanhar passo a passo o empenho dos dirigentes
vascaínos (que fizeram de tudo para manter o atleta no clube). Terminado o
carnaval de 1935 o jogador embarcaria para Buenos Aires, onde seria campeão
argentino no mesmo ano.
Os
jogos contra os argentinos foram um sucesso de público, o que motivou a
seguinte manchete do Jornal dos Sports em 27 de fevereiro: "Vasco proporá
a CBD a realização de um torneio que representará um autêntico Sul-Americano
Interclubes".
Se
preparando para o campeonato carioca de 1935, o clube recebe uma pressão dos
torcedores e sócios vascaínos, para a reintegração de Tinoco ao elenco, ele que
foi um dos que abandonaram o clube para disputar a Copa na Itália em 1934: “o Sr João de Lucca, um dos “Leaders” da Torcida Vascaína. Dirige ele o
movimento pelo veterano Campeão do Vasco. Divulgamos hoje o abaixo assinado que
os Sócios e torcedores do Club cruzmaltino dirigirão a Diretoria, solicitando o
cancelamento da pena de eliminação sofrida pelo conhecido player Tinoco. (...)
A lista principal de assinaturas está em poder do João de Lucca, um dos Leaders
da Torcida no Largo de São Francisco, esquina com Ouvidor.. “Estamos
trabalhando pelo indulto de Tinoco. É um Vascaíno da velha guarda e não pode estar afastado do Club.” (...) É o
abaixo assinado dos sócios e torcedores, o Vasco decidiu cancelar a pena
imposta ao half... Não precisamos destacar a justiça de tal medida.
Acompanhando o movimento encabeçado por Fausto e trabalhado pelos conhecidos
torcedores Vascaínos João de Lucca e Júlio Gamado junto a Torcida”[2].
De agosto até o final do ano a
campanha da torcida vascaína foi para eleger o goleiro Rey como o maior ídolo
do futebol carioca, numa promoção das “Balas Favoritas”. A última campanha para
conhecer o maior ídolo carioca tinha sido em 1930 e Russinho do Vasco foi o
escolhido. Agora era a vez do líder da torcida vascaína, Polar, fazer campanha
pelo maior estrela do clube no momento e que segundo alguns era namorado da
cantora vascaína Aracy de Almeida. Diz a reportagem: “CONCURSO DAS BALAS
FAVORITA DOS JOGADORES. Um apelo de Polar aos torcedores do Vasco da Gama,
apoiada pelo keeper dos cruzmaltinos. Polar, cabo chefe de Rey, esteve em nossa
redação em companhia do grande e popular arqueiro Vascaíno. O festejado
propagandista disse-nos:“Sou o cabo Chefe aqui do meu amigo Rey, candidato dos
Vascaínos no Concurso das Balas Favorita dos Jogadores. Todos dizem que a
Torcida do Vasco é a mais poderosa do Rio, entretanto, o Rey ainda permanece em
segundo. É um absurdo. Apelo para os torcedores do Vasco da Gama. Demostremos o
nosso valor, a nossa pujança (,,,) Rey, o arqueiro Vascaíno, disse-nos. “Entrei
no Concurso, confiante no valor extraordinário da Torcida do Vasco da Gama.
Espero que todos os Vascaínos se coliguem e levem-me votos, afim de que na
próxima apuração, a nossa Torcida sobrepuje a do Flamengo (...) Rey e Polar
pediram-nos tornar público, que hoje, estarão no Estádio do Vasco, para receber
dos vascaínos sinceros votos das Balas Favoritas dos Jogadores”[3].
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário