“Russinho! Russinho! Russinho!”
Torcida
grito o nome do ídolo
1931 1,2,3,4,5,6 e 7
Um jornal esportivo que marcaria o
futebol carioca acabava de ser lançado no começo deste ano. Era o Jornal dos
Sports que, em março de 1931, começava a circular pela cidade e logo se
tornaria uma referência para os torcedores. Seu primeiro dono não foi Mario
Filho, como muitos pensam. Seu proprietário era o empresário Argemiro Bulcão
que contratou Mario Filho para ser um dos editores.
Mario Filho foi um dos responsáveis
pelas transformações que se operavam no futebol dos anos 1930, sendo um dos
mais importantes líderes na imprensa na campanha de tornar o futebol
profissional. Atento ao desenvolvimento dos meios de comunicação em todo o mundo,
o jornalista acompanhava o crescente interesse do público consumir notícias
esportivas nos países europeus e nos países vizinhos (Argentina e Uruguai). Lá
os jornais já desempenhavam um importante papel de promoção do espetáculo
esportivo transformando-os em grandes espetáculos de massa.
A excursão vitoriosa do Paulistano pela Europa em 1925
ainda estava na memória dos torcedores e dirigentes do Velho Mundo com o estilo
brasileiro de jogar futebol. Na mesma época os clubes e as seleções da
Argentina e Uruguai também foram para a Europa e realizaram muitas proezas em
campo. O resultado disso é que o futebol europeu passou a olhar o futebol sul-americano
com outros olhos e começou a levar os maiores ídolos para os clubes do velho
continente.
Os clubes uruguaios e argentinos
deixaram de viajar e trataram de iniciar um processo de profissionalização
antes que muitos jogadores abandonassem os seus países. É nesse contexto de
profundas transformações no futebol mundial e brasileiro que o Vasco embarca
para a Europa para uma grande excursão, sendo o primeiro time carioca a
realizar tal empreitada.
O Vasco jogou 12 partidas em
Portugal e na Espanha, de junho a agosto, tendo obtido 8 vitórias, 1 empate e 3
derrotas, com 45 gols e 18 contra,
resultados que beneficiaram a fama ascendente do futebol brasileiro. No
entanto, ao regressar ao Brasil, dois dos maiores ídolos não retornavam ao
clube seduzidos com as propostas do exterior: Fausto e Jaguaré.
A
torcida reclamou e não quis saber naquele momento que o clube ganhava uma
reputação internacional de grande valor para os próximos anos. O que os
cruzmaltinos queriam era o título carioca e ele não veio. O Vasco deixou
escapar o titulo do campeonato em 1931 nas últimas rodadas, assim como ocorreu
em 1930. Mesmo favorito desde o início da competição e com um ponto de vantagem
sobre o América na última rodada, o Vasco perde em São Januário para o Botafogo
por 3 a 0. Simultaneamente, o América derrotou em seu campo o Bonsucesso por 3
a 1 e levanta a taça.
A
torcida não acreditava que o clube que em abril aplicava uma goleada histórica
sobre o Flamengo por 7 a 0 e tinha os melhores jogadores da cidade, deixasse
escapar o título que todos julgavam como certo.
Naquele
mesmo ano em maio, antes da viagem para a Europa, Vasco e Fluminense em São
Januário faziam uma partida que entraria para a história, não pelo o que
acontecia em campo, mas por ser a primeira partida no Brasil a contar com uma
transmissão radiofônica direto do estádio na íntegra. Antes as partidas eram
transmitidas mas apenas nos intervalos dos programas e se resumiam a relatos
dos principais acontecimentos. O rádio esportivo dava os seus primeiros passos
numa época em que ainda era proibida a propaganda comercial. No ano seguinte
quando o rádio começa a receber propagandas, sua programação mudará
completamente. Os jogos de futebol passam a ser uma das maiores atrações, junto
de programas de calouros, radionovelas, noticiários e programas de variedades.
No entanto, a reação inicial dos clubes foi proibir as transmissões esportivas
alegando que o rádio tirava público do estádio. Esta visão seria transformada
em meados dos anos 1930 quando o rádio passa a ser o principal meio de
comunicação para a massificação do futebol. E, ao contrário do que pensavam os
dirigentes da época, só fez aumentar o público e transformar os clubes cariocas
em clubes nacionais, em virtude das principais estações de rádio estarem na
cidade,
Tanto o rádio como a imprensa
escrita foram fundamentais para acirrar os ânimos entre cariocas e paulistas
que disputavam o campeonato de seleções estaduais em setembro de 1931. Em São
Januário mais de 50.000 pessoas foram acompanhar a partida decisiva para
conhecer o novo campeão brasileiro. A vitória dos cariocas terminou com uma
grande euforia com os torcedores invadindo o gramado e carregando os jogadores
em triunfo. Antes disso, eles já demonstravam sua opinião exigindo a presença
do jovem jogador do Bonsucesso e grande revelação do futebol carioca de 1931,
Leônidas da Silva: “os torcedores já em pé nas arquibancadas de São Januário
gritavam o nome de Leônidas” (Ribeiro, 1999, p.23).
Uma semana antes o Brasil, com uma
seleção formada por jogadores cariocas, jogava contra o Uruguai (atual campeão
do mundo) no estádio das Laranjeiras e vencia por 2 a 0, conquistando a Copa
Rio Branco.
Enquanto Leônidas
“estourou” no futebol em 1931, outro jogador que ganhava fama internacional
nestas partidas era o zagueiro Domingos da Guia, que seria contratado pelo
Vasco em 1932. Ele que fez sua estréia no Bangu em 1929, com 17 anos, já era
considerado um astro do futebol carioca em 1930, com atuações destacadas pela
imprensa.
Nascidos quase no mesmo
ano (Domingos em 1911 e Leônidas em 1913), ambos enfrentaram os dilemas na
mudança do amadorismo para o profissionalismo, enfrentaram o preconceito social
e começaram suas carreiras em clubes pequenos: Domingos (Bangu) e Leônidas
(Bonsucesso).
Embora
no futuro fossem identificados como craques que marcaram o Flamengo, tanto
Leônidas como Domingos da Guia passaram por vários clubes ao longo dos anos
1930 e 1940. O atacante jogou no Sírio, Bonsucesso, Penarol, Vasco, Botafogo,
Flamengo e São Paulo. O zagueiro defendeu o Bangu, Vasco, Nacional, Vasco,
Flamengo e Corinthians.
Para os jogadores a mudança de clube
poderia ser traumática, como relembra Domingos da Guia numa entrevista ao
jornal Última Hora em 1957: “no amadorismo, quando o jogador mudava de time era
o fim do mundo. Ele passava a ser apontado na rua como um miserável traidor. E
havia os exagerados, que cuspiam a sua passagem, num esgar medonho de nojo. Em
suma mudar de clube era uma coisa mais ignóbil que um adultério. Aquele que por
qualquer motivo, trocava de camisa, era chamado de borboleta. Mas esse nome
bonito lírico, não disfarçava a ofensa mortal. O craque chamado de borboleta
rugia de humilhação e de remorso” (Hamilton, 2005. p. 86).
Mudar
de time não era muito aceito pelos torcedores nesta época. O jogador sabia que
teria problemas com os torcedores do seu
antigo clube. Basta lembrar o que ocorreu com o jogador Penaforte ao trocar o
Flamengo pelo América em 1927. Depois de vencer o América na final do campeonato carioca do
mesmo ano, o Flamengo e sua torcida
organizaram uma passeata para enterrar o
zagueiro Penaforte. A passeata terminaria diante da própria sede do América. Na
ocasião, acabou ocorrendo uma briga generalizada entre os torcedores do América
e do Flamengo.
Fonte: Livro “100
anos da Torcida Vascaína”, escrito pelo historiador Jorge Medeiros.
Vasco Jornal Diário da Noite 1931 |
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