quarta-feira, 14 de setembro de 2016

VASCO 2016: LIVRO "100 ANOS DA TORCIDA VASCAÍNA", 1931 1,2,3,4,5,6 E 7

  “Russinho! Russinho! Russinho!”
       Torcida grito o nome do ídolo
1931                        1,2,3,4,5,6 e 7

        Um jornal esportivo que marcaria o futebol carioca acabava de ser lançado no começo deste ano. Era o Jornal dos Sports que, em março de 1931, começava a circular pela cidade e logo se tornaria uma referência para os torcedores. Seu primeiro dono não foi Mario Filho, como muitos pensam. Seu proprietário era o empresário Argemiro Bulcão que contratou Mario Filho para ser um dos editores.
            Mario Filho foi um dos responsáveis pelas transformações que se operavam no futebol dos anos 1930, sendo um dos mais importantes líderes na imprensa na campanha de tornar o futebol profissional. Atento ao desenvolvimento dos meios de comunicação em todo o mundo, o jornalista acompanhava o crescente interesse do público consumir notícias esportivas nos países europeus e nos países vizinhos (Argentina e Uruguai). Lá os jornais já desempenhavam um importante papel de promoção do espetáculo esportivo transformando-os em grandes espetáculos de massa.
          A excursão vitoriosa do Paulistano pela Europa em 1925 ainda estava na memória dos torcedores e dirigentes do Velho Mundo com o estilo brasileiro de jogar futebol. Na mesma época os clubes e as seleções da Argentina e Uruguai também foram para a Europa e realizaram muitas proezas em campo. O resultado disso é que o futebol europeu passou a olhar o futebol sul-americano com outros olhos e começou a levar os maiores ídolos para os clubes do velho continente.
            Os clubes uruguaios e argentinos deixaram de viajar e trataram de iniciar um processo de profissionalização antes que muitos jogadores abandonassem os seus países. É nesse contexto de profundas transformações no futebol mundial e brasileiro que o Vasco embarca para a Europa para uma grande excursão, sendo o primeiro time carioca a realizar tal empreitada.
            O Vasco jogou 12 partidas em Portugal e na Espanha, de junho a agosto, tendo obtido 8 vitórias, 1 empate e 3 derrotas, com 45 gols e 18 contra, resultados que beneficiaram a fama ascendente do futebol brasileiro. No entanto, ao regressar ao Brasil, dois dos maiores ídolos não retornavam ao clube seduzidos com as propostas do exterior: Fausto e Jaguaré.
A torcida reclamou e não quis saber naquele momento que o clube ganhava uma reputação internacional de grande valor para os próximos anos. O que os cruzmaltinos queriam era o título carioca e ele não veio. O Vasco deixou escapar o titulo do campeonato em 1931 nas últimas rodadas, assim como ocorreu em 1930. Mesmo favorito desde o início da competição e com um ponto de vantagem sobre o América na última rodada, o Vasco perde em São Januário para o Botafogo por 3 a 0. Simultaneamente, o América derrotou em seu campo o Bonsucesso por 3 a 1 e levanta a taça.
A torcida não acreditava que o clube que em abril aplicava uma goleada histórica sobre o Flamengo por 7 a 0 e tinha os melhores jogadores da cidade, deixasse escapar o título que todos julgavam como certo.
Naquele mesmo ano em maio, antes da viagem para a Europa, Vasco e Fluminense em São Januário faziam uma partida que entraria para a história, não pelo o que acontecia em campo, mas por ser a primeira partida no Brasil a contar com uma transmissão radiofônica direto do estádio na íntegra. Antes as partidas eram transmitidas mas apenas nos intervalos dos programas e se resumiam a relatos dos principais acontecimentos. O rádio esportivo dava os seus primeiros passos numa época em que ainda era proibida a propaganda comercial. No ano seguinte quando o rádio começa a receber propagandas, sua programação mudará completamente. Os jogos de futebol passam a ser uma das maiores atrações, junto de programas de calouros, radionovelas, noticiários e programas de variedades. No entanto, a reação inicial dos clubes foi proibir as transmissões esportivas alegando que o rádio tirava público do estádio. Esta visão seria transformada em meados dos anos 1930 quando o rádio passa a ser o principal meio de comunicação para a massificação do futebol. E, ao contrário do que pensavam os dirigentes da época, só fez aumentar o público e transformar os clubes cariocas em clubes nacionais, em virtude das principais estações de rádio estarem na cidade,
            Tanto o rádio como a imprensa escrita foram fundamentais para acirrar os ânimos entre cariocas e paulistas que disputavam o campeonato de seleções estaduais em setembro de 1931. Em São Januário mais de 50.000 pessoas foram acompanhar a partida decisiva para conhecer o novo campeão brasileiro. A vitória dos cariocas terminou com uma grande euforia com os torcedores invadindo o gramado e carregando os jogadores em triunfo. Antes disso, eles já demonstravam sua opinião exigindo a presença do jovem jogador do Bonsucesso e grande revelação do futebol carioca de 1931, Leônidas da Silva: “os torcedores já em pé nas arquibancadas de São Januário gritavam o nome de Leônidas” (Ribeiro, 1999, p.23).
            Uma semana antes o Brasil, com uma seleção formada por jogadores cariocas, jogava contra o Uruguai (atual campeão do mundo) no estádio das Laranjeiras e vencia por 2 a 0, conquistando a Copa Rio Branco.
Enquanto Leônidas “estourou” no futebol em 1931, outro jogador que ganhava fama internacional nestas partidas era o zagueiro Domingos da Guia, que seria contratado pelo Vasco em 1932. Ele que fez sua estréia no Bangu em 1929, com 17 anos, já era considerado um astro do futebol carioca em 1930, com atuações destacadas pela imprensa.
Nascidos quase no mesmo ano (Domingos em 1911 e Leônidas em 1913), ambos enfrentaram os dilemas na mudança do amadorismo para o profissionalismo, enfrentaram o preconceito social e começaram suas carreiras em clubes pequenos: Domingos (Bangu) e Leônidas (Bonsucesso).
Embora no futuro fossem identificados como craques que marcaram o Flamengo, tanto Leônidas como Domingos da Guia passaram por vários clubes ao longo dos anos 1930 e 1940. O atacante jogou no Sírio, Bonsucesso, Penarol, Vasco, Botafogo, Flamengo e São Paulo. O zagueiro defendeu o Bangu, Vasco, Nacional, Vasco, Flamengo e Corinthians.
            Para os jogadores a mudança de clube poderia ser traumática, como relembra Domingos da Guia numa entrevista ao jornal Última Hora em 1957: “no amadorismo, quando o jogador mudava de time era o fim do mundo. Ele passava a ser apontado na rua como um miserável traidor. E havia os exagerados, que cuspiam a sua passagem, num esgar medonho de nojo. Em suma mudar de clube era uma coisa mais ignóbil que um adultério. Aquele que por qualquer motivo, trocava de camisa, era chamado de borboleta. Mas esse nome bonito lírico, não disfarçava a ofensa mortal. O craque chamado de borboleta rugia de humilhação e de remorso” (Hamilton, 2005. p. 86).
Mudar de time não era muito aceito pelos torcedores nesta época. O jogador sabia que teria problemas com os  torcedores do seu antigo clube. Basta lembrar o que ocorreu com o jogador Penaforte ao trocar o Flamengo pelo América em 1927. Depois de vencer o  América na final do campeonato carioca do mesmo ano, o Flamengo e sua torcida organizaram uma passeata para enterrar o zagueiro Penaforte. A passeata terminaria diante da própria sede do América. Na ocasião, acabou ocorrendo uma briga generalizada entre os torcedores do América e do Flamengo.
Fonte: Livro “100 anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.

Vasco Jornal Diário da Noite 1931




Nenhum comentário:

Postar um comentário