Torcida
do Vasco em Los Angeles
Manchete
do Jornal
1932
Embaixador Olímpico
Para evitar as transferências foram
criadas várias leis, algumas mais rigorosas e outras mais brandas. No começo
dos anos 1930 valia a lei do Estágio, em que o jogador não poderia atuar no
novo time como titular por um período de um ano. Apesar das leis, das reações
dos torcedores, a verdade é que as mudanças continuavam acontecendo, tanto é
que um jornal chegou a mostrar em uma grande manchete que 1932 seria o ano dos
“borboletas”.
Os próprios jogadores não sabiam
como seria o futuro do futebol e davam respostas contraditórias sobre o
profissionalismo, ora atacando, ora defendendo. Em agosto de 1931, Domingos
afirmava: “sou contra o profissionalismo que destrói o sentimento familiar e
patriotismo dos homens. Jamais sairei do Rio para o estrangeiro, como servo do
futebol”. Dois meses depois o próprio jogador afirmava numa outra entrevista,
uma posição totalmente diferente: “o profissionalismo e uma necessidade
inadiável para o progresso do nosso futebol e a honestidade dos nossos rapazes
(...) se eu for convidado a atuar num clube de profissionais, com vantagens,
repito, abandonarei o amadorismo. Não me envergonharei de ser profissional”
(Hamilton, 2005. pp. 70-71).
Em 1932 o Vasco contratava o
zagueiro Domingos da Guia mas pelo regulamento não poderia lançá-lo no time
principal naquele ano, aguardando o tempo da Lei do estágio. A torcida teria
que se contentar em ver o jogador disputando as partidas da preliminar.
Depois
do sucesso do concurso para enviar um torcedor ao Uruguai em 1930, a próxima
competição internacional que mobilizou as redações cariocas foi a Olimpíada em
Los Angeles, nos Estados Unidos. Dessa vez a disputa era para ser embaixador
olímpico e contou com a participação conjunta do “Diário de
Notícias e Jornal dos Sports vão custear as despesas com a ida de duas pessoas
a Los Angeles para assistir aos Jogos Olympicos. Affonso Silva, o Polar, um dos
mais fortes concorrentes ao Grande Concurso instituído pelo Diário de Notícias
e o Jornal dos Sports, esteve, ontem em nossa redação, depois da apuração que
havíamos realizado”[1].
Pouco depois uma outra notícia mostrava uma mobilização dos vascaínos
para assistirem aos jogos em Los Angeles como atividade de turismo, inaugurando
uma pratica que se tornaria habitual no final do século XX quando os esportes
competitivos e suas competições mais famosas virariam uma nova fonte de receita
para as agências de turismo. Na época a imprensa destacou desta forma o
interesse na viagem: “A TORCIDA DO VASCO EM LOS ANGELES. O grande Club vai organizar uma caravana. O Sr Manoel Ramos o primeiro inscrito. A Torcida
Vascaína é uma das mais entusiasmada que possuímos. É ardorosa, o seu
entusiasmo não conhece limites. Os defensores do Vasco tem sempre a anima-los
numerosos adeptos do seu Club. Ainda agora, os torcedores Vascaínos vão ter
oportunidades de demonstrar o seu ardor. A Agência Exprinter, que está
organizando uma grande caravana para ir a Los Angeles, assistir aos jogos
Olimpicos, entre em combinação com o Vasco da Gama, afim de que um grupo de
torcedores do prestigiado Club possa torcer pelos seus atletas na importante
competição mundial.As inscrições estão com o Sr Raul Campos, Presidente do
Club. O primeiro Vascaíno a inscreve-se foi o Sr Manoel Ramos, ex-tesoureiro da
AMEA, e uma das figuras mais queridas do Club da Cruz de Malta”[2].
Em dezembro de 1932 a
Seleção Brasileira foi disputar a Copa Rio Branco no Uruguai. Mesmo enfrentando
o boicote dos paulistas, formando um time de desconhecidos e a pressão para não
escalar Leônidas, o Brasil consegue vencer os uruguaios por 2 a 0, com 2 gols de Leônidas.
Ao voltar para o Brasil,
os jogadores foram recebidos como verdadeiros heróis, pois tinham vencido a
seleção bicampeã olímpica (1924 e 1928) e atual campeã do mundo de 1930, quando
muitos esperavam um resultado adverso.
“E foi uma recepção digna de heróis no cais do porto carioca. Milhares
de pessoas aguardavam os jogadores para uma festa fabulosa (...) a polícia teve
ate de montar um cordão de isolamento, tamanho era o delírio dos torcedores
(...) do porto os jogadores seguiram em carro aberto e desfilaram pelas ruas do
Rio. Era gente por todos os cantos. Da
janela dos prédios chovia papel picado, nas ruas era um só grito: Brasil! Brasil!” (Ribeiro, 1999, p.50).
O próprio presidente
Getúlio Vargas fez questão de receber e homenagear os jogadores no Palácio do
Catete. Aquela seria a primeira vez que o político perceberia a força do
futebol e a importância dos jogadores como novos heróis nacionais. Juntar sua
imagem com aqueles heróis populares vai ser sua marca nos próximos anos.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
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