quarta-feira, 21 de setembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1933 LIDERANDO O PROFISSIONALISMO


                                                          “ SALVE O LIBERTADOR VASCO DA GAMA”         
                                                                                     Manifesto dos jogadores paulistas

1933                     Liderando o Profissionalismo               

No primeiro ano de implantação do profissionalismo do futebol no Brasil a situação dos clubes foi de uma completa divisão, com a formação de novas ligas e briga com a principal entidade, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Enquanto a CBD e vários clubes defendiam a permanência do amadorismo, as principais agremiações esportivas defendiam a mudança para o regime profissional. No Vasco, a polêmica também dividiu sua comunidade.
Não era somente entre os cartolas vascaínos que o tema demandava grandes debates. Torcedores, sócios, conselheiros, jornalistas e jogadores vascaínos levantavam as vantagens e desvantagens do novo regime.
E o Vasco foi decisivo para o sucesso da implantação do regime profissional. No começo do ano um acalorado debate no Conselho Deliberativo no clube resolve apoiar a mudança. O resultado foi uma reviravolta nos poderes do clube com a eleição de um novo presidente, Victor de morais e a repercussão imediata na imprensa. A notícia chegou em São Paulo onde um grupo de jogadores liderava um movimento de rebelião, entre eles estava Friedenreich. Os atletas enviam um telegrama aos cartolas vascaínos em defesa das novas regras exaltando a importância do clube nesta luta: “ SALVE O LIBERTADOR VASCO DA GAMA”, dizia um trecho da mensagem dos atletas.
A nova realidade implicava em tomar medidas rápidas para conseguir estancar a debandada dos principais jogadores para o exterior. Este foi o caso do maior zagueiro do Brasil: Domingos da Guia. O jogador do Vasco estava negociando sua saída para o nacional do Uruguai.
Se Domingos estava de saída, Fausto e Jaguaré estavam retornando ao clube, vindos da Europa. Os dois maiores jogadores do inesquecível campeonato carioca de 1929 voltariam a vestir a camisa cruzmaltina. Embora já fossem grandes ídolos da massa, não foi possível identificar grandes manifestações de afeto dos torcedores na chegada dos mesmos. Talvez parte dos torcedores também estivesse confusa sobre como se comportar diante dos jogadores, agora como profissionais. O fim do amadorismo apresentaria uma nova relação entre atletas e fãs. Mario Filho escreveu inúmeras crônicas sobre este momento de  transição.
Para a montagem do novo elenco vascaíno vários jogadores chegaram. Dos clubes que permaneceram amadores vieram o atacante Almir (Botafogo, campeão carioca em 1932) e o zagueiro Juca ( São Cristóvão). Do futebol paranaense chegaram o goleiro Rey e o atacante Carnieri. Do Pará, o artilheiro Quarenta, No entanto, o time principal perdia os talentos de alguns titulares: Mario Matos, Carlos Paes (84), Brilhante, Badu e outros preferiram não se profissionalizar.
O primeiro jogo da Era do Profissionalismo no Rio de Janeiro só aconteceu no início de abril, protagonizado por Vasco e América, os clubes que fizeram os clássicos mais emocionantes neste período. Não foi por acaso que o estádio de São Januário ficou lotado (cerca de 30 mil pessoas), demonstrando que o público carioca estava sedento pelos grandes jogos. A estupenda presença de torcedores foi comemorada pelos setores da imprensa que defendiam as mudanças nas leis do futebol.
Para o campeonato profissional da Liga Carioca de Futebol (LCF) cinco clubes eram os fundadores: Vasco, Fluminense, América, Bangu e Bonsucesso. Do outro lado, pela AMEA (amador), estavam Flamengo, Botafogo, São Cristovão, Andaraí etc.
O jogo de estréia do Vasco aconteceu no início de maio diante do Fluminense nas Laranjeiras. Apesar da derrota por 3 a 1, os vascaínos podiam, pelo menos, se contentar com a presença de mais um grande público que prestigiou em massa. No mesmo mês eram realizadas eleições para a Assembléia Constituinte. Entre as novidades da nova Lei estavam a garantia do voto secreto e a participação feminina pela primeira vez.
Também no Vasco a presença das mulheres nas diferentes modalidades esportivas era exaltada. As revistas destacavam a criação do departamento de Educação física Feminina. A presença feminina neste ano já tinha sido noticiada pelas revistas através dos Bailes a Fantasia no carnaval vascaíno e no Baile da Aleluia.
O clube vivia uma intensa vida social com as revistas destacando a ação dos escoteiros vascaínos, o lançamento da Revista oficial do clube (Cruz de Malta), o Tiro de Guerra e a campanha para novos sócios. Cerca de 500 novos sócios entraram no clube neste ano. Embora fosse registrada a presença de novos associados, a verdade é que a crise mundial ainda afetava bastante a vida de todos os grandes clubes cariocas. O Vasco que chegou a ter 10.000 associados no fim dos anos 1920, se contentava com 7.000 contribuintes no mês de seu aniversário em 1933.
                Este foi o ano do primeiro torneio entre os clubes de RJ-SP. Assim como os cariocas, o futebol paulista estava dividido. A saída era apostar numa competição inovadora. Era o primeiro ano em que as duas principais cidades do país veriam vários confrontos que empolgariam os torcedores. Destaque para os jogos entre Vasco e Palestra Itália (Palmeiras). Os dois clubes com as maiores torcidas em suas respectivas cidades. O Palestra que seria tricampeão paulista neste período (1932, 1933 e 1934), tinha uma verdadeira seleção. Venceu o Vasco nas duas ocasiões. Em São Paulo, no primeiro jogo , foi organizada uma caravana de sócios e torcedores vascaínos para incentivar o time. O jogo disputado no campo do São Paulo da Floresta estava lotado (recebeu cerca de 20.000 pessoas). O jogo não foi disputado no Parque Antártica pois este estádio estava em obras e seria inaugurado ainda neste ano com capacidade para 35.000. Em São Januário, novamente o estádio lotado e a recomendação da polícia era para o público evitar as vaias ao juiz e ao adversário. Porém, os maiores  apupos dos adeptos do Vasco ficaram para o goleiro Jaguaré. De herói a vilão, o arqueiro era acusado de vir falhando muito. Resultado: em seu lugar assumiu Rei, que com suas boas atuações, passou a ocupar rapidamente a posição de titular e novo ídolo dos cruzmaltinos até 1937.
                Neste torneio o Vasco fez uma campanha apenas regular ( terminou em 5 °lugar). Teve como novidade a adoção de um novo modelo de camisa com uma gola em formato de V. Coincidentemente, era o mesmo modelo adotado pelo Palestra.
                Acompanhando o noticiário da imprensa não foi possível registrar outros grandes momentos da torcida vascaína. Por exemplo, nas Laranjeiras, diante do fraco time do Flamengo (último colocado na competição), o Vasco conseguiu perder no campo e nas arquibancadas... E diante do Fluminense, na penúltima rodada aconteceu um fato curioso. Ao encerar a partida os jogadores do tricolor adotam o grito de guerra tradicional dos vascaínos e entoam a sua versão: “ao Fluminense Nada, Tudo”. Definitivamente o ano de 1933 não teve grandes comemorações esportivas. Até mesmo no Remo, que passava a ser disputado neste ano na Lagoa Rodrigo de Freitas, o Vasco perdeu o campeonato para o Flamengo interrompendo uma seqüência de campeonatos desde 1927. Este foi o único campeonato que o Vasco perdeu na década. De 1934 a 1939, o Vasco venceria todos.

O  ano de 1933 foi a primeira vez que o estádio de São Januário não teve a presença da seleção brasileira ou de amistosos internacionais, rompendo uma tradição desde a inauguração do estádio. Certamente o afastamento do clube do domínio da CBD (filiada a FIFA)  acarretou um prejuízo muito grande para os cofres do clube que deixou de arrecadar grandes somas. Restava a disputa entre as seleções regionais. Na seleção carioca, apesar da campanha regular no campeonato regional, o Vasco tinha a base da seleção: Rey, Itália, Gringo e Fausto. Ou seja, nenhum atacante. Sem dúvida a torcida vascaína queria ver um novo artilheiro no comando do time pois Russinho passou quase todo o ano envolvido em contusões. A volta de Leônidas ao Brasil, e a contratação de Gradim (Bonsucesso), principal atacante carioca serão a resposta dos dirigentes cariocas para o anseio de seus torcedores.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Revista Careta 1933




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