“ SALVE O LIBERTADOR VASCO DA GAMA”
Manifesto dos jogadores paulistas
Manifesto dos jogadores paulistas
1933 Liderando o
Profissionalismo
No primeiro
ano de implantação do profissionalismo do futebol no Brasil a situação dos
clubes foi de uma completa divisão, com a formação de novas ligas e briga com a
principal entidade, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Enquanto a
CBD e vários clubes defendiam a permanência do amadorismo, as principais
agremiações esportivas defendiam a mudança para o regime profissional. No
Vasco, a polêmica também dividiu sua comunidade.
Não era
somente entre os cartolas vascaínos que o tema demandava grandes debates.
Torcedores, sócios, conselheiros, jornalistas e jogadores vascaínos levantavam
as vantagens e desvantagens do novo regime.
E o Vasco foi
decisivo para o sucesso da implantação do regime profissional. No começo do ano
um acalorado debate no Conselho Deliberativo no clube resolve apoiar a mudança.
O resultado foi uma reviravolta nos poderes do clube com a eleição de um novo
presidente, Victor de morais e a repercussão imediata na imprensa. A notícia
chegou em São Paulo onde um grupo de jogadores liderava um movimento de rebelião,
entre eles estava Friedenreich. Os atletas enviam um telegrama aos cartolas
vascaínos em defesa das novas regras exaltando a importância do clube nesta
luta: “ SALVE O LIBERTADOR VASCO DA GAMA”, dizia um trecho da mensagem dos
atletas.
A nova
realidade implicava em tomar medidas rápidas para conseguir estancar a
debandada dos principais jogadores para o exterior. Este foi o caso do maior
zagueiro do Brasil: Domingos da Guia. O jogador do Vasco estava negociando sua
saída para o nacional do Uruguai.
Se Domingos
estava de saída, Fausto e Jaguaré estavam retornando ao clube, vindos da
Europa. Os dois maiores jogadores do inesquecível campeonato carioca de 1929
voltariam a vestir a camisa cruzmaltina. Embora já fossem grandes ídolos da
massa, não foi possível identificar grandes manifestações de afeto dos
torcedores na chegada dos mesmos. Talvez parte dos torcedores também estivesse
confusa sobre como se comportar diante dos jogadores, agora como profissionais.
O fim do amadorismo apresentaria uma nova relação entre atletas e fãs. Mario
Filho escreveu inúmeras crônicas sobre este momento de transição.
Para a
montagem do novo elenco vascaíno vários jogadores chegaram. Dos clubes que
permaneceram amadores vieram o atacante Almir (Botafogo, campeão carioca em
1932) e o zagueiro Juca ( São Cristóvão). Do futebol paranaense chegaram o
goleiro Rey e o atacante Carnieri. Do Pará, o artilheiro Quarenta, No entanto,
o time principal perdia os talentos de alguns titulares: Mario Matos, Carlos
Paes (84), Brilhante, Badu e outros preferiram não se profissionalizar.
O primeiro
jogo da Era do Profissionalismo no Rio de Janeiro só aconteceu no início de
abril, protagonizado por Vasco e América, os clubes que fizeram os clássicos
mais emocionantes neste período. Não foi por acaso que o estádio de São
Januário ficou lotado (cerca de 30 mil pessoas), demonstrando que o público
carioca estava sedento pelos grandes jogos. A estupenda presença de torcedores foi
comemorada pelos setores da imprensa que defendiam as mudanças nas leis do
futebol.
Para o
campeonato profissional da Liga Carioca de Futebol (LCF) cinco clubes eram os
fundadores: Vasco, Fluminense, América, Bangu e Bonsucesso. Do outro lado, pela
AMEA (amador), estavam Flamengo, Botafogo, São Cristovão, Andaraí etc.
O jogo de
estréia do Vasco aconteceu no início de maio diante do Fluminense nas
Laranjeiras. Apesar da derrota por 3 a 1, os vascaínos podiam, pelo menos, se
contentar com a presença de mais um grande público que prestigiou em massa. No
mesmo mês eram realizadas eleições para a Assembléia Constituinte. Entre as
novidades da nova Lei estavam a garantia do voto secreto e a participação
feminina pela primeira vez.
Também no
Vasco a presença das mulheres nas diferentes modalidades esportivas era
exaltada. As revistas destacavam a criação do departamento de Educação física
Feminina. A presença feminina neste ano já tinha sido noticiada pelas revistas
através dos Bailes a Fantasia no carnaval vascaíno e no Baile da Aleluia.
O clube vivia
uma intensa vida social com as revistas destacando a ação dos escoteiros
vascaínos, o lançamento da Revista oficial do clube (Cruz de Malta), o Tiro de
Guerra e a campanha para novos sócios. Cerca de 500 novos sócios entraram no
clube neste ano. Embora fosse registrada a presença de novos associados, a
verdade é que a crise mundial ainda afetava bastante a vida de todos os grandes
clubes cariocas. O Vasco que chegou a ter 10.000 associados no fim dos anos
1920, se contentava com 7.000 contribuintes no mês de seu aniversário em 1933.
Este
foi o ano do primeiro torneio entre os clubes de RJ-SP. Assim como os cariocas,
o futebol paulista estava dividido. A saída era apostar numa competição
inovadora. Era o primeiro ano em que as duas principais cidades do país veriam
vários confrontos que empolgariam os torcedores. Destaque para os jogos entre
Vasco e Palestra Itália (Palmeiras). Os dois clubes com as maiores torcidas em
suas respectivas cidades. O Palestra que seria tricampeão paulista neste
período (1932, 1933 e 1934), tinha uma verdadeira seleção. Venceu o Vasco nas
duas ocasiões. Em São Paulo, no primeiro jogo , foi organizada uma caravana de
sócios e torcedores vascaínos para incentivar o time. O jogo disputado no campo
do São Paulo da Floresta estava lotado (recebeu cerca de 20.000 pessoas). O
jogo não foi disputado no Parque Antártica pois este estádio estava em obras e
seria inaugurado ainda neste ano com capacidade para 35.000. Em São Januário,
novamente o estádio lotado e a recomendação da polícia era para o público evitar
as vaias ao juiz e ao adversário. Porém, os maiores apupos dos adeptos do Vasco ficaram para o
goleiro Jaguaré. De herói a vilão, o arqueiro era acusado de vir falhando
muito. Resultado: em seu lugar assumiu Rei, que com suas boas atuações, passou
a ocupar rapidamente a posição de titular e novo ídolo dos cruzmaltinos até
1937.
Neste
torneio o Vasco fez uma campanha apenas regular ( terminou em 5 °lugar). Teve
como novidade a adoção de um novo modelo de camisa com uma gola em formato de
V. Coincidentemente, era o mesmo modelo adotado pelo Palestra.
Acompanhando
o noticiário da imprensa não foi possível registrar outros grandes momentos da
torcida vascaína. Por exemplo, nas Laranjeiras, diante do fraco time do
Flamengo (último colocado na competição), o Vasco conseguiu perder no campo e
nas arquibancadas... E diante do Fluminense, na penúltima rodada aconteceu um
fato curioso. Ao encerar a partida os jogadores do tricolor adotam o grito de
guerra tradicional dos vascaínos e entoam a sua versão: “ao Fluminense Nada,
Tudo”. Definitivamente o ano de 1933 não teve grandes comemorações esportivas.
Até mesmo no Remo, que passava a ser disputado neste ano na Lagoa Rodrigo de
Freitas, o Vasco perdeu o campeonato para o Flamengo interrompendo uma
seqüência de campeonatos desde 1927. Este foi o único campeonato que o Vasco
perdeu na década. De 1934 a 1939, o Vasco venceria todos.
O ano de 1933 foi a primeira vez que o estádio
de São Januário não teve a presença da seleção brasileira ou de amistosos internacionais,
rompendo uma tradição desde a inauguração do estádio. Certamente o afastamento
do clube do domínio da CBD (filiada a FIFA)
acarretou um prejuízo muito grande para os cofres do clube que deixou de
arrecadar grandes somas. Restava a disputa entre as seleções regionais. Na
seleção carioca, apesar da campanha regular no campeonato regional, o Vasco
tinha a base da seleção: Rey, Itália, Gringo e Fausto. Ou seja, nenhum
atacante. Sem dúvida a torcida vascaína queria ver um novo artilheiro no
comando do time pois Russinho passou quase todo o ano envolvido em contusões. A
volta de Leônidas ao Brasil, e a contratação de Gradim (Bonsucesso), principal
atacante carioca serão a resposta dos dirigentes cariocas para o anseio de seus
torcedores.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Vasco Revista Careta 1933 |
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